Rt 1.1-5,8,12-14
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos uma das mais dramáticas histórias
familiares do Antigo Testamento; veremos as crises enfrentadas por Noemi e sua
família; destacaremos também aspectos do relacionamento entre Rute e sua sogra,
como padrão a ser seguido por todas as gerações; e por fim, a recompensa de
Deus para a vida de Noemi e sua nora Rute.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA HONRA
1. Definição.
Segundo o dicionarista, honra significa: “princípio
ético que leva alguém a ter uma conduta virtuosa, corajosa e que lhe permite
gozar de bom conceito da sociedade; consideração devida a uma pessoa”.
O verbo honrar significa: “conferir honras; dar crédito ou merecimento;
dignificar, enobrecer, estimar” (HOUAISS, 2001, p. 1550).
II. QUANDO A CRISE AFETA A FAMÍLIA
1. Contexto histórico.
Assim se inicia o livro de Rute: “E sucedeu que, nos
dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra [...]” (Rt
1.1-a), relatando uma grande crise econômica que afetou a cidade de Belém
antigamente chamada de Efrata (Gn 35.19; 48.7; Rt 4.11). Tal situação se
instaurou não somente por causas naturais, mas porque nesse período dos juízes
o povo de Israel diversas vezes, naufragou na fé dando as costas para Deus,
adorando aos ídolos e vivendo de forma desregrada (Jz 2.11; 3.7,12; 4.1; 6.1;
10.6; 13.1; 17.6). Deus puniu o seu povo como havia prometido (Dt 28.15-68).
2. As crises na família de Noemi (Rt 1.3-5).
Entre os belemitas destaca-se nesse período a família de
Elimeleque cujo nome significa: “Deus é rei”. Esse homem era
casado com uma mulher chamada Noemi que significa: “agradável”.
Com ela teve dois filhos, a saber: Malom que quer dizer: “doentio” e
Quiliom “definhante”. Elimeque saiu de Belém para resolver uma
dificuldade e acabou contraindo mais problemas. Saiu para peregrinar em
Moabe, no entanto, passou ali quase “dez anos” (Rt 1.4). Nesse
período ele veio a falecer (Rt 3.1); seus filhos casaram-se com mulheres que
não eram de Israel (Rt 1.4); depois, seus filhos também morreram (Rt 1.5-a). “O
Talmude considera isto punição por terem deixado Judá” (CUNDALL apud
BATHRA, 1986, p. 235). O texto bíblico narra a situação que ficou Noemi: “ficando
assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido” (Rt
1.5-b). Nenhuma família se prepara para a morte de um dos membros. Tal situação
desestabiliza o homem física, emocional, financeira e algumas vezes
espiritualmente. Precisamos estar prontos para enfrentar estas dificuldades
contando sempre com a graça de Deus (2Co 12.9).
III. O RELACIONAMENTO DE RUTE COM SUA SOGRA
Rute cujo nome quer dizer: “amizade”, era
oriunda da terra de Moabe localizada no planalto, ao leste do Mar Morto e
povoada pelos descendentes do fruto de um relacionamento incestuoso de Ló com
uma de suas filhas (Gn 19.36,37). Sua experiência pessoal com Deus é notável
(Rt 1.16) e o relacionamento com sua sogra e vice-versa, torna-se um exemplo
nobre a ser seguido por todas as famílias. Vejamos atitudes louváveis desse
relacionamento:
1. Afinidade e respeito (Rt 1.9).
O grau de carinho e consideração é algo que deve ser
destacado entre Noemi e suas noras: a) A forma fraternal com que a sogra
se dirige, sempre chamando Orfa e Rute de filhas (Rt 1.11,12,13); b) a
empatia de Noemi, ao priorizar o bem-estar de suas noras, mesmo resultando na
própria solidão (Rt 1.8,9); e, c) o reconhecimento, de que Orfa e Rute
só lhe fazia bem: “[...] Que o SENHOR seja bom para vocês, assim como
vocês foram boas para mim e para os falecidos!” (Rt 1.8 - NTLH).
2. Altruísmo (Rt 1.14).
Um dos traços do caráter de Rute era o amor para
com o próximo, nesse caso, à sua sogra. A despeito da tentativa de Noemi em
fazê-la voltar para a casa de sua mãe (Rt 1.8), com o argumento de não ter nada
para lhe oferecer (Rt 1.11,12); Rute revela seu amor altruísta, ou seja, sem
interesses pessoais, quando nos diz o texto: “[…] porém Rute se
apegou a ela” (Rt
1.14). A sua amizade não era uma relação utilitarista e conveniente. Seu amor
não era apenas de palavras, mas de fato e de verdade (1Jo 3.18). O altruísmo de
Rute é a expressão do verdadeiro amor que Paulo descreveu: “[…] não
procura seus interesses” (1Co 13.5); é o amor sacrificial que tem como
o maior exemplo Cristo Jesus (Rm 5.6-8); é o amor que devemos ter para com
todos (Jo 13.34; 1Co 10.33; 16.14; 1Ts 3.12; 1Jo 4.21; 2Pd 1.7). Como disse o
apóstolo Paulo: “Ninguém busque seu próprio interesse, e sim o de outrem”
(1Co 10.24).
3. Lealdade. (Rt
1.16).
Rute se apegou a
Noemi e decidiu continuar ao seu lado. Sua fidelidade e devoção são destacadas
por sua resposta, o que caracteriza uma expressão clássica de lealdade: “[...]
faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não a morte me
separar de ti” (Rt 1.17b). Embora a morte do seu marido tenha cortado
os laços dela com a família de Noemi pelas normas da sociedade, Rute escolhe
ficar com ela voluntariamente; esse ato reflete uma abnegação notável, a ponto
de pôr em risco a própria felicidade.
4. Determinação (Rt 1.18).
Outra virtude notável dessa jovem moabita é a sua convicção;
diante da insistência de Noemi, Rute se mostra resoluta, mesmo vendo que Orfa
tinha se despedido e voltado para Moabe (Rt 1.15), e tendo também como um fator
o pessimismo de Noemi a respeito de seu futuro; ainda assim, Rute persiste em
ficar ao lado da sua amada sogra (Rt 1.14,16). Sua determinação não estava
apenas no âmbito afetivo, mas, também em suas convicções religiosas, pois
estava decidida a abandonar os deuses de Moabe tornando-se seguidora do Deus de
Israel “[…] o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt
1.16). Esta determinação ainda é ressaltada ao se dispor em ir ao campo colher
espigas trazendo provisão para ela e sua sogra (Rt 2.1,7,17,18). À semelhança
de Rute, foi com firme propósito que Daniel deu testemunho de sua fé em
Babilônia (Dn 1.8); essa é a atitude necessária de quem está envolvido na obra
de Deus (1Co 15.58); de quem visa a recompensa divina (Hb 6.11; 10.35,36); e de
quem espera a vinda de Jesus (Tg 5.7,8).
5. Submissão (Rt 2.2,7,10).
De acordo com Aurélio submissão quer dizer: “Ato ou
efeito de submeter-se. Disposição para aceitar uma condição de dependência” (2004,
p. 1885). Submissão é outro aspecto do relacionamento de Rute e sua sogra; sua
humildade é revelada ao se submeter, pedindo autorização para ir ao campo. O
Paulo nos ensina que a submissão voluntária derivada do amor, deve ser: a) a
base dos relacionamentos domésticos (Ef 5.21,22,25; Cl 3.18-21); b) necessário
como um meio evangelístico (1Pe 3.1); c) no trato com os líderes (Tt
3.1; Hb 13.17; 1Pe 2.13-15); d) também com os liderados (1Pe 2.18); e)
nos relacionamentos interpessoais (1Pe 5.5), e com Deus (Hb 12.9; Tg 4.7).
IV. A RECOMPENSA DE DEUS PARA RUTE
A boa conduta nunca fica sem recompensa. Quem semeia ainda
que com lágrimas, colhe seus frutos com alegria (Sl 126.5,6). Quem semeia com
fartura, com abundância faz a sua colheita (2Co 9.6) (LOPES, 2007, p. 82). Rute
chegou em Belém como uma viúva estrangeira, sem perspectiva aparente, no
entanto, Deus cumpriu na íntegra a palavra dita por Boaz: “O SENHOR
retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do SENHOR
Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar” (Rt 2.12). Vejamos
algumas ações de Deus em benefício de Rute:
1. Dirigiu seus passos.
Ao tomar a iniciativa em ir em busca do necessário pra o
sustento dela e de sua sogra, Rute sem saber estar sendo guiada pela mão
invisível de Deus “[…] por casualidade entrou na parte que pertencia a
Boaz, o que era da família de Elimeleque” (Rt 2.3 – ARA). Por trás de
um aparente acaso, Deus revela sua providência graciosa “[…] quanto a
mim, o SENHOR me guiou no caminho” (Gn 24.27). “A vida é composta
por dois andares. No andar de baixo, pensamos que as coisas acontecem por
casualidade, mas, no andar de cima, temos a garantia de que as mãos de Deus
dirigem o nosso destino” (SCHAEFFER apud LOPES, 2007, p. 70). “E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus […]” (Rm 8.28).
2. Restaurou a honra familiar.
Ao voltar do campo após o encontro com Boaz, Rute conta as
boas novas à sua sogra que, da condição de amargurada passou à abençoada (Rt
2.20), isso ocorre em virtude de uma nova esperança, Boaz é um dos remidores da
família. Como pode ser visto, o parente resgatador poderia salvar os familiares
da pobreza e dar-lhes um recomeço (Lv 25.25-34). Quando Rute contou a Noemi o
que Boaz havia dito, a esperança de Noemi se fortaleceu ainda mais, pois as
palavras de Boaz revelaram seu amor por Rute e seu desejo de fazê-la feliz.
Após um extenso período de perdas, chega o momento da restauração “[…] o
choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5-b).
A chegada de Rute no campo, deu a Boaz a oportunidade inicial de tornar-se seu
benfeitor e abriu o caminho para que se casasse com ela no sistema do levirato,
retirando toda a vergonha que repousava sobre a família (Dt 25.5,6; Rt 3 e 4).
3. Incluída na
genealogia de Jesus.
O Livro de Rute
começa com três funerais, mas termina com um casamento. O primeiro capítulo
registra um bocado de choro, mas o último traz superabundância de alegria
(WIERSBE, 2006, p. 192). Rute recebeu do Senhor a capacidade para conceber (Rt
4.13). O menino foi motivo de grande alegria para família e vizinhos, em
especial sua avó Noemi (Rt 4.14-16). O nome “Obede” significa “servo”.
Obede foi o pai de Jessé, avô de Davi, e ancestral do Senhor Jesus (Rt
4.17,21,22; 1Cr 2.12; Mt 1.5; Lc 3.32). Ao ser incluída na árvore genealógica
do Messias, Rute passou também a ser uma figura no Antigo Testamento, que
aponta para o valor universal da obra redentora de Jesus Cristo. Revelando a
verdade que a participação no reino vindouro de Deus é determinada não por
sangue ou nascimento, mas, por ajustarmos a vida à vontade do Senhor mediante a
obediência que vem pela fé (Rm 1.5).
CONCLUSÃO
A história bíblica
de Rute é um exemplo de fé no relacionamento entre uma nora e sua sogra. Mesmo
sendo uma estrangeira, Rute foi capaz de cuidar da sua sogra, demonstrando
grande carinho e respeito por ela, além de administrar dentro de si perdas
enormes: A vontade de Deus é que sogras e noras, bem como genros e sogros,
vivam em união de maneira que a família seja ricamente abençoada por Ele.
REFERÊNCIAS
Ø Comentário Bíblico Beacon: Josué a
Rute. Vol. 02. CPAD.
Ø LOPES,
Hernandes Dias. Comentário Expositivo
Rute. HAGNOS.
Ø STAMPS,
Donal C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo
do Antigo Testamento. PDF.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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