1Co 9.9-14
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
veremos sobre a Igreja e o cuidado com o sustento do missionário; notaremos
sobre o cuidado com a vida e a família dos missionários; analisaremos sobre a
igreja e o cuidado com o missionário em sua chegado ao campo missionário; e por
fim, falaremos sobre o cuidado com o missionário em seu retorno do campo
missionário.
I.
A IGREJA E O CUIDADO COM O SUSTENTO DO MISSIONÁRIO
A Bíblia
ensina-nos que os que se dedicam à proclamação da Palavra de Deus, sendo
reconhecidos pela Igreja, devem ser sustentados pela mesma (G1 6.6; Rm
15.25-28; 1Tm 5.18; 1Co 9.9-14). O sustento financeiro de missões é uma
responsabilidade básica e contínua das igrejas em todo lugar (GABY, 2023, p.
68). Nunca devemos esquecer que: “a Igreja local deve ser cúmplice dos
missionários que envia, em todas as áreas, inclusive na financeira” (MELLO,
2014, p. 55). Ela precisa entender que ao comissionar alguém para qualquer
tarefa que seja, estará de alguma forma indo junto com ele. Notemos:
1. O missionário
deve ser sustentado pela igreja.
Embora Paulo
renunciasse ao sustento que deveria receber da igreja por “direito” (1Co
9.6). Ele não reprova tal ação, muito pelo contrário, ele ensinou as igrejas
por onde passou sobre a responsabilidade de dar sustento aos obreiros que
vivem exclusivamente para a obra (1Co 9.6-12). Paulo cita o exemplo do agricultor
que é o primeiro que experimenta dos frutos, e do criador de gado
que se alimenta do seu leite (1Co 9.7). Na visão paulina não é
diferente no âmbito espiritual, pois o sacerdote da antiga
aliança que ministrava no altar dele também se alimentava (1Co
9.13; Lc 6.4), e de acordo com a Lei, os dízimos deveriam ser entregues aos sacerdotes
e levitas constituídos para o ministério do culto (Nm 18.21-32; Dt
26.12; Ne 10.37; Hb 7.5). Por fim, o apóstolo apoia esta prática sob o
ensinamento de Moisés (1Co 9.9; Dt 25.4) e do próprio Senhor Jesus (Mt
10.9,10).
2. O missionário
necessita do sustento da igreja local.
Ensinando aos
coríntios Paulo disse que ninguém deve trabalhar, ou militar, “à sua
própria custa” (1Co 9.7). Ao invocar o exemplo do ministério sacerdotal
conclui: “Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que
vivam do evangelho” (1Co 9.14). Na realidade, desde o AT e através do
Novo Testamento, a mensagem é a mesma: “digno é o obreiro do seu salário”
(1Tm 5.18). Edison Queiroz, citando uma pesquisa sobre a obra
missionária no Brasil, afirma que uma das maiores causas do retorno antecipado
de missionários é a “falta de sustento financeiro” (QUEIROZ,
1998, p. 145). Segundo o autor, a igreja local precisa ter em mente que a obra
missionária deveria ocupar o primeiro lugar na lista de prioridades da igreja
(1Co 8.1-7). Jesus ensinou que: “aos que pregam o evangelho que vivam do
evangelho” (Lc 10.7; 1Tm 5.18) e Paulo reforçou esta verdade (1Co
9.14).
II.
A IGREJA E O CUIDADO COM A VIDA E A FAMÍLIA DO MISSIONÁRIO
Em seu livro
“Igreja Missionária, Igreja Cuidadora” Sérgio de Mello afirma que: “é
preciso compreender que a palavra ‘cuidado’ precisa fazer parte do vocabulário
missiológico de nossas comunidades e prática em nossa missiologia” (MELLO,
2014, p. 21). Notemos então, alguns aspectos dos cuidados da Igreja com os
missionários:
1. É a Igreja que:
identifica, capacita, envia e cuida dos missionários.
A consciência de
responsabilidade da igreja para com o missionário é clara no NT (At 14.25-28;
16.1-8). Esse missionário é um ser humano como qualquer outro membro da igreja
e por isso é carente de cuidados e atenção, como afirma Bárbara Burns na obra
“Perspectivas do Cuidado Missionário”, asseverando que: “o envolvimento
dos responsáveis pelo envio de missionários ao campo, precisa ser de forma
prática e concreta para que seja garantido sempre o bem-estar dos mesmos” (BURNS,
2011, p. 18). Nesse processo, a Igreja tem a incumbência de cuidar de seus
missionários e de sua família por meio de preparo adequado antes, e através das
devidas assistências durante e após toda a sua vivência missionária: “Assim
como líderes de igreja não são produzidos por um instituto bíblico ou
seminário, missionários não são produzidos por uma agência missionária ou
centro de treinamento. Eles são produzidos primeiro por suas igrejas locais,
que treinam e discipulam, reconhecem seu chamado e os testam como indivíduos e
como futuros líderes e missionários. [...] uma vez no campo, os missionários
precisam receber a supervisão apropriada de seu trabalho, e precisam ser
pastoreados pelo pastor de sua igreja local [...]” (GIRÓN, 1998, pp.
39-40). Temos os exemplos de Paulo, Timóteo, Epafrodito, Tíquico e Barnabé –
que tanto foram enviados, quanto devidamente assistidos pela igreja primitiva”
(At 16.4; 2Co 11.8,9; Fp 4.10-14).
2. A igreja
precisa cuidar do bem-estar dos missionários.
Podemos ver a
preocupação e o cuidado constante da igreja com o missionário (Fp 1.3-11). Em
Antioquia também havia uma igreja com consciência missionária (At 11.19-26).
Apesar de parecer uma tarefa simples, é um trabalho que se mostra cheio de
percalços devido às várias faces das dificuldades que o missionário e sua
família podem enfrentar, principalmente em uma cultura diferente, como
adaptações com a língua, alimentação, doenças, questões teológicas, entre
outras: “todas as dificuldades enfrentadas pelos missionários, são também
responsabilidade da sua igreja como enviadora” (QUEIROZ, 1998, pp.
144-145). Os benefícios alcançam a todos sem exceção, sejam os próprios
missionários transculturais ou mesmo filhos e familiares, o que implica em um
processo contínuo do início até o final da vida do missionário (At 17.14,15). “O
cuidado missionário é um investimento contínuo de recursos pelas igrejas e
focaliza-se em cada um que está nas missões e faz assim durante todo o curso do
ciclo vital do missionário, ou seja, do recrutamento até a aposentadoria” (O’DONNELL,
2004, p.17). Outro aspecto igualmente importante em se tratando do papel da
igreja em relação ao cuidado com seu missionário é desenvolvido por Dr. João
Marcos Cardoso, psicólogo e membro do Cuidado Integral do Missionário (CIM) e
da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB), que defende que: “O
missionário vai para o seu campo transcultural e à igreja cabe o papel de
cuidar da vida desse ser humano” (SOUZA, 2011, p. 38).
III.
A IGREJA E O CUIDADO COM O MISSIONÁRIO EM SUA CHEGADA AO CAMPO MISSIONÁRIO
“O Espírito Santo
e missão são termos inseparáveis, porque a Igreja é a comunidade das pessoas
nascidas de novo pelo Espírito Santo, ela é a comunidade missionária” (SILVA,
2002, p. 11). Atos 13.1-4 é uma passagem crucial para compreender o papel da
igreja local em missões. Deus é o agente supremo no envio de missionários (At
13.2,4). O Espírito de Deus é o agente definitivo em chamar missionários e a
Igreja local é o agente mediador no envio de missionários (At 13.3). Saulo e
Barnabé foram separados pela igreja em Antioquia e isso trouxe aquela igreja
responsabilidades quanto a vida destes missionários.
1. A chegada do
missionário e sua família ao campo de trabalho é sempre um misto de sentimentos
por parte de todos os envolvidos no processo.
Cada mudança tem
suas particularidades e histórias que podem ser incentivos positivos ou
negativos de acordo com cada experiência em particular e, segundo Mello,
“qualquer alteração de nossa rotina ou da agenda em nossa vida pode gerar
conflitos, dificuldades, dúvidas, ansiedades e, com certeza exigirá adaptação”
(MELLO, 2014, p. 65). Grande parte dos possíveis problemas que os missionários
vão enfrentar na sua caminhada, estão concentrados nessa fase de envio, início
e adaptação no campo. “Se não forem devidamente acompanhados e instruídos
em todas as etapas iniciais dessa caminhada, os missionários podem ter diversos
problemas, colocando em risco todo o projeto” (SOUZA, 2011, p. 33).
Mesmo apesar de ter se preparado com estudos adequados (teológico e missiológico),
às vezes até com treinamento a respeito, as diferenças culturais em sua
essência, só serão devidamente descobertas a partir da convivência diária, isso
é o que considera: “quando essas diferenças tocam em nossa pele ou batem
à nossa porta, revestem-se de significado diferente e assumem um peso que
jamais poderíamos imaginar. O missionário precisa ter uma fonte de refúgio para
tais impactos” (MELLO, 2014, p. 68).
IV.
A IGREJA E O CUIDADO COM O MISSIONÁRIO EM SEU RETORNO DO CAMPO MISSIONÁRIO
1. O cuidado
emocional com o missionário e sua família no retorno do campo.
Lucas fala sobre a
recepção alegre e honrada da igreja para com os missionários (At 20.1-6), e
Paulo comenta a importância de a igreja local comunicar a necessidade dos
missionários (Rm 12.13). O retorno do missionário e sua família de um campo
transcultural pode acontecer por vários motivos como por exemplo, férias,
período de descanso, treinamento e até mesmo por conflitos ou não adaptação às
questões culturais. “Todo esforço no sentido de minimizar os impactos
decorrentes desse retorno é válido, pois se o missionário quando saiu para o
campo teve problemas com o choque cultural, o oposto também tende a ser uma
realidade com a qual ele e sua família terão que lidar, é o chamado choque
reverso” (PRADO, 2000, p. 90). Essa etapa na vida dos missionários
requer muita atenção e cuidado, pois é exatamente nesse período que ocorrem os
maiores transtornos psicológicos para aqueles que estão de volta à sua antiga
cultura (Fp 1.3-5). Algumas atitudes podem trazer resultados realmente
relevantes, como os assinalados por Neal Pirolo em seu livro “A Missão de
Enviar Hoje”: “Apanha-los no aeroporto como sinal de boas-vindas; ter um
lugar já preparado para eles ficarem; ter um meio de transporte imediato para
eles; fornecer refeições nos primeiros dias; levá-los para fazer compras;
lembrar de seus filhos” (PIROLO, 2012, pp. 198-200). “Se há algo tão
importante para a saúde emocional do missionário, quanto seu relacionamento com
Deus, é um grupo de amigos e familiares que se importem com ele e sua família”
(MELLO, 2014, p. 93). A igreja sempre cuidou dos seus missionários (2Co 8.1-7).
2. O cuidado da
saúde do missionário e sua família no retorno do campo.
A saúde é
seguramente um aspecto de fundamental importância para o desenvolvimento de um
trabalho relevante por parte dos missionários. Paulo testificou do grande
cuidado da igreja da Galácia para com ele neste momento de enfermidade (Gl
4.12-15). É importante ressaltar que a saúde não se restringe à área física,
mas mental e social também. Fábio Ikedo no livro “Perspectivas do Cuidado
Missionário” cita uma definição da Organização Mundial da Saúde de 1948 em que “saúde
é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência
de doença. […], inclui o bem-estar em aspectos que vão além da saúde física” (IKEDO,
2011, p. 105). A Bíblia relata a longa caminhada de Lucas, o médico, com Paulo
em suas viagens missionárias (At 14.19-22). “Esse episódio é uma prova do
cuidado da Igreja de Listra para com Paulo, enviando Lucas” (MELLO, 2014, p.
36).
CONCLUSÃO
Nesta lição fomos estimulados a
conhecer as necessidades dos missionários. Podemos fazer muita diferença na
vida deles e de suas respectivas famílias. Se o nosso coração estiver em
missões, nossos joelhos estarão dobrados, nosso testemunho alcançará pessoas e
nossas finanças investirão no que é eterno (Mt 6.19-21). Por isso, Deus deseja
que seu povo se comprometa e assuma a responsabilidade com os missionários que
servem no campo.
REFERÊNCIAS
Ø GIRÓN,
Rodolfo Rudy. Um modelo integrado de missões.
Ø In
TAYLOR, William D. (org). Valioso
Demais Para que se Perca. Londrina: Descoberta.
Ø IKEDO,
Fábio. Saúde Física do Missionário:
Prevenção e Cuidado. Betel Publicações.
Ø MELLO,
S. S. Victalino de. Igreja
missionária, Igreja cuidadora: ajudando na tarefa de cuidar integralmente
dos comissionados. Recife: Ed. Do Autor.
Ø O’DONNELL,
Kelly. Cuidado Integral do Missionário.
Londrina: Descoberta.
Ø PIROLO,
Neal. A missão de enviar hoje.
Curitiba: Editora Jocum Brasil.
Ø PRADO,
Oswaldo. Do Chamado ao Campo.
São Paulo: Sepal.
Ø SOUZA,
Joed Venturini de. Antes do Ide: O
que você precisa saber antes de ir para o campo missionário. Rio de Janeiro: JUERP.
Ø SILVA,
Eder Jose de Melo. O espiritualismo e
a missão da igreja. Londrina: Descoberta.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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