Tg 4.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição
aprenderemos sobre a expressa necessidade de se resistir um inimigo em comum à
fé cristã, a saber, o Diabo; inicialmente pontuaremos algumas informações sobre
a epístola do apóstolo Tiago; destacaremos à luz desta carta que o crente deve
também resistir os prazeres da carne e do mundo, e por fim, elencaremos razões
pelas quais devemos resistir a Satanás e como isso pode ser feito.
I. CONSIDERAÇÕES
GERAIS SOBRE A EPÍSTOLA DE TIAGO
1. Autoria
O autor desse
livro se identifica na saudação inicial como Tiago (Tg 1.1). Seu nome no grego
é “Yakobos”
é uma transliteração do conhecido nome hebraico do Antigo Testamento “Jacó”.
A maioria dos estudiosos da Bíblia aponta este Tiago como o meio irmão do
Senhor Jesus Cristo (Mt 13.55; Mc 6.3; Gl 1.19). Ele era chamado de “o Justo”,
por causa de sua estrita aderência à santidade cerimonial judaica e de sua
austera maneira de viver. A tradição diz que sofreu martírio por apedrejamento,
pelas mãos do sumo sacerdote judeu Anano em 61 d.C. (CHAMPLIN, 2004, p. 426 –
acréscimo nosso).
2. Destinatários.
A única
indicação direta no livro que possivelmente sugere quem foram os leitores
encontra-se no prefácio: “Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus
Cristo, às doze tribos que se encontram na dispersão, saudações” (Tg
1.1). Tradicionalmente a frase, “às doze tribos”, era usada para
indicar toda a nação judia (At 26.7). Mas considerando que toda a nação judia,
por mais espalhada que estivesse na Diáspora (dispersão), não poderia ser
considerada como existindo fora da Palestina, parece indicar que o significado
da frase é simbólico. Tiago estava escrevendo a toda a igreja, considerada como
o Novo Israel (Gl 3.7-9; 6.16; Fp 3.3), dispersa por um mundo estranho e hostil
(1 Pe 1.1,17; 2.11; Fp 3.20; Gl 4.26; Hb 12.22; 13.14) (MOODY, sd, p. 03 –
acréscimo nosso).
3. Curiosidades acerca dessa epístola.
É muito provável
que ela tenha sido o primeiro livro do NT a ser escrito. Embora contenha apenas
duas referências nominais a Cristo, há nela mais alusões aos ensinos de Jesus
do que todas as demais do NT. A carta de Tiago possui fortes semelhanças com o
Sermão do Monte e outras pregações de Jesus (Tg 1.22 e Mt 7.21,26; Tg 2.10 e Mt
5.19; Tg 2.13 e Mt 5.7; Tg 3.18 e Mt 5.9; Tg 4.5 e Mt 6.24; Tg 4.12 e Mt 7.1;
Tg 5.2 e Mt 6.19; Tg 5.12 e Mt 5.34,37). É bom conferir também a posição
semelhante de Jesus e Tiago em relação a pobres e ricos (Lc 6.24s; 16.19-25). O
autor é considerado como o profeta Amós do NT por tratar com firmeza a
injustiça e as desigualdades sociais (Tg 2.1-9; 5.1-6).
II. O CRISTÃO
RESISTINDO OS PRAZERES DA CARNE
Uma palavra
usada com frequência pelo apóstolo Tiago nesta epístola é o verbo resistir (Tg
4.6,7; 5.6), entre outros o termo usado é: “anthistemi”, que quer
dizer: “colocar-se contra, opor-se, batalhar contra”, mostrando a
necessidade do cristão não se deixar vencer pelos inimigos da caminhada cristã
que geram lutas e conflitos (Tg 4.1). Pelas palavras, o apóstolo deixa claro
que havia divisões e disputas carnais entre os crentes. Ele nos fala sobre
alguns desses conflitos que estavam acontecendo no seio da igreja e que devem
ser resistidos. Vejamos:
1. Conflitos pessoais (Tg 4.1).
Tiago nos mostra
que a fonte dos conflitos exteriores surgem de dentro do próprio homem (Tg
4.1b) veja também (Mt 15.18,19; Mc 7.20-23; Gl 5.20). A palavra “prazeres”
não significa necessariamente paixão sensual; nesse caso, é apenas cobiça. A
cobiça está em operação nos membros do corpo e estimula a carne e gera
problemas” (WIERSBE, 2008, p. 765). A carne é a natureza caída, isto é, as
paixões, os desejos e apetites desordenados que nela residem (1 Co 10.13; Tg
1.14,15; Gl 5.16-21). Paulo exorta-nos a entregar os membros de nosso corpo ao
Espírito Santo, a fim de não cumprimos os desejos da carne (Rm 6; Gl 5.16-26;
Ef 4.22-30).
2. Conflitos interpessoais (Tg 4.1,2).
As causas das
guerras e contendas não são meramente econômicas ou intelectuais, mas morais.
Como não havia nenhuma guerra civil nessa época, Tiago parece considerar
principalmente a ideia de “brigas pessoais e ações judiciais, rivalidades e
facções sociais e controvérsias religiosas” (BRUCE, 2009, p. 2157). Em Tiago
4.1 a expressão “guerra” no grego “polemos” refere-se a “querelas
e rixas”, enquanto “contendas” no grego “machai”
traduz-se como “conflitos e batalhas”. O apóstolo tinha em mente não as guerras
entre as nações mas as discussões e divisões entre os próprios cristãos. A
Bíblia exorta-nos a viver em comunhão, unidade e diante de possíveis questões e
desentendimentos praticar o perdão (Sl 133; 2 Co 13.11; Ef 4.2; Fp 2.1-4; Cl
3.13).
III. O CRISTÃO
RESISTINDO O MUNDO
Tiago assim
adverte: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é
inimizade contra Deus?” (Tg 4.4). O apóstolo não faz referência aqui ao
adultério físico, mas sim ao espiritual. Todo o conceito está baseado na ideia
do Antigo Testamento que apresenta ao Senhor como o marido de Israel e a Israel
como a esposa do Senhor (Is 54.5; Jr 3.1-5; Ez 23; Os 1-2). Neste mesmo sentido
espiritual o Novo Testamento fala de “geração má e adúltera” (Mt 12.39;
16.4; Mc 8.38). Esta figura foi introduzida no pensamento cristão com o
conceito da Igreja como esposa de Cristo (2Co 11.2; Ef 5.24-28; Ap 19.7; 21.9).
“Esta forma de expressão pode ofender a sensibilidade contemporânea, mas a
figura de Israel como esposa de Deus, e da Igreja como esposa de Cristo têm em
si mesmo algo de precioso. Significa que desobedecer a Deus é como quebrar os
votos do matrimônio” (MOODY, sd, p. 118 – acréscimo nosso). A Bíblia diz qual
deve ser o comportamento do cristão em relação ao mundo: a) não ganhar o mundo às custas da alma (Mt 4.8-10; Mt 16.26); b) não ser do mundo (Jo 15.19;
17.14,16); c) ser crucificado para o
mundo (Gl 5.24; 6.14); d) brilhar
como a luz no mundo (MT 5.13-16; Fp 2.15); e)
negar os desejos mundanos e viver justamente (Tt 2.12; Tg 1.27); f) não ser amigo do mundo (Tg 4.4); (g)
escapar da corrupção do mundo (2Pe 1.4; 2.20); h) não amar o mundo nem as coisas que há nele (1Jo 2.15-17); i) ser como Cristo no mundo (1Jo 4.17);
j) vencer o mundo com a fé (1Jo
5.4-5); e, l) não se conformar com o
mundo (Rm 12.1,2).
IV. O CRISTÃO
RESISTINDO O DIABO
1. A identidade do inimigo.
Embora Tiago
tenha anteriormente enfatizado a tendência maligna da própria pessoa como
responsável pelo pecado (Tg 1.14), aqui ele admite a atuação de um ser maligno
sobre-humano como agente externo do mal (Tg 4.7). Sobre esse adversário Pedro
afirmou: “[…] porque o diabo, vosso
adversário […]” (1Pe 5.8;
ver Tt 2.8), adversário do grego: “antidikos” de “anti”,“contra”
e “dike”,
uma causa ou demanda legal, traz a ideia de um opositor um inimigo (Lc 18.3). A
palavra “diabolos” é usada na Septuaginta (versão grega do AT) como
tradução do termo “Satanás”, assim, esses dois títulos, têm significados
idênticos (Ap 20.2), e sugerem que um dos propósitos básicos do inimigo, é
separar o homem de Deus (2Co 11.3).
2. As estratégias do inimigo.
O apóstolo Paulo
asseverou que: “precisamos ficar firmes contra as astutas ciladas do diabo”
(Ef 6.11). A palavra “ciladas” vem do grego “metodeia”,
que significa: “métodos, estratagemas, armadilhas”. O diabo tem um grande
arsenal de armadilhas, ele pesquisa meticulosamente (Jó 1.7; 2.2) em busca de
nossos pontos vulneráveis (Zc 3.1,3), e não hesita em buscar brechas em nossa
vida espiritual “[…] anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8),
ele age insistentemente para nos levar a pecar contra Deus (Gn 39.10; Ne
6.4,5,13), não desistindo facilmente (Mt 4.1-11; ver Lc 4.13).
3. As armas de resistência ao diabo.
Satanás não é
para ser temido, mas resistido de modo que qualquer que seja o poder que diabo
possa ter, o cristão pode estar absolutamente certo de que recebeu a capacidade
para vencer tal poder, condicionados a algumas atitudes. Vejamos:
A) Sujeição e comunhão com Deus (Tg 4.7,8a).
A ordem do verbo
“sujeitai-vos”
exige uma ação passiva, a qual implica alinhar-se sob a autoridade de alguém.
Para manter-se firme diante do diabo, o crente precisa estar prostrado diante
do Senhor. A única maneira eficaz de resistirmos às artimanhas do Diabo, assim
como aos desejos e paixões da nossa própria carne, é nos rendendo
incondicionalmente ao Senhor, em plena devoção (Mt 4.10; 1Pe 5.8,9). Esta
segunda ordem: “chegai-vos a Deus […]” (Tg 4.8a) indica uma ação ativa dos
crentes (Is 55.6). Esta atitude resulta numa reciprocidade de Deus: “[…]
ele se chegará a vós”. Confira
também (Jr 29.13,14; 33.3; Mt 6.6).
B) Santidade e humildade (Tg 4.8,10).
A santificação
posicional ocorre no ato da salvação quando fomos purificados pelo poder da
palavra (At 15.9; Tt 2.14) e, por isso, o Senhor espera de todo cristão uma
purificação pessoal (santificação progressiva), prática e constante (Lv 20.7;
Js 3.5; 2Co 7.1; 1Ts 4.3; Hb 12.14). Jesus dignificou a humildade nos seus
ensinos (Mt 18.4; Fp 2.5-11). Tiago e Pedro afirmam que o
resultado da humilhação presente é a exaltação futura: “humilhai-vos perante o Senhor, e
ele vos exaltará” (Tg 4.10); “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão
de Deus, para que a seu tempo vos exalte” (1Pe 5.6).
C) Fidelidade e prudência (1Pe 5.8,9).
Na batalha
contra o diabo devemos estar munidos do escudo da fé: “tomando sobretudo o escudo da fé,
com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef
6.16), para resisti-lo firmemente: “ao qual resisti firmes na fé” (1 Pe
5.9), não podemos acreditar nas mentiras de Satanás nem dar crédito às suas
falsas promessas (Gn 3.4,5). Sobre essa batalha Pedro também advertiu: “Sede
sóbrios e vigiai […]” (1Pd 5.8), as palavras sobriedade e vigilância
mostram o equilíbrio e a prudência que devem reger os soldados dessa guerra
contra o diabo. Precisamos agir como o governador Neemias, que, em tempo de
ameaças, colocou metade de seus homens empunhando as armas e a outra metade
trabalhando (Ne 4.16), precisamos manter os olhos abertos.
CONCLUSÃO
Apesar dos
ataques de Satanás contra os servos de Deus, temos em Cristo a graça necessária
para resisti-lo, certos de que, em conservarmos a nossa vida diante do Senhor,
o diabo não poderá nos vencer, antes, fugirá de nós.
REFERÊNCIAS
· CHAMPLIN, R. N. Dicionário
de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
· LOPES, Hernandes
Dias. 1 Pedro: Com os pés no
vale e o coração no céu. HAGNOS.
· MOODY, D. L. Comentário
Biblico de Tiago. PDF.
· WIERSBE, Warren
W. Comentário
Bíblico Expositivo Novo Testamento. GEOGRÁFICA.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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