1 Sm 3.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos a definição do termo degenerar; pontuaremos a corrupção moral e
espiritual de Israel; estudaremos sobre a mensagem de juízo para Israel vinda
da parte de Deus; e por fim, analisaremos o castigo divino a nação por causa de
sua degeneração.
I.
DEFINIÇÃO DO TERMO DEGENERAR
1. Definição do verbo degenerar. O verbo “degenerar”
significa: “mudar para um estado ou condição qualitativamente inferior; declinar,
estragar. Mudar para pior; ocasionar ou adquirir maus hábitos ou práticas; corromper-se;
deturpar; apodrecer; depravar; estragar” (HOUAISS, 2001, p. 928). Enquanto a palavra regenerar fala de uma
mudança para melhor, degenerar é uma mudança para pior; é um movimento
regressivo e não progressivo. A degeneração é entendida como a alteração de
algo. É mudar para uma condição ou estado de inferioridade. Lendo Jeremias
2.21, o texto usa a palavra degenerado em relação a Israel como povo de Deus,
pois de uma vide excelente vieram a ser uma planta amarga. Esse é o sentido de
“pikrían”
que aparece na Septuaginta (versão da Bíblia do hebraico para o grego) […]. Na
Vulgata Latina (versão da Bíblia do grego para o latim) aparece como adjetivo “právus”
para referir-se a algo disforme, defeituoso, depravado
(GOMES, 2019, p. 67 – grifos nosso).
II.
A DEGENERAÇÃO MORAL E ESPIRITUAL DE ISRAEL
1. Situação do povo.
O período dos
juízes que se estende até aos dias de Samuel, foi um período de oscilações
espirituais na vida do povo de Israel. Quando estavam em paz e prosperidade
davam as costas para o Senhor e adoravam os ídolos (Jz 2.11; 3.7,12; 4.1; 6.1;
10.6; 13.1), quando se viam em aperto clamavam ao Deus verdadeiro (Jz 3.9,15;
4.3; 6.6; 10.10). A idolatria estava enraizada no meio do povo escolhido (1Sm
7.3,4).
2. Situação dos líderes.
Deus nomeou
homens a fim de que eles pudessem conduzir o povo de Israel nos caminhos e na
vontade do Senhor. No entanto, quando os líderes se desviavam o prejuízo era
ainda maior. Vejamos como estava os líderes no período inicial do livro de 1
Samuel:
A) Eli era conivente com os erros de seus filhos.
Eli Era
descendente de Arão e Itamar, tornou-se sumo sacerdote no centro da adoração em
Siló. Eli esteve a frente do povo como juiz e sacerdote por pelo menos quarenta
anos (1Sm 4.18), e viveu até aos 98 anos de idade (1Sm 4.15). Seu nome
significa: “O Senhor é exaltado”, e a despeito da confiança e da fé que ele
tinha no Senhor, ele não foi bem sucedido na formação de sua família. Seus dois
filhos, que eram sacerdotes, pecavam contra o Senhor, no entanto, Eli se
restringiu apenas a uma repreensão verbal e nada mais (1Sm 2.22-26). Eli não
honrou o seu chamado e estimou mais os filhos do que a Deus (1Sm 2.28,29). Eli
foi: a) um pai ausente, que não
tinha tempo para os filhos (1Sm 4.18); b)
um pai
omisso, que não abriu os olhos para ver os sinais de perigo dentro do
seu lar (1Sm 2.22-24; 29-34; 3.11-12,17-18); c) um pai conivente (1Sm 2.29; 3.13); e, d) um pai passivo ao fatalismo (1Sm 3.18).
B) Hofni e
Finéias pecavam contra Deus.
Os filhos de
Eli, Hofni e Finéias, foram chamados por Deus para o sacerdócio (1Sm 1.3). No
entanto, por causa do seu mau comportamento, foram chamados de filhos de
Belial: “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial” (1Sm 2.12a).
Esta expressão hebraica é usada para descrever pessoas desprezíveis e
blasfemadoras do hebraico “gadaph” (Dt 13.13; Jz 19.22; 1Sm
25.25; Pv 16.27). Paulo usa Belial “belliyya ́al” com o um sinônimo de
Satanás (2Co 6.15). É dito também que eles “não conheciam ao SENHOR”
(1Sm 2.12b), ou seja, não possuíam qualquer conhecimento do verbo hebraico “yadá”
íntimo e pessoal de Deus. Vejamos quais foram os pecados destes homens que os
fizeram desprezíveis:
a) Pecados
de ordem cúltica (1Sm 2.12-17). A lei descrevia com precisão as porções dos
sacrifícios que pertenciam aos sacerdotes (Lv 3.3-5; 7.28-36; 10.12-15; Dt
18.1-5), mas os dois irmãos tomavam para si toda a carne que queriam e, ainda,
as partes de gordura que pertenciam ao Senhor (Lv 7.28-36). Chegavam até a
pegar a carne crua para assá-la e não ter de comê-la cozida. Eles “desprezavam
a oferta do Senhor” (1Sm 2.17) e “pisavam os sacrifícios do Senhor”
(1Sm 2.29).
b) Pecados
de ordem moral (1Sm 2.22,23). Além dos pecados de ordem cúltica
(cerimonial), o registro bíblico também diz que os filhos de Eli cometiam
imoralidade sexual com alguns mulheres que ficavam a porta do templo.
c) Pecados
de ordem pessoal (1Sm 2.25). É forte a expressão “O Senhor os queria matar”.
Lendo os textos de Números 15.30, Josué 11.20, Provérbios 15.10, logo se
entende claramente o porque de Deus querer matar esses dois filhos de Eli. O
texto esclarece que eles se colocaram em rebeldia e oposição a Deus, visto que
esse é literalmente o sentido da expressão “filhos de Belial”. O
procedimento pecaminoso, imoral, corrupto, incluindo o sacrilégio, resultou de
uma deliberação própria dos filhos de Eli. Podemos dizer que sua rebelião foi
algo idiossincrático, ou seja, algo pessoal, interno, característico do
comportamento, do modo de agir ou da sensibilidade e individualidade de alguém
(Jz 21.25; 1Sm 2.17).
III.
A MENSAGEM DE JUÍZO PARA ISRAEL
Diante do quadro
caótico de grande parte do povo e da liderança de Israel, Deus falou uma
mensagem de juízo. Veio um homem de Deus a Eli e lhe revelou o que Deus iria
fazer para punir os transgressores. Notemos:
1. Contra os sacerdotes.
Na mensagem profética
Deus lembrou a Eli o que ele tinha feito de bom ao povo de Israel e ao próprio
Eli chamando-o para exercer o sacerdócio. No entanto, apesar desse tamanho
privilégio Eli não deu o devido valor a sua vocação e tratou com desdém as
coisas sagradas (1Sm 2.27-29). Deus prometeu punir Eli e seus descendentes,
fazendo com que morressem precocemente antes de completar a
idade de exercerem o sacerdócio que era aos 30 anos (Nm 4.3,23,30,35,39,43,47;
Lc 3.23). O homem de Deus profetizou a destruição da família de sacerdotes de
Eli por causa de sua desobediência ao Senhor (1Sm 2.31-33). Mais tarde esta
mensagem foi confirmada por meio de Samuel (1Sm 3.11-14). Como sinal do
cumprimento desta mensagem, o homem de Deus disse que Hofni e Finéias morreriam
no mesmo dia (1Sm 2.34). O juízo também foi cumprido no massacre em Nobe (1Sm
22.11-19), e quando a herança sacerdotal foi transferida para a família de
Zadoque no reinado de Salomão (1Rs 2.26,27,35).
2. Contra o povo.
Além de
repreender o sacerdote Eli e seus filhos com uma dura mensagem de juízo, o
homem de Deus também disse o que aconteceria com o povo: “E verás o aperto da morada de
Deus, em lugar de todo o bem que houvera de fazer a Israel” (1Sm 2.32).
IV.
O CASTIGO PELA DEGENERAÇÃO DA LIDERANÇA SACERDOTAL
1. Escassez de manifestação.
Samuel foi
levantado em um tempo onde não havia atividade profética, provavelmente porque
havia poucos israelitas fiéis que dariam ouvidos à Palavra de Deus: “[…]
não
havia visão manifesta” (1Sm 3.1). Observamos o quanto o povo daquela
época estava longe de Deus (Jz 21.25), as pessoas faziam o que parecia bem aos
seus olhos justamente por não terem ensinamentos corretos, não havia dedicação
e muito menos zelo pela Palavra do Senhor, esqueceram dos princípios que um dia
receberam. O estado espiritual do povo era o mesmo que o do sacerdote “sem
visão” (1Sm 3.2).
2. Derrota nas batalhas.
A punição pelos
pecados de Eli e sua família aconteceu de duas maneiras: a destruição quase
total de uma família sacerdotal e a humilhação de uma nação inteira. Mas ainda
ficaram descendentes e parentes de Eli, os quais, mais à frente foram mortos
por Saul. Nessa ocasião o Tabernáculo tinha sido transferido para Nobe, e o
sumo sacerdote era Aimeleque, bisneto de Eli. Por achar que este tinha ajudado
Davi a fugir, Saul mandou matar ele e todos os demais sacerdotes, em número de
oitenta e cinco. Só escapou Abiatar (1Sm 22.6-23), que mais tarde tornou-se
sumo sacerdote, durante o reinado de Davi, mas foi destituído por Salomão,
cumprindo-se a profecia do homem de Deus em Siló (1Sm 2.35,36; 4.2; 1Rs.2.27).
3. Morte dos líderes.
Houve diversos
prenúncios da punição divina a Eli e seus filhos, aos quais ele não deu a
devida atenção, e por isso o desastre atingiu não somente sua família, mas a
todo o povo de Deus. O próprio Eli os avisou que um pecado cometido contra o
Senhor não permitiria intercessão (1Sm 2.22-25). Depois Deus usou o menino
Samuel para dizer a Eli que estava prestes a enviar um castigo terrível sobre
ele e seus filhos (1Sm 3.1-21). Eli respondeu a Samuel: “Ele é o Senhor, faça o que bem
parecer aos seus olhos” (1Sm 2.18). Cumprindo as profecias divinas,
Eli, seus filhos e uma de suas noras, morreram todos no mesmo dia (1Sm
4.12-22).
4. A perda do ministério sacerdotal.
Deus havia dado
o sacerdócio a Arão e a seus descendentes para sempre, e ninguém poderia tomar
deles essa honra (Êx 29.9; 40.15; Nm 18.7; Dt 18.5 ). Porém, os servos de Deus
não podem viver como bem entendem e esperar que o Senhor os honre, “porque
aos que me honram, honrarei” (1Sm 2.30). O privilégio do sacerdócio
continuaria sendo da tribo de Levi e da casa de Arão, mas Deus o tomaria da
linhagem de Eli (1Sm 2.36). No tempo de Davi, havia pelo menos dois
descendentes de Eleazar para cada descendente de Itamar (1Cr 24.1-5), de modo
que a família de Eli foi, aos poucos, desaparecendo. Eli era descendente de
Arão pela linhagem de Itamar, o quarto filho de Arão, mas Deus abandonaria essa
linhagem e se voltaria para os filhos de Eleazar, o terceiro filho de Arão e
seu sucessor com o sumo sacerdote (ver 1Rs 2.26,27,35). Os nomes de Eli e de
Abiatar não aparecem na lista de sumos sacerdotes israelitas em 1Crônicas
6.3-15. Ao confirmar Zadoque com o sumo sacerdote, Salomão cumpriu a profecia
proferida pelo homem de Deus quase um século e meio antes.
5. A perda da arca do Senhor.
A tragédia
também atingiu toda a nação quando os israelitas foram derrotados pelos
filisteus, e estes tomaram a Arca da Aliança (1Sm 4.11), símbolo da presença de
Deus no meio do povo. Por isso, a mulher de Finéias, que morreu ao saber da
notícia e enquanto dava à luz um menino, deu-lhe o nome de Icabode, que
significa “Foi-se a glória de Israel” (1Sm 4.19-22).
CONCLUSÃO
Devemos vigiar
para não termos o mesmo final triste e penoso de Eli e seus filhos. Precisamos
fazer como Samuel fez, honrar ao Senhor e servi-lo com fidelidade.
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. SP: OBJETIVA, 2001.
Ø JOSEFO,
Flávio (Trad. Vicente Pedroso). História dos Hebreus. RJ: CPAD,
2007.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1997.
Ø TENNEY,
Merril C. Enciclopédia da Bíblia. SP: CULTURA CRISTÃ, 2010.
Ø WIERSBE
Warren W. Comentário Bíblico Claro e Conciso AT – Históricos. SP:
GEOGRÁFICA, 2010.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário