2 Sm 11.1-18
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos as etapas do pecado de Davi; pontuaremos as sérias consequências de
suas falhas, tanto em sua vida como na sua família; e por fim, notaremos quais
as fases para consumação do pecado na vida do homem.
I. ETAPAS DO PECADO
DE DAVI
A palavra “pecado”
significa: “desobediência a qualquer norma ou preceito” (HOUAISS, 2001, p.
2160). Pode ser definido como: “transgressão deliberada e consciente das
leis estabelecidas por Deus” (ANDRADE, 2006, p. 295). A palavra
hebraica “hatah” e a grega “hamartia” significam: “errar
o alvo, falhar no dever” (Rm 3.23). Em um sentido básico pecado é: “a
falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou
estado” (CHAMPLIN, 2015, p. 128). De acordo com a Bíblia, o pecado é
algo gradual (Tg 1.14,15). Notemos as etapas do pecado de Davi:
1. A traição.
Davi estava no
auge do seu reinado quando tragicamente caiu em pecado, vencido pela sua
própria paixão desenfreada: “Então enviou Davi mensageiros, e mandou
trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela [...]” (2Sm 11.4). Depois
de ter consumado o seu ato pecaminoso (2Sm 11.1-4), Davi, de várias maneiras e
durante um bom tempo, tentou ocultá-lo (2Sm 11.8,12). As tentativas foram cada
vez mais pecaminosas. Isso sempre acontece com quem tenta esconder seu pecado.
A Bíblia diz que “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7; Nm 32.23).
2. A mentira.
Primeiro Davi
ordenou que Urias viesse da guerra para dar-lhe notícias dela: “Vindo,
pois, Urias a ele, perguntou Davi como passava Joabe, e como estava o povo, e
como ia a guerra”, em seguida, ofereceu-lhe um presente e deu- lhe
licença para ir a sua própria casa (2Sm 11.6-8), mas, infelizmente, tudo era
mentira, engano e logro. O mal não reconhece limites em suas ações, enquanto
que o bem atua dentro de limites traçados pela ética e infelizmente Davi se
esqueceu desta verdade.
3. A maldade.
Davi insistiu
que Urias permanecesse em casa afim de forjar uma situação e livrar-se de seu
pecado. Em noutras palavras reincidiu no mal: “[…] Não vens tu de uma jornada? Por
que não descestes à tua casa?” (2Sm 11.10). O pecado traz dois
resultados: separa o homem de Deus e produz maus efeitos no mundo (Is 59.1; Rm
8.19-22). O primeiro pode ser cancelado pelo perdão, mas o segundo permanece.
Alguém já disse que: “Deus não permite que seus filhos pequem com
sucesso”. As consequências do pecado trazem consigo tristeza amarga e
profunda (Rm 2.6-11).
4. A astúcia.
Davi ofereceu um
banquete a Urias com vinho embriagante com o intuito de enganá-lo: “E Davi,
o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou [...]” (2Sm
11.13). Davi só não contava com a lealdade e a sensatez de Urias (2Sm 11.11).
Quando o crente procede dessa forma, o julgamento divino o aguarda, pois: “O
Senhor não tem o culpado por inocente” (Na 1.3), e “Deus
não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”
(Gl 6.7,8). Lembremo-nos da admoestação de Paulo: “Aquele, pois, que pensa estar em
pé veja que não caia” (1Co 10.12).
5. A covardia.
Davi enviou uma
carta real ao comandante Joabe, através de Urias, onde estava contida a
sentença de morte do próprio portador (2Sm 11.14,15; 12.9). Um assassinato
covarde de um leal soldado, planejado pelo próprio rei da nação (2Sm 11.16,17).
Como Urias era um servo fiel, não violou a carta, pois, se o tivesse feito,
veria que estava levando a própria sentença de morte. Davi quebrou o sexto
mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13); o sétimo mandamento: “Não
adulterarás” (Êx 20.14); e o décimo mandamento: “Não cobiçarás” (Êx
20.17).
6. A Insensibilidade.
Mesmo sabendo da
morte de Urias, seu fiel soldado, Davi friamente mandou dizer a Joabe: “Não
te pareça mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele”
(2Sm 11.25). Davi tomou Bate-Seba como sua esposa e se portou tranquilamente
como se nada houvera acontecido por cerca de quase um ano (2Sm 12.14,15) com
sua consciência cauterizada sem confessar seu pecado e se arrepender dele (2Sm
12.27 ver ainda 1Tm 4.2). 1.7 A falsa “justiça”. Quando Davi achava que,
morto o esposo da mulher com quem adulterara, o seu problema estava resolvido,
Deus envia o profeta Natã para confrontá-lo (2Sm 12.1-25). É comum alguém que
pecou e não tratou de forma devida o seu pecado projetar um sentimento de “justiça”
e uma falsa santidade perante os outros (2Sm 12.5,6). Geralmente ele exige dos
outros aquilo que ele mesmo não fez e cobra santidade, requer compromisso,
exige dedicação, no entanto, nega com a sua prática a eficácia desses valores
(Mt 7.3-5; 23.13-33). É comum desculparmos em nós mesmos aquilo que com
veemência condenamos nos outros. Há situação em que o estado de cauterização da
consciência é tão grande que somente um encontro com Deus é capaz de fazer cair
às escamas dos olhos e expor as misérias humanas.
II. CONSEQUÊNCIAS
DO PECADO DE DAVI
Consequência é “algo
produzido por uma causa ou conjunto de condições; efeito, resultado, ferimento,
sequela, inferência, ilação” (HOUAISS, 2001, p. 807). O pecado, uma vez
consumado, deixa suas consequências deletérias, ainda que seja perdoado por
Deus (Lm 3.39). O pecado de Davi trouxe consequências, algumas imediatas, e
outras, a longo prazo: “Agora, portanto, a espada jamais se apartará
da tua casa [...]” (2Sm 12.10). Deus perdoou seu servo e lhe preservou
a vida. Porém, ele pagou um alto preço pelo seu erro. Uma lição deste episódio
é a imparcialidade da justiça divina, bem como as riquezas de sua misericórdia.
Vejamos algumas consequências dos pecados de Davi:
1. Consequências emocionais.
Os especialistas
advertem que há muitas doenças psicossomáticas, isto é, doenças da
alma ou de origem psicológica que afetam diretamente o corpo (Sl 32.2-5;
39.10,11; 51.8). Os resultados do pecado de Davi podem ser vistos primeiramente
em sua vida sentimental e emocional: “Já estou cansado do meu gemido; toda noite
faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas” (Sl
6.6). O pecado causou feridas profundas na alma de Davi e alguns de seus salmos
retratam seus infortúnios (13.2; 22.11; 25.16-18,22; 38.2-3; 41.4,8). A idade
em que morreu cerca de setenta anos (2 Sm 5.4; 1Rs 2.10,11) debilitado como
estava, talvez tenha muito a ver com as angústias e frustrações de sua alma
(1Rs 1.1).
2. Consequências espirituais.
Não há dúvida de
que os efeitos do pecado de Davi também estão na esfera espiritual: “Não
me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.
Torna a dar-me a alegria da salvação [...]” (Sl 51.11,12). A Bíblia nos
mostra que há também doenças de origem espiritual: “Depois Jesus encontro-o no
templo, e disse-lhe: Eis que já estás curado; não peques mais, para que não te
suceda alguma coisa pior” (Jo 5.14). Paulo adverte em sua primeira
carta aos coríntios: “Por causa disso [do pecado], há entre vós
muitos fracos e doentes e muitos que morrem” (1 Co 11.30). Tiago
aconselha: “Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para
que sareis [...]” (Tg 5.16). Davi pôs em prática isso e clamou ao
Senhor: “[…] Tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti”
(Sl 41.4).
3. Consequências físicas.
O pecado também
trás consequências no corpo do pecador (Sl 38.3-9). Tanto Davi como Bate-Seba
estavam cientes das implicações de seu erro (Lv 20.10). Após pecar Davi ouviu
um dos mais duros julgamentos pronunciados pelo profeta Natã (2Sm 12.10-14). O
julgamento atingia não somente sua vida física, mas também incluiria seu reino
e sua família (2Sm 12.18). A sentença que Davi pronunciou tinha base na Lei (Êx
22.1), e isso mesmo ele experimentou na pele, pois ele sentenciou que o homem
da parábola, que tomou a ovelha do outro deveria pagar quatro vezes mais: “[…]
tornará
a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa [...]” (2Sm 12.6). Davi
tirou a vida de Urias, e pagou quatro vezes mais por isso:
1)
O filho que nascera daquele adultério morreu (2Sm 12.14);
2)
Amnom foi assassinado por Absalão (2Sm 13.28,29);
3)
Absalão foi morto por ter-se rebelado contra o pai (2Sm 18.9-17); e por fim,
4)
Adonias também foi morto à espada (1Rs 2.24,25).
4 Consequências interpessoais.
Os efeitos
danosos do pecado levam sofrimentos tanto ao que pecou como a muitas outras
pessoas inocentes, e às vezes termina desfazendo grandes amizades. Bate-Seba a
mulher de Urias era filha de Eliã e neta de Aitofel, e ambos estes homens
faziam parte dos “valentes de Davi”, os súditos leais do rei. No livro de 2
Samuel, capítulo 23, a partir do versículo 24, começa a listagem dos grandes
guerreiros de Davi, e ali três nomes se destacam: Eliã, Aitofel e Urias (2Sm
23.34,39). Aitofel, avô de Bate-Seba, era o grande conselheiro de Davi que,
mais tarde, como num ato de vingança, aconselhou Absalão a possuir as mulheres
do rei publicamente (2 Sm 16.20-23). Os laços de amizade e lealdade deveriam
ter servido de freio ao desejo insano do rei, porém isso não aconteceu
infelizmente.
III. FASES PARA
CONSUMAÇÃO DO PECADO
1. A atração:
“[…]
e
viu do terraço a uma mulher que estava se banhando” (2Sm 11.2). O
primeiro passo para o pecado é a atração: “Mas cada um é tentado, quando atraído”
(Tg 1.14a). A palavra “atração” significa: “sedução,
sentimento de interesse, curiosidade” (HOUAISS, 2001, p. 338). Isto
significa dizer que jamais seremos tentados por aquilo que não nos sentimos
atraídos (Gn 25.29,30,34; 39.7-9; Jz 14.1,3). A Bíblia nos exorta a resistir
aos desejos carnais “deixando-os” (Hb 12.1); “negando-os”
(Mt 16.24); “mortificando-os” (Cl 3.5); e, se preciso for, “fugindo”
deles (2Tm 2.22).
2. O engodo:
“E
mandou Davi perguntar quem era aquela mulher [...]” (2Sm 11.3). A
segunda coisa destacada pelo apóstolo Tiago é o engodo (Tg 1.14b). A expressão
“engodo”
quer dizer: “isca usada para atrair animais; chamariz” (HOUAISS, 2001, p.
1149). O simbolismo, talvez seja o da pesca (CHAMPLIN, 2004, p. 23). Da mesma
forma, o homem é atraído por algo que desperta a sua concupiscência. O diabo é
especialista em colocar a isca (Gn 3.6; 9.20,21; 2Sm 11.2; Mt 26.15; Jo 12.6;
At 4.35-37; 5.1-10; 2Tm 4.10).
3. A concepção:
“[…]
e
mandou trazê-la [...]” (2Sm 11.4-b). A terceira fase é a concepção (Tg
1.15a). Esta fase é bastante perigosa, pois aproxima o homem da queda que é o próximo
passo. O verbo “conceber” quer dizer: “ser fecundado por, engravidar, gerar,
acalentar” (HOUAISS, 2001, p. 1149). Todos somos tentados diariamente
por coisas que se colocam na nossa frente. Diante disto, podemos renunciar ou
permitir que este desejo seja alimentado em nosso interior. Devemos com a ajuda
da graça (2Tm 2.1) e do poder de Deus (Ef 6.10), resistir aos apelos dos nossos
maiores inimigos: a carne (Rm 7.18), o mundo (1Jo 2.15) e o diabo (Tg 4.7).
4. A consumação:
“[…]
e
se deitou com ela [...]” (2Sm 11.4c). O verbo “consumar” quer dizer: “levar
a termo; concluir, rematar; cometer, praticar” (HOUAISS, 2001, p. 815).
O resultado da consumação do pecado é a morte: “[…] o pecado, sendo consumado, gera a
morte” (Tg 1.15-b). Foi o que foi dito ao primeiro casal (Gn 2.17), e o
que eles receberam pela desobediência (Rm 5.12; 6.23). Essa morte é
essencialmente espiritual, mas pode também ser física (At 5.5,10; 1Co 11.30) e
eterna (1Co 6.10; Gl 5.19-21; Ap 22.15), senão houver arrependimento sincero e
abandono do pecado (Pv 28.13).
CONCLUSÃO
A maneira
correta de lidarmos com nosso pecado é nos arrependermos dele e, com toda a
sinceridade, buscarmos em Deus o perdão, a graça e a misericórdia (Sl 51; Hb
4.16; 7.25), e nos dispormos a aceitar, sem amargura nem rebelião, a disciplina divina pelo nosso pecado. Davi
tanto reconheceu quanto confessou seus pecados, voltou-se para o Senhor, e
aceitou a repreensão com humildade (Sl 12.9-13,20; 16.5-12; 24.10-25; Sl 51).
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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