Ef 6.13-20
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos os três grandes inimigos do homem na batalha espiritual; pontuaremos a
realidade desta guerra; e por fim; analisaremos os principais aspectos dos
elementos da armadura de Deus em Efésios 6.
I. OS TRÊS INIMIGOS
DO HOMEM NA BATALHA ESPIRITUAL
Paulo usou uma
linguagem metafórica quando orientou a Igreja na defesa da fé cristã (Ef 6.12a).
O fato do apóstolo usar o verbo “lutar” indica que estamos envolvidos
em um confronto direto e que, portanto, não somos apenas expectadores. Nossa
batalha não é contra seres humanos, mas sim contra poderes espirituais (Ef
6.12); e como cristãos, enfrentamos três inimigos: a carne; o mundo;
e o diabo
(Ef 2.1-3). Notemos cada um deles particularmente:
1. A carne.
O primeiro
inimigo é a “carne” (Rm 6.19a; 7.18) do grego “sarx”. A natureza carnal,
a velha natureza que herdamos de Adão depois da Queda (Gn 6.12), uma natureza
que se opõe a Deus e que não é capaz de fazer qualquer coisa espiritual para
agradar ao Senhor (Gl 5.19-21). A carne refere-se à nossa natureza caída às
vezes chamada de “velho homem” (Rm 6.6, Ef 4.22; Cl 3.9) que surgiu desde a
desobediência no Éden (Rm 3.10-12).
2. O mundo.
A Bíblia ensina
que não devemos amar ao mundo, pois ser amigo do mundo é ser “inimigo
de Deus” (Tg 4.4). O mundo aqui do grego “kosmos” não é o planeta
Terra onde vivemos, mas, é o presente século mau, o grande sistema do mal ao
redor de nós (Gl 1.4; 6.14), que é governado por um príncipe (Jo 14.30; 2 Co
4.4). É o governo mundial de rebelião contra Deus, e que se opõe ao Senhor
Jesus e satisfaz: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida” (1 Jo 2.15-17). É sobre este mundo que a Bíblia fala que jaz no
maligno (1 Jo 5.19). O Senhor Jesus já venceu este adversário: “[…]
mas
tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).
3. O diabo.
O terceiro
grande adversário do homem é o próprio diabo que é o: “príncipe das potestades do ar”
(Ef 2.2). Ele rege os negócios deste mundo mau, e seu grande objetivo é contrariar
a vontade e o programa divino no mundo, na Igreja, e no crente. Mas, por meio
de sua morte e ressurreição, Cristo venceu a carne (Rm 6.1-6; Gl
2.20); o mundo (Jo 16.33; Gl 6.14); e o diabo (Ef 1.19-23)
(WIERSBE, 2007, vol. 2, p. 74).
II. ATITUDES QUE
DEVEMOS TER EM RELAÇÃO A ARMADURA DE DEUS
Podemos dizer
que a “batalha espiritual” diz respeito ao enfrentamento espiritual
que se dá entre a Igreja de Cristo e as forças do mal, a saber: Satanás e os
demônios que estão sobre o seu comando (Ef 6.12). Paulo indica claramente que
este conflito com Satanás e seus demônios é espiritual e, portanto, nenhuma
arma física pode ser usada efetivamente contra eles no mundo imaterial. Para
vencermos a batalha espiritual precisamos conhecer: revestir e usar da armadura
de Deus. Notemos:
1. Conhecer a armadura.
Houaiss (2001,
p. 802) diz que conhecer é: “perceber e incorporar algo; ficar sabendo;
adquirir informações sobre; tomar ou ter consciência de; estar familiarizado
com; ter ideia bastante exata sobre; experimentar; dar-se conta de”. Contra os
inimigos espirituais não podemos lutar de “qualquer jeito”, nem com “qualquer
arma”, nem tampouco usarmos “armadura humana” como foi sugerido a Davi (1 Sm
17.38-40). Uma vez que lutamos contra inimigos na esfera espiritual e
imaterial, precisamos conhecer nossas armas espirituais (2 Co 10.3-5), pois
Deus nos supriu com elas, e não devemos deixar parte alguma de fora (Ef 6.10).
Alguns estão sendo derrotados porque não tem dado a devida importância a estas
armas espirituais, e por isso, estão sendo “[…] vencidos por Satanás”
(2 Co 2.10-c; ver ainda Ef 4.27; 1Pe 5.8).
2. Revestir-se da armadura.
Segundo o
dicionário da língua portuguesa, a palavra revestir é: “vestir mais uma vez;
vestir de novo; cobrir-se com adornos; recobrir; tornar firme, estável e
resistente algo aplicando-lhe um revestimento para enfrentar situação adversa;
armar-se” (2001, p. 2453). No grego a palavra “revestir” é “enduo”
que quer dizer: “entrar em uma roupa, vestir duas vezes”. A ideia deixada pelo
apóstolo Paulo é que este revestimento serve para “estar firmes” (Ef 6.11),
de onde vem a palavra “histemi” que significa: “ficar de
pé, tornar firme, fixar, manter-se no lugar, permanecer imóvel, continuar
seguro, ileso, permanecer preparado, ter uma mente firme, alguém que não
hesita, que não desiste”. Só assim podemos vencer “as astutas ciladas do
diabo”.
3. Usar a armadura.
O dicionarista
Antônio Houaiss define o verbo “usar” como: “servir-se de algo; lançar mão de;
utilizar algo; pôr algo em uso ou serviço para atingir um fim; exercitar;
praticar” (2001, p. 2815). No grego é a expressão “analambano” que
significa: “pegar, levantar, erguer algo para usar”. Paulo dá uma ênfase muito
grande a ação de “tomar toda armadura” (Ef 6.13;16; 17).
III. OS ELEMENTOS DA
ARMADURA DE DEUS
Paulo ordena a
seus leitores que vistam: “toda a armadura de Deus” (Ef 6.13).
É usando o contexto militar romano que o apóstolo fala sobre o combate
espiritual, e por isso está presente a figura da armadura, em uma linguagem
metafórica para que os crentes compreendessem com clareza a realidade da peleja
[…] Quando o apóstolo Paulo fala sobre a armadura de Deus, “panoplían
ton theou”, em grego, está se referindo a uma armadura completa: “Revesti-vos
de toda a armadura de Deus […]” (Ef 6.11) (SOARES; SOARES, 2018,
pp. 114, 119). Vejamos aspectos da armadura de Deus:
1. O cinto da verdade.
Satanás é um
mentiroso e pai da mentira (Jo 8.44), mas o cristão cuja vida é controlada pela
verdade o derrotará: “Estai, pois, firmes, tendo cingidos
os vossos lombos com a verdade […]” (Ef 6.14a). O termo “cingidos”
do grego “perizonnumi” também usado pelo apóstolo traz a ideia de prender
as vestes com um cinturão, cobrir-se. Já as palavras “lombos” vem da expressão
“osphus”
que fala do quadril lugar onde os hebreus achavam que o poder generativo
residia por causa do sêmen (partes geradoras de vida), e “verdade” “aletheia”
fala algo verdadeiro, sinceridade de mente. A verdade e a mentira são opostas
(1 Jo 2.21). A verdade, como as outras peças da armadura, é na realidade um
aspecto da natureza do próprio Deus. Portanto, cingir-se com o cinturão da
verdade é cingir-se de Cristo, pois Cristo é a “verdade” (Jo 14.6) (HANEGRAAFF,
2005, p, 53).
2. A couraça da justiça.
Couraça é uma
armadura defensiva que cobre o peito e as costas onde ficam os órgãos vitais
como o coração e o pulmão. Uma couraça protegia um guerreiro contra um golpe
fatal contra estes órgãos importantes:“[…] e vestida a couraça da justiça”
(Ef 6.14b). O peitoral, que consistia de duas partes, chamadas “asas”.
A primeira cobria a região inteira do peito, a parte frontal do tórax e a outra
cobria a parte das costas. A palavra “couraça” vem do grego “thorax”.
Era colocada sobre peito e abdômen para proteger o coração e outros órgãos
vitais do soldado. Um dos “órgãos” que o inimigo mais ataca é o nosso coração.
Por isso, precisamos guardá-lo, porque dele procedem as fontes da vida (Mt
6.21; Mc 12.30). Não guardar o coração pode gerar marcas e sequelas: “Escondi
a tua Palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (Sl
119.11).
3. Os calçados do evangelho da paz.
As chamadas “grevas”,
eram os calçados como botas que protegiam os soldados do joelho para baixo. Os
pés são a base do corpo; dão sustento e levam o corpo ao seu destino. Os
soldados romanos usavam sandálias com cravos na sola para dar mais apoio aos
pés durante a batalha, a fim de “resistir” e de “permanecer inabaláveis”.
Calçar os pés com a preparação do evangelho da paz representa dizer que devemos
ir preparados e treinados andando em santidade de vida (Mt 28.18-20; Gl
1.6-7,11). Paulo fala da preparação dos pés para o conflito espiritual (Ef
6.15). Às vezes o inimigo na antiguidade colocava obstáculos perigosos no
caminho dos soldados que estavam avançando. Por isso, Paulo usa a expressão “hupodeo”
que significa: “calçar, amarrar, colocar calçado”. Os nossos pés são muito
importantes para Cristo, pois é através deles que vamos pisar no território do
inimigo. Se calçarmos as sandálias do evangelho, teremos os “pés
formosos” (Is 52.7; Rm 10.15). Somos embaixadores da paz (2 Co 5.18-21)
e, como tais, levamos o evangelho para ganharmos almas.
4. O escudo da fé.
O escudo
mencionado nessa passagem é um escudo grande que protegia a maior parte do
corpo do soldado e tinha beiradas com um formato que permitia a uma linha
inteira de soldados encaixar um escudo no outro e marchar sobre o inimigo como
uma parede sólida (WIERSBE, 2007, vol. 2, p. 76). Vale lembrar que, numa
batalha em campo aberto, os soldados ficam mais protegidos dos dardos lançados pelo
inimigo, quando se juntam fazendo seus vários escudos parecerem um só. O
apóstolo nos diz: “Tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar
todos os dardos inflamados do maligno” (Ef 6.16). A
expressão “dardo” vem do grego “bélos” e significa: “míssil, flecha,
lança”. O dardo era atirado contra o inimigo ainda à distância. Na batalha
espiritual, os dardos inflamados podem ser uma cilada, uma armadilha; uma
astúcia, esperteza e engano. Já o termo “inflamados” vem do grego “puroo”
que é: “repleto de fogo, incendiado, carregados com substâncias inflamáveis”. O
escudo cobre todas as brechas que o maligno usa para plantar dúvidas em nós
sobre a Palavra de Deus. Mas, pelo escudo da fé, podemos vencê-lo (1Jo 5.4-5).
5. O capacete da salvação.
Satanás deseja
atacar nossa mente, e foi assim que derrotou Eva (Gn 3; 2 Co 11.1-3). O
capacete da salvação refere-se à mente controlada por Deus: “Tomai
também o capacete da salvação […]” (Ef 6.17a). Quando
Deus controla a mente, Satanás não consegue fazer o cristão se desviar
(WIERSBE, 2007, vol. 2, p. 76). O capacete, que protegia a cabeça, era feito de
várias formas e de vários metais. O capacete da salvação protege nossa mente
das mentiras do diabo e das influências do mundo (Rm 12.2). A cabeça é o membro
que comanda o nosso corpo, e se esta apresentar fraqueza, tudo estará perdido.
O capacete guardará nossa mente de ser atingida pelo inimigo (Ef 4.14).
6 A espada do Espírito.
Enquanto o resto
da armadura é em sua natureza armas de defesa, aqui se encontra a única
arma de ataque na armadura de Deus. A espada, que tinha várias formas e
dimensões, eram feitas de vários tipos de metais. Esse é o símbolo usado por
Paulo para indicar a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada: “[…] e a espada do Espírito,
que é a palavra de Deus” (Ef 6.17b). O escritor aos hebreus
também afirmou isso (Hb 4.12). Pedro tentou usar a espada para defender Jesus
no Getsêmani (Lc 22.47-51), mas, em Pentecostes, aprendeu que a “espada
do Espírito” é muito mais poderosa. Quando foi tentando por Satanás no
deserto, Cristo usou a espada do Espírito e derrotou o inimigo (Lc 4.1-13).
Moisés também tentou conquistar pela espada, mas descobriu que a Palavra de
Deus, por si mesma, era suficiente para derrotar o Egito (Êx 2.11-15 (WIERSBE,
2007, vol. 2, p. 77).
CONCLUSÃO
Em certo
sentido, a “armadura de Deus” é uma imagem de Jesus Cristo. Ele é a Verdade
(Jo 14.6); Ele é nossa justiça (2 Co 5.21) e nossa paz (Ef 2.14). Ele é fiel
(Gl 2.20); é nossa salvação (Lc 2.30); e, é a Palavra de Deus (Jo 1.1,14). Isso
significa que, quando aceitamos a Cristo, também recebemos a armadura. No
momento da salvação, vestimos a armadura de uma vez por todas. No entanto,
devemos nos apropriar dela cada dia: “[…] vistamo-nos das armas da
luz” (Rm 13.12).
REFERÊNCIAS
Ø GILBERTO,
Antônio (Org.); et al. Teologia Sistemática Pentecostal.
RJ: CPAD, 2008.
Ø SOARES,
Ezequias; SOARES, Daniele. Batalha Espiritual. RJ: CPAD, 2018.
Ø SOARES,
Ezequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. RJ: CPAD, 2017.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995.
Ø WIERSBE,
W. W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT.
SP: GEOGRÁFICA, 2007.
Ø HANEGRAAFF
Hank (Trad. Marta Andrade). Armadura Espiritual. RJ: CPAD, 2005.
Por Rede
Brasil de Comunicação.