At 9.15-22; Gl 1.11-18
INTRODUÇÃO
I. DEFINIÇÃO DA
PALAVRA VOCAÇÃO
1. Definição no sentido secular.
Conforme o dicionarista Antônio Houaiss o termo vocação
significa: Ato ou efeito de chamar-se; denominação. Apelo ou inclinação para o
sacerdócio, para a vida religiosa. Disposição natural e espontânea que orienta
uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão; pendor,
propensão, tendência. Chamamento de alguém para exercer certa função
obrigatória ou para a posse de um direito (HOUAISS, 2001, p. 2877).
2. Definição
teológica.
Do latim: “vocatione”,
chamamento. Ato de chamar, escolher. A vocação divina pode ser compreendida
de dois modos distintos: a geral e a específica. a) Geral: Toda a
humanidade, de maneira indistinta, é convocada a participar gratuitamente dos
benefícios do Evangelho com base nos méritos da morte de Cristo (Jo 3.16; Mt
28.18,19). b) Específica: Embora todos sejam convidados a usufruir dos
meios da graça nem todos serão convocados a exercer ministério da Palavra (Ef
4.8-11). É um caso que depende única e exclusivamente dos desígnios e da
soberania de Deus. (ANDRADE, 1998 p. 289).
II. O CHAMADO DE PAULO PARA O
APOSTOLADO
A conversão do
apóstolo Paulo aconteceu após a ressurreição de Cristo, e devido a isso, alguns
cristãos influenciados pelo judaísmo questionavam a legitimidade do seu
apostolado (1 Co 9.2). Por essa razão Paulo defende o seu chamado usando os
seguintes argumentos:
1. O chamado de
Paulo foi feito pelo próprio Senhor Jesus.
A conversão de
Saulo ocorreu após a morte e ressurreição do Senhor Jesus (At 9.1-18). Logo,
ele não tinha as “credenciais” que eram comuns aos demais apóstolos (At
1.21,22). Mas, o Senhor o chamou para este ministério,
embora ele se considerasse indigno como dizendo ser “...o menor dos
apóstolos” (1Co 15.8,9). Paulo enfrentou muitas oposições por parte dos
falsos mestres que questionavam sua autoridade apostólica. Por essa razão, na
epístola aos Gálatas (1.1) Ele apresenta-se: "Paulo, apóstolo (não
da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus
Pai, que o ressuscitou dos mortos). Em outras ocasiões reafirma
esse chamado feito pelo Senhor (1Co 1.1). Além disso, em suas cartas, ele
ressalta repetidas vezes que foi chamado para ser o “apóstolo dos gentios” (Rm
11.13; 15.15,16; Gl 1.16; 2.7,8).
2. Um chamado
confirmado por sinais.
O apóstolo, além
de reivindicar o seu apostolado como um chamado divino, afirma que o seu
apostolado foi confirmado por sinais: “Os sinais do meu apostolado foram
manifestados entre vós, com toda a paciência, por sinais, prodígios e
maravilhas” (2Co 12.12). Isso era a confirmação de Deus; assim como
ocorreu com Pedro, estava agora acontecendo com Paulo: “...porque aquele
que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou
também em mim com eficácia para com os gentios...” (Gl 2.8). Dessa
forma, os milagres autenticavam Paulo como apóstolo de Cristo.
3. Um chamado
confirmado pelo trabalho.
O apóstolo Paulo
quando defendia seu apostolado, trazia a memória que o seu eficiente trabalho
entre os coríntios era uma das garantias de que Deus o havia chamado; para isso
Paulo usa a figura de um selo: “... porque vós sois o selo do meu
apostolado no Senhor...” (1Co 9.2). O Selo era uma figura cortada em
pedra e colocada em um anel no qual se gravavam letras de autoridade. [...] . Paulo
utilizou esta figura para expressar o fato de que a própria conversão deles era
prova de sua autoridade apostólica. (DAKE, 2010, p. 2042). Com
isso, Paulo lembra que a própria experiência deles (os Coríntios) como igreja
era o selo do seu apostolado no Senhor. Em outra ocasião, o apóstolo declara
que trabalhou mais que os outros apóstolos (1Co 15.10). Fica evidente que o
trabalho de Paulo o confirma com apóstolo.
4. Um chamado
confirmado pela visão do Cristo Ressurreto.
Um dos critérios
para o apostolado era ser testemunha da ressurreição: “...ao dia em que
dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua
ressurreição” (At 1.22). Outros textos evidenciam esse fato (At 2:32;
3:15; 4:33); e Paulo cumpria esse critério, pois tinha visto Jesus, o Cristo
ressurreto, na estrada para Damasco (At 9:4-5). O apóstolo declara: “...Não
vi eu a Jesus Cristo, Senhor nosso?...” (1Co 9.1). Paulo estava
reafirmando a igreja de Coríntio que ele atendia as credencias para ser
apóstolo de Cristo, e que nada era inferior aos demais apóstolos (2Co 12.11).
III. OS PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE
PAULO
Como disse o
próprio Senhor Jesus a Ananias, Saulo era “[...]um vaso escolhido, para
levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu
lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15). Podemos
observar, então, que Paulo:
1. Era um vaso
escolhido.
O Senhor Jesus
utilizou-se de uma metáfora para dizer que Paulo era um homem escolhido por
Ele. Assim como o oleiro faz vasos para diversos fins, Deus também fez os seres
humanos para seus propósitos (Jr 18:1-11; 22:28; Os 8:8; 2 Co 4:7; 2Tm 2:20,
21). Devemos entender, no entanto, que o termo “vaso escolhido” não se
refere a uma predestinação, e sim, à presciência divina. Deus
sabia, de antemão, que ele era a pessoa ideal (devido a sua cultura,
conhecimento das Escrituras, profissão, etc.) para executar os seus desígnios.
2. Tinha uma
missão específica.
Paulo foi chamado
com o propósito de fazer o Nome do Senhor conhecido entre os gentios, os reis e
os filhos de Israel. Ele cumpriu na íntegra a sua tarefa, como podemos ver no
livro dos Atos e nas Epístolas. Em suas cartas, ele ressalta repetidas vezes
que foi chamado para ser o “apóstolo dos gentios” (Rm 11.13; 15.15,16;
Gl 1.16; 2.7,8); pregou para reis (At 26.281-32); e para os filhos de Israel
(At 9.20; 13.5; 22.1-21).
3. Sofreria por
amor à Cristo.
O Senhor disse a
Ananias acerca de Paulo: “...eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo
meu nome” (At 9.16). Se por um lado se tornaria um privilégio ser o
embaixador de Cristo entre os reis, judeus e gentios; por outro lado, Paulo
teria um preço a pagar: padecer pelo Nome de Jesus. E, como Cristo havia
predito, ele enfrentou todo tipo de sofrimento, durante o seu ministério (At
16.23; 2Co 1.4-8; 2.4; 12.10; 11.24-33). No entanto, seu sofrimento não impediu
que ele demonstrasse zelo e dedicação à obra de Deus. Seu objetivo era servir ao
Mestre, a despeito de toda e qualquer circunstância. Ele mesmo disse aos
anciãos da igreja em Éfeso: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa,
contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do
Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At
20.24).
IV.
A VOCAÇÃO DIVINA PARA SERVIR NA OBRA DE DEUS
A vocação para
atuar na obra de Deus é uma ação exclusivamente divina na pessoa do crente (Ef.
4.11), todavia exige também uma capacitação pelo Espírito Santo, pois o Senhor
vocaciona e prepara, no entanto, o envio é realizado por meio da Igreja.
Notemos:
1. Deus chama
pessoas para trabalhos específicos.
Todos são chamados
para a salvação em Cristo (Jo 3.16, 1Tm 2.4; 4.10, Tt 2.11, 2Pe 3.9), sem
exceções, no entanto alguns servos de Deus são chamados para trabalhos
específicos em sua obra, como foi o caso do apóstolo Paulo: “que desde o
ventre de minha mãe me separou [...]” (Gl 1.15). Outros textos
confirmam essa chamada especial do apóstolo Paulo (At 9.15; 22.14; 2Tm 1.11).
Dessa forma, não está dentro das atribuições unicamente do homem selecionar,
chamar, qualificar ou nomear; nem tampouco ninguém pode nomear-se a si próprio
para a obra do ministério, pois tudo, é e deve ser, absolutamente da competência
divina: “E subiu ao monte e chamou para si os que ele quis; e vieram a
ele” (Mc 3.13). A escolha para servir no santo ministério é de Deus.
2. Deus chama
pessoas e capacita para servir.
O apóstolo Paulo
foi um homem dotado de grandes habilidades intelectuais e também espirituais,
porém, o apóstolo nunca deixou de entender que sua capacidade era proveniente
do Senhor (1Co 15.10). Lemos nas Sagradas Escrituras: “...Porque não
ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para
obediência dos gentios, por palavra e por obras.” (Rm 15.18). Em
outra ocasião o Paulo declara: “...não que sejamos capazes, por nós, de
pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus...”
(2Co 3.5). Esta postura de Paulo é um grande exemplo que devemos
imitar, pois quem concede inteligência é Deus. “...a quem o SENHOR dera
sabedoria e inteligência...” (Ex 36.1). Por mais capacitados que
sejamos, tudo provem do Senhor (Ef 4.11).
3. Deus chama
pessoas e envia os vocacionados por meio da Igreja.
Mesmo o apóstolo
Paulo tendo sido chamado por Deus desde o ventre de sua mãe (Gl 1.15), Ele não
trabalhava de modo independente, ou seja, sem orientação dos anciões em
Jerusalém; pelo contrário, Paulo foi enviado pela Igreja (At 13.1-3); sobre o
caso da circuncisão dos gentios Paulo procurou solução junto aos apóstolos (At
15.1-2), além de reconhecer que os decretos vindos de Jerusalém tinham que ser
observados pelas demais igrejas recém fundadas (At 16.4). Isso nos ensina que
aqueles que são chamados e enviados por Deus estão debaixo da autoridade de
Deus e da Igreja local que envia. (At 14.23; Hb 13.17).
CONCLUSÃO
Aprendemos que Deus concedeu a vocação a Paulo para
ser apóstolo de Cristo, e além disso, o Senhor capacitou o apóstolo Paulo para
ser dos maiores instrumentos de Deus para a propagação do Cristianismo.
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS.
Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. OBJETIVA, 2001.
Ø ANDRADE.
Claudionor Correia. Dicionário teológico. CPAD, 1998.
Ø BÍBLIA
DE ESTUDO DAKE. ATOS, 2010.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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