Rm 14.1-6
INTRODUÇÃO
I. DEFINIÇÃO DA
PALAVRA TOLERÂNCIA
Segundo o
Aurélio (2004, p. 1960) a palavra “tolerância” significa: “tendência
a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo
ou de grupos determinados, políticos ou religiosos”. Conforme Champlin
(2004, p. 450), “a tolerância consiste em um estado permanente de boa vontade,
dando margem às diferenças que vemos em outros, mesmo que discordemos dessas
diferenças”. Apesar de tal definição, se faz necessário destacar que, o
conceito contemporâneo de tolerar está sendo confundindo com “transigir”, que
por sua vez quer dizer: “chegar a acordo; condescender; ceder”. É preciso
entender que a justiça de Deus, não pode tolerar crenças ou ações pecaminosas
(II Co 6.14,15; Hb 1.9). A tolerância de que fala Paulo nesta lição em nada tem
a ver com coisas declaradamente erradas pela Bíblia, senão com coisas não
essenciais a salvação (Rm 14.2,3). Diante disso, é necessário destacar pelos
menos duas coisas com as quais o crente não pode tolerar. Vejamos:
1.1 Não podemos tolerar o pecado.
1.2 Não podemos tolerar a heresia.
Orientado por
Jesus, João escreveu sete cartas às sete igrejas da Ásia. Duas dessas igrejas:
Éfeso e Tiatira destacam-se de forma diferente. A igreja de Éfeso foi elogiada
por Jesus, porque não se mostrou tolerante com os falsos apóstolos, pois
identificou a heresia dos nicolaítas e a rejeitou (Ap 2.2). Já a igreja em
Tiatira foi severamente repreendida por sua tolerância com a heresia que, além
de ser um problema teológico resultou num problema moral (Ap 2.20). Aqueles
cristãos estavam permitindo um movimento herético florescer em seu meio e,
assim, colocando toda a igreja em perigo. O problema não era externo, mas
interno. “O problema em Tiatira era uma tolerância que não era sadia. Eles
reconheciam a existência de uma profetisa falsa; reconheciam também o caráter
maléfico de seu ensino, mas em sua tolerância se negavam a lidar com ela”
(LADD, 1986, p. 41).
II. O CRENTE JUDEU
E O CRENTE GENTIO
A igreja de Roma
era composta por judeus e também por gentios (Rm 9.24). A carta é dirigida
tanto a uns como aos outros (Rm 1.13; 7.1). “A capital do império era uma
grande metrópole com mais de um milhão de habitantes. Havia grande concentração
de judeus em Roma, tanto na época da expulsão deles em 49 d.C. pelo imperador
Cláudio, como no tempo em que o imperador Nero incendiou Roma, em 64 d.C.”
(LOPES, 2010, p. 23). Vejamos na tabela abaixo algumas informações
interessantes sobre ambos os povos:
POVO
|
QUEM ERAM
|
COMO SE COMPORTAVAM DEPOIS DE SALVOS
|
JUDEU
|
O judeu é o
“indivíduo originário da nação judaica ou seguidor do judaísmo” (ANDRADE,
2006, p. 200).
|
Aqueles que
dentre os judeus aceitavam a fé em Jesus como Messias, continuavam com as
práticas judaicas da observância de dias tidos como especiais, a circuncisão,
e a não ingestão de certos tipos de carnes tidas como imundas (At 10.14,15;
15.1,5,24).
|
GENTIO
|
Os gentios
“são todos aqueles que são nascidos fora da comunidade de Israel, e estranho
às alianças que o Senhor estabeleceu com o seu povo no AT” (Ef 2.11,12)”
(ANDRADE, 2006, p. 242).
|
Aqueles que
dentre os gentios se convertiam a Cristo, continuavam com a sua vida de
gentio, não sendo forçados a obedecerem aos costumes da religião judaica.
Pelo contrário, foi ordenado apenas “que se abstenham das contaminações dos
ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (At 15.20-b). Cf. (At
15.28,29).
|
III. A PERSPECTIVA
PAULINA ACERCA DAS DIFERENÇAS ENTRE AMBOS OS POVOS
Diante de uma
igreja mista, composta por judeus e gentios, o apóstolo Paulo se vê diante do
desafio de orientar ambos a comportarem-se tal como foram chamados (I Co 7.18).
Na perspectiva paulina, o judeu que se converteu a Cristo, não deveria abrir
mão de seus costumes religiosos, nos quais fora criado, desde que estivesse
ciente de que estas coisas nada acrescentam a salvação (Gl 5.6; Cl 2.20-23). Da
mesma forma, o gentio que também foi alcançado pela graça salvadora não
necessitaria aderir aos costumes estritamente judaicos para ser salvo (At
15.7-11). Abaixo, destacaremos as principais divergências que estavam
acontecendo entre os cristãos judeus e gentios de Roma, aos quais Paulo orienta
a tolerância:
3.1 Diferença de comida (Rm 14.2,3).
Em Levítico 11 e
Deuteronômio 14, encontramos as leis dietéticas que dizem respeito ao que os
hebreus deveriam ou não comer. Isto estava tão enraizado na cultura judaica,
que quando alguns judeus se tornaram cristãos, ainda se preocupavam com a
correta preparação dos alimentos de acordo com estas leis (At 10.6-8). O
problema é que estes não só observavam tais recomendações, mas julgavam os
gentios convertidos que não as praticavam. Segundo Wiersbe (2010, p. 348 –
acréscimo nosso) devemos observar três fatos sobre as leis acerca dos
alimentos: a) Deus deu essas leis
somente para a nação de Israel (Lv 11.2); b)
a obediência a essas leis garantia a pureza cerimonial, mas não tornava a
pessoa automaticamente santa em seu caráter (Tt 1.15); e, c) as leis eram temporárias e terminaram na cruz de Cristo (Cl
2.14; Hb 10.1-4)”. Para Paulo os cristãos não devem reduzir a fé cristã a
coisas obsoletas “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). “Segundo o entendimento ensinado
no NT sobre as exigências de Deus, é óbvio que muitos itens mencionados não têm
significação moral ou ética” (BEACON, 2006, pp. 279,280 – acréscimo nosso).
3.2 Diferença de dias (Rm 14.5,6).
IV. O EXERCÍCIO DA
TOLERÂNCIA ENTRE OS CRISTÃOS
4.1 Os fracos na fé.
A expressão “fraco”
no grego “astheneo” significa “estar debilitado”. Dá a entender
alguém que é “inexperiente”
(PALAVRA-CHAVE, 2009, p. 2098). “É consenso geral que os crentes chamados
fracos eram oriundos das fileiras do judaísmo, os quais, embora tivessem
depositado sua fé em Cristo, ainda viviam comprometidos com as regras judaicas”
(LOPES, 2010, p. 447). Na concepção paulina, o cristão fraco dentro do contexto
de Romanos 14 é aquele que atribui pecado a coisas que em si mesmas. A guarda
de dias e as dietas alimentares não envolvem questões morais, ou seja, são
amorais. Portanto, era uma postura errada de tais cristãos julgarem os outros
que não as observavam (Rm 13.2,3). Portanto, o pecado desses tais era o
julgamento. A expressão “julgar” no grego “krinõ”
que significa: “julgar, condenar, punir” (idem, 2009, p. 2098). Tal expressão
leva-nos ao entendimento que aqueles que observavam tais práticas estavam
condenando os que não praticavam, quem sabe invalidando até a salvação deles
(Rm 14.10). Esse tipo de julgamento concernente à salvação só quem faz é o
Senhor (Rm 14.10-12).
4.2 Os fortes na fé.
A expressão
“forte” refere-se aos crentes maduros, que sabiam discernir entre o certo e o
errado com equilíbrio (Rm 15.1,2). No entanto, estes estavam errando porque
julgavam-se superiores aos outros (Rm 14.10). Segundo Lopes (2010, p. 445), “o
pecado dos crentes fracos era o julgamento; o pecado dos crentes fortes era o
desprezo. Os crentes fracos pecavam pelo zelo sem entendimento; os crentes
fortes pecavam pelo entendimento sem amor”. O fato de sabermos que existem
práticas amorais que em nada afetam a nossa comunhão com Deus, não nos dá o
direito de menosprezar aqueles que observam tais práticas entendendo que são
importantes para a espiritualidade (Rm 14.5,6). Na verdade, segundo Paulo, os
crentes maduros devem abster até mesmo das coisas amorais se estas provocam
escândalos na cosmovisão daqueles que as consideram imorais (Rm 14.14,15). A
nossa liberdade é restrita pela consciência alheia. Devemos abrir mão até mesmo
do que é permitido, se isto leva o meu irmão a tropeçar (Rm 14.20,21). O amor
deve me ajudar a exercer a minha liberdade em Cristo (Rm 15.1,2).
CONCLUSÃO
O apóstolo Paulo
orienta-nos através da epístola aos Romanos a agir com tolerância uns com os
outros para que o ambiente da igreja permaneça saudável. Existiam práticas
divergentes entre os judeus e gentios que estavam se tornando numa discussão
soteriológica. Paulo de forma equilibrada orienta-os a devida tolerância entre
si. Sabendo que, o reino de Deus está acima das coisas triviais que em nada
contribuem para a verdadeira espiritualidade.
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
CHAMPLIN, R. N.
Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
HOWARD, R.E, et al. Comentário
Bíblico Beacon. Vol 08. CPAD.
LADD, George.
Apocalipse: introdução e comentário. MC.
LOPES, Hernandes
dias. Comentário Exegético de Romanos. HAGNOS.
STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede Brasil
de Comunicação.
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