Dentre os
temas sociais abordados na Bíblia, certamente os mais comentados estão
relacionados com a orfandade e a viuvez, pois nos tempos bíblicos quando uma
mulher se tornava viúva, além de sofrer a perda da companhia física e afetiva
do seu cônjuge, ela também declinava vertiginosamente do ponto de vista social,
passando à pobreza extrema. Por isso, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, Deus estabeleceu normas para o amparo dessas pessoas.
I - A
VIUVEZ NO ANTIGO TESTAMENTO
Já havia uma atenção específica
dedicada à viuvez no Antigo Testamento. Deus advertiu de forma contundente o
povo de Israel para que não desprezassem tais pessoas. O texto de Ex 22.22-24
declara o profundo zelo do Senhor para com os órfãos e viúvas que, se fossem
afligidos e clamassem, certamente seriam ouvidos e a ira de Deus se acenderia
contra os opressores.
No texto de Dt 14.28,29 vemos o
Senhor estabelecendo uma forma específica de arrecadação para os menos
favorecidos, dentre eles, as viúvas. Interessante que se Israel não
negligenciasse esse mandamento, o Senhor abençoaria o seu povo em
todas as obras de suas mãos (Dt 14.29).
No caso de uma mulher, a viuvez
seria extremamente penosa, principalmente se ela não tivesse filhos. Nesses
casos, ela retornaria à casa de seus pais e ficaria sujeita a lei do levirato,
segundo a qual um parente próximo do falecido a desposaria para lhe dar um
filho (Dt 25.5-9).
Há vários exemplos de viuvez no
Antigo Testamento e podemos observar as características de cada um:
1.1 A
viuvez de Abraão. O grande
patriarca perdeu a sua querida esposa Sara quando esta completou 127 anos de
idade. Ela foi profundamente lamentada pelo nosso pai na fé (Gn 23.1,2), que
adquiriu um valioso território para ali sepultá-la (Gn 23.16-18).
1.2 A
viuvez de Ló. Essa
foi uma trágica forma de perder o cônjuge. Certamente a mulher de Ló estava
conformada com o estilo de vida mundano e pecaminoso de Sodoma, e se sentiu
triste por ter que deixar aquela cidade, por isso olhou para trás e morreu
tragicamente (Gn 19.26). Jesus fez menção dela como figura daqueles que não
estarão preparados por ocasião da sua vinda (Lc 17.32-37). Lembremos que a
viuvez precoce do patriarca deu ocasião ao terrível pecado de incesto, que deu
ocasião aos terríveis inimigos do povo de Israel (Gn 19.31-37).
1.3 A
viuvez de Rute e Noemi. Esse é
um dos relatos mais tristes da Bíblia em termos de perdas familiares. Noemi e
suas duas noras ficaram viúvas em um pequeno espaço de tempo nos campos de
Moabe. Rute e Noemi regressaram vazias à terra de Judá. O Senhor, porém,
demonstrou com o passar do tempo não estar alheio às aflições dessas duas
mulheres e provou ser o seu amparo. Rute, mesmo sendo gentia, contraiu novas
núpcias com o judeu Boaz e o fruto dessa nova relação passou a ser contado na
linhagem messiânica, sem contar que sua sogra Noemi também foi beneficiada por
tal relação (Rt 1-4);
1.4 A
viuvez de Abigail. No caso
dessa mulher, a viuvez acabou lhe trazendo um certo alívio, pois o seu marido
Nabal era um homem ímpio, vil, avarento, egoísta e beberrão. Diante de tantos
pecados, o próprio Senhor o feriu e ele acabou sem vida (I Sm 25.18-38). Vale
salientar, porém, que em momento algum Abigail pediu a morte do seu
marido, feri-lo de morte foi uma decisão divina. Convém clamar pela
libertação e salvação do cônjuge, e não pela sua morte;
1.5 A
viúva de Sarepta. Observamos
que esta viúva era uma mulher piedosa, temente a Deus e humilde. Ela foi
submissa ao homem de Deus mesmo atravessando a pior das crises. O resultado
disso foi que o Senhor não a desamparou e encheu sua casa de provisões (I Rs
17.9-16). A fé de tal viúva era tão grande que Deus ressuscitou o seu filho, um
dos únicos casos de ressurreição em todo o Antigo Testamento (I Rs 17.17-24).
II - A
VIUVEZ NO NOVO TESTAMENTO
Já nas
páginas do Novo Testamento, Jesus condenou de forma contundente os escribas e
fariseus, que desrespeitavam as viúvas e as exploravam financeiramente (Mt
23.14; Lc 20.47). Isso demonstra o zelo e o cuidado que ele tinha por esta
classe tão sofrida. A Bíblia nos mostra que devemos honrar as verdadeiras
viúvas (I Tm 5.3).
É
importante também lembrar que o diaconato foi estabelecido, dentre outras
coisas, por causa do desprezo que vinha sendo dispensado para com as viúvas dos
gregos (At 6.1). O cuidado com essas mulheres aparece na definição do que vem a
ser a verdadeira religião (Tg 1.27). Alguns exemplos de viuvez são mencionados
no Novo Testamento:
2.1 A
profetisa Ana (Lc 2.26-38).
Tratava-se de uma mulher piedosa que nunca se afastava do templo, servindo a
Deus em jejuns e orações de noite e de dia.
2.2 A
viúva de Naim (Lc 7.11-17). Após
perder o seu marido, esta pobre mulher também perdeu o seu único filho. A sua
bem-aventurança foi ter se encontrado com Jesus, que não deixa desamparadas as
viúvas. A Bíblia diz que ele olhou para ela e se moveu de íntima compaixão.
Ele, então, consolou-a com as palavras: “Não chores”(Lc 7.13),
mas principalmente com a operação de um grande milagre, pois disse ao defunto:
“Jovem, eu te digo: Levanta-te”. (Lc 7.14);
2.3 A
viúva pobre (Lc 21.1-4). Temos
aqui um verdadeiro exemplo de fé, devoção e desprendimento das coisas
materiais. Ela estava oferecendo o melhor ao Deus que podia ampará-la em meio
às aflições da viuvez;
III -
CRITÉRIOS PARA SE AJUDAR AS VIÚVAS
Dentre
alguns textos no Novo Testamento que tratam da questão da viuvez, a primeira
carta de Paulo à Timóteo estabelece alguns pré-requisitos para que se possa
amparar as viúvas: “Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas” (I
Tm 5.3). É bom lembrar que naquela época não havia pensão alimentícia e nem
outras políticas de amparo social como hoje se vê. Logo, a assistência que a
igreja presta nos dias atuais é muito mais espiritual do que financeira, à
exceção de alguns casos. Vejamos quem são as verdadeiras viúvas:
3.1
Aquelas que não têm quem as ampare. A
Bíblia recomenda que se dê o apoio necessário àquelas que perdem o marido e não
têm nenhum parente para ajudá-las. O texto é muito claro: “Mas, se alguma
viúva tiver filhos ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua
própria família e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável a
Deus” (I Tm 5.4);
3.2
Aquelas que não são relaxadas, preguiçosas e tagarelas. O apóstolo Paulo é enfático na sua recomendação à
Timóteo quando fala de alguns tipos de viúvas: “E, além disto, aprendem
também a andar ociosas de casa em casa; e não só ociosas, mas também paroleiras
e curiosas, falando o que não convém” (I Tm 5.13). Tais mulheres
demonstravam um total desinteresse pela obra do Senhor e uma vida de santidade.
A igreja não poderia usar os o dinheiro dos santos irmãos para ajudar mulheres
totalmente comprometidas com o mundo;
3.3 As
que tivessem mais de sessenta anos de idade. Em I Tm 5.9 está escrito: “Nunca seja inscrita viúva com menos
de sessenta anos, e só a que tenha sido mulher de um só marido”. A
igreja não poderia sustentar mulheres que estavam mais preocupadas em
conquistar um novo marido do que em se dedicar ao serviço de Deus. O apóstolo
Paulo as chama no versículo 11 de “levianas”, e o termo grego usado no original
significa “orgulhosas e cheias de luxúria”. Vale salientar que a Bíblia não
condena que a pessoa viúva venha a contrair novas núpcias e recomeçar na vida (
I Co 7.8,9). O texto de I Tm 5.14 é claro: “Quero, portanto, que as
viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não deem
ao adversário ocasião favorável de maledicência”.
3.4
Aquelas que têm bom testemunho. O texto
de I Tm 5.10 nos mostra pelo menos cinco qualificativos que compõem o bom
testemunho de uma verdadeira viúva, que é digna de ser amparada pela igreja.
CONCLUSÃO
O cristão
que está enfrentando a viuvez deve fazê-lo consciente de que o Senhor não o
desamparou. Portanto, não deve entregar-se à inércia ou à melancolia, e sim,
dedicar-se ao serviço divino onde encontrará consolo e graça, e poderá ser,
mesmo em meio às aflições, um poderoso instrumento de Deus para abençoar a vida
de muitos.
REFERÊNCIAS
- MACARTHUR. Bíblia de Estudo. SBB.
- MEARS, Henrietta. Estudo panorâmico da
Bíblia. VIDA.
- DOUGLAS, J.D. O novo dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.
Por Rede Brasil
de Comunicação
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