sábado, 12 de maio de 2018

LIÇÃO 07 - ÉTICA CRISTÃ E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS (SUBSÍDIO)






1 Co 15.35-45




INTRODUÇÃO
Na presente lição falaremos sobre a prática da doação de órgãos, destacando sua importância e necessidade; faremos algumas considerações sobre este procedimento cirúrgico; trataremos de alguns tipos de transplantes sob a perspectiva da ética cristã; e, por fim, pontuaremos quais os princípios bíblicos que devem motivar o cristão a doação.


I. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
A Medicina evoluiu muito, nos últimos anos. O ramo do transplante de órgãos tão recente da medicina vem comprovar o formidável progresso das ciências biofisiológicas. Certo médico afirmou que: “a medicina evoluiu muito mais nos últimos cinquenta anos do que nos cinquenta séculos que nos precederam” (BERNARD apud ANDRADE, 2015, p.122). A doação de órgãos e tecidos consiste na remoção de órgãos e tecidos do corpo de uma pessoa que recentemente morreu (doador cadáver) ou de um doador voluntário (doador vivo), com o propósito de transplantá-lo ou fazer um enxerto em outras pessoas vivas. A doação pode ser de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical).

1. A importância da doação de órgãos.
A doação de órgãos é importante, porque pode proporcionar as pessoas que recebem a reparação de algum órgão lesado, concedendo-lhes qualidade de vida e em última instância salvando suas vidas. Apenas um único doador pode salvar até 10 pessoas ou mais.

2. A necessidade da doação de órgãos.
A cada ano que se passa, cresce o número de necessitados de transplante de algum órgão. A carência de doadores de órgãos é um grande obstáculo para os transplantes no Brasil. A quantidade ainda é pequena diante da demanda de pacientes que esperam pela cirurgia. Muitas vezes, a falta de informação e o preconceito também acabam limitando o número de doações obtidas de pacientes com morte cerebral. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 64 mil pacientes na fila de espera por um transplante de órgãos, e as maiores listas de espera aguardam doações de rim, fígado e pâncreas (BAPTISTA, 2018, p. 104).


II. CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
A legislação brasileira sobre doação de órgãos nº 10.211 no capítulo 2 artigo 3º diz que: a retirada post mortem (pós-morte) de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina”. No caso de doadores vivos, o artigo 9 parágrafo 3º diz que “só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora”. Vejamos algumas considerações sobre a doação de órgãos:

1. A doação de órgãos em nada compromete os princípios bíblicos.
Embora a Bíblia não trate diretamente da doação de órgãos, pois este ramo da medicina é bastante recente, não há um indício bíblico que o reprove. Pelo contrário, o mandamento de “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 19.19; Rm 13.9; Gl 5.14), se encaixa perfeitamente nesse ato de autodoação em prol de outrem. Observemos a disposição da igreja na Galácia de se doar em prol do apóstolo Paulo, por causa da sua enfermidade, evidenciando isso: “[…] Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis” (Gl 4.15-b). João diz que, motivados pelo amor de Cristo “devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3.16-b). Portanto, “o gesto altruísta de doar órgãos retrata a essência do cristianismo” (BAPTISTA, 2018, p. 104).

2. Ninguém é forçado a doar seus órgãos.
Ninguém deve ser forçado ou coagido a doar seus órgãos, e nenhum órgão deve ser retirado sem a permissão do doador. Ninguém tem o direito de fazer a doação de órgãos de outra pessoa contra a vontade do doador. Para o cristão é preciso destacar que aquele que decide em sua consciência doar seus órgãos faz muito bem, mas aquele que por algum motivo não se dispõe a fazer, não peca por isso. Lembremos do princípio de Romanos 14 que diz: “aquele que faz não condene aquele que não faz, porque o que faz, faz para Deus como também o que não faz, não faz para Deus”.
III. TIPOS DE TRANSPLANTES E A ÉTICA CRISTÃ
1. O transplante de órgãos artificiais.
Não há nenhuma objeção quanto ao transplante de órgãos artificiais. Assim como já se utiliza ligas metálicas na recuperação de fraturas graves, já é possível substituir alguns órgãos lesados do corpo humano por artefatos eletrônicos. A máquina de hemodiálise substitui os rins; os respiradores eletrônicos os pulmões; e, o coração artificial vem suprindo de forma razoável o seu papel nas intervenções cirúrgicas. O uso de bengalas, óculos, pernas e braços mecânicos dentre outros tem suprido algumas carências humanas. É interessante afirmar que Jesus não condenou recorrer aos médicos, a fim de tratar-se (Mt 9.12). “Logo, é perfeitamente ético buscar o desenvolvimento de órgãos artificiais” (ANDRADE, 2015, p. 136).

2. A doação de sangue.
Embora não haja nenhum caso na Escritura de transfusão de sangue, não vemos nenhum mandamento bíblico que a reprove. Observamos também nessa prática voluntária um gesto de amor e serviço ao próximo, algo que foi ensinado pelo Senhor Jesus: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35-b). A única reprovação bíblica se dá quanto a ingestão de sangue, ou seja, utilizá-lo como alimento. Esta proibição é válida tanto no AT quanto no NT (Gn 9.4; Lv 3.17; 7.26,27; At 15.20). “A transfusão de sangue é um dos cinco procedimentos médicos mais realizados em todo o mundo” (BAPTISTA, 2018, p. 105).

3. As células-tronco.
O corpo humano possui dois tipos de células-tronco: as embrionárias e as adultas. O transplante de células-tronco em órgãos lesados seria capaz de dar origem a células saudáveis, regenerar tecidos e curar as lesões. As células-tronco adultas são encontradas principalmente na medula óssea, placenta e cordão umbilical. As células-tronco embrionárias são encontradas no blastocisto (4 a 7 dias após a fecundação do embrião) e têm a capacidade de se transformar em qualquer uma das 216 diferentes células do corpo humano (BATISTA, 2018, pp. 105,106). O problema ético que engloba as células-tronco embrionárias é a necessidade de matar/descartar o embrião para poder fazer a replicação desejada, pois elas se formam, após a fusão dos gametas masculino e feminino. Mesmo na fase de gestação da “substância ainda informe”, Deus se importa com a criança e a está moldando (Sl 78.5-6; 139.13-16; Jó 31.15; Jó 10.8,11). Embora, os cientistas já façam uso das células-tronco embrionárias na pesquisa, visando obter a cura de algumas doenças degenerativas, “entendemos que isso afronta a sacralidade da vida, pois o embrião é um novo ser humano, programado pelas leis da biologia, para se desenvolver com sua individualidade” (RENOVATO, 2008, p. 276).


IV. PRINCÍPIOS BÍBLICOS ENVOLVIDOS NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Embora a Bíblia não fale diretamente a respeito da doação de órgãos, entendemos que tal atitude revela os mais nobres princípios cristãos. Vejamos alguns:

4.1 Um ato de amor.
Teologicamente o amor é a “virtude que nos constrange a buscar, desinteressada e sacrificialmente, o bem de outrem” (ANDRADE, 2006, p. 42). É a palavra que representa o cristianismo (Jo 13.35). É o amor a Deus e ao próximo que deve levar-nos a auto doação (Lv 19.18; Jo 15.13; Gl 5.14; 1 Jo 3.16; 1 Jo 4.10,11).

4.2 Um ato de empatia.
A palavra “empatia” segundo o Houaiss (2001, p. 1125) significa: “capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente [...]”. Quando alguém decide beneficiar outra pessoa doando seus órgãos, certamente é porque se coloca no lugar de outrem, entendendo a sua aflição, colocando-se a disposição para aliviar o sofrimento alheio. Tal virtude é exaltada pelas Escrituras (Jó 29.15; Mt 5.7; Rm 12.15; Lc 6.36; Ef 4.32; 1 Pd 3.8).

4.3 Um ato de serviço ao próximo.
A parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37) destaca a verdade de que compaixão e cuidado para com o próximo é algo que devemos praticar até mesmo com aqueles que sequer nos conhecem, pois o amor para com o semelhante não faz distinção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Rm 2.11; Tg 2.1,9).

4.4 Um ato que glorifica a Deus.
Embora sejamos salvos pela fé, independente das obras (Ef 2.8), as “boas obras” devem acompanhar aqueles que foram salvos (Ef 2.10). Jesus ensinou que a nossa luz deve resplandecer diante dos homens: “[...] para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). O Pai é glorificado quando damos muito fruto: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8).


CONCLUSÃO
Jesus ensinou que “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35-b). Doar ao necessitado é uma forma de colocar a fé em prática (Tg 2.14-17), e, a prática da doação de órgãos reflete os mais nobres princípios cristãos.




REFERÊNCIAS
·    ANDRADE, Claudionor Corrêa de. As novas fronteiras da Ética Cristã. CPAD.
·    DOUGLAS, Baptista. Valores Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo. CPAD
·    GEISLER, Norman. Ética Cristã: opções e questões contemporâneas. VIDA NOVA.
·    GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
·    HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
·    Legislação Brasileira de Transplante de Órgãos. 2002.
·    STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.




Por Rede Brasil de Comunicação.



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