1 Sm 22.1-5
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos as grandes lições que podemos extrair da vida de Davi quando este
estava na caverna de Adulão; veremos as características dos homens que ajudaram
este monarca de Israel; pontuaremos o que podemos aprender com a liderança de
Davi; e por fim, analisaremos as qualidades do filho de Jessé como líder no
exílio.
I. LIÇÕES DA
CAVERNA DE ADULÃO
Quatro capítulos
foram dedicados ao período da vida de Davi em que ele foge da perseguição de
Saul (1Sm 21-24). Davi se exilou na caverna de Adulão na planície de Judá, em
torno de 26 quilômetros a sudoeste de Jerusalém para preservar sua vida. O
termo exílio vem do latim “exilium” e significa: “banimento;
degredo; desterro; deportação; ermo; expatriação; isolamento do convívio
social; ostracismo; proscrição; solidão” (HOUAISS, 2001. p. 1284). É o
estado de estar longe da própria casa (seja cidade ou nação) e pode ser
definido como a expatriação voluntária ou forçada de um indivíduo. Notemos
algumas lições que aprendemos com Davi na caverna de Adulão:
1. A caverna foi um lugar de refúgio.
Na caverna de
Adulão Davi se refugiou: “Davi retirou-se dali e se refugiou na
caverna de Adulão [...]” (1Sm 22.1a). Davi recorreu à
caverna de Adulão que em hebraico significa: “refúgio, abrigo,
esconderijo”
para se proteger das constantes perseguições, ameaças e afrontas de Saul que
procurava a todo custo destruir sua vida e a sua família. A caverna de Adulão
foi um lugar de tratamento na vida de Davi e não podemos esquecer que as
cavernas, assim como os vales e desertos da vida não são permanentes e sim
temporários. Portanto, por mais pedregosos que sejam os vales, por mais extensos
que seja os desertos, e por mais sombrios que seja as cavernas, são apenas
lugares de passagens, não são e jamais serão o estado definitivo de nossas
vidas, mas sim momentos de aprendizados, amadurecimento e crescimento (Hb
11.38). Na caverna Davi procurou refúgio e segurança (Sl 46.1), na caverna ele
se escondeu dos inimigos (Sl 91.1). Os Salmos 57 e 142 foram compostos por Davi
enquanto ele esteve escondido na caverna de Adulão.
2. A caverna foi um lugar de reconciliação.
Na caverna de
Adulão toda sua família juntou-se a Davi no exílio: “Deixa estar meu pai e minha
mãe convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim” (1Sm
22.3b). A família toda de Davi juntou-se a ele na caverna, o que significa que
seus irmãos desertaram do exército de Saul e tornaram-se fugitivos com o Davi.
Na caverna de Adulão aconteceram três coisas com Davi e sua família: a) Ele se reencontrou com
sua família; b) se reconciliou
com sua família; e, c) ele cuidou
de sua família (1Sm 22.1). Depois, Davi tratou de levar seus familiares para
Moabe e acampou na fortaleza conhecida como Massada (1Sm 22.4). Davi honrou o
pai e a mãe e procurou protegê-los, de modo que pediu ao rei de Moabe que lhes
desse abrigo até o final do exílio. Os moabitas eram descendentes de Ló (Gn
19.30-38) e nos dias de Moisés os moabitas não eram um povo muito estimado
pelos israelitas (Dt 23.3-6), mas Rute, bisavó de Davi, era de Moabe (Rt 4.18-
22), o que pode ter ajudado Davi a conseguir o apoio e abrigo para sua família
(1Sm 22.4). Também é possível que Davi estivesse contando com a inimizade entre
Moabe e Saul (1Sm 14.47).
3. A caverna foi um lugar de reconhecimento.
Na caverna de
Adulão foi onde a família completa de Davi o reconheceu como rei. Davi, que no
passado nem havia sido valorizado por sua família agora é procurado por ela: “…
quando
ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com
ele” (1Sm 22.1). Antes ele tentava provar sua capacidade, mas não
era reconhecido (1Sm 17.28-30). Na caverna, Davi formou um grande exército e
passou a ser respeitado, não somente pelo povo, mas também por sua família que
o havia desprezado (Sl 27.10).
4. A caverna foi um lugar de restauração.
Davi é o modelo
de líder que recebe homens angustiados pela vida, para torná-los capazes para o
serviço: “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo
homem endividado, e todos os amargurados de espírito [...]”
(1Sm 22.2). Na liderança de Davi homens desprezados se tornaram em um exército
de valentes vencedores, oficiais, ministros e governadores o famoso grupo
conhecido como os “valentes de Davi”:
“São
estes os principais valentes de Davi, que o apoiaram valorosamente no
seu reino [...]” (1Cr 11.10-12). Na caverna os desamparados foram
acolhidos; os enfraquecidos foram fortalecidos e encorajados; e os desanimados
foram animados. A grande lição de Davi para esses homens é que os que
desejassem reinar com ele deveriam aprender a sofrer com ele. Podemos comparar
Davi a Cristo que se dirigiu aos miseráveis, aos cansados, aos oprimidos, aos
amargurados, aos publicanos e aos pecadores, e todos foram transformados pelo
seu poder e passaram a fazer parte do seu reino (Mt 11.28,29; Lc 15.1; Mt
22.9,10).
II. CARACTERÍSTICAS
DOS HOMENS DA CAVERNA DE ADULÃO
Davi enfrentou
altos e baixos em sua vida e nessa ocasião, liderou um exército. Vejamos as
características desses homens:
1. Homens que estavam em “aperto”.
O primeiro
grupo, segundo o texto, era formado por homens que “se achavam em aperto”
(1Sm 22.2a). Essa expressão se refere a pessoas perseguidas, assim como Davi.
Ou seja, homens que estavam sob pressão e em dificuldade. O conceito de “aperto”
aqui é o de pessoas oprimidas ou perseguidas. Essas pessoas certamente se
identificaram com Davi por causa do “aperto” que ele também sofria. Eram homens
que precisavam de ajuda, e que não tinham muito a oferecer.
2. Homens que estavam “endividados”.
O segundo grupo
era formado por homens endividados. Talvez aqui a referência seja a homens que
tinham se tornado escravos por causa de enormes dívidas. Assim, a expressão “homens
endividados” é sinônima de “homens escravizados” (1Sm 22.2b). O
termo hebraico usado neste texto é “nashah” que significa “tomar
dinheiro emprestado a juros, ter vários credores” Ou seja, eram pessoas
que não tinham condições de pagar suas dívidas.
3. Homens de “espírito amargurados”.
O terceiro grupo
era formado por homens “amargurados de espírito” (1Sm 22.2c).
No original hebraico, o termo é “maar néphesh” e significa: “estar
com a alma atormentada”. Na verdade, estes homens eram desqualificados
e despreparados. Mesmo assim, não foram rejeitados por Davi: “[…]
se
fez chefe deles” (1Sm 22.2). E foi com estes homens que Davi enfrentou
e venceu grandes batalhas (1Sm 23.1-5; 27.8-12; 30.7-21). Aqueles homens estavam
sendo preparados para se tornarem o exército dos valentes de Davi. Como líder,
Davi trabalhou na vida daqueles homens desesperançosos, modificando as suas
vidas, encorajando-os e dando-lhes uma nova perspectiva de vida.
4. Homens que eram “valentes”.
Na caverna só
ficaram aqueles que realmente eram valentes e fiéis (2Sm 23.8; 1Cr 11.10). Davi
ficou com quatrocentos excelentes guerreiros, número que posteriormente subiu
para seiscentos (1Sm 22.2; 23.13; 25.13; 27.2; 30.9), e destes valentes trinta
eram maiorais, e destes, destacam-se três: a)
O primeiro comandante da guarda se chamava Josebe-Bassebete comandante da
guarda do exército de Davi era muito experiente com sua lança e em uma
determinada guerra matou oitocentos homens com essa arma (2Sm 23.8); b) O segundo comandante da guarda se
chamava Eleazar que era mestre no manuseio da espada. Em uma
determinada guerra contra os filisteus e não se cansava e lutou tanto que teve
uma espécie de câimbra na mão, a ponto de mesmo cansado, não conseguiu largar a
espada (2Sm 23.9,10); e, c) O
terceiro comandante da guarda se chamava Sama que era mestre em estratégia de
guerra (2Sm 23.11,12). Esses três homens eram tão leais ao rei Davi que
arriscaram suas vidas em favor do rei. Ao ponto que Davi ansiou por um pouco de
água do poço em Belém e estes três fiéis e valentes passaram pelas linhas
inimigas a fim de buscá-la para seu líder (2Sm 23.13-17).
III. LIÇÕES QUE
APRENDEMOS COM A LIDERANÇA DE DAVI
O verdadeiro
líder é aquele que é chamado por Deus. Nenhum líder do povo de Deus terá êxito,
se não for escolhido por Ele. O segredo do sucesso de um líder depende,
principalmente, de sua chamada. E Davi foi escolhido pelo próprio Deus (1Sm
16.1-13; 2Sm 12.7). Muitas lições podemos aprender com a liderança de Davi. Vejamos
algumas:
1. Davi depositou sua confiança em Deus.
Apesar de contar
com aqueles homens para a batalha, Davi sempre depositou a sua confiança em
Deus. Antes de sair à peleja, ele costumava consultar ao Senhor (1Sm 23.2;
30.8; 2Sm 2.1). Pois, ele sabia muito bem que a vitória não dependia de seus
homens, e sim, do seu Deus (Salmos 55, 57 e 59).
2. Davi não descartou seus liderados.
Liderar não é
uma tarefa fácil, principalmente quando se trata de liderar pessoas que estejam
em “aperto,
endividados
e
desgostosos”,
como aqueles homens liderados por Davi (1Sm 22.2). Na caverna os desamparados
foram acolhidos; os enfraquecidos foram fortalecidos e encorajados; e os
desanimados foram animados. Na liderança de Davi homens fracassados se tornaram
em um exército de valentes e vencedores.
3. Davi ensinou seus liderados.
Davi sempre
aproveitava as oportunidades para ensinar seus homens (1Sm 24.7,8; 26.8-10).
Enquanto Saul contava com um poderoso exército de homens bem treinados e
alimentados, Davi dispunha apenas de um pequeno grupo de homens
desqualificados. Mas, o grande e bem preparado exército de Saul não pôde
impedir que ele fosse derrotado e morto (1Sm 31.1-13); enquanto que, aqueles
fracos homens de Davi, puderam vê-lo sendo constituído rei de todo o Israel (2Sm
5.1-12). Nos vários estágios da vida de Davi, ele demonstrou sabedoria; quer
seja quando estava cuidando das ovelhas de seu pai (1Sm 17.15,20); quer seja
quando estava no palácio, à serviço do rei (1Sm 18.5,14); quer seja quando
estava fugindo da presença de Saul (1Sm caps. 24,26): “O temor do Senhor é o princípio
da sabedoria” (Sl 111.10; Pv 9.10).
4. Davi foi humilde.
Humildade
significa: “ausência de orgulho e de soberba” e ser humilde é o mesmo que “ser
simples”, “modesto”. É uma das principais características de um líder.
Davi era um homem humilde e nunca se autoproclamou rei de Israel, nem
revelou a ninguém que iria substituir a Saul, mesmo depois de haver sido ungido
como rei (1Sm 16.1-13).
5. Davi foi motivador.
Uma das
principais características de um líder é a capacidade de motivar seus
liderados, principalmente diante dos desafios e das dificuldades. Davi soube
motivar, não só os seus liderados (1Sm 22.23; 23.1-5) como também seu próprio
líder, Saul (1Sm 17.32).
6. Davi foi paciente.
Davi soube
passar pelos muitos estágios em sua vida (Sl 40.1-5), pois foi pastor
de ovelhas (1Sm 16.11); músico do rei (1Sm 16.23); pagem
de armas (1Sm 16.21); capitão do exército de Israel (1Sm
18.13,30; 2Sm 5.2a;); líder de um exército de quatrocentos
homens (1Sm 22.1,2); e, depois, de seiscentos homens (1Sm 30.9). Na verdade,
estes estágios em sua vida foi um período de preparação para que ele se
tornasse, finalmente, rei de todo o Israel (2Sm 5.1-5).
CONCLUSÃO
Se não foi fácil
para Davi liderar sobre aqueles fracos homens, também não foi fácil para eles
serem liderados por Davi, pois, naquela ocasião, ele não tinha nada a lhes
oferecer. Não tinha emprego, salário, posses, e nem despojos par repartir com
eles. No entanto, eles se submeteram à liderança de Davi, mesmo que,
aparentemente, nada pudessem receber em troca. Tivessem eles rejeitado à
liderança de Davi, não teriam tido o privilégio de, tempos depois, servirem ao
rei de Israel. Por isso, aprendemos, não só com Davi, mas também, com sua
equipe de liderados a sermos obedientes e submissos a Deus e aos nossos
líderes.
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. SP: OBJETIVA, 2001.
Ø JOSEFO,
Flávio (Trad. Vicente Pedroso). História dos Hebreus. RJ: CPAD,
2007.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1997.
Ø WIERSBE
Warren W. Comentário Bíblico Claro e Conciso AT – Históricos. SP:
GEOGRÁFICA, 2010.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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