Mt 6.1-4
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos sobre a necessidade de sermos súditos do reino, verdadeiros
em intenções e ações; destacaremos também, os erros e perigos da falsa
espiritualidade combatida pelo Senhor Jesus no Sermão do Monte; e, por fim,
iremos ressaltar as características da autêntica espiritualidade evidenciada
pelo discípulo de Cristo, e a sua devida recompensa.
I. O ERRO DA FALSA ESPIRITUALIDADE
Neste
trecho do Sermão do Monte, o Senhor Jesus adverte contra a hipocrisia nas três
principais atitudes religiosas do judaísmo: a) dar esmolas (Mt 6.2), b)
orar (Mt 6.5), e c) jejuar (Mt 6.16). Para o judeu, a esmola era um
dos mais sagrados de todos os deveres religiosos. Para alguns destes dar esmola
e ser justo eram uma e a mesma coisa. No Sermão do Monte, Jesus vai mais uma
vez deixar claro que, não espera dos súditos do reino, atos puramente externos,
sem essência, desprovidos da verdadeira motivação, marcados pela hipocrisia,
acentuando o perigo da falsa espiritualidade.
1.
Definição do termo hipócrita.
A
palavra “hypokrites” é a palavra grega para: “alguém que
interpreta num palco, ou um ator”. diz respeito a “um ator que
usa máscaras”. O termo adquiriu o significado de “responder sobre um
palco, interpretar um papel, atuar”. Desse modo, agir como hipócrita, é fingir
ser o que não se é, com o intuito de enganar: “E, trazendo-o debaixo de
olho, mandaram espias que se fingiam de justos, para o apanharem em alguma
palavra e o entregarem à jurisdição e poder do governador” (Lc 20.20).
Os religiosos da época de Jesus, profanavam a prática religiosa,
transformando-a em peça de teatro, chegando ao cúmulo de atrair as multidões,
que aplaudiam o espetáculo (CHAMPLIN, 2002, Vl 01, p. 319 – acréscimo nosso).
2.
Uma advertência contra a hipocrisia.
O
Senhor Jesus inicia exortando: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola
diante dos homens [...]” (Mt 6.1a). O termo guardai-vos advém do grego:
“prosechõ” que significa: “deter a mente, prestar atenção
a; tomar cuidado com; dar atenção, prestar atenção, acompanhar, tomar cuidado
com; ser devotado a; levar em consideração”. O fato de sermos
solicitados a nos guardar indica que, assim como devemos fazer melhor que os escribas
e fariseus (Mt 5.20), evitando os pecados do coração, o adultério do coração
(Mt 5.28), e o assassinato do coração (Mt 5.22), devemos igualmente manter e
seguir a justiça do coração, fazendo o que fazemos a partir de um princípio
interior e vital, para que possamos ser aprovados por Deus (Mt 5.16,20), e não
para sermos aplaudidos pelos homens. Isto é, devemos vigiar contra a
hipocrisia, que era o fermento dos fariseus, bem como contra sua doutrina (Lc
12.1).
II. PERIGOS DA FALSA ESPIRITUALIDADE
1.
Exibicionismo: “para ser visto pelos homens” (Mt 6.1a).
O
termo hipócrita, conforme já vimos, refere-se à pessoa que faz boas obras só
por aparência, não por compaixão. Suas ações podem ser boas, mas seus motivos
são maus. Embora os discípulos devam ser vistos praticando boas obras (Mt
5.16), eles não devem fazê-las, como objetivo de serem vistos (2Tm 3.5).
2.
Vangloria: “para ser honrado pelos homens” (Mt 6.2b).
O
ensino que fica claro, é que os súditos do Reino não devem realizar boas obras
para glória pessoal, e sim, que glorifiquem ao Pai celestial (Mt 5.16; 1Co
10.31). A auto glorificação é um erro frontal, para quem quer viver a ética do
reino os céus (Jo 5.44), e não condiz com quem nutre a verdadeira
espiritualidade: “Seja outro o que te louve, e não a tua boca; o
estrangeiro, e não os teus lábios” (Pv 27.2).
3.
Recompensa puramente terrena: “para receber o galardão dos homens” (Mt
6.2c).
Tal como Jesus o entendia, não pode duvidar-se
que esta forma hipócrita de agir, tem em si certo tipo de recompensa. Três
vezes Jesus repete a frase: “Em verdade vos digo que eles já receberam a
recompensa” (Mt 6.2,5,16). Jesus, portanto, quer dizer o seguinte: “Se
você der esmolas para demonstrar sua generosidade, você obterá a admiração de
seus semelhantes, mas isso é tudo o que você receberá como recompensa”.
A força plena da afirmação de Jesus é que aquele que almeja e obtém o louvor
dos homens, dá virtualmente um recibo: “Totalmente pago”. Não haverá nenhum
outro galardão
aguardando por ele no céu: “[...] não tereis galardão junto de vosso Pai,
que está nos céus” (Mt 6.2) e ainda, sofrerá de Deus penalidade (Mt
23.13,14).
III. CARACTERÍSTICAS DA VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE
1. Exerce a justiça da
forma correta.
Quando Jesus diz: “Mas,
quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt
6.3), quer significar que nossos motivos para boas ações, devem ser puros. É
fácil dar com motivos mistos, fazer algo em favor de alguém se for beneficiado
de alguma maneira. Isso significa que é errado ofertar abertamente? Todas as
ofertas devem ser anônimas? Não necessariamente, pois os cristãos da Igreja
primitiva sabiam que Barnabé havia doado o valor recebido da venda de suas
terras (At 4.34-37). Quando os membros da igreja colocavam seu dinheiro aos pés
dos apóstolos, não o faziam em segredo. É evidente que a diferença está na
motivação interior. Vemos um contraste no caso de Ananias e Safira (At 5.1-11),
que tentaram usar sua oferta para mostrar aos outros uma espiritualidade que,
na verdade, nenhum dos dois possuía.
2. Exerce a justiça
pela motivação correta.
Dar esmolas aos pobres,
orar e jejuar eram disciplinas importantes para o judaísmo. Jesus não condenou
essas práticas, mas advertiu que era preciso ter uma atitude interior correta
ao realizá-las. Os fariseus usavam as esmolas como forma de obter o favor de
Deus e a atenção dos homens, duas motivações erradas. Não há oferta, por mais
generosa que seja, capaz de comprar a salvação, pois a salvação é um presente
de Deus (Ef 2.8,9). Jesus diz que devemos revisar nossos motivos quanto a: a)
generosidade (Mt 6.4), b) oração (Mt 6.6) e c) jejum (Mt
6.18). Não deve ser motivado pela popularidade e pelo aplauso vazio da
multidão. Procuremos agradar a Deus, e desejarmos fervorosamente sua aprovação
e certamente receberemos tesouros no céu (Mt 5.12; Lc 14.14).
3. Exerce a justiça com
o propósito certo.
É tolice viver em
função do reconhecimento humano, pois a glória do homem não dura muito tempo: “Porque
toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se
a erva, e caiu a sua flor” (1Pd 1.24). O que importa é a glória e o
louvor de Deus! É muito fácil dar por reconhecimento e louvor. Para nos
assegurar de que nossos motivos não são egoístas devêssemos realizar nossas
boas obras quieta e silenciosamente, sem esperar recompensa (Cl 3.22,23). Estas
obras não devem ser egocêntricas, a não ser teocêntricas, e não para nos fazer
luzir bem, a não ser para fazer a Deus luzir bem. Jesus não disse que não
deveríamos deixar que alguém visse as nossas boas obras. Ele já havia
admoestado os seus discípulos: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está
nos céus” (Mt 5.16). É com o propósito que ele está lidando aqui,
devemos buscar a glória de Deus, não a nossa própria (Rm 11.36).
4. Não exerce a
misericórdia por ostentação.
O verbo “ostentar”
significa: “mostra-se; exibir-se com aparato; alardear” (HOUAISS,
2001, p. 2089). Os fariseus eram peritos em fazer coisas para serem
apresentados, e Jesus reprovou esta atitude (Mt 6.2,5,18). Lucas nos mostra
que, Barnabé vendeu sua propriedade para depositar aos pés dos apóstolos, para
assistir aos necessitados da igreja (At 4.36,37); Ananias e Safira, também
venderam sua herdade e depositaram aos pés dos apóstolos (At 5.1-11). A obra
era praticamente a mesma. No entanto, a diferença entre eles era a motivação.
Enquanto Barnabé foi inspirado pelo amor; Ananias e Safira, pela ostentação e por
isso foram severamente punidos (At 5.9,10).
5. É devidamente
recompensada.
O Senhor Jesus deixa
claro que, quando as boas obras são realizadas pelas razões certas, ainda que
não vista pelos homens, serão devidamente recompensadas: “Mas, quando tu
deres esmola [...] teu pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente” (Mt
6.3,4). Há promessa de retribuição para os que vivem uma vida justa e piedosa,
diante de Deus e dos homens e por tudo que realizam para a glória de Deus (Mt
10.41,42; 16.27; Mc 9.41), como afirma o Senhor: “E eis que cedo venho, e
o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap
22.12).
CONCLUSÃO
A
sinceridade de coração é uma marca distintiva do autêntico discípulo de Cristo,
sendo necessário este ser verdadeiro, no que diz respeito às suas intenções,
bem como às suas práticas ou ações religiosas.
REFERÊNCIAS
Ø
ADEYEMO, Tokunboh. et al. Comentário Bíblico Africano.
MUNDO CRISTÃO.
Ø
BARCLAY, William. Comentário do Evangelho de Mateus.
Ø
EARLE, Ralph. Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas.
Vol 6. CPAD.
Ø
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø
GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus: A relevância do
Sermão do Monte para a igreja de Cristo. CPAD.
Ø
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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