Ef 2.11,12; Rm
4.12-14
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos a definição etimológica do termo “gentio”; estudaremos sobre a aparição
dos gentios na Bíblia; e por fim; pontuaremos sobre o estado espiritual dos
gentios antes de conhecerem o evangelho.
I. DEFINIÇÃO DO
TERMO GENTIO
1. Definição etimológica do termo gentio.
O termo “gentio”
é todo aquele nascido fora da comunidade de Israel, e estranho às alianças que
o Senhor Deus estabeleceu com o seu povo. Primeiramente, no livro de Gênesis a
palavra “gentios” foi utilizado sem distinção na divisão entre os descendentes
dos filhos de Noé (Gn 10.5,20,31). De forma geral, gentios significa “nações”,
e esse era o sentido originalmente aplicado a esse termo. Entretanto, no
decorrer da narrativa bíblica, a palavra adquiriu um sentido restrito,
principalmente para designar os pagãos. Isso significa que o termo hebraico “goyim”,
e o termo grego “ethnos” ou “hellenes”, são traduzidos ora como “nações”,
ou como “pagãos”. Dessa forma, algumas vezes a palavra “gentios” é
aplicada para se referir a todas as nações não judaicas, sem representar alguma
antipatia ou aversão. Outras vezes é aplicado no sentido de enfatizar o
paganismo das outras nações e o termo “gentios” passa a ser similar ao termo
“pagãos” (2Rs 16.3; Ed 6.21; Sl 9.5,15,19). Na aliança que Deus estabeleceu com
Abraão, vemos como seus descendentes passaram a ser distinguidos das outras
nações (Gn 12.2,3; 18.18; 22.18; 26.4). Com base nesse princípio, a nação de
Israel sempre é descrita na Bíblia como a nação do Senhor (Salmos 106:5). Já os
demais povos são denominados simplesmente como “as nações”, ou seja, os gentios
(Is 60.3; At 13.47).
II. A MENÇÃO DOS
GENTIOS NA BÍBLIA
1. Os gentios no AT.
Ao chamar
Abraão, o Senhor dá início à história de Israel (Gn 12.1-3). Seu propósito à
nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la uma propriedade peculiar, um reino
sacerdotal e um povo santo (Êx 19.5,6). Ele a constituiu para que esta lhe
fosse uma possessão distinta e particular (Is 44.1-2), a fim de que, por seu
intermédio, alcançasse os gentios. A partir de então, todas as demais etnias
passaram a ser conhecidas como “gôyim” — gentios (Gn 15.18-21). Isso
não significa, porém, que Deus não ame as demais nações (Jo 3.16). Além do
mais, em Abraão foram benditas todas as nações da terra (Gn 12.3) (ARRINGTON;
STRONSTAD, 2017, vol.2, p. 414).
2. Os gentios nos evangelhos.
Nos evangelhos
há várias referências aos gentios (Mt 6.7,32: Mc 10.33; Lc 12.30; 18.32).
Descritos às vezes com certa reserva (Mt 20.19; Mc 10.33), são eles vistos como
a grande seara a ser alcançada pelos apóstolos que, no cumprimento da Grande
Comissão, deixariam Jerusalém e a Judeia para evangelizar e ensinar todas as
nações (Mt 28.18- 20). Aliás, Isaías já destacava a missão do Cristo entre os gentios
(Is 42.1-4). Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus agraciou alguns
destes como a mulher cananeia (Mt 15.21-28) e o centurião (Lc 7.1-10).
3. Os gentios em Atos dos Apóstolos.
Embora Atos 1.8
estabeleça a obrigatoriedade da missão entre os gentios, somente no capítulo 9
e versículo 15, após a conversão de Paulo, é que se declara aberta e
enfaticamente a evangelização das nações (At 13.44-47). A resistência inicial
dos apóstolos em discipulá-los (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio, sua família
e demais assistentes, recebem o batismo com o Espírito Santo (At 10.44-48). O
fato trouxe perplexidade no colégio apostólico (At 11.1- 3,18), mas após a
apologia de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a Igreja glorificou a Deus pelo
fato de os gentios serem também objeto do amor de Deus (At 10.45).
4. Os gentios e o apóstolo Paulo.
Se Pedro, com o
evangelho da circuncisão, é proeminente nos capítulos de 1 a 12 de Atos, nos
capítulos de 13 a 28, destaca-se Paulo com o evangelho da incircuncisão (Gl
1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, o segundo aos gentios (At 13.44-47).
Trata-se, porém, de um só evangelho — o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Paulo estava consciente de que fora chamado por Deus para anunciar o evangelho
aos gentios (At 9.15), sem os entraves da lei (At 15.19,28,29; Rm 4.9-16). Em
suas viagens missionárias, não foram poucos os gentios que se converteram ao
Senhor (At 11.1,18) e de bom grado ouviram a exposição da graça divina (At
13.42).
III. O ESTADO
ESPIRITUAL DOS GENTIOS ANTES DE CONHECEREM O EVANGELHO
Paulo contrasta
a situação espiritual entre dois povos, judeus e gentios (Rm 3.9,10,22; Ef
2.11,12). Paulo mostra a condição dos gentios sem Deus e lembra aos gentios
crentes a sua condição anterior à nova vida e destaca sete aspectos da sua vida
paga no passado. Ao defender a difusão do Evangelho entre as nações, afirmou
Pedro: “[…] Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu
nome” (At 15.14). Esse povo é a Igreja formada por judeus e gentios em
Cristo (Rm 9.24-33). De ambos, fez Ele um só povo, derribando a parede de
separação que estava no meio, e, pela cruz, reconciliou ambos com Deus em um
corpo (Ef 2.14-16). Dessa maneira, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5)
que os gentios não são mais estrangeiros “gôyim” e nem forasteiros, mas
concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22; 1 Pe 2.5), coerdeiros e
participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3.6). Vejamos então a
situação dos gentios antes de conhecerem o evangelho. Notemos:
1. “Gentios na carne” (Ef 2.11).
Essa expressão
se refere ao fato de eles não serem israelitas. Os efésios eram pagãos, e a
expressão “na carne” aqui se refere à circuncisão física que eles não
tinham. Era o sinal físico através de cirurgia feita no membro viril de todo
macho israelita, para distingui-lo como parte do povo de Deus (Gn 17.9-14).
Entretanto, a circuncisão era um sinal especificamente para os judeus e que os
distinguia dos demais povos da terra.
2. “Chamados incircuncisão” (Ef 2.11).
Quem não era circuncidado
era considerado “incircunciso” e, portanto, excluído da aliança (Gn 17.14). O
rito tornou-se um sinal perpétuo que distinguia os judeus dos demais povos — os
gentios. Incircunciso era um termo depreciativo usado pelos judeus contra os
gentios, e Paulo, delicada e claramente, os desaprova mostrando-lhes que a “circuncisão
feita pela mão dos homens” se torna vã para receber a graça de Deus. O
apóstolo reconhece que os gentios não faziam parte da circuncisão, mas faz uma
ressalva: o sinal dos judeus era apenas físico e realizado por mãos humanas (Ef
2.11b). Ele destaca que a verdadeira circuncisão não é aquela evidenciada por
um código escrito, na esfera da legalidade, mas aquela que acontece no
interior, na esfera do Espírito (Lv 26.41; Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.26; At
7.51) (PFEIFFER, 2006, p. 422).
3. “Estáveis sem Cristo” (Ef 2.12).
Na descrição da
história passada dos gentios, o apóstolo traz à memória que, “naquele
tempo” isto é, antes da regeneração, eles viviam imersos no paganismo
e, portanto, “sem Cristo”. Essa parte inicial do versículo 12 é a continuação
do verso 11, que mostra o estado anterior dos gentios em relação aos
privilégios dos judeus e em relação ao próprio Cristo. A tradução mais correta
dessa frase no original grego é “separados de Cristo”, ideia que
facilita a compreensão da frase no seu contexto. Note-se que Paulo se preocupa
em explicar o fato de que o privilégio de ter a Cristo não se restringe aos
judeus, pois, embora os gentios não tivessem conhecimento anterior sobre “os
concertos da promessa” em relação a Cristo, isto não dava nenhum
privilégio aos judeus sobre a bênção da salvação. Na verdade, o sentido mais
amplo da expressão “estáveis sem Cristo” refere-se aos não convertidos a Cristo.
Porém, o propósito universal da missão de Cristo foi o de “pregar o evangelho a toda
criatura” (Mc 16.15).
4. “Separados da comunidade de Israel” (Ef 2.12).
Diz respeito ao
passado dos gentios que nunca haviam tido o privilégio de estar sob a religião
de Israel. No AT, havia um pacto entre Deus e o povo de Israel de que fosse
estabelecido um governo teocrático, isto é, um governo direto de Deus sobre o
povo. Os que não eram judeus recebiam a designação de gentios (estrangeiros).
Nos vários pactos de Deus com Israel, os gentios não foram incluídos, por isso
eram “estranhos aos concertos”. A maioria dos concertos divinos com
Israel visava o futuro Messias, o Salvador (Rm 9.4). Havia a promessa do
Salvador que viria (primeiro advento), pelo qual Israel sempre esperou e ainda
espera, porque não o reconheceu na sua primeira vinda. A essas promessas
(concertos) os gentios “eram estranhos”, isto é, não se
importavam nem queriam conhecer (HARPER, 2006, vol. 9, p. 139).
5. “Estranhos aos concertos da promessa” (Ef 2.12).
A palavra
“estranhos”, no original grego, aparece como “estrangeiros”. O sentido da frase
indica que “os concertos” foram feitos entre Deus e Israel. Todo israelita
sabia disso e ufanava-se desse privilégio — de ser “o povo escolhido” dentre as
nações. Ainda que, de modo direto, “os concertos” refiram-se aos judeus, o
alcance deles, de modo indireto, abrange os gentios. No ‘concerto com Abraão” a
promessa diz que todas as nações seriam abençoadas (Gn 12.1-3). Eles
desconheciam totalmente os vários pactos que Deus estabelecera com os
patriarcas israelitas (At 13.22,23). Esses pactos giravam em torno da grande
promessa do advento do Messias (At 13.32) (PFEIFFER, 2006, p. 61).
6. “Não tendo esperança” (Ef 2.12).
Essa expressão
retrata o estado espiritual dos gentios antes de conhecerem a Cristo. Que
esperança podiam ter eles, se havia “uma parede de separação” (Ef 2.14)
entre esses dois povos? Não tinham esperança porque “desconheciam a promessa”
(HOWARD; TAYLOR; KNIGHT, 2006, p.139). O Comentário Bíblico Beacon ressalta que
os gentios, “antes de ouvirem e responderem à palavra da graça, eles não tinham
parte ou parcela no povo messiânico, fato que significa que eles não possuíam a
esperança do Messias ou qualquer benefício que viesse junto com isto” (HARPER,
2006, vol. 9, p. 139).
7. “Sem Deus no mundo” (Ef 2.12).
São palavras que
retratam o estado espiritual dos gentios. Viviam no mundo de Deus, mas não o
conheciam nem o tinham. As palavras “sem Deus no mundo” indicam a forma
ateísta em que viviam os gentios. Três sentidos explicam essa forma de ateísmo.
Um é não crer em Deus, isto é, ser ateu (Sl 14.1); outro é ser ímpio ou pecador
irreverente (Rm 1.28); e o outro sentido é estar entregue aos ímpetos do
pecado, isto é, fora da esfera da graça de Deus. Se em Romanos 1.19, Paulo declara
que há um certo conhecimento de Deus em todo homem, parece contradizer-se com a
ideia do ateísmo nesse verso 12. Entretanto, não há contradição alguma, pois o
que Paulo quer destacar com a expressão “sem Deus no mundo”, é a cegueira
espiritual em que viviam os pagãos (2 Co 4.4) (HOWARD; TAYLOR; KNIGHT, 2006,
p.139).
CONCLUSÃO
Noutro tempo
éramos incircuncisos e estávamos excluídos da aliança com Deus. Separados de
Cristo e de Israel vivíamos alienados ao concerto da promessa, desesperançados
e longe de Deus. Um dia, porém, a magnitude do amor divino circuncidou os
nossos corações, aproximou-nos de Cristo e de Israel, incluiu-nos na esperança
da promessa e revelou a nós o único e verdadeiro Deus. Bendito seja o seu santo
nome para sempre!
REFERÊNCIAS
Ø ARRINGTON,
F. L.; STRONSTAD, R. Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Vol.2. CPAD.
Ø HARPER,
A. F. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø HOWARD,
R. E.; TAYLOR, W. H.; KNIGHT, J. A. Comentário Bíblico Bacon: Gálatas a Filemom.
CPAD.
Ø PFEIFFER,
Charles. Dicionário Bíblico Wycliffe. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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