Ef 4.1-4; Cl 1.9-12
INTRODUÇÃO
Nesta lição
aprenderemos sobre três virtudes que são imprescindíveis para os
relacionamentos interpessoais, a saber: humildade, mansidão e a longanimidade;
veremos os significados desses termos à luz das Escrituras; e, por fim, a
importância dessas qualidades para a conservação da unidade cristã.
I. UM APELO A UMA CONDUTA DIGNA
Com o capítulo
4, o apóstolo, seguindo o plano de Gálatas, Romanos e Colossenses, depois de
analisar as grandes verdades de redenção reveladas por Deus, passa à exortação
e instrução ética. Os três primeiros capítulos tratam de doutrina, de nossas
riquezas em Cristo, enquanto os três últimos capítulos explicam os deveres,
nossas responsabilidades em Cristo. A palavra-chave da última metade é andar
(Ef 4.1,17; 5.2,8,15). Nestes três capítulos, Paulo nos admoesta a andar em
unidade (Ef 4.1-16), pureza (Ef 4.17 – 5.1 7), harmonia (Ef 5.18 – 6.9) e
vitória (Ef 6.10-24).
1. O andar
digno.
Dois termos
importantes são usados pelo apóstolo em Efésio 4.1: “rogo e pois”.
O termo rogar indica que Deus, em seu amor, nos insta a viver para sua glória. Não
segue mais o padrão do Antigo Testamento, no qual ele dizia: “se me seguir, eu
o abençoarei”. Agora, Deus diz: “Eu já o abençoei; agora, obedeça-me em
resposta a meu amor e a minha graça”. Ele nos chamou de modo
maravilhoso em Cristo; nossa responsabilidade é viver à altura desse chamado. O
termo, pois indica que Paulo baseia suas exortações ao dever nas doutrinas
ensinadas nos três primeiros capítulos. Sua intenção é provocar nos leitores reflexão
séria sobre o modo em que vivem a vida. Ele os exorta a andar como é digno da
vocação para a qual foram chamados (cf. Fp 1.27; Cl 1.10; 1Ts 2.12). A
expressão “andeis” do grego: “peripateo”, no Novo
Testamento, significa: “conduzir a vida”, “conduzir- se”, “comportar-se”.
A vida é consequência da doutrina e a doutrina é a base da vida. Neste caso, o
apelo inicial é para viver de modo “digno” em grego: “axios”,
ou seja, “condizente, apropriadamente” à vocação ou
“chamado”. O que cremos determina como vivemos. Paulo ensina que o nosso andar
precisa refletir a vida de Deus. A vocação com que fostes chamados não se
refere ao chamado divinamente dado para o ministério, mas diz respeito ao
chamado para a salvação, um relacionamento resultante da conversão.
II. UM APELO A PRESERVAÇÃO DA
UNIDADE DA IGREJA
O apelo de Paulo
quanto a conduta do cristão de acordo com os padrões divinos nesta passagem,
tem como alvo a preservação da unidade na igreja: “procurando guardar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4.3). Esta unidade foi um
dos propósitos pelos quais o Senhor Jesus orou ao Pai, na oração chamada de
oração sacerdotal (Jo 17.20-23). E a base para esta unidade, afirma Paulo é
que: “há um só corpo e um só Espírito […] uma só esperança, um só Senhor,
uma só fé, um só batismo, um só Deus” (Ef 4.4-6). A unidade dos
cristãos em Cristo já é uma realidade espiritual, dos dois povos Ele fez um (Ef
2.14); nossa responsabilidade, portanto, é guardar, proteger e preservar essa
unidade. Para isso, precisamos entender que, o apóstolo destaca algumas
virtudes pelas quais, a unidade na igreja é preservada.
III. ANDANDO EM HUMILDADE
1. Definição do
termo.
A expressão
humildade advém do grego: “tapeinophrosune” que quer dizer: “ter
uma opinião humilde de si mesmo; senso profundo de insignificância (moral);
modéstia, submissão de mente”. De acordo com Houaiss (2001, p. 1555) a
palavra humildade significa: “qualidade de humilde; virtude caracterizada
pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade; sentimento de
fraqueza”. É o mesmo que ausência de orgulho, soberba ou vaidade.
De forma prática é: “um sentimento de gratidão pela dependência a Deus”,
é o antônimo de orgulho e vaidade. A postura da humildade é da pessoa que olha
para cima”. Ser humilde significa colocar Cristo em primeiro lugar, os
outros em segundo e a si mesmo em último.
2. Sua
importância para a conservação da unidade na igreja.
A humildade é
necessária para quem deseja servir a Deus (Mq 6.8), pois, é uma das principais
virtudes dos santos (Sl 34.2; Pv 16.19; Mt 5.3; Ef 4.1,2), e ela precede a
honra (Pv 15.33; 22.4). Entre o povo de Deus, a humildade é um imperativo (Pv
3.34; Tg 4.6; 1Pe 5.6), é a virtude que promove a unidade, é o remédio para
prevenir e combater os males que atacam a unidade da igreja. O apóstolo Paulo
para tratar de problemas interpessoais na igreja em Filipos entre irmãos (Fp
4.2), se reporta para a virtude da humildade personificada em Cristo, para
motivar a resolução de toda querela entre irmãos e conservar a união na igreja
(Fp 2.1-7).
IV. ANDANDO EM MANSIDÃO
1. Definição do
termo.
A palavra grega
traduzida por mansidão é: “prautes” que segundo Barclay (1988, p.
105) significa: “suavidade”. O adjetivo “manso” quer
dizer: “de gênio brando ou índole pacífica; bondoso; pacato; sereno,
sossegado, tranquilo”, sendo assim, pode-se dizer que a mansidão
é o antônimo de aspereza ou rispidez.
2. Uma
característica do fruto do Espírito.
Mansidão é a
oitava virtude elencada por Paulo pertencente ao Fruto do Espírito (Gl 5.22). A
mansidão como fruto do Espírito, trata-se da virtude gerada por Ele no crente,
proporcionando a habilidade de ser “gentil, humilde, cortês, amável,
suave, tolerante” (1Co 4.21; Gl 5.22,23; Ef 4.2; Cl 3.12; Tt 3.2; 1Pe
3.15). Matthew Henry (2008, p. 45) diz que os mansos: “podem suportar
provocações sem se irritar, sem se deixar levar a qualquer indecência; que conseguem
ficar tranquilos quando os outros estão acalorados, que preferem perdoar vinte
ofensas a vingar uma”. Na Bíblia, metaforicamente, os servos do Senhor
são comparados com a ovelha por causa da mansidão (Sl 95.7; 100.3; Jr 23.3; Jo 10.14,15).
3. Um antídoto
contra as pelejas.
A palavra “peleja”
significa: “combate, luta, batalha”. A palavra no grego é
“erithéia” que quer dizer: “rivalidade, ambição egoísta,
discórdias, espírito partidário que se fundamenta no egoísmo” (GOMES,
2016, p.128). A Bíblia nos exorta a agirmos com mansidão nas seguintes
situações: a) para ensinar os resistentes (2Tm 2.23-26); b) para
corrigir os faltosos (Gl 6.1); c) da esposa para com o cônjuge não
crente (1Pe 3.1-4); e, d) no uso da apologética (1Pe 3.15; 2Tm 2.23; Tt
3.9).
V. ANDANDO EM LONGANIMIDADE
1. Definição do
termo.
A palavra
longanimidade advém da expressão grega: “makrothumia” também
traduzida por “paciênica”. É a junção de: “makros” que
significa: “grande ou longo” e: “thumos” que quer
dizer: “ânimo ou disposição” (BARCLAY, 1988 p. 88). De acordo com
Champlin (2004, p. 904), há catorze ocorrências dessa palavra no NT (Rm 2.4;
9.22; 2Co 6.6; Gl 5.22; Ef 4.2; Cl 1.11; 3.12; 1Tm 1.16; 2Tm 3.10; 4.2; Hb
6.12; Tg 5.10; 1Pe 3.20; 2Pe 3.15). Essa palavra grega aponta para a
grande paciência, para a grande tolerância, para a persistência em não se
deixar arrebatar pelas emoções fortes. Longanimidade seria a disposição de
ânimo de pacientemente suportar o sofrimento e os maus tratos com a forte esperança
de melhoria (cf. Rm 2.4; 1Pe 3.20). O oposto desta virtude é “a
irritabilidade, a irascibilidade”.
2. Uma
característica do fruto do Espírito.
A paciência ou
longanimidade é o quarto aspecto ou característica, das relacionadas por Paulo
como sendo o fruto do Espírito (Gl 5.22); trata-se da virtude gerada por Ele no
crente, proporcionando a habilidade de suportar, de forma graciosa, uma
situação insuportável e resistir, com paciência, o irresistível (2Co 6.6).
Segundo Gilberto (2004, p. 46): “A paciência como fruto do Espírito,
capacita o crente a exercer o autodomínio (conter-se ou refrear-se) diante da
prova. Não é precipitado em acertar as contas ou punir […] Todos estes aspectos
da longanimidade são parte do processo que nos conforma à imagem de Cristo” (2Co
3.18; Cl 3.10; 2Pe 1.5-8). Por meio dessa virtude, o cristão tem condições de
manter o equilíbrio em meios as provações e diante das afrontas, sem alimentar
o sentimento de vingança, antes entregando tudo nas mãos do Senhor (Rm 12.19). “[...]
Longanimidade é o amor sofrendo ou suportando” (OLIVEIRA, 1987, p.
140).
3. A sua
importância para a unidade na Igreja.
O que tem
longanimidade é longânimo, do hebraico: “erekappayim”, que quer
dizer: “lento em irar-se”, e literalmente, essa expressão
significa: “comprido de nariz ou comprido de rosto”, e veio a ser
associada à ideia de irar-se com dificuldade (talvez devido ao fato de que é no
rosto que a pessoa mostra suas emoções fortes, pelo que, a fisionomia seria
indicadora dessas emoções) ou então, como outros têm sugerido, o nariz é
um indicador da ira, visto que a pessoa respira forte quando excitada pela ira (CHAMPLIN,
2004, p. 904). Vejamos a importância de possuir a paciência:
A) No
relacionamento interpessoal.
As primeiras
qualidades do fruto do Espírito – amor, alegria e paz – são
ingredientes essenciais de nossa vida espiritual interior, de nossa relação
pessoal com Deus; os três seguintes começando com a paciência ou longanimidade,
são manifestações exteriores do amor, da alegria e da paz em nossas relações
com as pessoas à nossa volta (GILBERTO, 2004, p. 76). Sobre a importância da
longanimidade destacamos: a) O apóstolo Paulo expressa aos Colossenses o
desejo de que eles tenham essa qualidade (Cl 1.9-11); b) uma das
características do autêntico cristão (Cl 3.12); c) deve ser exercitada
com todos (1Ts 5.14); d) virtude imprescindível para o ministério do
ensino (2 Tm 4.2); e, e) pacifica as intrigas (Pv 15.18; (Rm 12.18).
Fomos conclamados a seguir a paz e, na medida do possível, ter paz com todos os
homens (Sl 34.14; 133.1; Mt 5.9; Ef 4.1-3; 1Co 7.15; Hb 12.14; 1Pe 3.11),
lembrando que: “E ao servo do Senhor não convém contender [...]” (2Tm
2.24,25 ver Tt 3.2).
B) Prevenindo
contra a dissensão.
Sobre a
dissenção, já temos visto ser uma das obras da carne listadas pelo apóstolo
Paulo aos gálatas. Do grego: “dichostasia”, significa: “sedição,
rebelião”, e também: “posicionar-se uns contra os outros”;
trata-se daquele sentimento que só pensa no que é seu, e não também no que é
dos outros. Na igreja que estava em Corinto, Paulo faz uma incisiva advertência
sobre esse sentimento presente entre os irmãos; apesar de ser uma igreja
fervorosa onde havia manifestações diversas dos dons espirituais (1Co 1.7)
contudo, o apóstolo os chama de crentes carnais e não de espirituais (1Co 3.1).
“Aqui, Paulo não está falando de diferenças fundamentadas em crenças
sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas por motivos errados,
cuja procedência é determinada pela natureza pecaminosa” (BEACON, 2006,
p.72). Uma vez que havia dissensões no seio da igreja trazendo partidarismo
(1Co 1.10-12; 3.1-4) como também prejuízo à liturgia do culto (1Co 11.17-21);
para corrigir esses e outros erros, o apóstolo reafirma a necessidade de
possuir o “Fruto do Espírito” caracterizado pela sua principal virtude o amor
(1Co 13.1-7). Todas as nossas atitudes se não estiverem fundamentadas no verdadeiro
amor, não tem valor algum, pois ele é vínculo da perfeição (Cl 3.14); uma
dívida que temos para com o próximo (Rm 13.8a); e quem exercita o amor como
fruto do Espírito cumpre a lei (Rm 13.8,10).
CONCLUSÃO
Concluímos que
ter humildade, mansidão e longanimidade em amor, é uma necessidade de todo
cristão, diante das diversas situações a que estão submetidos, como também nos
tornar capazes de suportar e saber agir pacientemente, para conservação da
unidade cristã evitando as divisões.
REFERÊNCIAS
Ø BARCLAY,
William. As obras da carne e o fruto do Espírito. VIDA NOVA.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS
Ø GILBERTO,
Antonio. O Fruto do Espírito: a plenitude de Cristo na vida do crente.
CPAD.
Ø GOMES,
Oziel. As Obras da Carne e o Fruto do Espírito Santo. CPAD.
Ø HENRY,
Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento. CPAD.
Ø OLIVEIRA,
Raimundo. As Grandes Doutrinas da Bíblia. CPAD
Por Rede
Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário