1 Sm 15.17-28
INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos
informações sobre a vida de Saul, o primeiro monarca de Israel; estudaremos
sobre sua rebeldia contra o Senhor Deus; analisaremos os estágios desta
rebelião; e por fim, notaremos as consequências da obstinação de Saul.
I. INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE SAUL
1. Nome.
O nome Saul era muito
comum no AT, entre os homens que são chamados por esse nome, além do primeiro
monarca de Israel, destacamos: a) um
dos antigos reis de Edom (Gn 36.37; 1Cr 1.48); b) um dos filhos de Simeão, filho do patriarca Jacó (Gn 46.10; Êx
6.15; 1Cr 4.24; Nm 26.13); e, c) um
levita filho de Uzias (1Cr 6.24). Em hebraico o nome “Sha’ul” significa: “pedido,
solicitado, desejado”. No NT o nome Saul aparece como o nome hebraico
do apóstolo Paulo (At 13.9).
2. Família.
Saul era um benjamita
de boa aparência e de porte físico destacado (1Sm 9.2); era filho de Quis um
homem de certo poder aquisitivo (1Sm 9.1). Quanto ao seu lugar de origem, o
mais associado a Saul é Gibeá, apesar de Zela ser a localização do túmulo da
família (2Sm 21.14). Não há registro de que Saul possuísse irmãos ou irmãs. Sua
primeira esposa foi Ainoã, filha de Aimaás. Por meio dela ele teve quatro filhos: Jônatas,
Malquisua,
Abinadabe
e Isvi
ou Esbaal
e duas filhas: Merabe e Mical (1Sm 14.49,50; 1Cr 8.33;
9.39).
3. Proclamado rei.
A primeira aparição
de Saul no livro de Samuel é como um jovem do campo, da cidade de Gibeá. Ao
procurar as jumentas de seu pai que haviam se desgarrado (1Sm 9.20), ele
encontrou Samuel, que o ungiu e profetizou que ele seria rei de
Israel (1Sm 10.1). Mais tarde, Samuel reuniu as tribos em Mispa para
lançar sortes à maneira antiga. A sorte caiu sobre Saul, e Samuel o apresentou como o rei
que Deus havia escolhido (1Sm 10.17-25). Em pouco tempo, Saul foi
colocado à prova. Naás, rei de Amom, sitiou Jabes-Gileade, e a cidade enviou um
pedido de ajuda. Saul provou ser de fato um rei; ele reuniu um exército e,
surpreendendo Naás, destruiu os amonitas (1Sm 11.11). Após a batalha, todo Israel
reconheceu Saul como seu rei, fazendo uma grande celebração em Gilgal
(1Sm 11.12-15).
II. DEFINIÇÃO DO TERMO REBELDIA
1. Definição da palavra rebeldia.
De acordo com o
dicionarista Antônio Houaiss (2001, p. 2394) rebeldia é: “qualidade ou característica de
rebelde; ato de rebelar-se; não conformidade; oposição, resistência; obstinação
excessiva; qualidade da pessoa que não obedece ou que se opõe a uma autoridade;
vontade contrária ou oposta; teimosia; revelia; birra; revolta, indisciplina,
insubmissão, insubordinação”. À luz do Antigo Testamento, um dos termos
em destaque é o verbo: “marah” que ocorre cerca de 50 vezes,
cujo significado básico é: “rebelar-se, contender; oposição a alguém
motivado por orgulho” (Dt 21.18; Is 3.8), mais particularmente, esta
palavra conota uma atitude rebelde contra Deus (Dt 9.7; Jr 4.17), contra a Sua
palavra (Sl 105.28; 107.11) e contra Seus mandamentos (1Rs 13.21,26; Nm 20.24;
Dt 1.26, 43; 9.23; Lm 1.18). A Septuaginta (tradução grega do AT) traduz “marah”
por: “parepikraino” que significa: “amargar-se, irar-se, provocar,
rebelar-se” (Hb 3.16) e por: “atheteo” que quer dizer: “rejeitar,
não reconhecer” (Lc 10.16; Jo 12.48) (VINE, 2002, p. 254 - acréscimo
nosso). No AT, a rebelião fala de um retorno ou volta à velha vida de pecado e
à adoração aos falsos deuses; hoje em dia, isto seria equivalente ao retorno a
uma antiga vida de pecado e idolatria espiritual (WYCLIFFE, 2012, p. 1653).
III. OS ESTÁGIOS DA REBELDIA DE SAUL
Apesar de todas as
virtudes que Saul inicialmente havia demonstrado, e ter sido objeto da escolha
divina para ser o primeiro rei de Israel (1Sm 10.1,24), o monarca deu passos
sucessivos que o conduziram ao fracasso espiritual. Vejamos:
1. Orgulho.
Saul havia reinado
durante dois anos quando começou a organizar um exército permanente (1Sm
13.1,2). Jônatas seu filho, é apresentado como um soldado valente, seu ataque
ao posto avançado dos filisteus em Gibeá foi uma declaração de guerra, e os
filisteus não tardaram em responder (1Sm 13.3-5). Embora a batalha fosse
liderada por Jônatas, mas quem tocou a trombeta e, ao que parece, assumiu todo
o crédito pela vitória? Saul, filho de Quis (1Sm 13.3). Aquele que antes
atribuía as vitórias ao Deus de Israel (1Sm 11.13), agora recebe o mérito pela
conquista. Saul era propenso a auto projeção, a ponto de erigir um monumento em
sua própria honra (1Sm 15.12), e ainda, exigir de Samuel a honra pública mesmo
estando em rebeldia (1Sm 15.30). Esse orgulho fez com que ele desprezasse a
palavra de Deus, por mais de uma vez (1Sm 13.8-14; 15.11,19,24). A Bíblia condena
a auto glorificação (Pv 25.27; 27.2), exorta quanto à queda dos soberbos (Pv
29.23; Tg 4.6;), e promete honra aos humildes (Pv 15.33; 1Pd 5.5). O orgulho é
um fator determinante para o pecado de rebelião (1Sm 15.23).
2. Impaciência.
Em plena batalha
contra os filisteus Saul esperou sete dias conforme Samuel havia ordenado (1Sm
13.8; ver 1Sm 10.8). Seu exército sumia aos poucos, o inimigo se mobilizava e
Saul não queria sair para a batalha antes de oferecer um sacrifício ao Senhor.
Sem querer mais esperar, precipitadamente Saul ofereceu o sacrifício, ofício
este, que cabia exclusivamente ao sacerdote (1Sm 13.9), e naquele exato
momento, Samuel chegou ao acampamento (1Sm 13.10). Sua impaciência é evidenciada
também quando em outro embate liderado pelo seu filho Jônatas, o rei solicita a
presença da arca, indicando supostamente o desejo de se saber a vontade de Deus
(1Sm 14.18), porém, o sacerdote nem sequer teve a chance de descobrir, pois,
assim que Saul ouviu o barulho da batalha aumentando, interrompeu os
procedimentos religiosos e tomou sua decisão (1Sm 14.19). Não sabia ele que
Deus lhe estava testando a fé e perseverança, a qual foi claramente reprovada.
A Bíblia diz que sem fé e paciência, não podemos receber aquilo que o Senhor
nos promete (Hb 6.12); a incredulidade e a impaciência são sinais de
imaturidade espiritual (Tg 1.1-8), de modo que a recomendação bíblica é,
esperar o tempo de Deus (Sl 27.14; 40.1; 1Pd 5.6).
3. Dissimulação.
Não bastasse a falta
de equilíbrio demonstrada pelo monarca, Saul revela-se como alguém dissimulado,
ou seja, pessoa que oculta seus reais sentimentos ou intenções; fingido, falso,
hipócrita (1Sm 15.23,26). Com a chegada de Samuel, Saul o saúda como se nada
tivesse acontecido fingindo estar tudo bem (1Sm 13.10; 15.13), ele mente
descaradamente para eximir-se da culpa, transferindo-a ao povo e até
responsabilizando o próprio sacerdote Samuel (1Sm 13.11), afirmando que não
havia feito voluntariamente, senão, forçado pelas circunstâncias (1Sm 13.12;
15.24). Ao longo de toda a sua carreira, o rei Saul mostrou-se adepto da
prática de minimizar os próprios pecados e de enfatizar os erros de outros (1Sm
15.9,15,21), mas não é assim que um crente que serve a Deus fielmente deve se
conduzir, este tem que ser humilde para reconhecer seus erros (Mt 7.4,5),
andando em sinceridade (Pv 2.7; Mt 5.37; Ef 6.5), visto que cada um dará conta
de si mesmo ao Senhor (Ec 12.14; Rm 14.12). A Bíblia mostra que há castigo
divino para quem trilha o caminho da rebeldia (Nm 17.10; 20.24; Rm 10.21; 1Tm
1.9).
4. Insubmissão.
Tendo Deus dado uma
ordem clara a Saul por meio de Samuel (1Sm 15.1), na qual o monarca deveria
executar o juízo sobre os ímpios amalequitas (1Sm 15.2,3), o rei no entanto,
não executou todas as ordens e poupou a vida do rei Agague (1Sm 15.8). Seu amor
pelas coisas materiais o levou a destruir apenas o que era inútil ou de pouco
valor, guardando para si o melhor dos animais (1Sm 15.9). Esta atitude
resultou: a) na confirmação da
reprovação de Deus em relação a Saul: “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei
[...]”
(1Sm 15.11a); b) tristeza no coração
do profeta Samuel: “[…] Então, Samuel se contristou e toda a noite [...]” (1Sm 15.11c), e, c) configurou como um desvio deliberado
da vontade de Deus: “[…] porquanto deixou de me seguir
[...]”
(1Sm 15.11b). Deus considera a desobediência muito mais que simples recusa em
cumprir instruções; é uma medida do estado do coração, indicando se Deus é, de
fato, aquele a quem servimos. Nesse sentido, a desobediência equivale à rebeldia,
e a
obediência incompleta ou de má vontade revela rebelião implícita, travestida de
falsa espiritualidade (1Sm 15.15,21-23). O mal que Saul poupou
desobedecendo ao Senhor não tardaria de lhe atingir (2Sm 1.1-10).
V. CONSEQUÊNCIAS DA REBELDIA DE SAUL
1. A rejeição de Deus.
Saul recebeu
oportunidades de confessar e arrepender-se de seus pecados, mas não o fez, e
por isso foi rejeitado pelo Senhor Deus (1Sm 13.13,14; 15.11,22,23; 28.7; 1Cr
10.13). Em vez disso, quis justificar-se perante Samuel (1Sm 15.20). Saul agiu
como se a mensagem de Deus fosse um detalhe de pouca importância. Esse
comportamento demonstrou rejeição à mensagem, a Samuel que a entregou, e a
Deus, que a enviou. Sendo assim, confrontou-se com o julgamento divino, pois
desprezou a palavra do Senhor (1Sm 15.23,26). A narrativa do capítulo finaliza,
com um tom pesaroso mostrando o sentimento de tristeza tanto do profeta como de
Deus (1Sm 15.35). Embora pareça contraditório este último versículo em
comparação com 1Samuel 15.29, este afirma que Deus em relação a seu caráter
essencial, Ele é imutável e inalterável (cf. Tg 1.17), já aquele (v.35) deixa
claro que, devido a mudança da conduta de Saul, exigiu-se uma mudança
correspondente nos planos e propósitos de Deus para ele. Para se manter coerente
com seus atributos, o Senhor deve abençoar a obediência e castigar a
desobediência (MACDONALD, 2011, p. 208). De modo que, a atitude divina não foi
arbitrária, uma vez que o arrependimento (mudança de atitude) de Deus foi
consequência da apostasia de Saul (1Sm 12.20,21,24,25; 15.11).
2. A perda da presença do Espírito Santo.
Saul recebeu o
Espírito de Deus quando foi ungido (1Sm 10.6; 11.6), mas depois de abandonar a
Deus tornou-se presa fácil para o inimigo. Com o Espírito do Senhor tendo-se
retirado de Saul, um espírito maligno veio atormentá-lo (1Sm 16.14; 18.10;
19.9). Destacamos, porém, que quando o texto afirma que esse espírito era
proveniente da parte do Senhor, quer dizer que Deus permitiu sua atuação e não
que o mesmo o determinou. Este espírito deprimia Saul e lhe causava
disposição para agir perversamente e com violência (1Sm 19.10). Quem abandona a
presença de Deus anda na escuridão. Tanto aprovação como a presença do Senhor
são condicionais (2Cr 15.2; Jo 15.4,6,9-11).
3. O desvio e afastamento dos planos do Senhor.
Além de ser rejeitado
por Deus, Saul passou a ser oprimido por espíritos maus caindo tão gravemente
que perseguiu injustamente Davi e no processo até mesmo matou sacerdotes do
Senhor (1Sm 22.11- 19) e por fim, ainda consultou uma necromante (1Sm
28.11-20). O Senhor abomina qualquer envolvimento com o ocultismo (Dt 18.9-14).
Neste estágio Saul não se importava mais em ser fiel a Deus (1Sm 28.6; Pv
28.9), e devido a dureza de coração o Senhor o rejeitou como rei (1Sm 16.1).
Terminando sua carreira tirando sua vida em uma batalha (1Sm 31.4).
CONCLUSÃO
A rebelião evoca a
correção de Deus (Hb 12.6; 1Co 11.32), e resulta na perda de recompensas (2Co
5.10; 1Co 3.15); perda da comunhão (1Jo 1.7); remoção de um lugar de utilidade
(1Co 5.5; 11.30); e, às vezes, até exige a remoção desta vida pela morte (1Co
11.30).
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ:
OBJETIVA, 2001.
Ø MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular. MUNDO
CRISTÃO.
Ø STAMPS, Donald C (Trad. Gordon Chown). Bíblia de Estudo Pentecostal.
RJ: CPAD, 1995.
Ø VINE, W.E, et al (Trad. Luís Aron). Dicionário Vine. RJ: CPAD, 2002.
Ø WIERSBE Warren W. Comentário Bíblico Claro e Conciso AT –
Históricos. SP: GEOGRÁFICA, 2010.
Ø WYCLIFFE. Dicionário Bíblico. RJ: CPAD, 2012.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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