2 Sm 23.1-7
INTRODUÇÃO
Na última lição
deste quarto trimestre trataremos sobre a importância da velhice na Bíblia;
falaremos sobre a fase final da vida de Davi na sua velhice; veremos alguns
aspectos da velhice do monarca e a preocupação de Davi com o novo rei; e por
fim, notaremos as bênçãos divinas na terceira idade.
I. A IMPORTÂNCIA DA
VELHICE NA BÍBLIA
O dicionário
define “velhice” como: “estado ou condição de velho; idade avançada,
que se segue à idade madura” (HOUAISS, 2001, p. 2838). Estamos num
processo de envelhecimento, do qual ninguém poderá escapar (Ec 12.1-7). A
velhice não deve ser vista como algo ruim, pois devemos ser gratos a Deus pelo
fato de termos vida física longa, o que é um dom, um presente (Pv 20.29).
Biblicamente é sinal de bênção chegar a ver os netos (Gn 48,11; Sl 128.6). Na
cultura israelita presumia-se que a idade avançada tinha algo a ver com o
amadurecimento e a sabedoria (Jó 12.12,13). Os velhos do hebraico “zaqem”
eram reconhecidos como o grupo de mais elevada autoridade sobre o povo. Havia
um grupo em Israel denominado de anciãos; eles agiam como
representantes das nações (Jr 19.1; Jl 1.14; 2.16) e também administravam
muitos assuntos políticos e desempenhavam um papel ativo na administração da
nação e aplicação da Lei de Moisés (Nm 22.7; Js 22.13-33; Dt 21.18-21). Os
velhos da cidade formavam uma espécie de conselho municipal cujos deveres
incluíam a função de juízes (Dt 19.12; Nm 11.16-25), conduziam as investigações
e inquéritos (Dt 21.2) e resolviam conflitos matrimoniais (Dt 22.15; 25.7).
Foram reunidos por Moisés para receber o anúncio da libertação do Egito (Êx
3.16-18). O pacto foi ratificado no Monte Sinai na presença de 70 dos anciãos
de Israel (Êx 24.1,9,14; cf. 19.7). A base na organização das sinagogas,
incluía a figura do ancião (At 11.30; 14.23). Na Igreja Primitiva ocupavam um
lugar respeitoso (1Pd 5.5 ver 1Tm 5.1) (PFEIFFER, 2006, pp. 100-101).
II. A VELHICE DO
REI DAVI
Davi atingiu a
idade de setenta anos (2Sm 5.4). Notemos como se encontrava Davi em sua
velhice:
1. As limitações no corpo.
Davi, o rei,
guerreiro e poeta, atingiu a idade de setenta anos (2Sm 5.4), que, segundo
as palavras de Moisés, são o limite
máximo da vida e que a velhice trás consigo diversas limitações para o corpo
físico (Sl 90.10). Para Davi, ter sido moço e agora ser velho não significava
exatamente uma mudança com consequências drásticas. Era apenas uma experiência
a mais, uma sequência natural: “Fui moço e agora sou velho [...]”
(Sl 37.25). Por mais robusto que seja o ser humano, não poderá escapar às
limitações físicas que lhe impõem a terceira idade (Ec 12.1-9). Aparecem a
canseira e o enfado (Sl 90.10); a visão perde a sua força (Gn 27.1); e o vigor
vai desaparecendo (Gn 17.17). As forças de um idoso não são as mesmas de um
jovem (2Sm 19.34-37).
2. As enfermidades.
Quando chegou a
velhice Davi começou a padecer com as enfermidades. Sentia um frio grande que
nem cobertores, podiam lhe aquecer (1Rs 1.1). Vendo isso, os servos de Davi
sugeriram que lhe trouxessem uma virgem para que deitasse junto ao corpo de
Davi a fim de aquecê-lo (1Rs 1.2,3). A cerca disto afirmou certo teólogo: “a
sugestão dos servos para que se buscasse uma jovem para o rei a fim de lhe
restaurar a vitalidade perdida e o aquecesse era uma prescrição médica aceita
até a Idade Média” (MOODY, sd). Nenhum significado imoral deve ser dado
a esta prática, embora em nossa cultura nos pareça um tanto estranha. O próprio
texto bíblico acrescenta que Davi não a possuiu como mulher (1Rs 1.4). Abisague
serviu de enfermeira prática junto ao moribundo Davi.
3. A aproximação da morte.
Com a idade
avançada, Davi sentiu estar próximo da morte (1Rs 1.1). Este grande personagem
hebreu faleceu e foi sepultado na cidade de Jerusalém. Como Deus havia lhe
prometido, concedeu-lhe três grandes bênçãos, a saber: a) o trono de todo Israel: “E foram os dias que reinou sobre Israel,
quarenta anos; em Hebrom reinou sete anos, e em Jerusalém reinou trinta e três”
(1Cr 29.27); b) longevidade: “E
morreu numa boa velhice, cheio de dias” (1Cr 29.28a); e, c) riquezas em abundância: “E
morreu numa boa velhice, cheio de dias, riquezas e glória” (1Cr 29.28b).
III. CONSELHOS DE
DAVI EM SUA VELHICE PARA O NOVO REI
Quando Davi
sentiu estar próximo da morte em sua velhice (1Rs 1.1), mostrou preocupação com
a continuação do governo que Deus lhe conferiu. Sabendo de antemão que dos seus
filhos, Salomão era o escolhido para lhe suceder no trono (1Cr 28.6,7), e que
edificaria o templo (1Cr 22.9,10), Davi lhe fez diversas recomendações para que
o seu governo contasse com a bênção de Deus e fosse próspero (1Cr 28.9,10).
Notemos:
1. Conhecer a Deus.
Embora as
experiências espirituais de Davi fossem bastante válidas, e, por certo foram
narradas para seus filhos e até mesmo presenciada por eles, este servo de Deus
reconhece que Salomão tinha que ter a sua própria experiência: “Conhece
o Deus de teu pai” (1Cr 28.9). A expressão “conhecer” no hebraico “yada”
significa: “conhecer por experiência, relacionar-se”. A falta de
conhecimento de Deus foi o maior problema de Israel, como declarou o próprio
Deus através de Isaías (Is 1.1-3). É imprescindível que conheçamos a Deus e
prossigamos em conhecê-lo (Os 6.3).
2. Servir a Deus.
Após exortá-lo a
conhecer a Deus, Davi também disse a Salomão que o servisse e orientou quanto a
forma: “de coração perfeito e alma voluntária”. A expressão de coração
perfeito, no hebraico “shalem” implica um “coração
completo, inteiro, todo”. Já a
expressão “alma voluntária” fala de buscar com prazer, com amor e não
forçado. A orientação de
Davi é
acompanhada de uma exortação severa para quem não servir a Deus desta maneira
(1Cr 28.9b). Infelizmente com o passar do tempo, Salomão se deixou seduzir pelo
pecado e não serviu a Deus como seu pai ordenou (1Rs 11.4).
3. Fazer a obra de Deus.
Salomão também
recebeu como incumbência de seu pai a edificação do Templo, um lugar fixo de
adoração ao Deus vivo. Davi disse a Salomão: “Olha, pois, agora, porque o
SENHOR te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te, e
faze a obra” (1Cr 28.10). Salomão haveria de realizar algo inédito. Uma
grande casa para o Senhor deveria ser construída (1Cr 29.1).
IV. BÊNÇÃOS DIVINAS
NA VELHICE DO CRENTE
Temos vários
exemplos de servos de Deus que tiveram experiências em sua velhice: Sara e
Abraão (Gn 21.1-7); do rei Davi (1Cr 29.27,28); Simeão (Lc 2.25-30); Ana (Lc
2.36-38) etc. A terceira idade é um tempo especial da parte de Deus para que os
idosos colham com alegria os frutos das sementes plantadas na juventude: “Na
velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes” (Sl 92.14).
Davi experimentou isso em sua velhice (Sl 71.9,18). A longevidade é um presente
dado por Deus: “Dar-lhe-ei abundância de dias” (Sl 91.16). Vejamos o que a
Bíblia fala-nos sobre a velhice do crente:
1. A velhice é tempo de experiência.
A Bíblia diz
que: “Coroa de honra são as cãs [...]” (Pv 16.31a), a velhice é um
símbolo de beleza: “[...] e a beleza dos velhos, as cãs” (Pv
20.29b). Como diz a Bíblia, a maturidade com o seu modo de ser e de agir não
cabe na infância, mas na vida daqueles que já são experimentados (Jó 12.12,13)
nos embates da vida material e espiritual (1Co 13.11; Hb 5.13,14). Houve uma
certa naturalidade em Samuel quando, já idoso, disse ao povo de Israel: “Já
envelheci e estou cheio de cãs...” (1Sm 12.2). A primeira grande bênção
do período da velhice é a maturidade, sobretudo quando se floresce plantado na
Casa do Senhor (Sl 92.13,14). Duas figuras de linguagem dão a dimensão exata do
que isso representa: a palmeira e o cedro. Em ambas vemos a lição de utilidade,
perenidade, firmeza e robustez. São assim os que envelhecem seguindo os
princípios ditados por Deus: têm raízes profundas, que suportam os ventos da
tempestade, são longevos, robustos e de presença acolhedora. Os princípios de
vida ensinados na Bíblia levam à maturidade, à prudência e à sabedoria (Is
46.4).
2. A velhice é tempo de frutificação.
A terceira idade
é a época em que os frutos são colhidos como resultado daquilo que se plantou
na infância, na juventude e nos primeiros ciclos da vida adulta (Ec 12.1).
Paulo aceitou a consciência de sua velhice, assumiu a sua nova condição, isto
é, simplesmente aceitou a realidade dos fatos: “...sendo o que sou, Paulo, o
velho...” (Fm 9). No salmo 92.12-14 temos duas importantes lições: a) saber plantar, isto é, fazer boas
escolhas sob a direção de Deus nos verdes anos da juventude é condição
essencial para que se faça uma boa colheita no período da terceira idade; e b) aquilo que colhemos na terceira
idade, inclusive certas doenças, é o resultado direto das escolhas que fizemos
no tempo da semeadura (Gl 6.7-9). A terceira idade é, também, um tempo de
colheita. Esse fato, decorrente de semeadura no passado, implica que a semente
plantada cumpra, pelo menos, três fases distintas: brotar, crescer
e
frutificar.
Na promessa do Pentecostes, Deus não se esqueceu dos velhos, ou idosos: “E há
de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os
vossos mancebos terão visões” (Jl 2.28).
3. A velhice é tempo de ensinamento.
Os jovens
permaneciam calados diante deles e só falavam quando estavam certos de que os
mais velhos nada mais tinham para dizer (Jó 32.6-7). Alguém que chegou à
terceira idade após uma boa semeadura ainda tem muito a contribuir nos átrios
da casa de Deus e a ensinar aos que o cercam (Sl 71.15-18; Tt 2.2-5). Esta é
também uma época de ensinamento (Êx 18.13-27; Pv 23.22). Mostra-nos a história
que desprezar o conselho dos mais velhos não é um bom negócio (1Rs 12.6-8). Não
é bom reter somente para nós, em nossos celeiros, aquilo que Deus amorosamente
nos concedeu durante toda a nossa vida. A menção aos frutos, no Pentateuco,
sempre traz implícita essa ideia (Dt 26.1-11 cf. 16.11). Os anciãos que, tanto
em Israel quanto na Igreja Primitiva, ajudavam na orientação dos negócios do
Reino de Deus (Êx 4.29; 19.7; At 15.2). A Bíblia nos diz que: “Diante
das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e terás
temor do teu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.32).
4. A velhice é tempo de trabalho.
Jacó, aos 147
anos de idade (Gn 47.28) faz a seguinte declaração: “[…] o Deus, em cuja presença andaram
os meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou, desde que eu nasci até
este dia” (Gn 48.15). Outra área que traz renovação espiritual no tempo
da velhice é a do serviço cristão (Lc 2.36-38). Existem muitas áreas de
trabalho nas igrejas apropriadas para as pessoas da terceira idade. É óbvio que
elas não correrão como as pessoas mais jovens, não terão o mesmo ativismo, mas
poderão ter o conhecimento e experiência necessárias para realizarem certas
atividades que requerem a maturidade que só os idosos possuem. O povo de Deus
necessita da energia dos crentes mais jovens, mas não pode jamais abrir mão da
experiência dos santos mais idosos. Lembremo-nos de que Abraão e Sara cumpriram
o propósito de Deus na sua velhice (Gn 22.1,2,5), Moisés começou a liderar o
povo de Israel com a idade de 80 anos (Êx 7.7; Dt 29.5; At 7.23,30,36); Calebe
conquistou Hebrom em plena velhice aos 85 anos (Js 14.12-14); e Davi, o grande
rei de Israel, morreu em boa velhice “tendo desfrutado vida longa, riqueza e
glória” (1Cr 29.27,28 – NVI).
CONCLUSÃO
A vida física
tem começo, meio e fim e a terceira idade não deve ser vista como o fim de uma
existência, mas como o início de uma nova etapa na vida do ser humano. Ciente
disto, devemos procurar viver de forma agradável a Deus, temendo o Seu nome e
realizando a sua vontade. Se procedermos assim, deixaremos um legado para as
próximas gerações, de autênticos servos de Deus.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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