Ed 2.59-62; 4.2,3; 6.2-4
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos o momento histórico que exigiu dos repatriados judeus uma postura
de separação dos samaritanos para não comprometerem a sua vida espiritual;
destacaremos também, o que a Bíblia diz sobre a doutrina da santidade; e por
fim, veremos a necessidade do cristão viver uma vida santa.
I.
A ORIGEM DOS SAMARITANOS NA BÍBLIA
1. A origem dos
samaritanos.
Depois do
reinado de Salomão, o povo de Israel, ou seja, as doze tribos, se dividiu em duas
nações: Israel e Judá (1R 12.20). Em Judá, no sul, o povo continuou a adorar a
Deus em Jerusalém, mas em Israel, no norte, o povo se virou para a idolatria e
misturou a adoração a Deus com outras religiões. A primeira vez que o termo samaritanos
aparece nas Escrituras é no período monárquico de Israel (2Rs 17.29). A
expressão é advinda do termo hebraico: “shomeroni”, que
quer dizer: “habitantes de Samaria”. Já a expressão Samaria tem o
significado de: “um posto de vigia” derivado do fato de que a
cidade de Samaria era edificada sobre um morro (1Rs 13.32) (CHAMPLIN, 2001, p. 5228
– acréscimo nosso). Quando os assírios conquistaram o reino do Norte (as
dez tribos), misturaram intencionalmente as nações que haviam derrotado, o que
levou a uma mistura étnica e religiosa (2Rs 17.23-41; Ed 4.10). Desse modo, surgiram
os samaritanos, que além de cultivarem o casamento misto, aceitavam
parcialmente o Antigo Testamento como Palavra de Deus (consideravam apenas a
Torá como Escritura), e que na prática viviam uma espécie de sincretismo religioso,
visto que: “[…] ao Senhor temiam e também a seus deuses serviam” (2Rs
17.33; ver Jo 4.22).
2. A cidade dos
samaritanos.
Os samaritanos
eram um povo mestiço, formado da mistura de israelitas com outros povos (miscigenação).
Samaria inicialmente tratava-se de um monte em Israel que Onri, sexto rei de
Israel, pai do rei Acabe o qual reinava sobre dez tribos do norte, que se
apartaram de Jerusalém (1Rs 12.19,20). O rei Onri comprou este monte por dois
talentos de prata de um homem chamado Semer, de onde vem o nome “Samaria”
ou “Samária” fundou uma cidade a qual deu o nome em
homenagem ao dono anterior, e fez dela a capital do seu reino (1Rs 16.24). No
período romano, a cidade era conhecida pelo nome de Sebaste (venerável), nome
dado por Herodes, o Grande. A mistura étnico-religiosa dos moradores da região
começou a se dar a partir de 722 a.C, quando os assírios levaram as dez tribos
do Norte para o cativeiro (2Rs 17.26,29,33).
3. A natureza
dos samaritanos.
O escritor
sagrado ao se referir aos samaritanos neste contexto os chama de “adversários”
(Ed 4.1) do hebraico: “tsare” que significa: “dificuldades,
inimigo, opressor, pedra dura”, o que retrata tanto a natureza quanto aos
propósitos dos samaritanos, a saber, ser um problema, uma pedra de tropeço, se
opor ao povo de Deus na restauração da nação. Ao ouvir que Jerusalém era
reconstruída e o Templo restaurado, os adversários perturbaram-se. Eles temiam
que, se permitissem que os judeus se estabelecessem em Jerusalém, representaria
uma ameaça à sua primazia e ao seu poder político, comercial e econômico (Ed
4.13-16).
4 A proposta dos
samaritanos.
A oferta de
ajuda na reconstrução por parte dos samaritanos, tinha aparentemente uma aparência
de piedade (Ed 4.2); o que os judeus rejeitaram firmemente (Ed 4.3). Os
repatriados já haviam rejeitado alguns que se diziam judeus e não provaram (Ed
2.59-63), de modo que não estavam dispostos a transigir com os princípios divinos.
O que havia de tão perigoso na oferta dos samaritanos? Se esse povo começasse a
se misturar com o remanescente judeu enquanto ajudavam a reconstruir o Templo,
não tardaria para que os dois grupos começassem a se tornar mais íntimos e
realizar casamentos mistos, o que era contrário à lei de Moisés (Êx 34.10-17;
Dt 7.1-11; 12.1-3), pois Israel era uma nação separada das outras (Nm 23.9). O
povo de Deus, na atualidade, deve manter-se igualmente separado e não se envolver
com qualquer coisa que o leve a transigir em seu testemunho ou servir de
empecilho para a obra de Deus (Am 3.3; 2Co 6.14-7.1; 2Tm 2.3-5). Porém, essa
separação não deve ser entendida, em momento algum, como um isolamento (1Co
5.9,10), pois Deus tem uma missão para os cristãos cumprirem neste mundo (Mt
5.13-16; Jo 17.14-18; Fp 2.15). O povo de Deus se separa do mundo a fim de
poder testemunhar para o mundo (Hb 7.26; ver Lc 15.1,2; Mt 9.10,11; 11.19).
II. MOTIVOS DA SEPARAÇÃO ENTRE
SAMARITANOS E JUDEUS
1. A separação
foi por motivos étnicos.
Em primeiro
lugar, podemos dizer que os judeus não se davam com os samaritanos por causa de
sua mistura com outros povos (2Rs 17.6,24; Jo 4.9). Os judeus consideravam que
os samaritanos não tinham sangue puro; pois eram israelitas que se misturaram
com outros povos. Quando a Assíria tomou Samaria, o rei assírio deportou muitos
israelitas para outras terras de seu império; e também importou pessoas de
outros povos subjugados pela Assíria para viver em Samaria. Os israelitas que
continuaram vivendo em Samaria acabaram se misturando com os estrangeiros e
assimilando os costumes desses povos.
2. A separação
foi por motivos religiosos.
Em segundo
lugar, os judeus não se davam com os samaritanos por causa de diferenças no
aspecto religioso (2R 17.7-12,29-34,41). De fato após a queda de Samaria muitos
samaritanos misturaram o monoteísmo hebreu com o politeísmo dos povos pagãos
que ocuparam aquela região. Mas depois houve um esforço para que os samaritanos
fossem instruídos na Lei de Deus; embora muitos deles continuassem a incorporar
a adoração ao Senhor em suas práticas idólatras (2R 17.24-41). Com o tempo os
samaritanos edificaram seu próprio templo de adoração no Monte Gerizim e
tiveram seus próprios sacerdotes. Eles também passaram a considerar a adoração
no Templo em Jerusalém inapropriada, alegando, inclusive, que o Monte Gerizim
era o único local correto de adoração designado por Deus a Moisés; ao invés do
Monte Sião (Jo 4.20-24).
3. A separação
foi por motivos políticos.
Quando os judeus
voltaram do cativeiro babilônico, eles receberam permissão para reconstruir o
Templo e os muros da cidade de Jerusalém (Ed 1.1-11). Inicialmente os
samaritanos se apresentaram a Zorobabel querendo ajudar os judeus na
reconstrução do Templo (Ed 4.2). Mas quando tiveram sua ajuda negada, tão logo eles
começaram a fazer grande oposição contra os judeus e atrasaram a obra (Ed
4.1-5). Também quando Neemias começou a reconstruir os muros de Jerusalém, um
de seus maiores opositores foi Sambalate, o governador de Samaria à época (Ne
2.10,19; 4.1; 6.1).
4. A separação
foi por motivos morais.
A rivalidade
entre judeus e samaritanos aumentou ainda mais quando Esdras e Neemias
procuraram enfatizar o zelo pela pureza do povo judeu remanescente do
cativeiro. Também naquele tempo o neto do sumo sacerdote se casou com a filha
de Sambalate, e Neemias o expulsou. Neemias queria limpar o povo de toda influência
estrangeira que pudesse perverter a adoração a Deus (Ne 13.28-30). Flávio
Josefo ainda destaca que os samaritanos recebiam de braços abertos os judeus
que quebravam as leis judaicas. Isto obviamente fazia por aumentar o ódio dos
demais judeus (Lc 9.52-56).
III. A SEPARAÇÃO ENTRE
SAMARITANOS E JUDEUS E A ILUSTRAÇÃO DE SANTIDADE
De acordo com
Andrade (2006, p. 326), santidade nas Escrituras tem dois sentidos básicos: “separação
do mal e do pecado; e ainda, a dedicação completa ao serviço do Reino de Deus”.
Basicamente, santidade é um “corte”, ou seja, a “separação”
daquilo que é impuro e uma consagração ao que é puro (TYNDALE, 2015, p.
1656). Viver em santidade é uma necessidade para quem quer viver separado da
corrupção do pecado e deseja viver única e exclusivamente para Deus, como o fez
o apóstolo Paulo (At 27.23). Então notemos alguns aspectos da santidade:
1. Santidade é
uma ordem divina.
Sendo Deus Santo
exige dos seus filhos a santificação (Lv 11.44; Lv 19.1,2; 20.6; 1Pe 1.16).
Santidade é o alvo e o propósito da nossa eleição em Cristo (Ef 1.4); significa
ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e viver para agradar a Deus (Rm
12.1,2; Ef 1.4; 2.10). A perfeita obra de Deus realiza uma santidade real que
conforma ao padrão de Deus (Rm 8.3-4; 1Pd 1.15-16).
2. Santidade é
separação.
A palavra
descritiva da natureza divina é santidade, e seu significado primordial é “separação”
(Lv 20.24,26; Is 52.11; Ml 3.18); portanto, a santidade representa
aquilo que está em Deus, que o torna separado de tudo quanto seja imundo ou
pecaminoso. Quando Ele deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele
separa essa pessoa ou objeto e em virtude dessa separação tomam-se “santo”
(2Co 6.14,15; 2Tm 2.21).
3. Santidade é
consagração.
No sentido de
viver uma vida santa e justa, em conformidade com a palavra de Deus ededicada
ao serviço divino; o cristão passa a viver em busca da remoção de qualquer
impureza que impossibilite esse serviço. Sendo assim, Deus deu ao seu povo, a
nação de Israel, o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico.
O padrão de vida de um povo que busca a santificação é viver uma vida de
consagração (2Co 6.16b). A santificação é praticada e aplicada ao viver diário
do crente (Pv 4.18; 2Co 3.18; 7.1; 2Pd 3.18; 2Co 7.1; Hb 12.14).
4. Santidade é
dedicação.
Santificação
inclui tanto a separação “de”, como dedicação “a” alguma
coisa; essa é a condição dos crentes ao serem separados do pecado e do mundo e
feitos participantes da natureza divina, e consagrados à comunhão e ao serviço
de Deus por meio do Mediador. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao
serviço de Jeová (Êx 19.6); os levitas são santos por serem especialmente
dedicados aos serviços do tabernáculo (Nm 8.6-26). A palavra “santo” quando
referente aos homens ou objetos, expressa o pensamento de que esses são usados
no serviço divino e dedicados a Deus, no sentido especial de serem sua
propriedade (2Co 6.17,18).
5. Santidade é
purificação.
Embora o
sentimento primordial de “santo” seja separação para serviço,
inclui também a ideia de purificação. O caráter de Deus age sobre tudo que lhe
é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de Sua natureza.
As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas e puras (2Co 7.1) Sendo assim,
entendemos que pureza é uma condição de santidade (1Jo 3.3). A santidade é a
marca característica de um verdadeiro servo de Deus, tanto no AT, pois, o
caráter santo de Deus deveria ser refletido na vida de Israel (Lv 11.44; Nm
15.40), como no NT, onde nos é dito que a nossa santificação é a vontade direta
e perfeita de Deus para nós (1Ts 4.3).
CONCLUSÃO
Para um cristão
cuja vida é consagrada a Deus, a divisão entre “secular” e “sagrado”
é algo essencial. Ao viver para a glória de Deus, a vida do servo de
Deus em todos os aspectos deve ser marcada pela santidade . Nenhum aspecto da nossa
vida está excluído desse imperativo divino, mesmo atividades comuns devem ser
realizadas para a glória de Deus.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø JONES,
Landon. O Deus de Israel: na teologia do Antigo Testamento. HAGNOS.
Ø WIERSBE,
Warren W. Comentario Biblico Espositivo do Antigo Testamento. GEGRÁFICA.
Ø STAMPS,
Donald C. Biblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø JOSEFO,
Flávio. História dos Hebreus. CPAD.
Ø SCHULTZ,
Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento. Vida Nova.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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