Lc 8.1-3
INTRODUÇÃO
Espero
que seus alunos estejam gostando e, principalmente, sendo edificados com as
lições deste trimestre! Hoje, estudaremos mais um subtema que, embora fácil,
pode gerar, dependendo dos alunos que formam a sua classe, certa polêmica.
Assim, abordaremos a presença feminina no contexto judaico, em seguida, veremos
a participação delas no ministério de Jesus, e, por fim, responderemos a
questão “é ou não bíblico a ordenação de
mulheres em funções eclesiásticas?”. Desejo a todos uma excelente aula!
I.
AS MULHERES NO CONTEXTO JUDAICO
Ainda
sobre a presença feminina na vida pública na Palestina nos dias de Jesus, o
escritor e historiador J. Jeremias destaca que a mulher que saía de casa sem
ter a cabeça coberta, quer dizer, sem o véu que ocultava o rosto, faltava de
tal modo aos bons costumes que o marido tinha o direito, até mais, tinha o
dever de despedi-la sem ser obrigado a pagar a quantia que, no caso de
divórcio, pertencia à esposa, em virtude do contrato matrimonial.
Observa
ainda J. Jeremias, as regras do decoro proibiam encontra-se sozinho com uma
mulher, olhar para mulher casada, e até mesmo cumprimentá-la. Seria vergonhoso
para um aluno de escriba falar com uma mulher na rua. Aquela que conversasse
com alguém na rua ou ficasse do lado de fora de sua casa podia ser repudiada
sem receber o pagamento previsto no contrato de casamento.
Além
desses fatos, para os judeus ortodoxos, a mulher não podia ter participação
ativa no culto. Nas sinagogas deviam sentar-se ao fundo. Em vez de participarem
dos atos religiosos, elas tinham que se manter a certa distância dos homens.
Elas não podiam ler, nem ter outro tipo de atuação. No templo havia uma área
denominada “pátio das mulheres”. Entretanto, no Santo dos Santos, elas nunca
poderiam entrar. O Pr. Elinaldo Renovato ainda acrescenta, dizendo: “Entre os judeus, de modo geral, as mulheres
eram vistas como inferiores aos homens. O historiador Flávio Josefo relata que
as mulheres podiam dar graças, desde que houvesse um homem presente, e que cem
mulheres não valeriam mais do que dois homens. A mulher não podia ler as
Escrituras na sinagoga, mas um escravo, homem, podia”. Vale ressaltar ainda
que entre os rabinos havia uma oração que dizia: “Senhor, obrigado por não ter
nascido nem gentio, nem publicano e nem mulher!” Diante de tais relatos, vemos
que Jesus não se limitou aos excluídos economicamente, mas também aos excluídos
socialmente, como a mulher por exemplo. Ele, na verdade, promoveu uma
“inversão” de valores nos seus dias!
II.
AS MULHERES E O MINISTÉRIO DE JESUS
Lucas
é o único evangelista a mencionar a existência de mulheres entre o grupo que
acompanhava Jesus em suas viagens (Lc 8.1-3). Como já vimos anteriormente, os
rabinos não ensinavam as mulheres e muito menos ainda possuía discípulas. Para eles,
isto era algo impossível de acontecer! Todavia, precisamos compreender que,
como descreve Lucas, os discípulos de Jesus eram constituídos de homens e de
mulheres. Embora nos Evangelhos a nomenclatura para tal descrição seja
“discípulos”, sem especificar a composição do grupo, deve-se, contudo, observar
que em seu Evangelho, Lucas, não utiliza o substantivo grego “mathetes” que especifica os discípulos
homens, e nem o substantivo feminino “mathetria”
especificando as discípulas mulheres. Lucas utiliza o substantivo masculino em
sua forma plural “hoi mathetai” que
pode ser usado tanto para homens como para mulheres. Assim, ele enfatiza que
muitas mulheres compunham os “discípulos” de Jesus, como por exemplo, Maria
Madalena, Joana, Suzana, Marta e Maria, entre outras.
Embora
Mateus não enfatize a pessoa da mulher, como fez Lucas em seu evangelho,
contudo, Mateus menciona os nomes de mulheres na genealogia de Jesus: Tamar, Raabe,
Rute, a que foi mulher de Urias - Bate-Seba e Maria, mãe de Jesus (Mt
1.3,5,6,16). Este fato é algo totalmente incomum, visto que toda genealogia,
segundo a cultura judaica, era composta apenas com os nomes dos chefes de
famílias. Logo, só há dois meios de entendermos este inusitado fato: 1) Mateus
absorveu os ensinos do Mestre Jesus; e 2) Por intervenção divina, ou seja, ação
do Espírito Santo. Vejamos, agora, a participação de algumas mulheres no
ministério de Jesus:
1. Maria, mãe de
Jesus (Lc 1.26-38).
2. Isabel, mãe
do precursor do Messias (Lc 1.41-45).
Enquanto
Maria tronou-se a mãe do Salvador, Isabel, por sua vez, tornou-se a mãe do precursor
do Salvador e, também, do último profeta do Antigo Testamento (Lc 1.76; 16.16).
O próprio Senhor Jesus reconheceu o valor e importância da pessoa de João, ao
dizer: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não
apareceu alguém maior do que João Batista; contudo, o menor no reino dos céus é
maior do que ele” (Mt 11.11). Será que Jesus estava também se incluindo
nesta estatística?
3. A sogra de
Pedro (Lc 4.38-40).
O
texto sagrado diz que ela “os servia”. O termo “servo”
no grego é “doulos” que significa “alguém que se rende à vontade de outro;
aqueles cujo serviço é aceito por Cristo para estender e avançar a sua causa
entre os homens”. As únicas informações que temos dessa mulher é que
ela era sogra de Pedro e que morava em Cafarnaum, além disto, não sabemos mais
nada sobre ela, nem sequer o seu nome. Os evangelistas, contudo, mostram que
essa mulher contribuiu muito para o ministério de Jesus. A forma dessa
contribuição foi sem dívida nenhuma, além do serviço que ela prestou a Jesus e
seus discípulos suprindo-os com água e alimento. Sabe-se que Cafarnaum era a
cidade onde Jesus estabeleceu o seu ministério terreno (Mt 9.1; Mc 2.1; Lc 7.1).
Assim, segundo a narrativa de Marcos 1.29-39, parece-nos, pois, que essa casa
ficou sendo o lugar de hospedagem de Jesus durante seu ministério (Mt 4.13;
13.1; Mc 9.33).
4. As mulheres
que serviam com seus bens (Lc 8.1-3).
Neste
texto bíblico, em que Lucas narra à presença feminina no ministério de Jesus,
Ele destaca três das muitas mulheres que serviam ao Mestre, as quais mencionam
seus nomes: Maria Madalena, Joana e Suzana (vv.2,3). O que sabemos sobre elas? Sobre
Maria Madalena, Lucas enfatiza que fora liberta de sete demônios e a destaca
das demais, pois ela foi uma das mulheres que esteve presente na crucificação
de Jesus (Mt 27.55,56; Mc 15.40; Jo 19.25), viu onde colocaram o corpo de Jesus
(Mt 27.61; Mc 15.47; Lc 23.55), e intentou ungir o corpo de Jesus no raiar do
domingo (Mt 28.1; Mc 16.1; Lc24.10). Além disso, ela não imaginava que seria a
primeira pessoa a quem o Cristo ressurreto apareceria (Jo 20.1-18). Champlin
sobre ela comenta: “Seu nome deriva-se de
sua cidade natal Magdala, a qual também era conhecida pelo nome de Taricheae,
uma aldeia de pescadores na barriga ocidental do lago da Galileia. Essa menção
de seu nome parece ter a intenção de ser a primeira menção sobre ela, e disso
colhemos uma pequena evidência positiva de que essa Maria não pode ser
identificada com a mulher pecadora que aparece em Lc 7.36-50”. Verdade! E nem o texto citado por Champlin
deve ser confundido com João 12.1-8.
Quanto
à Joana, Lucas informa apenas, além de seu nome, é claro, de quem ela é esposa.
Era esposa de Cuza, procurador de Herodes (v.3). O Herodes aqui citado é
Herodes Antipas, filho de Herodes – o Grande. Antipas deu continuidade ao
reinado de seu pai reinando na Galileia durante 4 d.C. até 39 d.C. Champlin
sobre Joana diz: “Joana, esposa de Cuza,
um dos funcionários de Herodes, sem dúvida era mulher de prestígio e influência
social. Esta narrativa mostra que Jesus tinha seguidores até mesmo no palácio
de Herodes (Entre eles estava Manaem,
irmão de criação de Herodes, ver Atos 13.1). Joana também é mencionada, em
companhia de Maria Madalena, em Lc 24.10”. Já Suzana, o que se sabe desta
mulher? Nada se sabe dela, apenas seu nome e o significado do mesmo “lírio”.
Todavia,
o fato de que estas e outras mulheres serviram a causa do Mestre Jesus é
inquestionável. Por isso, Stamps comenta: “Essa
mulheres, que tinham recebido cura e atendimento especial da parte de Jesus,
honravam-no, contribuindo fielmente para o seu sustento, e dos seus discípulos.
O serviço e a devoção delas continuam sendo um exemplo para todas as mulher que
nEle crê. As palavras de Jesus em Mt 25.34-40 aplicam-se a nós na proporção em
que lhe servimos”.
5. Marta e Maria
(Lc 10.38-42).
Neste
texto, como já dito anteriormente, Jesus faz o que nenhum rabino jamais
imaginou em intentar fazer na época, ensinar e ministrar para mulheres. Porém,
para Jesus era algo simples e comum. No entanto, elas eram consideradas pelos
homens, principalmente os religiosos, como “coisas” e não como “pessoas”. Jesus,
porém, não as enxergava assim, para Ele elas eram pessoas tão necessitadas de
Deus como os homens. Na verdade, aqui, Jesus quebra paradigmas e realiza um
verdadeiro discipulado em Marta e Maria. Vejamos, pois, as lições ensinadas
pelo Mestre:
a)
É possível hospedar Jesus e ainda assim não possuir nenhum relacionamento com
Ele – “Recebeu em sua casa” (v.38).
b)
É possível possuir algum parentesco com alguém piedoso e mesmo assim não ter
Jesus como residente nela e não apenas como um convidado – “E
tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de
Jesus, ouvia a sua palavra” (v.39).
c)
É possível ter orelhas para escutar e mesmo assim não ouvir o que o Senhor está
dizendo – “Maria... ouvia a Palavra” (v.39).
d)
É possível estar tão ocupado que até mesmo Deus passa a ser um problema – “Senhor,
não te importas que minha irmã me deixe servir só?” (v.40).
e)
É possível estar à sombra do Evangelho e mesmo assim possuir valores invertidos
– “respondendo
Jesus, disse-lhes: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas,
mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada” (vv.41,42). Que maravilha te ensino!
6. A pecadora na
casa de Simão, o fariseu (Lc 7.36-50).
Assim,
no relato lucano, também menciona-se: Ana, a profetisa, a viúva de Naim, a
viúva pobre, a mulher do fluxo de sangue, a mulher encurvada, Maria de Betânia,
entre outras.
III.
AS MULHERES E AS FUNÇÕES ECLESIÁSTICAS
1) Na Bíblia, a única pastora mencionada é Raquel, uma pastora de ovelhas
(Gn 29.9). E o termo “bispa”, em voga
na atualidade, sequer existe. Foi uma certa “episcopisa” que, ao lado de seu
marido “apóstolo”, o popularizou.
2) Muitos têm dito que as mulheres sequer eram citadas nas genealogias,
pois entre os judeus elas eram desprezadas. Isso em parte é verdadeiro.
Contudo, esse argumento não é válido para o que está escrito na Lei, pois foi
Deus quem entregou todos os preceitos da Lei a Moisés. Seria Deus machista?
3) Os defensores da ordenação feminina citam como exemplo a valorosa
cooperadora de Paulo e esposa de Áqüila, Priscila (At 18.26). Mas tudo não
passa de conjectura, haja vista não haver nenhuma referência que confirme o seu
apostolado.
4) Também citam Júnias, que — pelo que tudo indica — era um cooperador de
Paulo (Rm 16.7). Mesmo que fosse mulher, o texto não afirma, categoricamente,
que se tratava de alguém que exercesse o ministério pastoral ou apostólico.
5) Na igreja primitiva, as mulheres se ocupavam da oração (At 1.14) e do
serviço assistencial (At 9.36-42; Rm 16.1,2). E algumas se notabilizaram como
fiéis cooperadoras do apóstolo Paulo, como Febe, a mencionada Priscila,
Trifena, Trifosa, etc. (Rm 16), além de Lídia, a vendedora de púrpura (At
16.14). Não há nenhuma referência a mulheres exercendo atividades pastorais.
7) Se Paulo era machista, o que dizer de Jesus, que escolheu doze
homens para compor o ministério da igreja nascente, de acordo com Mateus
10.2-4? Ele teria se enganado? Ou o Mestre tinha algum vínculo com fariseus,
saduceus, escribas ou quaisquer grupos machistas de sua época?
8) Na escolha dos primeiros diáconos, que poderiam vir a ser ministros,
caso tivessem chamada de Deus para tal e servissem bem ao ministério (Hb 5.4; 1
Tm 3.13), os apóstolos disseram: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões…”
(At 6.3).
9) No primeiro concílio, em 52 d.C., os rumos da igreja foram traçados por
homens (At 15).
10) Em Apocalipse 2 e 3, são mencionados os pastores das igrejas da Ásia. Como se vê, apesar de toda a
polêmica em torno desse assunto, a Bíblia é clara. Embora as mulheres tenham
importante papel ao longo das páginas do Novo Testamento, aparecendo na
linhagem e no ministério de Cristo (Mt 1.3,5,6,16; Lc 8.1-3), Deus conferiu aos
homens, em regra geral, o exercício da liderança eclesiástica (Ef 4.8-11)”.
Diante
do exposto, pelo Pastor Ciro, reitero que minha intenção foi apenas
compartilhar as evidências bíblicas apresentadas neste artigo. Aconselho,
contudo, lê-lo na integra no Blog do Ciro para um entendimento melhor
do mesmo. No entanto, a polêmica só existe porque não nos submetemos a
Autoridade das Escrituras, fato existe que tem causado muitos prejuízos à obra
do Senhor.
CONCLUSÃO
Nesta lição aprendemos, com Jesus, a importância
e o valor que a mulher possui na obra do Senhor, bem como seu lugar na mesma. Diferentemente
dos da sua sociedade, Jesus sempre tratou com amor, respeito e dignidade a
mulher ao conversar, ensinar, curar e libertar cada uma delas. Como asseverou
Paulo: “Pois como a mulher proveio do homem, assim também o homem nasce de
mulher, mas tudo vem de Deus” (1 Co 11.12). Por isso, Jesus as tratava
como criaturas de Deus e não como objetos! Graças damos a Deus por esta
maravilha de ajudadora – a mulher, e desejamos a todas as que já são mães – Um
Feliz Dias das Mães! Que Deus abençoe a todos!
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado.
MILENIUM.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø GONÇALVES,
José. Lucas – O Evangelho de Jesus, o
Homem Perfeito. CPAD.
Ø GONÇALVES,
José. Lições Bíblicas. (2º Trimestre de 2015). CPAD.
Ø RENOVATO,
Elinaldo. Lições Bíblicas. (2º Trimestre de 2000). CPAD.
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