1 Co 15.35-45
INTRODUÇÃO
Na presente
lição falaremos sobre a prática da doação de órgãos, destacando sua importância
e necessidade; faremos algumas considerações sobre este procedimento cirúrgico;
trataremos de alguns tipos de transplantes sob a perspectiva da ética cristã;
e, por fim, pontuaremos quais os princípios bíblicos que devem motivar o
cristão a doação.
I. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÁTICA DA
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
A Medicina
evoluiu muito, nos últimos anos. O ramo do transplante de órgãos tão recente da
medicina vem comprovar o formidável progresso das ciências biofisiológicas.
Certo médico afirmou que: “a medicina evoluiu muito mais nos últimos cinquenta
anos do que nos cinquenta séculos que nos precederam” (BERNARD apud ANDRADE,
2015, p.122). A doação de órgãos e tecidos consiste na remoção de órgãos e
tecidos do corpo de uma pessoa que recentemente morreu (doador cadáver) ou de
um doador voluntário (doador vivo), com o propósito de transplantá-lo ou fazer
um enxerto em outras pessoas vivas. A doação pode ser de órgãos (rim, fígado,
coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas
cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical).
1. A importância
da doação de órgãos.
A doação de
órgãos é importante, porque pode proporcionar as pessoas que recebem a
reparação de algum órgão lesado, concedendo-lhes qualidade de vida e em última
instância salvando suas vidas. Apenas um único doador pode salvar até 10
pessoas ou mais.
2. A necessidade
da doação de órgãos.
A cada ano que
se passa, cresce o número de necessitados de transplante de algum órgão. A
carência de doadores de órgãos é um grande obstáculo para os transplantes no
Brasil. A quantidade ainda é pequena diante da demanda de pacientes que esperam
pela cirurgia. Muitas vezes, a falta de informação e o preconceito também
acabam limitando o número de doações obtidas de pacientes com morte cerebral.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 64 mil pacientes na fila de espera
por um transplante de órgãos, e as maiores listas de espera aguardam doações de
rim, fígado e pâncreas (BAPTISTA, 2018, p. 104).
II. CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOAÇÃO
DE ÓRGÃOS
A legislação
brasileira sobre doação de órgãos nº 10.211 no capítulo 2 artigo 3º diz que: “a
retirada post mortem (pós-morte) de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano,
destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de
morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes
das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios
clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina”.
No caso de doadores vivos, o artigo 9 parágrafo 3º diz que “só é permitida
a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de
órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador
de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave
comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou
deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente
indispensável à pessoa receptora”. Vejamos algumas considerações sobre a doação
de órgãos:
1. A doação de
órgãos em nada compromete os princípios bíblicos.
Embora a Bíblia
não trate diretamente da doação de órgãos, pois este ramo da medicina é
bastante recente, não há um indício bíblico que o reprove. Pelo contrário, o mandamento
de “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 19.19; Rm 13.9; Gl 5.14),
se encaixa perfeitamente nesse ato de autodoação em prol de outrem. Observemos
a disposição da igreja na Galácia de se doar em prol do apóstolo Paulo, por causa
da sua enfermidade, evidenciando isso: “[…] Porque vos dou testemunho de
que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis” (Gl
4.15-b). João diz que, motivados pelo amor de Cristo “devemos dar a vida
pelos irmãos” (1 Jo 3.16-b). Portanto, “o gesto altruísta de doar
órgãos retrata a essência do cristianismo” (BAPTISTA, 2018, p. 104).
2. Ninguém é
forçado a doar seus órgãos.
Ninguém deve ser
forçado ou coagido a doar seus órgãos, e nenhum órgão deve ser retirado sem a
permissão do doador. Ninguém tem o direito de fazer a doação de órgãos de outra
pessoa contra a vontade do doador. Para o cristão é preciso destacar que aquele
que decide em sua consciência doar seus órgãos faz muito bem, mas aquele que
por algum motivo não se dispõe a fazer, não peca por isso. Lembremos do
princípio de Romanos 14 que diz: “aquele que faz não condene aquele que
não faz, porque o que faz, faz para Deus como também o que não faz, não faz
para Deus”.
III. TIPOS DE TRANSPLANTES E A
ÉTICA CRISTÃ
1. O transplante
de órgãos artificiais.
Não há nenhuma
objeção quanto ao transplante de órgãos artificiais. Assim como já se utiliza
ligas metálicas na recuperação de fraturas graves, já é possível substituir
alguns órgãos lesados do corpo humano por artefatos eletrônicos. A máquina de
hemodiálise substitui os rins; os respiradores eletrônicos os pulmões; e, o coração
artificial vem suprindo de forma razoável o seu papel nas intervenções
cirúrgicas. O uso de bengalas, óculos, pernas e braços mecânicos dentre outros
tem suprido algumas carências humanas. É interessante afirmar que Jesus não condenou
recorrer aos médicos, a fim de tratar-se (Mt 9.12). “Logo, é
perfeitamente ético buscar o desenvolvimento de órgãos artificiais” (ANDRADE,
2015, p. 136).
2. A doação de
sangue.
Embora não haja
nenhum caso na Escritura de transfusão de sangue, não vemos nenhum mandamento
bíblico que a reprove. Observamos também nessa prática voluntária um gesto de
amor e serviço ao próximo, algo que foi ensinado pelo Senhor Jesus: “Mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35-b). A única reprovação
bíblica se dá quanto a ingestão de sangue, ou seja, utilizá-lo como alimento.
Esta proibição é válida tanto no AT quanto no NT (Gn 9.4; Lv 3.17; 7.26,27; At
15.20). “A transfusão de sangue é um dos cinco procedimentos médicos mais
realizados em todo o mundo” (BAPTISTA, 2018, p. 105).
3. As
células-tronco.
O corpo humano
possui dois tipos de células-tronco: as embrionárias e as adultas.
O transplante de células-tronco em órgãos lesados seria capaz de dar origem a
células saudáveis, regenerar tecidos e curar as lesões. As células-tronco adultas
são encontradas principalmente na medula óssea, placenta e cordão umbilical. As
células-tronco embrionárias são encontradas no blastocisto (4 a 7 dias após a
fecundação do embrião) e têm a capacidade de se transformar em qualquer uma das
216 diferentes células do corpo humano (BATISTA, 2018, pp. 105,106). O problema
ético que engloba as células-tronco embrionárias é a necessidade
de matar/descartar o embrião para poder fazer a replicação
desejada, pois elas se formam, após a fusão dos gametas masculino e feminino.
Mesmo na fase de gestação da “substância ainda informe”, Deus se
importa com a criança e a está moldando (Sl 78.5-6; 139.13-16; Jó 31.15; Jó 10.8,11).
Embora, os cientistas já façam uso das células-tronco embrionárias na pesquisa,
visando obter a cura de algumas doenças degenerativas, “entendemos que
isso afronta a sacralidade da vida, pois o embrião é um novo ser humano, programado
pelas leis da biologia, para se desenvolver com sua individualidade” (RENOVATO,
2008, p. 276).
IV. PRINCÍPIOS BÍBLICOS
ENVOLVIDOS NA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Embora a Bíblia
não fale diretamente a respeito da doação de órgãos, entendemos que tal atitude
revela os mais nobres princípios cristãos. Vejamos alguns:
4.1 Um ato de
amor.
Teologicamente o
amor é a “virtude que nos constrange a buscar, desinteressada e sacrificialmente,
o bem de outrem” (ANDRADE, 2006, p. 42). É a palavra que representa o
cristianismo (Jo 13.35). É o amor a Deus e ao próximo que deve levar-nos a auto
doação (Lv 19.18; Jo 15.13; Gl 5.14; 1 Jo 3.16; 1 Jo 4.10,11).
4.2 Um ato de
empatia.
A palavra “empatia”
segundo o Houaiss (2001, p. 1125) significa: “capacidade de se
identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente [...]”. Quando
alguém decide beneficiar outra pessoa doando seus órgãos, certamente é porque
se coloca no lugar de outrem, entendendo a sua aflição, colocando-se a
disposição para aliviar o sofrimento alheio. Tal virtude é exaltada pelas
Escrituras (Jó 29.15; Mt 5.7; Rm 12.15; Lc 6.36; Ef 4.32; 1 Pd 3.8).
4.3 Um ato de
serviço ao próximo.
A parábola do
bom samaritano (Lc 10.30-37) destaca a verdade de que compaixão e cuidado para
com o próximo é algo que devemos praticar até mesmo com aqueles que sequer nos
conhecem, pois o amor para com o semelhante não faz distinção de pessoas (Dt 10.17;
At 10.34; Rm 2.11; Tg 2.1,9).
4.4 Um ato que
glorifica a Deus.
Embora sejamos
salvos pela fé, independente das obras (Ef 2.8), as “boas obras” devem
acompanhar aqueles que foram salvos (Ef 2.10). Jesus ensinou que a nossa luz
deve resplandecer diante dos homens: “[...] para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). O Pai é
glorificado quando damos muito fruto: “Nisto é glorificado meu Pai, que
deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8).
CONCLUSÃO
Jesus ensinou
que “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At
20.35-b). Doar ao necessitado é uma forma de colocar a fé em prática (Tg
2.14-17), e, a prática da doação de órgãos reflete os mais nobres princípios
cristãos.
REFERÊNCIAS
·
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. As
novas fronteiras da Ética Cristã. CPAD.
·
DOUGLAS, Baptista. Valores Cristãos:
enfrentando as questões morais do nosso tempo. CPAD
·
GEISLER, Norman. Ética Cristã:
opções e questões contemporâneas. VIDA NOVA.
·
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia
Sistemática Pentecostal. CPAD.
·
HOUAISS, Antônio. Dicionário da
Língua Portuguesa. OBJETIVA.
·
Legislação Brasileira de
Transplante de Órgãos. 2002.
·
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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