Rm 12.1-12
INTRODUÇÃO
A partir do
capítulo 12 da Epístola aos Romanos, Paulo passa de uma exposição doutrinária
para uma exposição prática, a fim de transformar a doutrina cristã em ação.
Quando uma pessoa é alcançada pelo poder do evangelho, ela deve ter uma vida
consagrada diante de Deus; e, como consequência seu relacionamento diante do
mundo, da igreja e dos seus opositores devem ser condizentes com a nova vida em
Cristo.
I. A POSTURA DO CRISTÃO EM RELAÇÃO
A DEUS
O apóstolo roga
aos cristãos romanos que se consagrem ao Senhor, apoiando o seu pedido no amor
que Ele tem por nós. Paulo utiliza-se aqui da linguagem do “sacrifício” remetendo-nos
ao AT. Em Levítico, são listados quatro tipos de sacrifícios (Lv 1.3-17;
2.1-16; 3.1-17; 4.1-5; 5.14-16). Todos estes sacrifícios podem ser reduzidos a
somente dois: a) o primeiro, abrangendo aqueles sacrifícios oferecidos
antes da reconciliação e os que visavam obtê-la; e, b) o segundo, os sacrifícios
oferecidos depois da reconciliação e para celebrá-la. Isto aponta para uma
verdade bem clara no NT. O sacrifício pelo pecado foi efetuado por Cristo (Gl
1.4; 2.20; Ef 5.2,25; I Tm 2.6; Tt 2.14; Hb 9.14); o sacrifício por gratidão
pela absolvição é feita pelo pecador redimido. “O sacrifício da expiação
oferecido por Deus na pessoa do seu Filho agora deveria encontrar a sua
resposta no crente no sacrifício de uma completa consagração e de uma íntima
comunhão” (BEACON apud GODET, 2006, p. 158).
1.1 O cristão a
oferta de gratidão (Rm 12.1).
ASPECTOS
DO SACRÍCIO DO CRENTE
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DEFINIÇÃO
E EXPLICAÇÃO
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Vivo
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O sacrifício do
corpo do cristão é descrito como “vivo” em contraste com os
sacrifícios realizados na Antiga Aliança cuja vida era tirada antes de ser
apresentada sobre o altar (Lv 1.5-9). Antes da nossa conversão oferecíamos os
membros do nosso corpo ao pecado (Rm 6.12-14). Agora, na Nova Aliança,
oferecemos nosso corpo como sacrifício vivo a Deus (Rm 12.13b).
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Santo
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A palavra “santo”
quer dizer “separado”. Em suas epístolas, o apóstolo
Paulo sempre exortou as igrejas sobre a necessidade e o dever de terem uma
vida santificada, ou seja, separada do pecado e consagrada a Deus (Rm
6.19,22; 12.1; I Co 1.30; 6.11; I Ts 4.3-7; II Ts 2.13; I Tm 2.15; II Tm
2.21).
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Agradável
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Segundo Aurélio
(2004, p. 71) a palavra “agradável” quer dizer: “aprazível,
deleitável”. A Bíblia nos orienta a agradarmos a Deus (Ef 5.10; Cl
1.10; I Ts 4.1; II Tm 2.4). “Nenhum culto é agradável a Deus quando é
unicamente interior, abstrato e místico; nossa adoração deve expressar-se em
atos concretos de serviço manifestados em nosso corpo” (LOPES apud STOTT,
2010, p. 399). Confira: (Mt 5.16; Hb
13.16).
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II. A POSTURA DO CRISTÃO EM
RELAÇÃO AO MUNDO
Depois de rogar
aos cristãos de Roma sobre qual deveria ser a postura do servo de Deus diante
dEle (Rm 12.1). Paulo orienta-os também quanto ao procedimento destes diante do
mundo (Rm 12.2). Para o apóstolo, não bastava ser consagrado a Deus, senão
houvesse demonstração pública desta consagração. Precisamos manifestar a fé que
abraçamos diante do mundo. Mas, segundo Paulo, qual deveria ser a postura do
cristão diante desta era:
2.1 O cristão
não deve conformar-se (Rm 12.2a).
A palavra “conformar”
segundo o Aurélio (2004, p.522) significa: “adequar, moldar”.
Segundo a Bíblia de Palavra Chave (2009, p. 2416) a palavra conformar no grego “syschematidzo”
significa: “moldar de modo semelhante, isto é, em conformidade
com o mesmo padrão”. O apóstolo está exortando aos cristãos romanos a
não se ajustarem ao modo corrupto de viver do mundo. O termo mundo aqui
refere-se ao mundo dos homens em rebelião contra Deus, e assim caracterizado
por tudo o que está em oposição a Ele. Envolve os valores do mundo, seus
prazeres, suas atividades e aspirações. “O mundo tem uma fôrma. Essa fôrma é
elástica e flácida. A fôrma do mundo é a fôrma do relativismo moral, da ética
situacional e do desbarrancamento da virtude. O crente é alguém que não põe o
pé nessa fôrma” (LOPES, 2010, p. 401).
2.2 O cristão
deve transformar-se (Rm 12.2b).
A Bíblia não só
mostra o que devemos evitar “não vos conformeis”, mas o que devemos
praticar “mas, transformai-vos”. A palavra “transformar” segundo
Aurélio (2004, p. 3338) significa: “dar nova forma, feição ou caráter”.
Segundo a Bíblia de Palavra Chave (2009, p. 2416) a palavra transformar no
grego “metamorphoõ” significa: “mudar, transfigurar,
transformar”. A ideia do apóstolo é que ao invés de nos moldarmos ao mundo,
devemos nos transformar pela renovação da mente. Enquanto o diabo age cegando a
mente dos incrédulos (II Co 4.4) e o pecado obscurecendo (Ef 4.18). O Espírito
Santo age renovando o entendimento (Rm 12.2).
III. A POSTURA DO CRISTÃO EM
RELAÇÃO A IGREJA
Quando um homem
é transformado pela ação do evangelho seus relacionamento são também
transformados. Segundo Lopes (2010, p. 398) “não podemos ter um relacionamento
vertical correto se os relacionamentos horizontais estão errados”. Paulo diz
como deve ser o comportamento dos salvos entre si, como veremos abaixo:
3.1 Humildade
(Rm 12.3).
Segundo Aurélio,
humildade significa: “ausência completa de orgulho, rebaixamento voluntário
por um sentimento de fraqueza ou respeito”. No presente
versículo Paulo orienta os cristãos a serem humildes, combatendo abertamente o
sentimento nocivo de complexo da superioridade “não pense de si mesmo
além do que convém”. O próprio apóstolo diz que o que ele possui é pela
graça “Porque pela graça que me é dada”. A humildade está associada
a uma consciência de que tudo que temos ou somos vem do Senhor (Sl 24.1; I Cr
29.14). Por isso, a Bíblia nos exorta a trilhar o caminho da humildade (Pv 15.33;
18.12; 22.4; Ef 4.2; Fp 2.3; Cl 3.12; I Pe 5.5).
3.2 Equilíbrio
(Rm 12.3; 4-8).
Paulo aconselha
os cristãos a serem equilibrados no conceito que tem de si mesmos “antes,
pense com moderação”, combatendo tanto o complexo de superioridade
quanto de inferioridade quando mostra que, embora tenhamos diferentes dons,
cada membro tem a sua importância no corpo de Cristo (Rm 12.4,5). Se faz
necessário entender que pertencemos uns aos outros, ministramos uns aos outros
e precisamos uns dos outros. Pois, no corpo de Cristo há: a) individualidade
(Rm 12.5); b) diversidade (Rm 12.4-6a); c) mutualidade (Rm
12.5); e, d) utilidade (Rm 12.6b; 8). “Os dons espirituais são
instrumentos que devem ser usados para a edificação, não brinquedos para a
recreação nem armas de destruição” (LOPES apud WIERSBE, 2010, p. 402).
3.3 Amor (Rm
12.9-10).
O amor é uma
virtude que predispõe alguém desejar o bem de outrem. É a palavra que
representa o Cristianismo (Jo 13.35). É uma das virtudes do fruto do Espírito
(Gl 5.22). Portanto, deve estar presente em nosso relacionamento com Deus e com
o nosso próximo (Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.14), como evidência de que o Espírito
Santo está em nós (Rm 5.5).
3.4
Hospitalidade (Rm 10.13).
O Aurélio diz
que a palavra hospitaleiro “é a pessoa que dá hospedagem por bondade ou caridade”.
As Escrituras revelam que a hospitalidade deve se estender aos crentes e também
aqueles que ainda estão no mundo (Gl 6.10; Hb 13.2). “A hospitalidade é o amor
expressado” (ZUCK, 2008, p. 402). Portanto, quem afirma ser cristão, mas tem o
coração insensível diante do sofrimento e da necessidade dos outros, demonstra
cabalmente que não tem o amor de Deus (Mt 25.41-46; I Jo 3.16-20).
IV. A POSTURA DO CRISTÃO EM
RELAÇÃO AOS INIMIGOS
Seguindo o mesmo
ensinamento do Senhor Jesus Cristo, Paulo ensina que o evangelho produz uma
transformação tão grande na vida do pecador, ao ponto de orientá-lo a agir
diferente até mesmo com os seus opositores (Mt 5.44; Lc 6.27,35; Rm
12.14,17-20). Vejamos detalhadamente o que nos diz o apóstolo:
4.1 Abençoai os
que perseguem (Rm 12.14).
Os cristãos do
primeiro século sofreram grandes perseguições por causa da fé que abraçaram.
Parece ser incoerente que Paulo no presente versículo oriente os servos do Senhor
a abençoar aqueles que lhe fizeram agravo. Todavia, a orientação é abençoar até
mesmo aqueles que nos querem o mal (Mt 5.44).
4.2 A ninguém
torneis o mal com o mal (Rm 12.17; 18-20).
Jesus ensinou
que devemos dar a outra face, ou seja, não retribuirmos as afrontas ou os males
que sofremos (Mt 5.39). Pagar o mal com o mal, devolver a agressão na mesma
moeda, não expressam a graça de Deus (Mt 5.46,47). O cristão não deve vingar-se
porque esta é uma atribuição exclusivamente divina (Rm 12.19). Segundo Lopes
(2010, p. 414), “pagar o bem com o mal é demoníaco. Pagar o mal com o mal é retribuição
humana. Pagar o mal com o bem é graça divina”.
4.3 Tenham paz
com todos quando possível (Rm 12.18).
Neste presente
versículo vemos que a paz é imperativa, ou seja, a Escritura ordena que no que
depender de nós devemos ter paz com todos. Segundo o escritor aos hebreus, essa
paz é tão importante quanto a santidade (Hb 12.14).
CONCLUSÃO
Cada cristão
deve seguir a recomendação apostólica de Paulo, quanto a entrega do corpo em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Tal devoção deve resultar numa
postura consagrada em todas as áreas da nossa vida.
REFERÊNCIAS
APLICAÇÃO
PESSOAL, Comentário do Novo Testamento. Vol. 02. CPAD.
HOWARD, R.E, et al. Comentário
Bíblico Beacon. Vol 08. CPAD.
LOPES, Hernandes
dias. Comentário Exegético de Romanos. HAGNOS.
ZUCK, Roy. Teologia
do Novo Testamento. CPAD.
Por Rede Brasil
de Comunicação.
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