Fp 4.10-20
INTRODUÇÃO
Na lição desta semana aprenderemos com a igreja de Filipo, o
significado prático das palavras resignação, altruísmo, amor, sensibilidade e
consciência missionária. Esta igreja por seu testemunho, demonstrou ser o
modelo de uma igreja que compreendeu a sua missão missionária, não apenas na
comunicação do evangelho, mas, sobretudo, na prontidão em prover o sustento
necessário do apóstolo Paulo em sua missão, ainda que servindo em outra cidade.
Com a igreja de Filipo refletiremos sobre o verdadeiro modelo bíblico de
provisão missionária.
I. INFORMAÇÕES SOBRE A CIDADE DE FILIPOS
Originalmente conhecida como Krenides “As pequenas
fontes” devido ao grande número de fontes que havia em seus arredores,
Filipos “cidade de Filipe” recebeu o seu nome de Filipe II
da Macedônia (o pai de Alexandre, o Grande) em 360 a.C. Atraído pelas
minas de ouro que havia no local, Filipe conquistou a região no século IV a.C.
No século II a.C., Filipos tornou-se parte da província da Macedônia. Lucas
nos mostra à cidade de Filipos como a “...primeira cidade desta parte da
Macedônia, e é uma colônia...” (At 16.12), o que nos deixa claro que era
cidade de grande importância política. Como colônia romana, Filipos
tinha autonomia do governo provincial e os mesmos direitos que tinham as
cidades na Itália, incluindo o uso da lei romana, isenção de alguns impostos e
cidadania romana para seus habitantes (At 16.21). Os filipenses tinham muito
orgulho dos seus privilégios de cidadãos romanos e eram fiéis a Roma, algo que
Paulo usou como ilustração em Fp 3.20. As mulheres na província da Macedônia,
eram tratadas com respeito. Como se vê na epístola (Fp 4.2-3), elas eram ativas
na vida pública.
II. FILIPENSES: UMA IGREJA MISSIONÁRIA
A igreja filipense foi fundada no ano de 50 ou 51, mais ou
menos uma década antes de a epístola ser escrita, durante a segunda viagem
missionária de Paulo (At 16.12-40). Paulo e Silas chegaram em Filipos e,
aparentemente, não encontraram uma sinagoga judaica. Havia, porém, um lugar de
oração à margem do rio, onde algumas mulheres reuniam-se no sábado para orar.
Uma dessas mulheres, Lídia, creu na mensagem do evangelho que Paulo pregava.
Como resultado da sua gratidão para com Deus e para com os missionários, Lídia
abriu sua casa para eles. Pelo ministério de Paulo e Silas, muitos tornaram-se
cristãos em Filipos, e uma igreja foi fundada ali (ver At 16).
1. Uma igreja que sofria com o seu pastor.
As palavras do apóstolo mostram-nos que suas aflições também
eram as da igreja em Filipos: “Todavia fizestes bem em tomar parte na
minha aflição” (Fp 4.14). A expressão “tomar parte” no grego
sunkoinoneo, que quer dizer “associar-se com”, “compartilhar”,
“ser sócio em”, deixa evidente que, os cristãos filipenses
sentiam comunhão com Paulo, em uma aflição comum. Sentiam a
tensão da situação do apóstolo e fizeram o que estava ao alcance deles, como se
eles mesmo estivessem sendo afligidos, pois como Corpo de Cristo, quando um
membro sofre, todos sofrem igualmente (I Co 12.26).
2. Uma igreja que sustentava o seu pastor.
Paulo com gratidão relembra o apoio que os crentes filipenses
lhe concederam, e isto mais de uma vez (Fp 4.15,16). E agora, aprisionado em
Roma, observamos que a preocupação dos crentes de Filipos com Paulo, não se
resumiu a estar ciente de suas aflições, nem apenas em orar pelo apóstolo, mas
principalmente em obras, enviando-lhe uma oferta para sustentar o seu pastor
a fim de aliviar o seu sofrimento (Fp 4.18). “Naquela época, as prisões não
eram como as de nossos dias. Os presos eram responsáveis por seu próprio
sustento dentro das prisões. Aqueles que não tivessem o apoio de familiares e
amigos estavam sujeitos a morrer de fome ou por enfermidades, pois os cuidados
médicos também não eram fornecidos” (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, 2009).
3. Uma igreja que conhecia profundamente a graça da
contribuição para o sustento missionário.
Embora Paulo abrisse mão do sustento que deveria receber da
igreja por “direito” em Corinto (1Co 9.6), Ele lembra, a esta
igreja, que outras igrejas lhe sustentaram para que ele pudesse abrir mão do
sustento naquela cidade (2Co 11.8,9) reafirmando a doutrina da responsabilidade
da igreja em prover o sustento dos obreiros que vivem exclusivamente para
a obra (1Co 9.6-12; Gl 6.6; 1 Tm 5.18). Paulo cita o exemplo do agricultor
que é o primeiro que experimenta dos frutos, e do criador de gado
que se alimenta do seu leite (I Co 9.7). Na visão paulina não é
diferente no âmbito espiritual, pois o sacerdote da antiga
aliança que ministrava no altar dele também se alimentava (I Co
9.13; Lc 6.4), e de acordo com a Lei, os dízimos deveriam ser entregues aos sacerdotes
e levitas constituídos para o ministério do culto (Nm 18.21-32). Por
fim, o apóstolo apoia esta prática sob o ensinamento de Moisés (1Co 9.9; Dt 25.4)
e também do próprio Senhor Jesus (I Co 9.14; Mt 10.9,10). A igreja filipense
compreendia a importância da manutenção do sustento missionário, como uma
oportunidade de adoração, serviço e amor para com o seu pastor (Fp 4.15-18).
4. Uma igreja
consciente de seu papel missionário no reino.
A igreja em
Filipos era dotada de uma profunda consciência no que dizia respeito ao
sustento dos obreiros. Quando o evangelho começou a avançar na Macedônia e
adjacências, foram esses crentes que proveram as necessidades do apóstolo Paulo
(Fp 4.15); depois, quando estava em Tessalônica, por duas vezes foi ajudado
pelos filipenses (Fp 4.16). Quando escreveu a epístola, Paulo agradeceu
novamente por mais uma ajuda a ele enviada (Fp 4.10). Muito diferente da
consciência dos filipenses, era a dos crentes de Corinto. Alguns deles
chegavam a duvidar do apostolado de Paulo e se esqueciam de que fora ele quem
fundara aquela igreja (1Co 9.1). Paulo teve ainda que justificar o direito que
ele tinha como apóstolo, de ser sustentado pela igreja (1Co 9.2-10), como já
acima citado.
III.
A OFERTA DA IGREJA DE FILIPOS PARA PAULO
Já vimos que,
embora o apóstolo Paulo tivesse o direito de receber sustento das igrejas que
fundava, ele não exigia, mas quando estas lhe ofertavam voluntariamente, ele
também não recusava, porque via essa contribuição sob uma ótica espiritual “Não
que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta” (Fp
4.17). Como podemos ver, Paulo não queria deixar a impressão de que cobiçava a
ajuda financeira deles “Não que procure dádivas”. Ele não
cobiçava o dinheiro de quem quer que fosse (At 20.33). Mas, o que realmente
desejava era o que seria lançado no crédito celestial dos cristãos filipenses
por sua generosidade “procuro o fruto que cresça para a vossa conta”.
Na concepção paulina, os filipenses estavam, de fato, armazenando para si
mesmos tesouros no céu (Mt 6.20), pois as ofertas que eles deram para Paulo
estavam acumulando dividendos para crédito espiritual deles (Pv 11.24,25; Lc
6.38; 2Co 9.6).
1. “Mas bastante
tenho recebido, e tenho abundância” (Fp 4.18a).
Os termos “bastante”,
“abundância” e “cheio” usados pelo apóstolo neste
versículo nos mostram que a oferta enviada pelos cristãos filipenses foi
generosa e o suficiente para suprir as suas necessidades por um bom tempo. Isto
nos conduz a lição de como devemos contribuir na obra de Deus “E digo
isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em
abundância, em abundância ceifará” (2Co 9.6).
2. “Cheio estou,
depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado” (Fp 4.18b).
Como podemos ver,
o obreiro Epafrodito obteve êxito em sua missão, levando para o apóstolo a
provisão enviada pelos cristãos filipenses. Mesmo tendo adoecido, ou no
percurso da ida a Roma ou na chegada, esse nobre cooperador fez todo o possível
por Paulo, demonstrando assim o que os próprios filipenses desejavam fazer (Fp
2.26-30).
3. “Como cheiro de
suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus” (Fp 4.18c).
Ao contrário do
que pensavam alguns, que Paulo não desfrutava do direito de ser sustentado pela
igreja por orgulho, ele demonstra em suas palavras o quanto se sentiu feliz com
a provisão enviada pelos cristãos de Filipos, recebendo essa oferta como um
sacrifício espiritual que agradou a Deus “sacrifício agradável e
aprazível a Deus”. Paulo chega a comparar essa contribuição a oferta
que era oferecida no AT, que não era uma oferta pelo pecado, mas sim uma oferta
de paz em caráter de ação de graças (Lv 7.12-15). Esta nobre atitude dos
filipenses deve ser reproduzida por todos aqueles que abraçam a fé em Cristo
(Rm 12.1; 1Pe 2.5).
IV.
CONTRIBUIÇÃO MISSIONÁRIA: UMA GRAÇA ABENÇOADORA
Pelas palavras do
apóstolo em (Fp 4.10-20), percebemos que não foi a oferta em si enviada pela
igreja de Filipos que chamou a sua atenção, mas as nobres virtudes que
impulsionaram esta comunidade cristã a tomar esta atitude. Aqueles crentes
filipenses, na concepção paulina, haviam demonstrado a regra da preocupação
fraternal, a lei do amor, o princípio que rege a família de Deus (Rm 12.10; 1Pe 1.22). A missiva enviada aos filipenses é também uma “carta de
agradecimento” em retribuição ao gesto daqueles cristãos.
1. “O meu Deus,
segundo as suas riquezas” (Fp 4.19a).
Para Paulo
competia agradecer a generosidade dos cristãos filipenses o que ele fez de
forma destacável (Fp 4.14-18). No entanto, o apóstolo estava por causa da
prisão e de suas condições, impedido de recompensá-los por seu feito, mas o
Senhor de Paulo poderia pagá-los “segundo as suas riquezas”. Por
certo, aquela comunidade cristã de Filipos ofertara ao apóstolo o que pudera,
pois também tinham limitações. Paulo, sabedor disto, lhes diz que Deus não tem
estas limitações, porque é dono de tudo (1Cr 29.14; Sl 24.1).
2. “Suprirá todas
as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp 4.19b).
O apóstolo garante
aos crentes filipenses a atitude deles em seu benefício seria recompensada por
Deus, que iria supri-los nas suas necessidades. A expressão suprir, no grego é “epichoregeõ”
que quer dizer “fornecer completamente, prover abundantemente”.
Esta provisão “em glória” indica tanto um salário PRESENTE
“de maneira gloriosa”, quanto ESCATOLOGICAMENTE, “no
glorioso século futuro”, no Tribunal de Cristo, que ocorrerá logo após
o arrebatamento da Igreja, onde cada crente receberá suas recompensas e galardões
segundo o seu envolvimento, trabalho e esforço na proclamação do Evangelho e na
expansão do Reino de Deus (1Co 3.11-15; 2Co 5.10).
CONCLUSÃO
Concluímos que os
dízimos e ofertas constituem-se no método divino de provisão e sustento dos
missionários que são enviados, pela igreja local, às missões transculturais. É
da igreja a responsabilidade da contribuição e suporte àqueles que se ofertando
a Deus como sacrifício, renunciam a sua zona de conforto a fim de atender o
chamado divino. Portanto, como igreja de Cristo, precisamos continuar Orando,
Fazendo e Contribuindo por missões, a fim de cumprirmos com a Grande Comissão.
REFERÊNCIAS
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