Ec 3.1-8
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
veremos uma definição exegética e etimológica da palavra “tempo”; mostraremos
que Deus criou o tempo, mas também está antes, depois, e acima dele; e por fim,
pontuaremos que como crentes, precisamos administrá-lo como bons mordomos
evitando as futilidades da vida e sabendo esperar e entender o tempo de Deus em
nossa existência. I –
DEFINIÇÃO DO TERMO
TEMPO
1. Definição exegética.
O termo
traduzido por “tempo” na Bíblia deriva-se de três expressões hebraicas: “zeman”,
“eth”
e “yom”
significando: “prazo, hora, época, momento, dia, era, instante, estação, período,
ocasião” (Ec 3.1; Et 9.27,31; Ne 2.6; Dn 2.16,21; 7.12,25). No grego a
palavra tempo vem das expressões: “chronos” que é o tempo medido pelo
relógio e mensurado pelo calendário e determinado dentro de um limite (segundo, minuto, hora, dia, semana, mês,
ano, década, século, milênio etc.); é a medida linear de um período o qual
o homem pode contar. Na teologia é considerado o “tempo do homem”, isto é,
o tempo cronológico (Gn 5.5; Jó 8.9; Sl 90.9-14; Mc 9.21; Lc 4.5; At 7.23;
14.3,28; 15.33; Gl 4.4; Hb 11.32; Ap 2.21); e o tempo “kairós” que é o tempo
eterno que não se pode determinar ou medir, onde só Deus conhece e controla, na
teologia é considerado o “tempo de Deus” isto é, o tempo
acrônico ou incronológico (2 Pe 3.8; At 1.7) (ZODHISTES, 2011, pp. 1617, 2466 –
grifo nosso).
2. Definição etimológica.
A palavra tempo
pode ter vários significados dependendo do contexto em que é empregada. Segundo
o dicionarista Houaiss (2001, p. 2690 – grifo nosso) o termo “tempo”
vem do latim “tempus ou
temporis” relacionado a grandeza física que permite medir a
duração ou a separação das coisas mutáveis sujeitas a alterações. Segundo este dicionarista
tempo é: “a duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de
presente, passado e futuro; é a duração dos fatos, é o que determina os
momentos, os períodos, as épocas, as horas, os dias, as semanas, os séculos etc”.
II. DEUS E A MORDOMIA
DO TEMPO
“Deus não está
sujeito a qualquer sucessão de dias ou séculos. Presente, passado e futuro
são-lhe a mesma coisa. Logo, somente o Eterno poderia criar o tempo. O Criador
não se acha limitado quer pelo tempo, quer pelo espaço; a criação, sim”
(ANDRADE, 2015, p. 23). Notemos algumas considerações sobre a mordomia do tempo
em relação a Deus:
1. Deus criou o tempo (criatividade divina).
O tempo não
existe para Deus, pois Ele existe independente do tempo, e por isso, é o Seu
autor e não está condicionado a ele (Sl 90.2; 93.2; Is 43.13). Ele é descrito
como estando “no princípio” (Gn 1.1)
e, portanto, “além do tempo”
(PFEIFFER, 2014, p. 1901). Podemos afirmar que a primeira coisa que Deus criou
foi justamente o “tempo” (Gn 1.1). Parafraseando podemos dizer que: “Deus
criou o princípio [...]”. No hebraico a expressão “no princípio” é “bereshit”,
significando “princípio de tudo”. O próprio tempo é considerado como um
fenômeno totalmente criado. “Uma vez que o tempo é uma parte essencial da
criação, então ele não pode ser um atributo do incriado. Uma vez que o espaço e
o tempo necessariamente coexistem, o tempo não poderia ter existido antes do
próprio espaço. Assim, o tempo começou com o universo” (GEISLER, 1999, pp. 110,
111 – grifo do autor).
2. Deus está antes do tempo (atemporalidade divina).
Deus existe fora
do tempo, e os conceitos de antes e depois, passado, presente, e futuro,
simplesmente não se aplicam a Ele. A Bíblia O chama de “Deus eterno” (Gn 21.33;
Dt 33.27; Is 40.28; Rm 16.26) e “Rei dos séculos” (1Tm 1.17). Ele é
descrito como existindo “antes do mundo existir” (Jo 17.5) e
“antes
da fundação do mundo” (Sl 90.2). Ele é “o Alto e o Excelso, que habita a
eternidade” (Is 57.15). A graça de Deus “nos foi dada em Cristo Jesus
antes do começo dos tempos” (2 Tm 1.9; 1Co 2.7). Deus nos prometeu a
vida eterna “antes do início dos tempos” (Tt 1.2). A glória de Deus é “antes
de todos os tempos, agora e para sempre” (Jd 25). Ele é aquele que está
“entronizado
desde a antiguidade” (Sl 55.19). O salmista diz: “O teu trono está estabelecido
desde a antiguidade; Tu és desde a eternidade” (Sl 93.2). O profeta
fala que: “Não és Tu desde a eternidade, ó Senhor?” (Hc 1.12).
3. Deus está depois do tempo (eternidade divina).
Deus existe além
do tempo, e a existência de Deus também se projeta para a eternidade futura.
Ele é aquele que “vive para sempre” (Is 57.15; Dn 12.7), “permanece para sempre”
(Sl 9.7; 102.12), e é “o Altíssimo para sempre” (Sl 92.8).
O juramento do próprio Deus é: “como Eu vivo para sempre” (Dt
32.40). Ele não é Deus apenas “para sempre”; ele é o “nosso
Deus para todo o sempre” (Sl 48.14; 10.16), “O teu trono, ó Deus, é para todo
o sempre” (Sl 45.6). Ele é adorado como “aquele que vive para todo o
sempre” (Ap 4.9-10; 10.6, 15.7). Ele é o “Rei eterno” (Jr 10.10).
4. Deus está acima do tempo (infinidade divina).
“Sem a dimensão
do tempo, o homem não compreenderia sua origem, seu começo e nem mesmo
entenderia o conceito de eternidade” (RENOVATO, 2019, p. 97). Deus é
extrapolante, infinito, sempiterno, imensurável; logo, só pode estar na
eternidade. Deus não é afetado pelo tempo, mas Ele afeta o tempo (DANIEL, 2001,
p.142 – grifo do autor). Deus existe acima do tempo, e o salmista falando sobre
isso diz: “Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem, que passou”
(Sl 90.4) e o apóstolo Pedro comenta: “Pois para o Senhor um dia é como mil anos e
mil anos como um dia” (2 Pe 3.8). Ele é “de eternidade a eternidade”
(Sl 41.13; 106.48). “Antes que os montes nascessem ou que Tu
formaste a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus”
(Sl 90.2). “[...] Tu és o mesmo, e Teus anos não chegarão ao
fim [...]” (Sl 102.25-27; Hb 1.10-12). Deus é aquele “que
é, que era e que há de vir” (Ap 1.4,8; 4.8). Ele declara: “Eu
sou o primeiro e o último” (Is 44.6; 48.12); “Eu sou o Alfa e o Ômega, o
princípio e o fim” (Ap 1.8; 21.6). Ele é o “Deus Eterno” (Gn 21.33;
Is 40.28).
III. O CRENTE E A
MORDOMIA DO TEMPO
Após a criação
(Gn 1.1), Deus estabeleceu um tempo para todas as coisas debaixo do sol (Ec
3.1). Ele tem um propósito para todas as suas obras, pois não faz nada ao
acaso. “A mordomia do tempo leva-nos a considerar sobre como devemos
administrar o tempo que nos concede o Senhor desde o nascimento até a morte e
envolve o seu proveito diligente e a prestação de contas a Deus pelo uso”
(RENOVATO, 2019, p. 101). Notemos como devemos fazer uso da mordomia do nosso
tempo:
1. Não desperdiçando o tempo.
O tempo é um dom
de Deus a cada ser humano (Ec 3.1). Ora, se o tempo é um dom que Deus nos
concedeu, concluímos que, como dom, devemos saber como administrá-lo. Deus nos
cobra por tudo que fazemos de errado, inclusive a má administração do nosso
tempo. Alguém já disse que: “o tempo é o único bem que não podemos
recuperar”. Por isso, a Palavra de Deus exorta-nos: “Portanto,
vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o
tempo [...]” (Ef 5.15,16 ver também Cl 4.5). O salmista escreveu: “Ensina-nos
a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio”
(Sl 90.12). “Deus fez o tempo para os homens, o tempo é nosso, é uma dádiva, é
próprio da humanidade. Ela deve saber como aproveitá-lo, como usufruir dele o
máximo que puder, sem erros; se não desvalorizará as suas próprias almas”
(DANIEL, 2001, p.124 – grifo nosso).
2. Aproveitando a brevidade do tempo.
O gerenciamento
do tempo é importante por causa da brevidade de nossas vidas (Sl 90.10). Nossa
jornada terrena é significativamente menor do que estamos inclinados a pensar:
“Faze-me
conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta
quanto sou frágil. Eis que fizeste os meus dias como a palmos; o tempo da minha
vida é como nada diante de ti [...]” (Sl 39.4,5). De fato, nosso tempo
na terra é passageiro, na verdade, é infinitamente pequeno comparado à
eternidade. Para viver como Deus quer que vivamos, é essencial que façamos o
melhor uso possível de nosso tempo. A mordomia do tempo envolve o seu proveito
diligente, pois o nosso tempo na terra é curto: “[…] Nossos dias na terra não passam
de uma sombra” (Jó 8.9). Tiago diz que: “[…] Porque que é a vossa vida? É um
vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece” (Tg 4.14). O
salmista tratando sobre a brevidade da vida comenta: “O homem é semelhante a um sopro;
os seus dias são como a sombra que passa” (Sl 144.4).
3. Não usando o tempo com futilidades.
No livro de
Eclesiastes, vemos 28 situações que podem ser experimentadas no tempo concedido
por Deus (Ec 3.1-8). Para o crente, o que convém lembrar a cada momento é que
sua vida é sumamente preciosa, e que ele deve ser um mordomo cuidadoso no
dispêndio do seu tempo. Quem desperdiça o tempo fazendo coisa fúteis ou
desnecessárias, prejudica-se a si mesmo, pois o tempo não volta e cada minuto
perdido é tempo desperdiçado e irrecuperável. Por isso, precisamos administrar
o tempo que Deus nos dá (Sl 31.15; At 17.26). A Bíblia fala de futilidades que
roubam nosso tempo, e por isso, devemos evitar atividades improdutivas que nos
roubam tempo e eliminá-las (Pv 12.11; 2Tm 2.16; 1Pd 1.18).
4. Entendendo o tempo de Deus em nossa vida.
Eclesiastes
3.1-8 o principal foco de Salomão nesta passagem é mostrar que Deus tem um
plano para todas as pessoas. Ele estabeleceu ciclos para a vida. Deus é o
Senhor do tempo (Dn 2.21) e através de sua Soberania Ele faz como quer. O
salmista afirma, dizendo: “Os meus tempos estão em tuas mãos…”
(Sl 31.15a), ensinando- nos que o nosso tempo pertence a Deus e que apenas
somos mordomos dessa dádiva divina.
5. Esperando o tempo de Deus em nossa vida.
Tem pessoas que
até entendem o tempo de Deus, mas não têm paciência de esperar este tempo
chegar: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o
meu clamor” (Sl 40.1). Devemos entender que existe o tempo da provação:
“tempo
de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar” (Ec
3.4). As Sagradas Escrituras ainda nos dizem: “[…] Bem-aventurados são os que agora
chorais, porque haveis de rir” (Lc 6.21b). O salmista falando sobre
este tempo diz: “[…] o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl
30.5b). O apóstolo Paulo conhecia muito bem este tempo quando falou: “Porque
para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para
comparar com a glória que em nós há de ser revelado” (Rm 8.18). Pedro
também nos lembra este dia: “humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão
de Deus, para que, a seu tempo vos exalte” (1 Pe 5.6). Davi esperou
pelo tempo determinado por Deus (1Sm 16.12,13; 2Sm 2.4; 5.3).
CONCLUSÃO
Após a Queda, o
homem passou a experimentar as agruras e os pesares da ação do tempo. Veio a
envelhecer, enfermar- se e, finalmente, morrer. Mas, agora, em Cristo, somos
exortados a remir o tempo, aproveitando-o de modo a glorificar a Deus e a
honrá-lo enquanto estivermos na Terra, com os nossos olhos voltados para
“Sião”. Ali, junto ao Pai Celeste e ao Cordeiro, desfrutaremos plenamente da
vida eterna. A morte não terá poder sobre nós.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor. O Começo de Todas as Coisas. RJ: CPAD, 2015.
Ø CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia
de Bíblia, Teologia e Filosofia. SP: HAGNOS, 2009.
Ø DANIEL, Silas. Reflexões
sobre a Alma e o Tempo: Uma
teologia de chrónos e kairós. RJ: CPAD, 2001.
Ø NORMAN Geisler. Eleitos,
Mas Livres: uma visão equilibrada
da eleição divina. SP: Vida, 1999.
Ø PFEIFFER, Charles
F. et al. Dicionário Bíblico Wicliffe. RJ: CPAD, 2014.
Ø STAMPS, Donal C. Bíblia
de Estudo Pentecostal: Antigo e
Novo Testamento. RJ: CPAD, 1997.
Ø RENOVATO, E. Tempo,
bens e talentos: sendo mordomo
fiel e prudente com as coisas que Deus nos tem dado. RJ: CPAD, 2019.
Ø ZODHISTES,
Spiros. Bíblia de Estudo Palavras Chave: Hebraico e Grego. RJ: CPAD, 2011.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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