Jó 32.1-4; 33.1-4; 34.1-6;
36.1-5
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estaremos estudando sobre um dos amigos de Jó, o jovem Eliú; além de
destacarmos algumas informações a seu respeito, veremos alguns pontos da sua
teologia declarada em seu longo discurso; ressaltaremos verdades sobre a
realidade do sofrimento na esfera humana; e por fim, veremos que o propósito de
Deus no sofrimento não é apenas a correção do ser humano.
I. QUEM FOI ELIÚ
1. Seu nome.
O
personagem destacado como um dos amigos de Jó, possui um nome hebraico: “Eliyhu”
que quer dizer: “Ele é meu Deus ou “meu Deus é pai”.
Este nome foi dado a quatro homens no AT: a) um ancestral de Samuel (1Sm
1.1) que é chamado de Eliabe (lCr 6.27) e de Eliel (lCr 6.34); b) um dos
soldados da tribo de Manassés que desertou a Saul para se juntar ao exército de
Davi para tornar-se um comandante (lCr 12.20); c) um porteiro dos
coraítas, servindo no Tabernáculo durante o tempo de Davi (1Cr 26.7); e, d) um
dos irmãos de Davi, oficial da tribo de Judá (1Cr 27.18) também chamado de
Eliabe na LXX (versão grega do Antigo Testamento) (1Sm 16.6; 17.13,28; lCr
2.13; 2Cr 11.18 (MERRIL, 2008, vol. 2, p. 374).
2. Sua origem.
Não temos muitas
informações sobre este amigo de Jó, visto que ele aparece de forma repentina. O
que encontramos no texto é que Eliú é identificado como filho de Baraquel, o
buzita, da família de Rão (Jó 32.2,6) sendo, portanto, um parente distante de
Abraão (Gn 22.21). Em Jeremias 25.23,24 indica que Buz estava na região da
Arábia (WYCLIFFE, 2007, p. 634). A passagem bíblica também informa que Eliú era
o mais jovem dos amigos de Jó, e isso explica porque não falou antes, estando
até então como expectador: “Eliú, porém, esperara para falar a Jó, pois
eram de mais idade do que ele” (Jó 32.4), nos é dito que ele tinha uma
personalidade forte, cuja ira é mencionada quatro vezes no mesmo capítulo,
tanto direcionada a Jó e aos seus três amigos (Jó 32.2,3,5), como também
percebemos que, ele é o único dos amigos de Jó que não foi repreendido por Deus
por suas palavras (Jó 42.7-9).
II. A TEOLOGIA DE
ELIÚ
Apesar
da sua aparição repentina, Eliú fez um longo discurso ocupando seis capítulos
do livro de Jó (Jó 32 – 37), nos quais expôs sua opinião sobre o assunto em
questão (Jó 32.17) fazendo algumas afirmações. Consideremos, portanto, algumas
das declarações de Eliú:
1. Em relação a Deus.
Apesar de ser muito jovem, Eliú
expõe com segurança a sua concepção em relação a aspectos da natureza divina e
de seus atributos. Vejamos:
· Deus fala. Um dos pontos afirmados por Eliú em seu discurso é que
Deus fala: “Antes, Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para
isso” (Jó 33.14), e ao falar: a) Deus usa meios diferentes: sonhos
e visões (Jó 33.15-a; ver Hb 1.1; Gn 37.5-10; 41.25,28,32; Dn 2.28,45; At
10.9-17); b) Deus fala em diversas situações: quando cai um profundo
sono sobre o homem e quando adormece na cama (Jó 33.15-b); e, c) Deus fala
com diversos objetivos: para apartar o homem dos seus próprios caminhos,
para esconder do homem a soberba, para livrar a alma de ir para cova e para
livrar a vida de passar pela espada (Jó 33.17,18).
· Deus é
bondoso. Os amigos de Jó Elifaz,
Bildade e Zofar, haviam argumentado que seu sofrimento era prova de que Deus o
estava castigando por seus pecados, mas, Eliú argumenta que, por vezes, Deus
permite que soframos a fim de evitar que pequemos. Em outras palavras, o
sofrimento pode ser também preventivo e não apenas punitivo (2Co
12.7-10). Deus faz todo o possível para nos guardar do pecado, o que comprova
sua graça e bondade para conosco (Jó 33.24; Sl 13.6; 103.2).
· Deus é justo. Em resposta àquilo que Eliú entendia como sendo
reclamações de Jó, de que Deus parecia injusto, Eliú lembrou que: a) Deus
é santo demais para fazer qualquer coisa errada (Jó 34.10), b) justo em
lidar com as pessoas (Jó 34.11,12), c) poderoso (Jó 34.13,14), d) imparcial
(Jó 34.19,20), e) onisciente (Jó 34.21,21), f) juiz de todos (Jó
34.23) e, g) o soberano que age como lhe apraz a fim de evitar o mal (Jó
34.24-30).
2. Em relação a Jó.
Eliú
se dirige a Jó pelo nome (Jó 33.1), e diferentemente dos que tinham falado
antes, cujo objetivo era condenar a Jó pelos seus supostos pecados (Jó 32.3),
Eliú expõe o seu descontentamento em relação a Jó, não porque entendia que ele
de fato havia pecado para receber o castigo divino, mas porque o patriarca
preocupou-se mais em se justificar do que a Deus (Jó 32.2).
3. Em relação ao
sofrimento.
Eliú não tentou
provar que Jó estava sofrendo devido a pecados cometidos, mas sim que sua
imagem de Deus era incorreta. Eliú introduziu um novo elemento à discussão: Deus
não envia o sofrimento necessariamente para nos castigar por nossos pecados, mas
sim para evitar que pequemos (Jó 33.18,24) e para nos aperfeiçoar (Jó
36.1-15). O Senhor não age arbitrariamente, mas permite o sofrimento como uma
maneira de conduzir a pessoa a se submeter a Ele (Jó 33.23), e a arrepender-se
(Jó 33.27), para que sua vida seja poupada (Jó 33.24,28,30), de modo que Deus
permite e utiliza-se do sofrimento para o benefício espiritual dos seus servos
(Rm 8.28; Gn 50.20).
III. A REALIDADE DO SOFRIMENTO
1. Deus não é causa original
do sofrimento.
Um
ponto que deve ficar entendido quando lemos as Escrituras, é que Deus não é o
autor do sofrimento. No livro de Gênesis encontramos sobre a criação: “E
viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gn 1.31),
tudo foi criado de forma harmônica, proporcionando o melhor ambiente para o ser
humano, no entanto, por causa do mal uso do livre-arbítrio do homem, o pecado
teve o seu lugar na humanidade (Rm 5.12) trazendo consigo a realidade do
sofrimento atingindo toda a criação (Rm 8.19-22).
2. O sofrimento como consequência
do pecado.
É um grande equívoco dizer que todo
sofrimento vem de Deus, pois nós mesmos podemos ser a causa de parte de nossa
dor (Jo 5.14). O pecado dá prazer momentâneo (Hb 11.25), mas também causa o
sofrimento duradouro (Jz 3.5-8,12-14; 4.1-3; 6.1). Sempre há um preço a pagar
por desprezar a lei de Deus: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer;
porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
IV. FINALIDADES DO SOFRIMENTO
1. Correção divina.
As Escrituras são
taxativas em registrar para nós situações em que o sofrimento foi utilizado por
Deus, como um instrumento de correção tanto para com os justos quanto para os
ímpios. O salmista testemunha sobre essa sua experiência ao dizer: “Antes
de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a tua palavra. Foi-me
bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl
119.67,71). Vários outros casos podem ser encontrados em que servos de Deus e
até mesmo nações enfrentaram algum tipo de sofrimento como sendo uma correção
divina de determinadas atitudes: a) Miriã devido a sua murmuração contra
Moisés (Nm 12.1-10); b) o rei Uzias devido a sua precipitação em queimar
incenso no templo e a ira contra os sacerdotes (2Cr 26.19); c) Geazi por
conta da avareza e engano (2Rs 5.25-27); d) o reino do Norte (Israel) e
do Sul (Judá) devido a idolatria (Is 8.7; Ez 26.43-49); e, e) Nabucodonosor
pela sua soberba (Dn 4.28-34). Por estas e outras razões o apóstolo dos gentios
afirmou: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a
salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte” (2Co
7.10).
2. Aprendizado.
Embora saibamos que
Deus pode se apropriar do sofrimento para corrigir falhas no caráter de alguém,
o sofrimento não é usado por ele só com esse propósito. Por vezes, Ele usa a
dor para nos advertir, mas também, utiliza-se do sofrimento para desenvolver em
nós uma atitude de submissão (Hb 12.1-11), com o propósito de prevenir que
determinados comportamentos não sejam vistos em seus servos (2Co 12.7), e aí
estão algumas razões, nas quais devemos nos gloriar como disse o apóstolo
Paulo: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações,
sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência;
e a experiência, a esperança” (Rm 5.3,4). Com isso em vista, as
Escrituras nos ensinam que é possível nesse nível de sofrimento, nos alegrarmos
em meio as aflições (1Pd 1.8; 4.13; Tg 1.1-3), por entendermos que Deus está
nos fazendo crescer (Gn 41.52).
3. Glorificação a Deus.
Encontramos nas páginas
da Bíblia o ensino claro em que, o sofrimento vivenciado possui o propósito de
levar o nome do Senhor a ser glorificado. Em resposta às indagações de seus
discípulos ao perguntarem as razões que levaram a um homem ter nascido cego (Jo
9.2), Jesus afirmou: “Jesus respondeu: Nem ele pecou, nem seus pais; mas
foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3).
Ao ser informado da grave enfermidade de Lázaro, por quem o Senhor tinha grande
apreço, Jesus afirmou: “E Jesus, ouvindo isso, disse: Esta enfermidade
não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por ela” (Jo 11.4).
CONCLUSÃO
Os propósitos de Deus
estão além de nossa compreensão; o sofrimento é um mistério que nem sempre
podemos desvendar. Mas é absolutamente certo que, para alguém cuja vida é
caracterizada por um caráter íntegro, o resultado do sofrimento será a
manifestação da glória de Deus (2Co 4.17).
REFERÊNCIAS
Ø CHAPMAN, Milo L. PURKISER, W. T. Comentário Beacon. Vol. 3.
CPAD.
Ø HENRY, Mattew. Comentário Bíblico Antigo Testamento Jó a
Cantares. Vol. 3. CPAD.
Ø MERRIL, C. Teney. Enciclopédia da Bíblia. Vol. 2. CULTURA
CRISTÃ.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø WYCLIFFE. Dicionário Bíblico. CPAD.
Ø WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 3.
GEOGRAFICA.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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