sábado, 22 de agosto de 2020

LIÇÃO 08 – AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS (SUBSÍDIO)


  



Ne 5.1,6-12



INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos o significado da palavra desunião; analisaremos o contexto socioeconômico pós-exílio; notaremos quais foram as causas da desunião entre os judeus regressos; pontuaremos as medidas adotadas por Neemias para restabelecer a união entre o povo; e por fim, mostraremos a importância da união na igreja.


I. SIGNIFICADO DA PALAVRA DESUNIÃO
1. Definição da expressão desunião.
O dicionário Houaiss da língua portuguesa define o termo desunião da seguinte maneira: “ato ou efeito de desunir, de separar o que estava unido; separação; ausência de união; desarmonia; falta de acordo; desacerto, discórdia” (2001, p. 1020). O retorno do cativeiro foi marcado pela união do povo na construção do altar (Ed 3.1), na preparação e reconstrução do templo (Ed 3.9), e edificação dos muros (Ne 4.6; 19-23). Os judeus regressos vivenciaram momentos de verdadeira união: “o povo se ajuntou como um só homem” (Ed 3.1; Ne 8.1). Entretanto, não demorou muito para que esta união fosse afetada. Neemias lida agora não com um problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos “irmãos” como veremos a seguir.


II. ENTENDENDO O CONTEXTO SOCIOECONÔMICO PÓS-EXÍLIO
No meio de uma “grande obra” (Ne 4.19), para um “grande Deus” (Ne 1.5), ouviu-se entre os judeus um “grande clamor” (Ne 5.1). Não estavam clamando contra os samaritanos, os amonitas ou os árabes, mas contra seu próprio povo: “Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos” (Ne 5.1). Judeus estavam explorando seus compatriotas, e a situação econômica havia se tornado tão desesperadora que até mesmo as esposas (que costumavam manter-se caladas) participavam dos protestos (Ne 5.1). Examinando o texto é possível distinguir três grupos de pessoas e qual era o seu clamor. Vejamos:

1. Mercadores e trabalhadores (Ne 5.2).
Os primeiros a reclamar foram os trabalhadores com grandes famílias que se viram sem fonte de renda para se manterem. Eles não possuíam terras, mas precisavam de comida para sobreviverem (v.2). A população estava crescendo, os alimentos eram extremamente escasso e o povo passava fome (Ne 5.3). Estas pessoas não podiam fazer coisa alguma, de modo que voltaram seus clamores por socorro para Neemias.

2.Os fazendeiros (Ne 5.3).
O segundo grupo era constituído de proprietários de terras que haviam hipotecado suas propriedades a fim de comprar alimentos: “as nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome” (Ne 5.3).

3. Os que sofriam com os impostos (Ne 5.4).
O terceiro grupo de pessoas eram aqueles que estavam tomando dinheiro emprestado para pagamento de altos impostos ao rei da Pérsia com penhora de suas colheitas, sem possibilidade de pagamento, sendo forçados a venderem seus filhos como escravos (Ne 5.5). No tempo de Neemias, a tensão social chegou a tal ponto, que os israelitas vendiam-se, a fim de resgatar suas dívidas. Alguns acabaram por entregar suas filhas como escravas a povos estrangeiros (Ne 5.1-7).


III. AS CAUSAS DA DESUNIÃO ENTRE OS JUDEUS
1. A avareza dos mais ricos.
A avareza dos nobres e magistrados foi perceptível: “usura tomais cada um de seu irmão” (Ne 5.7). O apego demasiado as riquezas, fez com que os ricos oprimissem seus irmãos cobrando altos juros, atitude esta proibida por Deus (Êx 22.25; Lv 25.36,37; Dt 23.19,20). A lei de Deus estava sendo violada e os pobres ficando cada vez mais endividados (Ne 5.2-5). O exército de Sambalate era menos perigoso do que a avareza dos nobres. A avareza é um pecado que: “submergem os homens na perdição e ruína” (1Tm 6.9-10).

2. A indiferença.
O sofrimento dos menos favorecidos parecia não incomodar a classe rica. Embora todos fossem compatriotas judeus, alguns tiveram de ir ao extremo de vender a si mesmos, e ou, seus filhos como escravos (Ne 5.5,8). Esta indiferença é questionada pelos judeus pobres que ao verem seus filhos sendo vendidos como escravos a outros judeus argumentavam: “nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos” (Ne 5.5 – ARA). Ainda que legítimo (Êx 21.2; Lv 25.39-41), vender os irmãos era algo desumano e, por esta razão, o plano de Neemias era acabar com esta prática injusta entre eles já que uma das razões que levou o povo a pobreza foi exatamente a exploração dos judeus ricos: “restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, […] que vós exigis deles” (Ne 5.11).

3. A falta de temor a Deus.
Neemias de maneira enfática repreende os nobres: “Não é bom o que fazeis: porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus […]” (Ne 5.9a). A falta de temor a Deus e a sua lei fez que: a) os pobres fossem ignorados ao ponto de passarem fome (Ne 5.3); b) juros exorbitantes fossem cobrados de seus irmãos (Ne 5.4,7); c) seus irmãos fossem vendidos injustamente como escravos (Ne 5.5); e, d) e o Nome de Deus desonrado entre os gentios (Ne 5.9b).


IV. MEDIDAS ADOTADAS POR NEEMIAS PARA RESTAURAR A UNIÃO DO POVO
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebrada, instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência (Jr 6.6; 25.3). Ao ouvir o clamor do povo contra os nobres e magistrados, Neemias agiu de forma imediata e justa a fim de remover toda a injustiça e opressão em Jerusalém. Como líder habilidoso, Neemias percebeu que a desigualdade social e econômica ameaçava a estabilidade da comunidade e lhe inquietou a tomar algumas medidas. Vejamos:

1. Neemias considerou no seu coração (Ne 5.7).
A atitude opressora dos judeus ricos aborreceu profundamente a Neemias: “Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci” (Ne 5.6 ARA). Apesar de irado, a primeira atitude de Neemias foi refletir o que deveria fazer: “e considerei comigo mesmo no meu coração” (Ne 5.7-a). A palavra “considerar” significa: “olhar, fitar com atenção e minúcia; refletir sobre uma coisa, um fato, uma possibilidade, sobre alguém ou sobre si mesmo” (HOUAISS, 2001, p. 809). Neemias como era um homem de oração, é provável que neste ínterim tenha buscado a direção de Deus. Aprendemos com Neemias, que nunca devemos se deixar ser levado pela ira, mas, agir de forma racional e equilibrada. Já diz o proverbista: “Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv 19.2 ARA).

2. Neemias repreendeu os opressores (Ne 5.7).
Depois de ouvir o clamor do povo e considerar no seu coração o que deveria fazer, Neemias vai ao âmago do problema: “depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados” (Ne 5.7). Neemias sempre se destacou como um homem sensível, e levava em consideração o sofrimento do seu povo (Ne 1.4; 2.3; 4.14). Diante de uma assembleia convocada por Neemias, os nobres e magistrados são repreendidos por estarem cobrando juros nos empréstimos, violando a lei de Deus e levando o povo a miséria (Ne 5.7-9; Êx 22.25).

3. Neemias pediu que aos pobres fossem restituídos seus bens (Ne 5.11).
A fim de amenizar o sofrimento do povo, os culpados de usura deviam devolver a propriedade confiscada àqueles que não podiam pagar os empréstimos de volta, bem como devolver os juros cobrados (Ne 5.11). Os nobres concordaram em fazer a devolução e cessar seus atos de ganância, o que foi confirmado em juramento diante dos sacerdotes (Ne 5.12), e de um ato simbólico de Neemias (Ne 5.13). Os hebreus não podiam emprestar com usura para seus irmãos (Lv 25.36). Quando da colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas, foi o que aconteceu à moabita Rute (Rt 2.2).


V. A IMPORTÂNCIA DA UNIÃO NA IGREJA
A semelhança dos que voltaram do cativeiro, a igreja primitiva vivenciou uma união singular (At 2.42-46; 4.32-37). Entretanto não demorou muito para surgirem “focos de desunião” entre os membros (At 5.1-12; 1 Co 1.10-13; Fp 4.2; Gl 5.15). Isto aconteceu e acontece, porque a igreja é composta de pessoas falhas e sujeitas a fraquezas. Todavia, o desejo de Jesus é que vivamos em união: “para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós” (Jo 17.21).

1. A união produz bênção e vida (Sl 133).
Quando vivemos em união o óleo e o orvalho, símbolos do Espírito Santo, é derramado sobre nós trazendo bênção e vida: “[…] porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre” (Sl 133.3). É importante também destacar que o orvalho é relacionado à fertilidade (Dt 33.13,28; Gn 27.28), enquanto a unção com óleo é associada à fragrância (Êx 30.34-38), pois a união do povo de Deus é “boa e agradável” (Sl 133.1). Quando vivemos em união estamos testemunhando ao mundo a poderosa realidade do amor de Deus: “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). O Nome de Cristo é honrado quando o crente, “não toma parte em questões que tragam divisão, evita fofocas, e trabalha com esforço e humildade na obra de Deus ouvindo e obedecendo a seus líderes”.

2. Atitudes que contribuem para a união na igreja.
O apóstolo Paulo exortou a igreja a viver em união: […] “sejais unidos” (1Co 1.10). Na Bíblia, encontramos várias atitudes que contribuem para que seja mantida a união entre os membros da igreja. Notemos: a) ter um mesmo sentimento (Fp 2.2; 4.2; Rm 12.16; 1Co 1.10; 2Co 13.11); b) considerar os outros como superiores a si mesmo (Fp 2.3; Rm 1210); c) seguir o exemplo de humildade de Cristo (Fp 2.3-8; Mt 11.29); d) se preocupar com o bem-estar do próximo (Fp 2.4; 1Co 12.25,26); e) socorrer nas necessidades (Rm 12.13-16; Gl 5.9,10); f) no que depender de nós, viver em paz com todos (Rm 12.18;); g) não fazer acepção de pessoas (Tg 2.1-9); h) não pagar mal com o mal (Rm 12.17; 1Ts 5.15); i) exercer o amor fraternal (2Pd 1.5-7; 1Co 13.1-8; Rm 13.10); j) praticar o perdão e a misericórdia (Cl 3.12,13; Mt 18.21,22; Lc 6.36); k) suportar, corrigir e restaurar os mais fracos na fé (Gl 6.1; Rm 14.1; 1Ts 5,14; Ef 4.1-3); l) e andar no Espirito (Gl 5.25,26).


CONCLUSÃO
Concluímos nesta lição que quando há injustiças sociais e desordens no meio do povo a desunião aparece rapidamente. Neemias foi usado por Deus para levar ou judeus a manterem-se unidos em um só propósito. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de união e uniformidade para que a obra de Deus continue sendo edificada e muitas vidas possam ser alcançadas. 



REFERÊNCIAS
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø  HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: OBJETIVA. 2001.
Ø  BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz, Vida. 2010.
Ø  ELLISEN, Stanley. Conheça Melhor o Antigo Testamento. VIDA.
Ø  WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. GEOGRÁFICA.


Por Rede Brasil de Comunicação.



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