Hb 10.19-25
INTRODUÇÃO
Nesta
lição traremos uma definição dos termos “movimento” e “desigrejados”;
pontuaremos os falsos argumentos teológicos dos desigrejados; faremos uma clara
refutação a estes errôneos ensinamentos dos desigrejados; e por fim;
mostraremos a eclesiologia e sua importância para a igreja local e o seu modelo
bíblico.
I. DEFINIÇÃO DOS TERMOS “MOVIMENTO” E
“DESIGREJADOS”
1.
Definição do termo movimento.
O
dicionário Houaiss (2001, p. 1970) define movimento como: “ato ou efeito de
mover-se; mudança de um corpo (ou parte de um corpo) de um lugar (ou
posição), para outro, deslocação; conjunto de ações de um grupo de
pessoas mobilizadas por um mesmo fim”.
2.
Definição do termo desigrejados.
Desigrejados
são os “não igreja” ou os “sem igreja”, são assim chamadas as pessoas que se
dizem cristãs, contudo, não se consideram parte de denominação alguma. O que
observa nesse fenômeno social é que ele não se trata apenas de uma tendência ou
modismo do momento, mas de um movimento que nos últimos anos tem crescido e
ganhado corpo e forma. Ele intriga os sociólogos e desafia a verdadeira igreja
cristã. Dessa forma, o movimento dos desigrejados se constitui em um desafio,
não apenas social, mas também espiritual (GONÇALVES, 2022, p. 102). Na maioria
das vezes (os desigrejados), acabam se agrupando em algum local, com hora
marcada e com a presença de alguma liderança. Entendem que todos formam o corpo
da Igreja, o que significa a não-necessidade de pertencer ao rol de membros ou
se reunir em um templo institucional. (BOMILCAR, 2012, pp. 21-22 apud BILHALVA,
2020, p. 17).
II. FALSOS ARGUMENTOS TEOLÓGICOS DOS
DESIGREJADOS
Os
desigrejados posicionam-se contra as igrejas convencionais,
históricas, tradicionais e clássicas e suas lideranças. Segundo Bilhalva (2020,
p.18), os desigrejados apresentam os seguintes argumentos teológicos:
1.
A Bíblia não obriga a pertencer a uma estrutura religiosa, basta pertencer
apenas a Igreja orgânica.
Os
desigrejados defendem uma eclesiologia fundamentada em Cristo: “Porque
ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já foi posto, o qual é Jesus
Cristo” (1Co 3.11), e com sua composição mística e universal. “E
igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus vivo, o Juiz de todos, e
aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
2.
A Bíblia não impõe locais físicos de adoração.
De
acordo com os desigrejados: “a Igreja verdadeira não tem templos, cultos
regulares, a Igreja verdadeira somos nós, e onde estiverem dois ou três
reunidos em nome de Jesus, ali Ele estará” (Mt 18.20). Sendo assim, eles
defendem uma profissão de fé descaracterizada de Igreja organizada. Durante
seus encontros não há condução litúrgica refinada ou profissionalizada.
3.
Não há lideres, entretanto cada um é seu próprio líder.
Dentro
desta visão todos trabalham como sacerdotes no corpo de Cristo, onde Jesus é
sua única liderança. Os bispos, presbíteros e diáconos eram pastores que
guiariam o recém-convertido e não cargos de instituição. Sendo assim, todos
os fiéis são empoderados, isto é, capazes de participar ativamente no
grupo e nas esferas de liderança, sem que haja um clero estabelecido ou uma
classe privilegiada.
III. REFUTAÇÃO AOS FALSOS ARGUMENTOS
TEOLÓGICOS DOS DESIGREJADOS
Na
contemporaneidade tem surgido um movimento heterodoxo chamado de “desigrejados”
que podemos definir este grupo como os “sem igreja”. Eles
não são filiados a qualquer instituição convencional de culto religioso cristão
e são contrários a qualquer tipo de liderança. Os desigrejados defendem que a
fé cristã pode ser exercida fora da comunhão da Igreja com o seguinte lema: “Jesus,
sim; Igreja, não” usando os erroneamente seguintes textos (Ap 18.4; Mt
18.20). Passaremos a refutar biblicamente os argumentos acima citados:
1.
Jesus nos deixou o exemplo de lugar de culto frequentando as sinagogas e o
Templo.
Embora
Jesus não tenha estabelecido um “templo físico” onde sua igreja pudesse
congregar, vale destacar que ele nos deixou exemplo de congregação e comunhão,
pois frequentava a sinagoga (Mt. 4.23; 12.9; Mc 1.21; 3.1; 6.2; Lc 4.16, 33;
6.6; 13.10), como também o templo (Mt 21.23;24.1;26.55; Mc 11.11,27; 12.35;
13.1; 14.49; Lc 19.47; 20.1; 21.37-38; 22.53). A igreja sentia uma necessidade
extrema de se congregar: “Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio
do templo [...]” (At.2.46 NVI). Como o cristianismo era
considerado uma “religio ilicita”, portanto, a fé não poderia ser
praticada, restando apenas a perseguição, os apóstolos e irmãos passaram a se
reunir nas casas (1Co 16.19; Rm 16.3-5; Cl 4.15,16; Fm 1,2). A Bíblia ensina
que a primeira igreja local foi iniciada pelos apóstolos (At 15.22,23), de
sorte que se espalhou pelo mundo do primeiro século.
2. A Bíblia ensina
que o templo físico que é a “igreja” é tão importante quanto o templo
espiritual que é o “nosso corpo”.
Embora que, em uma
verdade mais abrangente, todos sejamos “templos” do Espírito Santo (1Co 3.16;
6.15-20; 2Co 6.16; Rm 14.7), todavia o templo físico é o local onde adoramos a
Deus coletivamente em comunhão uns com os outros. O templo sempre foi visto
pelo povo de Deus como o local de adoração, aprendizado e louvor (Sl
26;27;28;48.9,10; 84; 120-134). O sistema de congregações ligadas a uma matriz
(igreja sede) já era instituído desde os dias apostólicos (Mt 16.18; Mc
3.13-19); por conta disso, ninguém mandava em si
mesmo e fazia o que bem entendia, mas respeitava e adequava-se às decisões dos
apóstolos e dos anciãos guiados pelo Espírito do Senhor (At 15.22,23).
3. O
Novo Testamento expressa em termos claros que Deus tinha uma liderança
designada para sua igreja.
Desde
o AT o Senhor instituiu homens para liderar (Êx 18.25,26; Ne 8.4-6; Jr 3.15).
Os apóstolos foram os primeiros líderes designados por Cristo e ordenados com
autoridade para dirigir e fazer julgamento entre pessoas (Mt 10.1-42;
18.18-20), bem como para servir como o próprio fundamento de sua bendita igreja
(Ef 2.20). Na igreja do primeiro século havia pastores (At 20.28;
Hb 13.7,17), evangelistas (At 21.8; 2 Tm 4.5); presbíteros (At
14.23; 20.17; Tt 1.5,6; Fl 1.1; 1 Tm 3.1), diáconos (At 6; 1Tm
3.8-13); e cooperadores (At 13.5; 1Co 3.9). Certas
responsabilidades atribuídas indicam que esses homens deviam exercer liderança
na igreja (2Tm 5.17-25; Tt 1.5-9; 1Pe 5.1-5). A igreja recebeu instruções
especiais com respeito ao tratamento dispensado aos líderes da igreja (1Co
16.16,18; 1Ts 5.12-13; Hb 13.7,17,24). Os apóstolos eram os responsáveis pela
separação de obreiros para os ofícios do santo ministério (1Tm 4.14; At 14.23;
6.1-7; 20.28; 1Tm 5.22). A hierarquia ministerial é uma doutrina do NT (1Co
12.28-31; Ef 4.8-11), e existe para se manter a ordem (Hb 13.7; 1Ts 5.12; 1Tm
5.17).
4. A
Bíblia ensina a necessidade de uma igreja local organizada.
A Bíblia
nos ensina que: “Não abandonando a nossa congregação, como é costume
de alguns […]” (Hb 10.25). Podemos ainda citar a alegria do
salmista fazendo uma alusão explícita ao templo: “Alegrei-me quando me
disseram: Vamos à casa do Senhor” (Sl 122.1). A igreja de Cristo
é composta por crentes de todas as eras e tempos que se reúnem com cultos,
liturgias, ministérios, lideranças, coletas, contribuições e etc (At 2.46,47;
1Co 14.6; 6:1-6; 13.1-2; Ef 4.11-12; Hb 13.17; 1Co 16.1; Rm 15.26; 2Co 9.1-13; Hb
7.8; Lc 11.42). A Igreja é o Corpo de Cristo (Cl 1.24; Ef 1.22-23; 4.12). Assim
como o corpo não pode sobreviver separado da cabeça, não podemos viver sem
nosso cabeça, Jesus Cristo (Ef 5.23; Cl 1.18).
IV. A ECLESIOLOGIA E
SUA IMPORTÂNCIA PARA A IGREJA LOCAL E O SEU MODELO BÍBLICO
1.
Definição dos termos eclesiologia e igreja.
Eclesiologia
é a disciplina da Teologia que estuda a igreja, sua fundação, símbolos e
missão, conforme as Escrituras. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus
(2017, p. 120) define que: “A palavra ‘igreja’ significa, literalmente,
‘chamados para fora’ e era usada para designar ‘assembleia’ ou ‘ajuntamento’
dos cidadãos de uma localidade na antiguidade grega”. O vocábulo igreja
é formado por duas palavras gregas: pelo prefixo “ek”, “a partir
de, dentro de” ou “para fora de”; e, “klesis”, que significa
“chamada, convocação, convite”. Literalmente quer dizer “chamados para fora”. O
termo ainda é usado para designar um “grupo local de cristãos” (Mt 18.17; At
5.11; Rm 16.1,5); ou a Igreja invisível à qual todos os servos de Cristo em
todos os tempos estão ligados (At 9.31; 1Co 12.28; Ef 1.22). Podemos dizer que
a Igreja do Senhor Jesus foi fundada durante o seu ministério (Mt
16.18), e inaugurada no dia de Pentecostes (At 2) (BERGSTÉN,
2005, p. 214). A Igreja é um organismo vivo invencível (Mt 16.18), santo,
dinâmico e ligado à cabeça que é Cristo (Ef 1.22, 23). Ela vive em duas
dimensões: espiritual e social. Vejamos a diferença
entre elas:
2.
Igreja invisível ou triunfante.
A igreja
universal ou invisível consiste de todos os discípulos de Cristo querem estejam
vivos ou mortos em todo o mundo e em todos os tempos. Algumas vezes a Bíblia
usa a palavra “igreja” no sentido universal para falar de todo o povo que
pertence a Cristo, não importa de onde ele possa ser. A Igreja invisível não é
um edifício construído com blocos e cimento, mas, um edifício construído com
pedras vivas (1Pd 2.5). Estas “pedras vivas” são chamadas os santos e membros
da família de Deus (Ef 2.19-22). A Igreja invisível também é chamada de Igreja
triunfante e neste aspecto ela é composta pelos salvos que “dormiram
no Senhor” (1Ts 4.13,14). A Igreja triunfante (no céu) é
aqueles membros já falecidos que se encontram salvos, e que têm a alegria
indescritível e gozo celeste (Lc 16.22; Hb 1.14; Ap 21.4).
3.
Igreja visível ou atuante.
A
igreja local ou visível consiste de cristãos que se reúnem num determinado
lugar. Eles podem ser identificados e contados (At
2.41; 4.4; 8.1; 9.31; Rm 16.1,14,15; 1Co 16.19; Cl 4.15). Frequentemente, a
palavra igreja é usada para descrever uma congregação local ou assembleia de
santos em um determinado lugar geográfico: “[...] à igreja de Deus que está
em Corinto […]” (1Co 1.2); “Saudai também a igreja que está
em sua casa [...]” (Rm 16.5). A Igreja visível também é chamada de Igreja
militante. A Igreja militante (na terra) designa os
membros que vivem hoje sobre a terra. Ela está militando em uma guerra
constante (2Tm 2.3-12; Ef 6.11,12; Fp 1.27, 30; Hb 10.32; 12.4).
CONCLUSÃO
Concluímos
que a Igreja é a Assembleia dos santos de todos os tempos e lugares, aqueles
que professaram sua fé em Cristo, ela é tanto local (visível) como também
universal (invisível). Por fim, vimos que o movimento dos desigrejados se
constitui numa distorção do princípio sadio da comunhão da igreja com Deus, e
com o próximo.
REFERÊNCIAS
Ø
BERGSTÉN, E. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø
SILVA, Esequias Soares da (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø BILHALVA, Alexandre Oliveira. Os desigrejados: estudo sobre o fenômeno da
desinstitucionalização contemporânea nas igrejas evangélicas. Dissertação de
Mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ø
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.
Ø GONÇALVES, José. Os
Ataques Contra a Igreja de Cristo: As sutilezas de Satanás nestes dias
que antecedem a volta de Jesus Cristo. CPAD.
Ø MACARTHUR,
Jonh Jr. Ministério Pastoral. Alcançando
a excelência no ministério cristão.
Por
Rede Brasil de Comunicação.