Ez 34.1-12
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos o uso da palavra “pastor” na Antigo
Testamento; falaremos sobre a metáfora do pastor na Bíblia; notaremos o
contexto de Ezequiel em relação aos pastores e as ovelhas; veremos Jesus como
exemplo de pastor; e por fim; concluiremos falando sobre o dom ministerial de
pastor.
I. O USO DA PALAVRA
PASTOR NO AT
No hebraico, “raah”, palavra que figura por
setenta e sete vezes, onde tem o sentido de pastor (Gn 49.24; Êx 2.17,19; Nm
27.17; 1Sm 17.40; Sl 23.1; Is 13.20; Jr 6.3; Ez 34.12,23; Am 1.2; 3.1; Zc
10.2,3). No seu sentido literal, “um pastor” é alguém que cuida dos rebanhos de
ovelhas. Os pastores eram conhecidos como profissionais que alimentavam e
protegiam os rebanhos (Jr 31.10; Ez 34.2,12) e que livravam dos animais ferozes
as ovelhas (Am 3.12)” (CHAMPLIN, 2004, p. 104).
1. Deus como pastor.
Com base na ideia de que o pastor é um protetor e líder do
rebanho, surgiu o conceito de Deus como o Pastor de Israel. Os próprios
pastores antigos foram os primeiros a salientar essa similaridade. Assim Jacó
se dirigiu a Deus, nos dias que antecederam a sua morte (Gn 49.24). E Davi
chamou Deus de seu Pastor (Sl 23.1), o que Asafe também fez (Sl 80.1).
2. Profetas, sacerdotes e reis.
Podemos encontrar também muitas passagens, no AT, que se
referem aos líderes e governantes do povo de Deus como pastores (Nm 27.17; 1Rs
22.17). Posteriormente, os profetas, os sacerdotes e os reis de Israel, que
haviam falhado em seu encargo, diante de Deus e de seu povo, foram condenados
como pastores que haviam desertado o rebanho ou que haviam enganado as ovelhas
(Jr 2.8; 10.21; 23.1; Ez 34.2). Enquanto o profeta é chamado de atalaia, os
governantes de Israel são aqui chamados de pastores (COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON,
vol. 4, 2014, p. 476).
II. A METÁFORA DO PASTOR DE OVELHAS NA
BÍBLIA
As Escrituras revelam Deus como pastor do seu povo, mas isso
se aplica também aos líderes civis e reis em Israel. No livro de Ezequiel, há
uma alegoria com linguagem metafórica sobre uma atividade, no caso a de pastor
de ovelhas. Embora Ezequiel descreva as ações reais da atividade pastoril, o
foco não é esse, pois, os “pastores” referem-se aos governantes, e as
“ovelhas”, ao povo de Israel. Vejamos então:
1. A linguagem metafórica do profeta Ezequiel compara os
líderes de Israel a “pastores”.
Em diversos textos bíblicos encontramos referências
metafóricas do povo de Deus como ovelhas (Sl 23; Is 53.6; Ez 34.31; Jo 10). A
expressão “pastores de Israel” é uma metáfora para os líderes políticos de
Israel, mas também pode incluir líderes espirituais. Os líderes foram acusados
de esquecer as principais características de um guia temente a Deus. “O
discurso profético do capítulo 34 está estruturado da seguinte maneira: a) os
pastores infiéis e as ovelhas (vv. 1-10); b) Deus como o futuro bom
pastor (vv. 11-16); c) o julgamento entre as próprias ovelhas (vv.
17-22); e d) o Messias como o pastor de Deus (vv. 23-31). O
capítulo 34 de Ezequiel, estão em julgamento, os reis Jeoaquim e Zedequias e os
assessores e oficiais. (SOARES; SOARES, 2022, pp. 93,94,95).
2. A metáfora do “pastor” na Bíblia.
Em toda a Escritura, líderes são comparados a “pastores”,
mesmo aqueles que não serviam a Deus. Vejamos alguns exemplos: a) Hamurabi,
rei da Babilônia, século 18 a.C., aparece nas transcrições como “pastor”;
b) Nabucodonosor é apresentado assim também (Jr 25.9; 27.6); c)
No texto bíblico, além de Ezequiel capítulo 34 e em 2Samuel 5.2, Deus
disse que Davi (como pastor) apascentaria o seu povo; d)
O profeta Isaías 44.28 da mesma forma, apresenta Ciro como “pastor”;
e; e) No capítulo 36, verso 37, Ezequiel compara a casa de Israel, que
consiste em governantes e povo, a um rebanho. Até no NT, essa imagem de líderes
aparece (Mt 25.31-33) (SOARES; SOARES, 2022, p. 95).
III. O CONTEXTO DE EZEQUIEL EM RELAÇÃO AOS
PASTORES E AS OVELHAS
1. A
metáfora da gordura e da lã (Ez 34.3,4).
Há discussão entre os estudiosos bíblicos sobre quais eram
exatamente os problemas expressos pela metáfora da “gordura e da lã”.
Provavelmente, a reprovação é porque não se comia dos animais que se pastoreava
(Gn 31.38; 1Sm 28.24). A gordura não era para consumo humano, mas oferta para
Deus (Lv 3.17; 7.22-25). No entanto, qualquer que seja o sentido do figurado, é
evidente que o problema está na falta de cuidado das ovelhas, na prática da
crueldade e na má conduta administrativa (SOARES; SOARES, 2022, p. 96).
2. O
problema da omissão dos governantes de Israel.
A situação em que as ovelhas se encontravam: “fracas,
doentes, quebradas, desgarradas e perdidas” não era natural dos
animais, mas sim consequência do tratamento que estavam recebendo: “dominam
sobre elas com força e tirania” (Ez 34.4). A lei proibia esse
comportamento: “não domine sobre eles com tirania, mas tema o seu Deus” (Lv
25.43). Em outras passagens, há listas com as abominações praticadas pelos
chefes do povo (Ez 11.1-2, 9; 12.10; 17.11-21; 19; 21.25; 22.6, 13). Assim,
parece se tratar de tolerância em aceitar as falhas, o emprego de violência e o
abuso de autoridade. Há um paralelo com pastores em Jeremias 3.15; 23.1-4.
3. As
ovelhas se espalharam por não haver pastor (Ez 34.5,6).
A consequência das ações dos líderes em Ezequiel é
desesperadora. Trata-se de uma alusão ao cativeiro, sendo a dispersão do povo
de Deus decorrente da omissão dos governantes, ou, nas palavras do Profeta, por
“não haver pastor”. Essa linguagem de dispersão do povo aparece
também na visão de Micaías em 1Reis
22.17. No evangelho de Mateus, Jesus se depara com uma situação similar (Mt
9.36). As funções pastoris são contrastadas no evangelho de João com as ações
de mercenários (Jo 10.12,13) (SOARES; SOARES, 2022, pp. 96,97).
4. Deus é o pastor
do seu povo (Ez 34.11,12).
As palavras da
revelação do profeta Ezequiel: “porque assim diz o Senhor Deus”,
anuncia que, como os pastores não executaram sua tarefa, o próprio Deus se
dispõe a buscar as suas ovelhas: “Eis que eu mesmo procurarei as minhas
ovelhas e as buscarei”. Embora se inicie por uma lamentação, o oráculo
segue com uma mensagem de esperança. Na sequência, Deus mesmo vai pastorear
Israel, os governantes e o povo, uma ação divina que condiz com sua natureza de
amor, santidade, justiça e soberania (Ez 34.13-16). Deus, sendo o verdadeiro
pastor, age, então, em favor das ovelhas, como o pastor busca o seu rebanho (Sl
23.1-6; Mt 18.12-14; Lc 15.1-7; Jo 10.7-18).
5. Deus se dirige
também as “ovelhas, carneiros e bodes” (Ez 34.17-22).
Não só havia
problema entre os “pastores/líderes”, mas algumas “ovelhas” também não estavam
agindo corretamente. Revela-se que a falha ocorre não só entre pastores e
ovelhas, mas também entre as próprias ovelhas. Mais animais são adicionados à
metáfora, possivelmente para se referir aos governantes como “carneiros e
bodes” (Jr 50.8). O profeta menciona que está chegando o fim do tempo das “ovelhas
gordas, dos carneiros e dos bodes”, que serão julgadas pelo modo como
vêm lidando com as ovelhas fracas (SOARES; SOARES, 2022, pp. 99,100).
IV.
JESUS COMO EXEMPLO DE PASTOR
A palavra pastor
no grego é “poimén” e é usada em seu significado natural (Mt
9.36; 25.32; Mc 6.34); metaforicamente acerca de Jesus (Mt 26.31; Mc 14.27; Jo
10.11,14,16) e acerca dos que atuam como nas igrejas (Ef 4.11) (VINE, 2002, p.
856). Jesus é o maior exemplo de verdadeiro pastor (Jo 10.1-16). Ele é o Pastor
e bispo das almas (1Pe 2.25); o grande pastor das ovelhas (Hb 13.20); e o
supremo pastor (1Pe 5.4). Neste ofício, Ele se distingue por vários
qualificativos. Vejamos:
1. Jesus como
pastor dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11).
Nos tempos
bíblicos, era comum o bom pastor expor a sua vida na luta contra as feras que
assaltavam o rebanho (1Sm 17.34-36). Jesus para proteger as suas ovelhas do
“ladrão” que vem para: “matar, roubar e destruir” (Jo 10.10).
Somos “rebanho do seu pastoreio” (Sl 100.3).
2; Jesus como
pastor conhece as suas ovelhas (Jo 10.14).
Julgamos quase
impossível que um pastor conheça cada ovelha distintamente, pois todas parecem
idênticas. Todavia, o contato com as ovelhas lhe proporciona tal conhecimento.
Cristo Jesus, muito mais conhece aqueles que lhe servem com um coração puro e
se sujeitam a sua vontade.
3. Jesus como
pastor guia as suas ovelhas (Jo 10.3,4).
O pastor à frente
do rebanho era a garantia de ser conduzido aos bons pastos e de preservá-lo da
emboscada das feras. Era o motivo da expressão confiante de Davi, com a sua
própria experiência de pastor (Sl 23.1). Essa deve ser a nossa confiança pois
nosso Bom Pastor nos garante a provisão (Fp 4.6,7,19; 1Pe 5.7).
4. Jesus como
pastor busca as ovelhas perdidas (Jo 10.16).
Em Lucas 15.1-7
encontramos a famosa parábola da “ovelha perdida” que nos mostra o que o pastor
é capaz de fazer para buscar a ovelha que se perde do rebanho. Essa analogia é
usada pelo Mestre Jesus a fim de retratar o interesse que Ele tem de restaurar
os pecadores a comunhão com Deus.
V.
O DOM MINISTERIAL DE PASTOR
Entre os dons
ministeriais concedidos a igreja, encontra-se o dom de pastor (Ef 4.11). O
pastor é “o anjo da igreja” (Ap 2.1). Serve sob a direção do Bom
Pastor, a quem pertence a Igreja (1Pe 5.2,4), e deve andar nas suas pisadas (Jr
17.16) e sob a sua direção (Jr 3.15). O pastor vela pelas ovelhas, como quem
tem de dar conta delas (Hb 13.17) (BERGSTÉN, 2007, p. 116).
1. A necessidade
de um pastor para a igreja.
“O pastor é
essencial ao propósito de Deus para sua igreja. A igreja que deixar de ter
pastores piedosos e fiéis não será pastoreada segundo a mente do Espírito (1Tm
3.1-7). Será uma igreja vulnerável às forças destrutivas de Satanás e do mundo
(At 20.28-31). Haverá distorção da Palavra de Deus, e os padrões do evangelho
serão abandonados (2Tm 1.13,14). Membros da igreja e seus familiares não serão
doutrinados conforme o propósito de Deus (1Tm 4.6,14-16; 6.20,21). Muitos se
desviarão da verdade e se voltarão às fábulas (2Tm 4.4)” (STAMPS, 1995, p.
1816).
2. O pastor e as
suas muitas atribuições.
“Sua missão é
múltipla e polivalente. Ele tem que agir como ensinador, conselheiro, pregador,
evangelizador, missionário, profeta, juiz, fazer as vezes de psicólogo,
conciliador, administrador dos bens espirituais e de recursos humanos. É
administrador de bens materiais ou patrimoniais; gestor de finanças e recursos
monetários” (RENOVATO, 2014, p. 114). Ele cuidar da sã doutrina e refutar a
heresia (Tt 1.9-11); ensinar a Palavra e exercer a direção da igreja (1Ts 5.12;
1Tm 3.1-5); é um exemplo da pureza e da sã doutrina (Tt 2.7,8) e, esforçar-se
no sentido de que todos os crentes permaneçam na graça divina (At 20.28-31; Hb
12.15; 13.17; 1Pe 5.2)” (STAMPS, 1995, p. 1815).
CONCLUSÃO
Ser pastor sempre
foi uma tarefa árdua. Muitas são as demandas internas e externas da igreja
local. O dia a dia pastoral é desafiador a quem é vocacionado por Deus para
apascentar. Somente pela graça e o amor do Pai é possível encarar tão grande
responsabilidade. Oremos pelos pastores, compreendamos as suas lutas e os
apoiemos com amor, obediência e respeito.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø VINE,
W. E. Dicionário Vine. CPAD.
Ø COMENTÁRIO
BÍBLICO BEACON: Isaías a Daniel. vol. 4. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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