sexta-feira, 23 de agosto de 2019

LIÇÃO 08 – A MORDOMIA DO TEMPO (SUBSÍDIO)



  


Ec 3.1-8




INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos uma definição exegética e etimológica da palavra “tempo”; mostraremos que Deus criou o tempo, mas também está antes, depois, e acima dele; e por fim, pontuaremos que como crentes, precisamos administrá-lo como bons mordomos evitando as futilidades da vida e sabendo esperar e entender o tempo de Deus em nossa existência. I –


DEFINIÇÃO DO TERMO TEMPO
1. Definição exegética.
O termo traduzido por “tempo” na Bíblia deriva-se de três expressões hebraicas: “zeman”, “eth” e “yom” significando: “prazo, hora, época, momento, dia, era, instante, estação, período, ocasião” (Ec 3.1; Et 9.27,31; Ne 2.6; Dn 2.16,21; 7.12,25). No grego a palavra tempo vem das expressões: “chronos” que é o tempo medido pelo relógio e mensurado pelo calendário e determinado dentro de um limite (segundo, minuto, hora, dia, semana, mês, ano, década, século, milênio etc.); é a medida linear de um período o qual o homem pode contar. Na teologia é considerado o “tempo do homem”, isto é, o tempo cronológico (Gn 5.5; Jó 8.9; Sl 90.9-14; Mc 9.21; Lc 4.5; At 7.23; 14.3,28; 15.33; Gl 4.4; Hb 11.32; Ap 2.21); e o tempo “kairós” que é o tempo eterno que não se pode determinar ou medir, onde só Deus conhece e controla, na teologia é considerado o “tempo de Deus” isto é, o tempo acrônico ou incronológico (2 Pe 3.8; At 1.7) (ZODHISTES, 2011, pp. 1617, 2466 – grifo nosso).

2. Definição etimológica.
A palavra tempo pode ter vários significados dependendo do contexto em que é empregada. Segundo o dicionarista Houaiss (2001, p. 2690 – grifo nosso) o termo “tempo” vem do latim “tempus ou  temporis” relacionado a grandeza física que permite medir a duração ou a separação das coisas mutáveis sujeitas a alterações. Segundo este dicionarista tempo é: “a duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro; é a duração dos fatos, é o que determina os momentos, os períodos, as épocas, as horas, os dias, as semanas, os séculos etc”.


II. DEUS E A MORDOMIA DO TEMPO
“Deus não está sujeito a qualquer sucessão de dias ou séculos. Presente, passado e futuro são-lhe a mesma coisa. Logo, somente o Eterno poderia criar o tempo. O Criador não se acha limitado quer pelo tempo, quer pelo espaço; a criação, sim” (ANDRADE, 2015, p. 23). Notemos algumas considerações sobre a mordomia do tempo em relação a Deus:

1. Deus criou o tempo (criatividade divina).
O tempo não existe para Deus, pois Ele existe independente do tempo, e por isso, é o Seu autor e não está condicionado a ele (Sl 90.2; 93.2; Is 43.13). Ele é descrito como estando “no princípio” (Gn 1.1) e, portanto, “além do tempo” (PFEIFFER, 2014, p. 1901). Podemos afirmar que a primeira coisa que Deus criou foi justamente o “tempo” (Gn 1.1). Parafraseando podemos dizer que: “Deus criou o princípio [...]”. No hebraico a expressão “no princípio” é “bereshit”, significando “princípio de tudo”. O próprio tempo é considerado como um fenômeno totalmente criado. “Uma vez que o tempo é uma parte essencial da criação, então ele não pode ser um atributo do incriado. Uma vez que o espaço e o tempo necessariamente coexistem, o tempo não poderia ter existido antes do próprio espaço. Assim, o tempo começou com o universo” (GEISLER, 1999, pp. 110, 111 – grifo do autor).

2. Deus está antes do tempo (atemporalidade divina).
Deus existe fora do tempo, e os conceitos de antes e depois, passado, presente, e futuro, simplesmente não se aplicam a Ele. A Bíblia O chama de “Deus eterno” (Gn 21.33; Dt 33.27; Is 40.28; Rm 16.26) e “Rei dos séculos” (1Tm 1.17). Ele é descrito como existindo “antes do mundo existir” (Jo 17.5) e “antes da fundação do mundo” (Sl 90.2). Ele é “o Alto e o Excelso, que habita a eternidade” (Is 57.15). A graça de Deus “nos foi dada em Cristo Jesus antes do começo dos tempos” (2 Tm 1.9; 1Co 2.7). Deus nos prometeu a vida eterna “antes do início dos tempos” (Tt 1.2). A glória de Deus é “antes de todos os tempos, agora e para sempre” (Jd 25). Ele é aquele que está “entronizado desde a antiguidade” (Sl 55.19). O salmista diz: “O teu trono está estabelecido desde a antiguidade; Tu és desde a eternidade” (Sl 93.2). O profeta fala que: “Não és Tu desde a eternidade, ó Senhor?” (Hc 1.12).

3. Deus está depois do tempo (eternidade divina).
Deus existe além do tempo, e a existência de Deus também se projeta para a eternidade futura. Ele é aquele que “vive para sempre” (Is 57.15; Dn 12.7), “permanece para sempre” (Sl 9.7; 102.12), e é “o Altíssimo para sempre” (Sl 92.8). O juramento do próprio Deus é: “como Eu vivo para sempre” (Dt 32.40). Ele não é Deus apenas “para sempre”; ele é o “nosso Deus para todo o sempre” (Sl 48.14; 10.16), “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre” (Sl 45.6). Ele é adorado como “aquele que vive para todo o sempre” (Ap 4.9-10; 10.6, 15.7). Ele é o “Rei eterno” (Jr 10.10).

4. Deus está acima do tempo (infinidade divina).
“Sem a dimensão do tempo, o homem não compreenderia sua origem, seu começo e nem mesmo entenderia o conceito de eternidade” (RENOVATO, 2019, p. 97). Deus é extrapolante, infinito, sempiterno, imensurável; logo, só pode estar na eternidade. Deus não é afetado pelo tempo, mas Ele afeta o tempo (DANIEL, 2001, p.142 – grifo do autor). Deus existe acima do tempo, e o salmista falando sobre isso diz: “Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem, que passou” (Sl 90.4) e o apóstolo Pedro comenta: “Pois para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia” (2 Pe 3.8). Ele é “de eternidade a eternidade” (Sl 41.13; 106.48). “Antes que os montes nascessem ou que Tu formaste a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). “[...] Tu és o mesmo, e Teus anos não chegarão ao fim [...]” (Sl 102.25-27; Hb 1.10-12). Deus é aquele “que é, que era e que há de vir” (Ap 1.4,8; 4.8). Ele declara: “Eu sou o primeiro e o último” (Is 44.6; 48.12); “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim” (Ap 1.8; 21.6). Ele é o “Deus Eterno” (Gn 21.33; Is 40.28).


III. O CRENTE E A MORDOMIA DO TEMPO
Após a criação (Gn 1.1), Deus estabeleceu um tempo para todas as coisas debaixo do sol (Ec 3.1). Ele tem um propósito para todas as suas obras, pois não faz nada ao acaso. “A mordomia do tempo leva-nos a considerar sobre como devemos administrar o tempo que nos concede o Senhor desde o nascimento até a morte e envolve o seu proveito diligente e a prestação de contas a Deus pelo uso” (RENOVATO, 2019, p. 101). Notemos como devemos fazer uso da mordomia do nosso tempo:

1. Não desperdiçando o tempo.
O tempo é um dom de Deus a cada ser humano (Ec 3.1). Ora, se o tempo é um dom que Deus nos concedeu, concluímos que, como dom, devemos saber como administrá-lo. Deus nos cobra por tudo que fazemos de errado, inclusive a má administração do nosso tempo. Alguém já disse que: “o tempo é o único bem que não podemos recuperar”. Por isso, a Palavra de Deus exorta-nos: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo [...]” (Ef 5.15,16 ver também Cl 4.5). O salmista escreveu: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). “Deus fez o tempo para os homens, o tempo é nosso, é uma dádiva, é próprio da humanidade. Ela deve saber como aproveitá-lo, como usufruir dele o máximo que puder, sem erros; se não desvalorizará as suas próprias almas” (DANIEL, 2001, p.124 – grifo nosso).

2. Aproveitando a brevidade do tempo.
O gerenciamento do tempo é importante por causa da brevidade de nossas vidas (Sl 90.10). Nossa jornada terrena é significativamente menor do que estamos inclinados a pensar: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil. Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha vida é como nada diante de ti [...]” (Sl 39.4,5). De fato, nosso tempo na terra é passageiro, na verdade, é infinitamente pequeno comparado à eternidade. Para viver como Deus quer que vivamos, é essencial que façamos o melhor uso possível de nosso tempo. A mordomia do tempo envolve o seu proveito diligente, pois o nosso tempo na terra é curto: “[…] Nossos dias na terra não passam de uma sombra” (Jó 8.9). Tiago diz que: “[…] Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece” (Tg 4.14). O salmista tratando sobre a brevidade da vida comenta: “O homem é semelhante a um sopro; os seus dias são como a sombra que passa” (Sl 144.4).

3. Não usando o tempo com futilidades.
No livro de Eclesiastes, vemos 28 situações que podem ser experimentadas no tempo concedido por Deus (Ec 3.1-8). Para o crente, o que convém lembrar a cada momento é que sua vida é sumamente preciosa, e que ele deve ser um mordomo cuidadoso no dispêndio do seu tempo. Quem desperdiça o tempo fazendo coisa fúteis ou desnecessárias, prejudica-se a si mesmo, pois o tempo não volta e cada minuto perdido é tempo desperdiçado e irrecuperável. Por isso, precisamos administrar o tempo que Deus nos dá (Sl 31.15; At 17.26). A Bíblia fala de futilidades que roubam nosso tempo, e por isso, devemos evitar atividades improdutivas que nos roubam tempo e eliminá-las (Pv 12.11; 2Tm 2.16; 1Pd 1.18).

4. Entendendo o tempo de Deus em nossa vida.
Eclesiastes 3.1-8 o principal foco de Salomão nesta passagem é mostrar que Deus tem um plano para todas as pessoas. Ele estabeleceu ciclos para a vida. Deus é o Senhor do tempo (Dn 2.21) e através de sua Soberania Ele faz como quer. O salmista afirma, dizendo: “Os meus tempos estão em tuas mãos…” (Sl 31.15a), ensinando- nos que o nosso tempo pertence a Deus e que apenas somos mordomos dessa dádiva divina.

5. Esperando o tempo de Deus em nossa vida.
Tem pessoas que até entendem o tempo de Deus, mas não têm paciência de esperar este tempo chegar: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Sl 40.1). Devemos entender que existe o tempo da provação: “tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar” (Ec 3.4). As Sagradas Escrituras ainda nos dizem: “[…] Bem-aventurados são os que agora chorais, porque haveis de rir” (Lc 6.21b). O salmista falando sobre este tempo diz: “[…] o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5b). O apóstolo Paulo conhecia muito bem este tempo quando falou: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelado” (Rm 8.18). Pedro também nos lembra este dia: “humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo vos exalte” (1 Pe 5.6). Davi esperou pelo tempo determinado por Deus (1Sm 16.12,13; 2Sm 2.4; 5.3).


CONCLUSÃO
Após a Queda, o homem passou a experimentar as agruras e os pesares da ação do tempo. Veio a envelhecer, enfermar- se e, finalmente, morrer. Mas, agora, em Cristo, somos exortados a remir o tempo, aproveitando-o de modo a glorificar a Deus e a honrá-lo enquanto estivermos na Terra, com os nossos olhos voltados para “Sião”. Ali, junto ao Pai Celeste e ao Cordeiro, desfrutaremos plenamente da vida eterna. A morte não terá poder sobre nós.




REFERÊNCIAS
Ø  ANDRADE, Claudionor. O Começo de Todas as Coisas. RJ: CPAD, 2015.
Ø  CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. SP: HAGNOS, 2009.
Ø  DANIEL, Silas. Reflexões sobre a Alma e o Tempo: Uma teologia de chrónos e kairós. RJ: CPAD, 2001.
Ø  NORMAN Geisler. Eleitos, Mas Livres: uma visão equilibrada da eleição divina. SP: Vida, 1999.
Ø  PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wicliffe. RJ: CPAD, 2014.
Ø  STAMPS, Donal C. Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. RJ: CPAD, 1997.
Ø  RENOVATO, E. Tempo, bens e talentos: sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. RJ: CPAD, 2019.
Ø  ZODHISTES, Spiros. Bíblia de Estudo Palavras Chave: Hebraico e Grego. RJ: CPAD, 2011.


Por Rede Brasil de Comunicação.



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