Jó 42.1-17
INTRODUÇÃO
Nesta última lição
do trimestre, veremos quais as atitudes de Jó antes de sua restauração;
notaremos a justiça divina na vida do patriarca e seus três amigos; e por fim, estudaremos
sobre a restauração de Jó e notaremos quais lições aprendemos com a provação
deste servo de Deus.
I. ATITUDES DE JÓ ANTES DE SUA
RESTAURAÇÃO
Segundo Houaiss,
restauração é: “ato ou efeito de restaurar; conserto de coisa desgastada pelo uso; recomposição
de algo” (2001, p. 2442). Foi isto que aconteceu na vida de Jó no final
de sua provação. O capítulo 42 apresenta Jó na condição de servo se entregando
sem reservas ao seu Senhor, uma entrega feita quando ele ainda se encontrava em
seus sofrimentos, não tendo recebido nenhuma explicação sobre o
mistério do passado ou alguma promessa para o futuro. Vejamos algumas atitudes
de Jó antes da sua restauração. Notemos:
1. Jó
reconheceu o quanto Deus é soberano (Jó 42.2).
No primeiro
discurso Divino Jó sem respostas diz: “Eis que sou vil; que te responderia eu? A
minha mão ponho na minha boca” (Jó 40.4). Em meio a sua queixa Jó havia
desejado se apresentar diante de Deus para questiona-lo (Jó 23.1-7), todavia,
quando teve a oportunidade, lhe faltou argumentos. Mas agora, pela segunda vez,
submisso ele responde a Deus e declara: “Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus
pensamentos pode ser impedido” (Jó 42.2). Concernente a soberania de
Deus ele havia declarado: “O que a sua alma quiser, isso fará [...]
Porque cumprirá o que está ordenado a meu respeito” (Jó 23.13,14), e
isto ele viu na prática que o que Deus decide, Ele faz. Na lógica humana seria
mais fácil exaltar a soberania e poder de Deus quando os currais estivessem
novamente cheios de animais e seus filhos em volta de sua mesa (Jó 42.12,13),
mas foi em meio a cinza que Jó atribui o poder a Deus e “esmagou” a Satanás
mostrando que não servia a Deus por barganha e mesmo perdendo tudo não blasfemou
como era esperado pelo acusador (Jó 1.9-11).
2.
Jó reconheceu o quanto era ignorante (Jó 42.3).
Quando Jó diz: “quem
é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho?” Ele está
fazendo uma citação das palavras que Deus havia-lhe dirigido (Jó 38.2a). E é a
esta altura de sua provação que ele reconheceu a sua ignorância: “por
isso, falei do que não entendia [...] e não compreendia” (Jó 42.3). “O
conhecimento teórico que Jó tinha sobre Deus não foi capaz de responder nenhuma
das setenta perguntas (expressas de forma
interrogativa ou declarativa) feitas por Deus” (CHAMPLIN, 2001, p. 2038 –
acréscimo nosso). Sobre a sabedoria divina Matthew Henry assim conclui: “Nós
vemos o que Deus faz, mas não sabemos por que o faz, o que Ele visa, nem o que
Ele conseguirá com isso. Estas são coisas maravilhosas para nós, que estão fora
da nossa vista para descobrir; fora do nosso alcance para alterar, e fora da
nossa jurisdição para julgar” (HENRY, 2010, p. 204).
3.
Jó reconheceu o quanto precisa aprender de Deus (Jó 42.4-5).
Ele se coloca
agora na condição de um aluno disposto a aprender com Seu Mestre: “eu te
perguntarei, e tu ensina-me” (Jó 42.4). Era como se falasse: “Senhor,
não me faças mais perguntas difíceis, pois não sou capaz de te responder; mas
dai-me licença para pedir instrução a Ti” (HENRY, 2010, p. 205). Antes Jó
conhecia a Deus só de “ouvir falar”, era um homem temente a
Deus mais com um conhecimento superficial, todavia o Deus que se revelou a ele
mostrando a sua grandeza e sabedoria (ver caps. Jó 38-40), lhe conduziu a uma
experiência pessoal: “mas agora te vêem os meus olhos” (Jó
42.5). A provação trouxe crescimento espiritual ao patriarca.
4 Jó
reconheceu o quanto precisava se humilhar e se arrepender (Jó 42.6).
Está claro neste
livro que o sofrimento de Jó não era consequência dos seus pecados como
afirmavam os seus amigos (Jó 4.7,8;15.5; 22.5-23;36.17-19). O próprio Deus
afirmou que ele sofria “sem causa” (Jó 2.3) e que seus
amigos estavam errados (Jó 42.7). Jó, entretanto, ao contemplar a glória de
Deus, deu-se conta do seu pecado. Jó não se arrependeu das acusações que seus
amigos fizeram, mas do orgulho e do esforço para se auto justificar (Jó
13.18,23; 31.1-40). O pecado de Jó foi o mesmo de muitos homens “bons” que
acreditam em sua própria justiça e inocência: “Quantas culpas e pecados tenho
eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado” (Jó 13.23). Ao
contemplar a face de Deus ele desprezou a si mesmo reconhecendo ser uma criatura
pecaminosa diante de Deus que é Santo (Jó 42.6; ver Is 6.1-6). É a partir desta
atitude que Deus vai mudar a sua história.
II. A JUSTIÇA DIVINA NA VIDA DE JÓ
E SEUS TRÊS AMIGOS (Jó 42.7-9)
No início de sua
provação Jó recebe a visita de três amigos que tinham a intenção de consolar,
mas, ao verem o estado degradante do patriarca (Jó 2.11-13), Elifaz, Bildade, e
Zofar interpretaram erroneamente o que havia motivado tão grande sofrimento.
Aqueles que haviam julgado Jó de pecado, agora também estão diante de um Deus
irado: “a minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos”
(Jó 42.7). Vejamos a atuação da justiça de Deus:
1.
Deus repreende os amigos de Jó (Jó 42.7).
O primeiro que
começou julgando e condenando o patriarca foi Elifaz e, é a ele que Deus se
dirige (Jó 4-5; 42.7). “Os amigos de Jó haviam cometido o erro de presumir que
o sofrimento de Jó era causado por algum grande pecado. Estavam julgando Jó sem
saber o que Deus estava fazendo” (BEERS, 2012, p. 734). Deus deixou claro que
todos estavam errados “não dissestes de mim o que era reto”
(Jó 42.7).
2. Jó
é justificado por Deus (Jó 42.7-9).
Deus afirmou que
Jó estava certo e seus amigos errados (Jó 42.7,8). É interessante que antes da
prova Jó era servo de Deus: “observaste tu a meu servo Jó”
(Jó 1.8), e na etapa final depois de tanto sofrimento Deus afirmou por quatro vezes:
“meu
servo Jó” (Jó 42.7,8). Jó entrou e saiu da provação como “servo”
de Deus e, foi através dele que o Senhor recebeu as ofertas de holocausto pelos
pecados de Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 42.8,9). O humilhado foi justificado,
exaltado, e honrado por Deus diante daqueles que tanto lhe causaram dor e
tristeza.
III. A RESTAURAÇÃO DE JÓ
1. A
restauração veio enquanto Jó orava (Jó 42.10).
Deus lhe restaurou
a posição de sacerdote que tivera antes, ou seja, sua vida espiritual foi
restaurada (Jó 1.5; 42.8). E sua história mudada enquanto orava: “E o
SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos” (Jó
42.10). Entendemos que Jó não guardou nenhum rancor no coração contra seus amigos
que tanto lhe acusaram, caso contrário Deus não teria recebido a sua oferta (Jó
42.9; Mt 5.23,24; 6.14,15). A oração muda situações (2Rs 20.1-5; Sl 40.1). A
Bíblia diz: “está alguém entre vós aflito? Ore” (Tg 5.13).
2. O
último estado foi melhor que o primeiro (Jó 42.12).
A
Bíblia diz que: “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas” (Ec 7.8) e
assim foi na vida de Jó. Deus provou sua fidelidade com o Justo Jó ao ponto
que: a) sua saúde foi restabelecida
lhe permitindo voltar a vida normal e ainda viver cento e quarenta anos (Jó
42.16); b) sua família e todos que o
conheciam voltaram a ele trazendo-lhe presentes (Jó 42.11); c) recebeu riquezas em dobro (Jó
42.12); d) a bênção de ter novamente
dez filhos à sua volta (Jó 42.13).
IV. LIÇÕES QUE APREMDEMOS COM A
PROVAÇÃO DO PATRIARCA JÓ
O
apostolo Paulo afirma: “Porque tudo que dantes foi escrito para o
nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). A provação na vida de Jó serve
ensino para nós de que nem sempre o sofrimento é consequência de um pecado
pessoal e que Deus na sua justiça nunca nos prova além do que possamos suportar
(1Co 10.13). Entre muitas lições extraídas da provação de Jó vejamos algumas:
1. O
Deus soberano permite o sofrimento.
Por
mais doloroso que seja o processo, devemos entender que Deus permite o
sofrimento na vida do justo (Jó 1.12;2.6,7). O justo não está isento do
sofrimento como alega a falsa “teologia da prosperidade”. O sábio Salomão
afirma: “Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio”
(Ec 9.2), logo, assim como ao ímpio vem a doença, o desemprego, perseguições,
perigos e outros sofrimentos, ao justo também. A Palavra de Deus nos exorta: “não
estranheis a ardente prova que vem sobre vós” (1Pe 4.12).
Provações e sofrimentos fazem parte da vida do cristão (1Pe 4.13-16; 5.9 Cl
1.24; Ap 2.10; 2 Tm 2.3,12).
2.
Paciência, confiança e fidelidade a Deus nos conduzirá a vitória.
Tiago
quando fala de paciência cita o exemplo de Jó: “ouviste qual foi a paciência de
Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu” (Tg 5.11). Mesmo em meio a
tanta dor, Jó fez a seguinte confissão: “Ainda que ele me mate, nele esperarei”
(Jó 13.15). De igual modo devemos ser pacientes (Tg 5.8,10). Jó perdeu tudo,
menos a confiança em Deus (Jó 19.25). Enquanto o diabo esperava Jó blasfemar “diante
da face de Deus” (Jó 1.11), “o Senhor aceitou a face de Jó” (Jó
42.11) confirmando assim, que Jó manteve a sua fidelidade.
3.
Toda provação tem o seu final.
Quando
tudo parecia está perdido e sem sentido: “o Senhor virou o cativeiro de Jó” (Jó
42.10). O mesmo Deus que permitiu a provação, foi o mesmo que deu um “basta”
naquele sofrimento. Tiago nos lembra: “Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes
o fim que o Senhor lhe deu” (Tg 5.11). Tudo tem o seu tempo determinado
(Ec 3.1). Na vida do servo de Deus tem choro, mas também alegria (Ec 3.4; Sl
30.5). A provação nunca será além do que possamos suportar, porque o Deus que
conhece a nossa estrutura conhece os nossos limites (Sl 103.13,14; 1Co 10.13).
E enquanto a vitória não vem, o Senhor nos diz: “A minha graça te basta”
(2Co 12.9).
CONCLUSÃO
Assim, o livro se
encerra com o orgulho na vida de Jó sendo retirado pelo crivo do sofrimento, a
má teologia de seus três amigos é corrigida e a sua tolice humilhada, e o nome
de Deus sendo honrado em relação as acusações de Satanás.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal.
CPAD.
Ø HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø VINE, W. E; UNGER, M. F; WHITE, W. JR. Dicionário Vine.
CPAD.
Ø HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a
Cantares de Salomão. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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