2 RS 4.1-7
INTRODUÇÃO
Veremos nesta lição o que motivou o milagre na casa
daquela viúva de 2 Reis 4, e pontuaremos que Deus sempre age a partir da
necessidade humana mostrando seu amor e sua misericórdia. Falaremos dos meios
pelos quais o Senhor utiliza-se para prover o socorro necessário no momento da
necessidade, e por fim, estudaremos os instrumentos que Deus usa para a
realização do milagre e quais os propósitos deste na vida de seus servos.
I. O QUE MOTIVOU
O MILAGRE
Eliseu conhecia o homem em questão e sabia que era
reputado por sua piedade. O historiador judeu Flávio Josefo explica que essa
mulher era a viúva de Obadias (HAYFORD, 2001, p. 388). Dele se diz que “temia
muito ao Senhor” (I Rs 18.3). A expressão “filhos dos profetas” (2 Rs
4.1a), é referente à organização dos que eram profetas verdadeiros, aqueles
chamados por Deus, em escolas em Gibeá e Naiote, onde talvez fossem
supervisionados por Samuel (1Sm 10.10; 19.20). Em 2 Rs 6.1- 4 há um relato sobre
a edificação de tal escola, e Elias foi o líder desse grupo em particular. De
acordo com a lei hebraica, um credor poderia tomar um devedor e seus filhos
como servos, mas não deveria tratá-los como escravos (Êx 21.1-11; Lv 25.29-31;
Dt 15:1-11; Jr 34.9). Seria uma grande tristeza para essa mulher perder o
marido para a morte e os dois filhos para a servidão, mas Deus é aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt
10.18; Sl 68.5; 146.9) e enviou Eliseu para ajudá-la (WIERSBE, 2010, p. 503).
Vejamos:
1.1 A necessidade humana.
As bênçãos de Deus vêm em resposta a uma
necessidade humana. O milagre ocorrido na casa da viúva de um dos discípulos
dos profetas confirma esse fato (2 Rs 4.1-7). O texto expõe a extrema penúria
na qual essa pobre mulher havia ficado. Perdera o marido, que havia falecido, e
agora corria o risco de perder também os filhos para os credores se não
quitasse a dívida. Essa mulher, portanto, necessitava urgentemente que alguma
coisa fosse feita para tirá-la daquela situação. A Escritura mostra que o
Senhor sempre socorre o necessitado (Sl 12.5; 40.17; 69.33; Is 25.4; Jr 20.13).
Devemos apresentar as nossas petições a Deus, pois Ele cuida de nós (Êx
22.22-23; Fp 4.6; 1 Pe 5.7).
1.2 O amor divino.
O milagre ocorrido na casa da viúva aconteceu como
resposta a uma carência humana, mas não apenas isso: ocorreu também graças à
compaixão divina. Não foi apenas por ser pobre que a viúva foi socorrida, nem
tampouco por haver sido esposa de um dos discípulos dos profetas (2 Rs 4.1). O
texto diz que ela “clamou” ao profeta Eliseu (2 Rs 4.1). O termo hebraico que
traduz essa palavra é “tsaaq”, que possui o sentido de “clamar
por ajuda, chorar em voz alta”. O profeta ficou sensibilizado e Deus
compadeceu-se daquela mulher sofredora. O Senhor é compassivo, misericordioso e
longânimo para com seus servos e servas (Êx 34.6; 2 Cr 30.9; Sl 116.5).
1.3 A misericórdia divina.
A Lei de Moisés permitia aos credores levar os
filhos dos endividados como escravos para pagar a dívida, mas colocava um
limite de seis anos de escravidão e exigia que os sujeitados fossem tratados
como trabalhadores dignos (Êx 21.1-6; Lv 25.39-55; Dt 15.12-18). Por este
motivo, a viúva não viu outra saída, a não ser clamar pela misericórdia divina.
A palavra misericórdia, “hesedh”, no hebraico, aponta para
uma característica do caráter de Deus e significa: “benevolência, benignidade,
compaixão, bondade, fidelidade, amor e beneficência”. É dessa forma que
Deus olha para os necessitados (Sl 12.5). O clamor daquela viúva sensibilizou o
coração de Deus, que se moveu para ajudá-la (2 Rs 4.1-7). Ninguém recebe um
milagre por merecimento, senão, por misericórdia. O Senhor Deus é o nosso
defensor, ele mesmo revela ser o refúgio (Sl 14.6; Is 25.4), o socorro (Sl
40.17; 46.1; 70.5; Is 41.14), o libertador (1 Sm 2.8; Sl 12.5; 34.6; 113.7;
35.10; cf. Lc 1.52,53) e provedor (Sl 10.14; 68.10; 132.15).
II. OS
MEIOS PARA O MILAGRE
Como seres humanos, temos muita dificuldade em
valorizar coisas pequenas. Mas esse milagre nos ensina a preciosidade de
observar essas coisas (1 Co 1.27). Na lógica e na visão humana é a vasilha que
enche a botija. Porém aqui as posições estão inversas. É costume primeiro
pensar que o pequeno sempre receberá do grande. Todavia, nesse milagre, é o
pequeno quem dá a vida, quem é a fonte, é o pequeno que visto como nada é quem
se sobressai. Notemos:
2.1 Um pouco de azeite.
Diante do clamor da viúva, o profeta Eliseu
perguntou-lhe: “Que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa. E ela
disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite” (2 Rs
4.2). Duas coisas precisam ser observadas aqui: Em primeiro lugar, o milagre
acontece na esfera familiar: “o que tens
em casa”. O lar e a família são importantes para Deus. Em segundo lugar, um
pouco pode tornar-se muito se vem com a bênção de Deus. De fato o texto destaca
que a porção de azeite da mulher era tão minguada que ela quase esqueceu que o
possuía. No entanto, foi esse pouco que o Senhor usou para operar o grande
milagre. O que possuímos pode ser bem pouco, mas é suficiente para Deus operar
os seus propósitos (a1 Rs 17.12-16; 2 Rs 4.42-44; Mt 14.15-21).
2.2 Uma fé obediente.
A instrução dada pelo profeta Eliseu para
solucionar o problema da viúva é bastante reveladora sobre a dinâmica desse
milagre (2 Rs 4.3-5). Num primeiro momento, o profeta chamou a mulher à ação: “Vai,
pede para ti vasos emprestados”. Isso nos mostra que a fé é demonstrada
pela ação (Tg 2.17). Jesus também viu a fé do paralítico e dos homens que o
conduziram em Cafarnaum (Mc 2.1-12). Em segundo lugar, o milagre deveria
acontecer de portas fechadas: “fecha a porta sobre ti e sobre teus
filhos...”, disse o profeta. Como a necessidade da viúva era particular,
a provisão também seria privado. Além disso, a ausência de Eliseu demonstrou
que o milagre aconteceu apenas pelo poder de Deus e não por causa do profeta
(MACARTHUR, 2010, p. 479 – acréscimo nosso).
2.3 Um milagre tirado daquilo que não é aparente.
Uma atitude de fé sempre estará alicerçada na
espiritualidade e na sensibilidade (Gl 5.16; Tg 2.18). Essa mulher estava
desesperada, com medo de perder seus filhos, por isso, não pôde ver que o pouco
azeite daquela botija era a fonte para sanar suas dívidas. O milagre partiu de
onde ela menos imaginava, e aconteceu quando ela tirou de onde aparentemente não
havia nada, um sinal de que não podemos esperar ter para depois entregar, e
isso nos ensina que é do nada que Deus tira o tudo que precisamos (Rm 4.17-b;
Hb 11.3).
III. OS
INSTRUMENTOS DO MILAGRE
A lei israelita permitia, como forma de proteção ao
credor, que se tomasse os filhos dos devedores, para que trabalhassem até que a
dívida fosse paga. Mas em Deuteronômio 15.1-18, há uma ressalva para que isto
não fosse feito em tempos de fome ou grandes necessidades (WIERSBE, 2010, p.
503). Pontuemos como Deus atua para o milagre:
3.1 O instrumento humano.
Por várias vezes, no livro de 2 Reis, o profeta
Eliseu é chamado de “Homem de Deus” (2 Rs 4.7,9,16; 6.9).
Sem dúvida esses textos demonstram que Eliseu era um instrumento de Deus para a
operação de milagres. Esse é um fato fartamente demonstrado na Bíblia. Para
formar uma nação e através dela revelar seu plano de salvação à humanidade, o
Senhor chamou Abraão (Gn 12). Para tirar os israelitas do Egito, Deus usou
Moisés (Êx 4.1-17). Para levar a mensagem do Evangelho aos gentios, o Senhor
usou a Pedro (At 10 - 11). Deus também chamou a Paulo para ser “um instrumento escolhido” para levar seu
nome perante os nobres (At 9.15). Para salvar-nos, Deus humanizou-se na pessoa
bendita de Jesus Cristo (Jo 1.1,14,18; Fp 2.1-11).
3.2 O instrumento divino.
Quando uma grande fome assolava Samaria, o profeta
Eliseu profetizou abundância de alimentos (2 Rs 7.1). O cumprimento dessa
profecia parecia pouco provável naqueles dias, a ponto de o capitão, em cujo
braço o rei se apoiava, haver ironizado: “Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu,
poder-se-ia fazer isso?” (2 Rs 7.2). Mas a profecia cumpriu-se exatamente
como Eliseu havia predito (2 Rs 7.16-20). O texto põe a Palavra do Senhor como
agente causador do milagre. O cronista observa que esses fatos ocorreram “segundo
a palavra do Senhor” (2 Rs 7.16). O que o Senhor faz, Ele o faz através
de sua Palavra (Gn 1.3; Is 55.10,11; Lc 5.4-6; Hb 4.12).
IV. OS
PROPÓSITOS DO MILAGRE
4.1 Uma resposta ao sofrimento.
Todos os milagres realizados por Eliseu deixam bem
claro que eles ocorreram em resposta a uma necessidade humana e também ao
sofrimento (2 Rs 4.1-38; 5.1-19; 6.1-7). O NT mostra-nos que o Senhor Jesus
libertava e curava porque se compadecia do sofrimento humano (Lc 13.10-17; Mc
1.40-45). Todos os milagres autênticos são operados por Deus, pois somente Ele
é poderoso para realizá-los. Há ocasiões em que Ele interfere diretamente em
determinada situação, sem a instrumentalidade humana (Nm 11.18-23; 31-32; Jo
5.1-9).
4.2 Um consolo nas nossas dificuldades.
O fato de sermos cristãos não nos isenta de
passarmos por necessidades e tribulações. “...no mundo tereis aflições...” (Jo
16.33). Por isso, Paulo disse: “Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos” (2 Co 4.8,9 ver 1Co 1.4a). “E
faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus
mandamentos.” (Êx 20.6). Ver ainda textos como (Nm 20.7-11).
4.3 Uma maneira de glorificar a Deus.
Os milagres, portanto, são uma resposta de Deus ao
sofrimento humano. Todavia, eles não se centralizam no homem, mas em Deus. Os
milagres narrados nas Escrituras objetivam a glória de Deus. Em nenhum momento,
encontramos os profetas buscando chamar a atenção para si através dos milagres
que realizavam nem tirar proveitos deles. Quem tentou fazer isso e
beneficiar-se de forma indevida foi Geazi, o servo de Eliseu. Entretanto,
quando assim procedeu foi severamente punido (2 Rs 5.20-27). Em o NT observamos
Pedro e Paulo pondo em destaque esse fato e mostrando que Deus, e não os
homens, é quem deve ser glorificado (At 3.8,12; 14.14,15).
CONCLUSÃO
O milagre da multiplicação do azeite é um
testemunho do poder de Deus, que se compadece dos sofredores que o buscam de
todo o coração. O foco, portanto, dessa bela história não é a viúva nem
tampouco o profeta Eliseu, mas o Senhor que através da instrumentalidade do seu
servo abençoa essa pobre mulher. A história faz-nos lembrar um outro feito
extraordinário e muito mais relevante do que esse: a multiplicação dos peixes e
pães por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele foi, é e sempre será a
resposta consoladora a todo sofrimento humano.
REFERÊNCIAS
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
BARNETT, T. Há
um milagre em sua casa. CPAD.
ZUCK, R. B. Teologia
do Antigo Testamento. CPAD.
VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede Brasil
de Comunicação.
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