2 Ts 3.6-13
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos a definição da palavra trabalho à luz do Antigo e Novo Testamento;
também faremos algumas considerações bíblicas a respeito do assunto; e, por
fim, elencaremos alguma atitudes corretas a seguir, no que diz respeito ao
cristão e a mordomia do trabalho.
I. DEFINIÇÃO DA
PALAVRA TRABALHO
De acordo com
Houaiss (2001, p. 2743) trabalho
significa: “esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades produtivas ou
criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade
profissional regular, remunerada ou assalariada”. Nas Escrituras várias
são as palavras usadas traduzidas como trabalho, entre estas destacamos uma das
principais que é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho,
obra, ação, labor, labuta, comportamento”. Esse termo é usado cerca de
235 vezes no Antigo Testamento, aparecendo pela primeira vez na fala de
Lameque, pai de Noé, com o sentido de trabalho agrícola (Gn 5.29). Sendo uma
palavra geral para designar trabalho, “maaseh” é usada para se referir ao
trabalho de um hábil: a) artífice
(Êx 26.1); b) tecedor (Êx 26.26), c) joalheiro (Êx 28.11); e, d) perfumista (Êx 30.25). O termo
equivalente no Novo Testamento é: “ergon” que denota: “trabalho, emprego, tarefa” (Mc 13.34;
Jo 4.34; 17.4; At 13.2; Fp 2.30; 1Ts 5.13). De onde advém o termo: “ergatés” que denota: “operário
de campo, agricultor” (Mt 9.37,38), “ceifeiros” (Mt 20.1,2,8;
Lc 10.2; Tg 5.4), “trabalhador, operário”, em sentido geral (Mt 10.10; Lc 10.7; At
19.25; 1Tm 5.18) (VINE, 2002, pp. 312,1028,1029).
II. O TRABALHO À
LUZ DAS ESCRITURAS
1. O trabalho veio antes da queda do homem.
Diferente do que
algumas pessoas imaginam, o trabalho não é o julgamento de Deus por causa do
pecado de Adão (Gn 3.17-19). Se examinarmos corretamente as Escrituras, veremos
que Deus colocou o homem no jardim do Éden para o “lavrar e o guardar”, ou
seja, para trabalhar antes mesmo da desobediência ao Senhor
(Gn 2.15). Adão já trabalhava antes de pecar, cuidando do jardim. Uma das
consequências do pecado, além da morte, foi que o trabalho seria “penoso
e suado” (Gn 3.19), e isso não significa que ele seja amaldiçoado por
Deus. “Não é, pois, bom para o homem que coma e beba e que faça gozar a sua
alma do bem do seu trabalho? Isto também eu vi que vem da mão de Deus”
(Ec 2.24).
2. O trabalho não é resultado do pecado.
Desde a criação
de Deus que o homem foi colocado no jardim para “trabalhá-lo”, “cultivá-lo”
(Gn 2.15). A maldição (Gn 3.16-17) era apenas “a dor e a fadiga” que
haviam de acompanhar o trabalho (Gn 3.18), não o trabalho em si. Isso é
destacado quando Lameque diz, por ocasião do nascimento de Noé, que: “este
nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra
que o Senhor amaldiçoou” (Gn 5.29). Sendo assim, o trabalho é uma
bênção de Deus e é necessário aos homens: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos,
FELIZ SERÁS, e te irá bem” (Sl 128.2 – grifo nosso). “Em
todo trabalho há proveito [...]” (Pv 14.23a).
3. O homem imita seu Criador quando trabalha.
Ao trabalhar
seis dias e descansar ao sétimo, Israel imitava a Deus ao criar o “kosmos”
(Gn 2.1-2). O profeta Isaías disse que Deus trabalha: “Porque desde a antiguidade não se
ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de
ti que trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Jesus fez
também a seguinte declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e eu
trabalho também” (Jo 5.17). Uma vez que até dar início ao Seu
ministério terreno, Jesus trabalhou como carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3), nos
deixando o modelo a ser seguido (Is 53.3; 1 Pe 2.21). O profeta Jeremias
falando sobre o trabalho disse: “Construam casas e habitem nelas; plantem
jardins e comam de seus frutos” (Jr 29.5).
4. O trabalho dignifica o ser humano.
Os hebreus
sempre tinham o trabalho em elevada consideração (Pv 22.29) e, ao contrário dos
gregos e romanos, respeitavam o trabalho manual: “[...] quem a ajunta pelo trabalho
[lit. pelas mãos] terá aumento” (Pv 13.11 – acréscimo nosso). Na
tradição judaica, existem provérbios como os que se seguem: “Aquele
que não ensina a seu filho um ofício é como se o guiasse para o roubo”;
e ainda: “O trabalho deve ser grandemente premiado, pois ele exalta o
trabalhador, e o sustenta” (PFEIFFER, 2007, p. 1955 – grifo nosso). No
NT, o princípio de dignidade do trabalho, é proclamado pelo Senhor Jesus e
permanece como uma das bases da sociedade: “[...] digno é o trabalhador do
seu salário” (Lc 10.7). Diante disso, Paulo para fazer os
tessalonicenses repensarem a respeito da importância do trabalho, menciona seu
próprio exemplo, que mesmo tendo o direito de receber sustento da igreja (1 Co
9.6-14; 2Ts 3.9), abriu mão desse direito deliberadamente, a fim de ser um
exemplo aos recém convertidos, trabalhando para prover seu sustento (1Ts 2.9;
2Ts 3.8; At 18.1-3; 20.34; 1 Co 4.12) e assim, estabeleceu uma lei de economia
social em sua afirmação de que: “Se alguém não quer trabalhar, também não
coma” (2 Ts 3.10 – ARA). O grave é a rejeição ao trabalho, isto não
tem nada que ver com o desafortunado que não consegue encontrar trabalho
(BARCLAY, sd, pp.22,23 – grifo nosso), ou seja, aos que por razões de falta de
oportunidade de emprego, estão sem trabalhar. O proverbista Salomão disse: “O
trabalhador trabalha para si mesmo, porque a sua boca o incita” (Pv
16.26).
III. O CRISTÃO E A
MORDOMIA DO TRABALHO
1. O cristão e a disposição para o trabalho.
A Bíblia é clara
quanto a reprovação ao preguiçoso (Pv 6.6,9-11; Pv 23.13; 26.13). Quando Paulo
escreveu sua primeira carta à igreja de Tessalônica, advertiu os crentes
ociosos que eles deveriam trabalhar (1Ts 4.11), aconselhando os líderes da
igreja a admoestar esses insubmissos (1Ts 5.14). Porém, estes não se arrependeram
uma vez que Paulo precisou dedicar o restante de sua segunda carta para
corrigir o mesmo problema, onde ele adverte quanto a uma atitude incompatível à
mordomia cristã, que é a preguiça, a ociosidade (2 Ts 3.6-15). Admoestando
aqueles que, provavelmente por esperarem um rápido regresso de Cristo, haviam
deixado de trabalhar e eram uma carga para os demais. Existiam alguns “irmãos”
que viviam supostamente “pela fé”, esses crentes permaneciam ociosos (2 Ts
3.11) e, ainda, esperavam que a igreja os sustentasse. Em relação a estes Paulo
tinha um conselho explícito: “[...] que vos aparteis de todo irmão que
ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes
(2 Ts 3.6). Para preservar padrões cristãos, os desordeiros têm de sentir a
pressão do sentimento cristão contra tal conduta: “Mas, se alguém não obedecer
à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com
ele, para que se envergonhe” (2Ts 3.14). Segundo Beacon
(2010, pp. 428,429): “O texto não está falando de excomunhão ou de
ostracismo total, mas de uma indiferença social que indica que um padrão foi
levantado, e que violá-lo provoca a repreensão da igreja”.
2. O cristão como empregado.
Quando os
escritores do Novo Testamento se referem aos “servos”, o termo refere-se, sem dúvida alguma, a escravos cristãos,
já que a maioria da igreja era composta de escravos. É bom que se diga que, em nenhuma
parte da Escritura se afirma que a escravidão em si mesma é uma ordenança
divina como o matrimônio (Gn 2.18), a família (Gn 1.28), ou o governo humano
(Rm 13.1). E, por isso mesmo, não agrada ao Senhor que um homem seja o dono de
outro. Paulo não aconselhou rebelião aberta dos escravos contra seus senhores,
mas tratou de mudar a estrutura social por meios pacíficos (Cl 4.9; Fm 16). A
revolução espiritual transformou o contexto social e acabou com a escravidão daqueles
dias. Vejamos, portanto, alguns deveres dos cristãos, no exercício da sua
mordomia do trabalho:
A) Deve trabalhar com submissão e honestidade.
O cristão,
justamente porque é cristão, deve ser melhor trabalhador que qualquer outro.
Visto que, aos que servem a Deus, não existe bipolaridade entre o secular e o
sagrado, por essa razão assim exorta o apóstolo Paulo: “Vós, servos, obedecei a vosso
senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de
vosso coração, como a Cristo” (Ef 6.5). Obedecer com tremor
e temor não quer dizer terror servil, mas, antes, o espírito de solicitude de
quem possui o verdadeiro sentido de responsabilidade. É o cuidado de não deixar
nenhum dever sem ser cumprido. “Com
sinceridade de coração”, refere-se a fazer o trabalho com realismo, sem
duplicidade e sem fingimento (VAUGHAN, apud, LOPES, 2009, p. 172). O empregado
precisa ser honesto, precisa honrar sua empresa, seu patrão, cumprindo seu
papel com fidelidade (Gn 39.3-9; Dn 6.3-5), como disse o apóstolo: “não
servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de
Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6; Cl 3.22).
Quando o cristão exerce corretamente sua mordomia do trabalho sendo um bom
funcionário, isso redunda em glorificação do nome do Senhor (1 Co 10.31).
B) Deve trabalhar com coerência e prudência.
O fato de tanto
um empregado quanto seu patrão serem cristãos não é desculpa para que qualquer
uma das partes trabalhe menos. Observemos a expressão de Paulo: “[...]
servos,
obedecei a vosso senhor segundo a carne [...] como a Cristo”
(Ef 6.5). A expressão: “como a Cristo”,
quer dizer que o empregado deve encarar a obediência ao seu patrão como uma
espécie de serviço prestado ao próprio Senhor Jesus. Essa é a mesma essência da
submissão da esposa ao marido (Ef 5.22), dos filhos aos pais (Ef 6.1) e, dos
empregados aos patrões (Cl 3.23). Eles devem obedecer porque são servos de
Cristo. Eles devem ser leais aos patrões por causa do compromisso que têm com
Deus. A melhor maneira de testemunhar no local de trabalho é demonstrar
diligência e competência em suas atividades. Assim, o empregado deve realizar
seu trabalho “de coração”, pois está servindo a Cristo e fazendo a vontade de
Deus. Por vezes, aqueles servos cristãos tinham de realizar tarefas que não
fossem tão confortáveis, mas, ainda assim, deviam cumpri-las, desde
que não fossem contrárias à vontade de Deus; uma vez que determinadas atitudes
e/ou “trabalhos” vis e desonestos, são incompatíveis com a fé cristã
(Dt 23.18; Lc 19.8; 1 Co 10.23), pois, como servos de Deus só devemos realizar
trabalhos honrados: “Quem furtava não furte mais; em vez disso, trabalhe arduamente,
fazendo com as mãos um bom trabalho, a fim de ter algo para repartir com alguém
em necessidade” (Ef 4.28).
3. O cristão como patrão.
Após falar da
dedicação dos servos, Paulo volta sua atenção aos senhores: “Senhores,
tratai os servos com justiça e com equidade, certos de quem também vós
tendes Senhor no céu” (Cl 4.1). Paulo combate aqui a exploração dos
servos e empregados pelos seus senhores e patrões. Os empregadores precisam
tratar os empregados com justiça e equidade. Explorar os empregados,
sonegar-lhes o salário (Tg 5.4-6), oprimi-los, ameaçá-los ou tratá-los como seres
inferiores é um grave pecado contra Deus (Ef 6.9).
CONCLUSÃO
Concluímos que o
cristão precisa exercer com excelência a sua mordomia do trabalho, entendendo
que mais do que uma atividade pessoal, é um serviço ao Senhor.
REFERÊNCIAS
Ø BARCLAY,
William. Comentário do Novo Testamento: 2 Tessalonicenses. PDF
Ø HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. RJ: CPAD, 2010.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ: OBJETIVA, 2001.
Ø VINE,
W.E, et al (Trad. Luís Aron). Dicionário Vine. RJ: CPAD, 2002.
Ø LOPES,
Hernandes Dias. Efésios: Igreja, a noiva de Cristo. SP: HAGNOS. 2009.
Ø PFEIFFER,
F. Charles. et al (Trad. Degmar Ribas) Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ:
CPAD, 2007.
Ø WIERSBE,
W. W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT.
SP: GEOGRÁFICA, 2007.
Ø STAMPS,
Donald C (Trad. Gordon Chown). Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ:
CPAD, 1995.
Por Rede
Brasil de Comunicação.