Ne 5.1,6-12
INTRODUÇÃO
Nesta lição
veremos o significado da palavra desunião; analisaremos o contexto
socioeconômico pós-exílio; notaremos quais foram as causas da desunião entre os
judeus regressos; pontuaremos as medidas adotadas por Neemias para restabelecer
a união entre o povo; e por fim, mostraremos a importância da união na igreja.
I. SIGNIFICADO DA PALAVRA
DESUNIÃO
1. Definição da
expressão desunião.
O dicionário
Houaiss da língua portuguesa define o termo desunião da seguinte maneira:
“ato ou efeito de desunir, de separar o que estava unido; separação;
ausência de união; desarmonia; falta de acordo; desacerto, discórdia” (2001,
p. 1020). O retorno do cativeiro foi marcado pela união do povo na construção
do altar (Ed 3.1), na preparação e reconstrução do templo (Ed 3.9), e
edificação dos muros (Ne 4.6; 19-23). Os judeus regressos vivenciaram momentos
de verdadeira união: “o povo se ajuntou como um só homem” (Ed
3.1; Ne 8.1). Entretanto, não demorou muito para que esta união fosse afetada.
Neemias lida agora não com um problema externo, mas interno; não procedente dos
inimigos, mas oriundo dos “irmãos” como veremos a seguir.
II. ENTENDENDO O CONTEXTO
SOCIOECONÔMICO PÓS-EXÍLIO
No meio de uma “grande
obra” (Ne 4.19), para um “grande Deus” (Ne 1.5), ouviu-se
entre os judeus um “grande clamor” (Ne 5.1). Não estavam clamando
contra os samaritanos, os amonitas ou os árabes, mas contra seu próprio povo: “Foi,
porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus
irmãos” (Ne 5.1). Judeus estavam explorando seus compatriotas, e a
situação econômica havia se tornado tão desesperadora que até mesmo as esposas (que
costumavam manter-se caladas) participavam dos protestos (Ne 5.1).
Examinando o texto é possível distinguir três grupos de pessoas e qual era o
seu clamor. Vejamos:
1. Mercadores e
trabalhadores (Ne 5.2).
Os primeiros a
reclamar foram os trabalhadores com grandes famílias que se viram sem fonte de
renda para se manterem. Eles não possuíam terras, mas precisavam de comida para
sobreviverem (v.2). A população estava crescendo, os alimentos eram
extremamente escasso e o povo passava fome (Ne 5.3). Estas pessoas não podiam
fazer coisa alguma, de modo que voltaram seus clamores por socorro para
Neemias.
2.Os fazendeiros
(Ne 5.3).
O segundo grupo
era constituído de proprietários de terras que haviam hipotecado suas propriedades
a fim de comprar alimentos: “as nossas terras, as nossas vinhas e as
nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome” (Ne 5.3).
3. Os que sofriam
com os impostos (Ne 5.4).
O terceiro grupo
de pessoas eram aqueles que estavam tomando dinheiro emprestado para pagamento
de altos impostos ao rei da Pérsia com penhora de suas colheitas, sem
possibilidade de pagamento, sendo forçados a venderem seus filhos como escravos
(Ne 5.5). No tempo de Neemias, a tensão social chegou a tal ponto, que os
israelitas vendiam-se, a fim de resgatar suas dívidas. Alguns acabaram por
entregar suas filhas como escravas a povos estrangeiros (Ne 5.1-7).
III. AS CAUSAS DA DESUNIÃO ENTRE
OS JUDEUS
1. A avareza dos
mais ricos.
A avareza dos
nobres e magistrados foi perceptível: “usura tomais cada um de seu irmão”
(Ne 5.7). O apego demasiado as riquezas, fez com que os ricos
oprimissem seus irmãos cobrando altos juros, atitude esta proibida por Deus (Êx
22.25; Lv 25.36,37; Dt 23.19,20). A lei de Deus estava sendo violada e os
pobres ficando cada vez mais endividados (Ne 5.2-5). O exército de Sambalate
era menos perigoso do que a avareza dos nobres. A avareza é um pecado que: “submergem
os homens na perdição e ruína” (1Tm 6.9-10).
2. A
indiferença.
O sofrimento dos
menos favorecidos parecia não incomodar a classe rica. Embora todos fossem compatriotas
judeus, alguns tiveram de ir ao extremo de vender a si mesmos, e ou, seus
filhos como escravos (Ne 5.5,8). Esta indiferença é questionada pelos judeus
pobres que ao verem seus filhos sendo vendidos como escravos a outros judeus
argumentavam: “nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são
tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para
serem escravos” (Ne 5.5 – ARA). Ainda que legítimo (Êx 21.2; Lv 25.39-41),
vender os irmãos era algo desumano e, por esta razão, o plano de Neemias era
acabar com esta prática injusta entre eles já que uma das razões que levou o
povo a pobreza foi exatamente a exploração dos judeus ricos: “restituí-lhes
hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas
casas, […] que vós exigis deles” (Ne 5.11).
3. A falta de
temor a Deus.
Neemias de
maneira enfática repreende os nobres: “Não é bom o que fazeis:
porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus […]” (Ne 5.9a). A
falta de temor a Deus e a sua lei fez que: a) os pobres fossem ignorados
ao ponto de passarem fome (Ne 5.3); b) juros exorbitantes fossem
cobrados de seus irmãos (Ne 5.4,7); c) seus irmãos fossem vendidos
injustamente como escravos (Ne 5.5); e, d) e o Nome de Deus desonrado
entre os gentios (Ne 5.9b).
IV. MEDIDAS ADOTADAS POR NEEMIAS
PARA RESTAURAR A UNIÃO DO POVO
Quando a
comunhão dos santos em Israel era quebrada, instalava-se a injustiça social, a
opressão e a violência (Jr 6.6; 25.3). Ao ouvir o clamor do povo contra os
nobres e magistrados, Neemias agiu de forma imediata e justa a fim de remover
toda a injustiça e opressão em Jerusalém. Como líder habilidoso, Neemias
percebeu que a desigualdade social e econômica ameaçava a estabilidade da
comunidade e lhe inquietou a tomar algumas medidas. Vejamos:
1. Neemias
considerou no seu coração (Ne 5.7).
A atitude
opressora dos judeus ricos aborreceu profundamente a Neemias: “Ouvindo
eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci” (Ne 5.6
ARA). Apesar de irado, a primeira atitude de Neemias foi refletir o que deveria
fazer: “e considerei comigo mesmo no meu coração” (Ne 5.7-a). A palavra
“considerar” significa: “olhar, fitar com atenção e
minúcia; refletir sobre uma coisa, um fato, uma possibilidade, sobre alguém ou
sobre si mesmo” (HOUAISS, 2001, p. 809). Neemias como era um homem de
oração, é provável que neste ínterim tenha buscado a direção de Deus.
Aprendemos com Neemias, que nunca devemos se deixar ser levado pela ira, mas,
agir de forma racional e equilibrada. Já diz o proverbista: “Não é bom
proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Pv 19.2 ARA).
2. Neemias
repreendeu os opressores (Ne 5.7).
Depois de ouvir
o clamor do povo e considerar no seu coração o que deveria fazer, Neemias vai
ao âmago do problema: “depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi
os nobres e magistrados” (Ne 5.7). Neemias sempre se destacou como um
homem sensível, e levava em consideração o sofrimento do seu povo (Ne 1.4; 2.3;
4.14). Diante de uma assembleia convocada por Neemias, os nobres e magistrados
são repreendidos por estarem cobrando juros nos empréstimos, violando a lei de
Deus e levando o povo a miséria (Ne 5.7-9; Êx 22.25).
3. Neemias pediu
que aos pobres fossem restituídos seus bens (Ne 5.11).
A fim de
amenizar o sofrimento do povo, os culpados de usura deviam devolver a
propriedade confiscada àqueles que não podiam pagar os empréstimos de volta,
bem como devolver os juros cobrados (Ne 5.11). Os nobres concordaram em fazer a
devolução e cessar seus atos de ganância, o que foi confirmado em juramento
diante dos sacerdotes (Ne 5.12), e de um ato simbólico de Neemias (Ne 5.13). Os
hebreus não podiam emprestar com usura para seus irmãos (Lv 25.36). Quando da
colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas, foi o que
aconteceu à moabita Rute (Rt 2.2).
V. A IMPORTÂNCIA DA UNIÃO NA IGREJA
A semelhança dos
que voltaram do cativeiro, a igreja primitiva vivenciou uma união singular (At
2.42-46; 4.32-37). Entretanto não demorou muito para surgirem “focos de
desunião” entre os membros (At 5.1-12; 1 Co 1.10-13; Fp 4.2; Gl 5.15). Isto
aconteceu e acontece, porque a igreja é composta de pessoas falhas e sujeitas a
fraquezas. Todavia, o desejo de Jesus é que vivamos em união: “para que
todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam
um em nós” (Jo 17.21).
1. A união
produz bênção e vida (Sl 133).
Quando vivemos
em união o óleo e o orvalho, símbolos do Espírito Santo, é derramado sobre nós
trazendo bênção e vida: “[…] porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida
para sempre” (Sl 133.3). É importante também destacar que o orvalho é
relacionado à fertilidade (Dt 33.13,28; Gn 27.28), enquanto a unção com óleo é
associada à fragrância (Êx 30.34-38), pois a união do povo de Deus é “boa
e agradável” (Sl 133.1). Quando vivemos em união estamos testemunhando
ao mundo a poderosa realidade do amor de Deus: “para que o mundo creia que
tu me enviaste” (Jo 17.21). O Nome de Cristo é honrado quando o crente,
“não toma parte em questões que tragam divisão, evita fofocas, e trabalha
com esforço e humildade na obra de Deus ouvindo e obedecendo a seus líderes”.
2. Atitudes que
contribuem para a união na igreja.
O apóstolo Paulo
exortou a igreja a viver em união: […] “sejais unidos” (1Co
1.10). Na Bíblia, encontramos várias atitudes que contribuem para que seja
mantida a união entre os membros da igreja. Notemos: a) ter um mesmo
sentimento (Fp 2.2; 4.2; Rm 12.16; 1Co 1.10; 2Co 13.11); b) considerar os
outros como superiores a si mesmo (Fp 2.3; Rm 1210); c) seguir o exemplo
de humildade de Cristo (Fp 2.3-8; Mt 11.29); d) se preocupar com o
bem-estar do próximo (Fp 2.4; 1Co 12.25,26); e) socorrer nas
necessidades (Rm 12.13-16; Gl 5.9,10); f) no que depender de nós, viver
em paz com todos (Rm 12.18;); g) não fazer acepção de pessoas (Tg
2.1-9); h) não pagar mal com o mal (Rm 12.17; 1Ts 5.15); i) exercer
o amor fraternal (2Pd 1.5-7; 1Co 13.1-8; Rm 13.10); j) praticar o perdão
e a misericórdia (Cl 3.12,13; Mt 18.21,22; Lc 6.36); k) suportar,
corrigir e restaurar os mais fracos na fé (Gl 6.1; Rm 14.1; 1Ts 5,14; Ef
4.1-3); l) e andar no Espirito (Gl 5.25,26).
CONCLUSÃO
Concluímos nesta
lição que quando há injustiças sociais e desordens no meio do povo a desunião
aparece rapidamente. Neemias foi usado por Deus para levar ou judeus a
manterem-se unidos em um só propósito. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos
dias precisa de união e uniformidade para que a obra de Deus continue sendo edificada
e muitas vidas possam ser alcançadas.
REFERÊNCIAS
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. São Paulo: OBJETIVA. 2001.
Ø BARBER,
Cyril J. Neemias e a dinâmica da
liderança eficaz, Vida. 2010.
Ø ELLISEN,
Stanley. Conheça Melhor o Antigo
Testamento. VIDA.
Ø WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico
Expositivo. GEOGRÁFICA.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário