Mc 1.14-17
INTRODUÇÃO
Nesta
lição enfatizaremos a natureza do Reino de Deus, assinalando dois de seus
aspectos: espiritualidade e santidade. Também abordaremos uma das mais
sintéticas, porém abrangentes definições acerca deste Reino, que foi proferida
pelo apóstolo Paulo. Há cruciantes esforços por parte do império das trevas, no
sentido de deter o crescimento do Reino de Deus, porém todos eles são debaldes,
uma vez que o Rei deste Reino domina sobre tudo e todos pelos séculos dos
séculos.
I. A NATUREZA DO
REINO DE DEUS
Dentre
muitas características do Reino de Deus no tempo presente, na atual
dispensação, podemos destacar a sua espiritualidade:
1. O
reino de Deus é espiritual.
Trata-se
de um domínio espiritual. Deus começa a dominar a partir do coração dos seus servos
(Jo 14.23), e tal domínio se dá através do Seu poder (Mc 9.1). É bom
destacarmos que o referido versículo não aponta para o Reino numa perspectiva
escatológica, isto é, o Reino Milenial de Cristo, embora reconheçamos que este reino
também tenha o aspecto escatológico. Quando Jesus diz que muitos “veriam
o Reino chegar com poder”, estava fazendo alusão ao Pentecostes, em que
a Igreja foi inaugurada pelo poder do Espírito (At 1.8; 2.1-4). Não estamos
falando de uma teocracia religio-política. O Reino não está vinculado ao
domínio social ou político sobre as nações ou reinos deste mundo (Jo 18.36). Deus
não pretende na presente era reformar o mundo mediante ativismo social ou
político, da força ou de ação violenta (Mt 26.52, 53). Vale salientar que esse
reino espiritual contrapõe-se ao reino do maligno. Vejamos o contraste entre
eles:
REINO DE DEUS (Mc 1.15)
|
REINO DAS TREVAS (Cl 1.13)
|
O rei é Deus (Mt
3.2;12.28)
|
O rei é Satanás
(Jo 12.31; 2Co 4.4)
|
O rei é Santo
(Is 6.3)
|
O rei é iníquo
(Jo 8.44)
|
Os seus
integrantes são santos (1Pe 2.9)
|
Os seus integrantes
são ímpios (Rm 1.28-32)
|
Os integrantes
nasceram de novo (Jo 3.3; 2Co 5.17)
|
Os integrantes não
nasceram de novo (1Co 2.14);
|
A verdade é
absoluta (2Tm 3.16; 1Pe 1.25; 2Pe 1.21)
|
A verdade é
relativa (Is 5.20)
|
Respeita-se a
lei dos homens até o ponto em que esta não fere a Lei de Deus (At 4.19; 5.29)
|
Cria-se leis que
contrariam a Lei de Deus (Rm 1.32)
|
O Espírito Santo
é quem domina (Jo 14.16,17)
|
O espírito do
anticristo é quem domina (1Jo 4.3; 2Ts 2.3-7)
|
2. O reino de Deus é santo.
Uma marca
claríssima do Reino de Deus é a santidade. Desde o Antigo Pacto, o Senhor estabeleceu
a santificação como premissa maior para sua dominação (Êx 19.5,6; Lv 11.44).
Interessante assinalar que no Novo Pacto, os padrões ético-morais são ampliados
pelo nosso Senhor Jesus Cristo.
3. O reino de Deus é passado.
A nação de Israel
era uma monarquia teocrática. O Senhor levantou reis para o povo judeu (Dt 17.14,15;
Dt 28.36; 1Sm 10.1; 1Sm 16.13) e estabeleceu normas reguladoras de
relacionamento político entre o governante e a nação (1Sm 8.10-22). O objetivo
de Deus era preparar o caminho para a salvação da humanidade através da nação
de Israel. Contudo, por causa dos desvios do povo judeu e da rejeição de seu
Messias, Jesus Cristo, o reino divino foi-lhes retirado, ou seja, Israel na atualidade
não tem mais a função de propagar o Reino de Deus (Mt 21.43; Rm 10.21; 11.23).
Tal missão cabe agora à Igreja. Israel, porém, será restabelecido
espiritualmente no futuro, conforme escreve Paulo (Rm 11.25-27).
4. O reino de Deus é presente.
O Reino de Deus
foi estabelecido de forma invisível na Igreja por intermédio do Rei dos reis. Na
atualidade, o reino divino está presente na vida dos filhos de Deus, a saber,
os salvos em Cristo. Estes foram libertos das trevas e transportados ao “Reino
do Filho do seu amor” (Cl 1.13). A partir desta experiência salvífica,
é possível afirmar que toda pessoa, nascida de novo em Cristo Jesus, é dirigida
pelo Espírito Santo e, consequentemente, tem a sua vida governada através dos
valores do Reino (Ef 2.10). O reino divino pode ser visto nos corações e nas
vidas de todos aqueles que se arrependem, crêem e vivem o Evangelho (Jo 3.3-5;
Cl 1.13). Não se trata de um reino político ou material que, por definição, é transitório
e passageiro, mas de uma poderosa, transformadora e eficaz operação da presença
de Deus em e através de seu povo (Mc 1.27; 2 Co
3.18; 1 Ts 4.1).
5. O reino de Deus é futuro.
O aspecto futuro
do Reino de Deus está ligado ao reino milenar de Cristo sobre a terra por ocasião
da sua segunda vinda em glória (1Co 15.23-25). Até mesmo a criação inanimada
“espera” por esse glorioso dia (Rm 8.19-23). Durante o Milênio, predito pelos
profetas do AT (Sl 89.36,37; Is 11.1-9; Dn 7.13,14), Jesus Cristo reinará
literalmente na terra durante mil anos (Ap 20.4-6). E a Igreja reinará
juntamente com Ele sobre as nações (Mt 25.34; Ap 5.10; 20.6; Dn 7.22). O reino
milenial de Cristo dará lugar ao reino eterno de Deus, que será estabelecido na
nova terra (Ap 21.1-4; 22.3-5), a Nova Jerusalém (Ap 21.9-11).
6. O
reino de Deus é eterno.
O
governo do Reino. Deus criou os céus e a terra (Gn 1.1). Ele tem o governo de
todas as coisas. Seu domínio, soberania e autoridade real jamais terão fim. Os
reinos deste mundo são transitórios, mas o de Deus é eterno. O Deus soberano
governa o mundo todo. O Eterno intervém na criação e na história, manifestando
seu poder, sua glória e suas prerrogativas contra o domínio do pecado.
II. O QUE O REINO DE
DEUS SIGNIFICA
Abordaremos
três aspectos importantíssimos do Reino de Deus, à luz do texto de Rm 14.17,
que nos diz: “porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas
justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. O Reino de Deus é muito
mais do que o simples comer ou beber, mas consistia em justiça, paz e alegria.
1. O
reino de Deus significa justiça.
A
base da justiça do Reino está no seu próprio Soberano, que é justo (Sl 7.11;
11.7). Esse Deus justo, justifica todos os integrantes do seu Reino mediante o
sacrifício de Cristo (Rm 3.26; 5.1). Ele julga as causas de sua dominação com
justiça, equidade, imparcialidade. Uma vez que fomos justificados, devemos
deixar transparecer essa justiça, a fim de que o mundo injusto se maravilhe
diante de um Reino justo. Numa perspectiva escatológica, o Senhor julgará os
salvos, no seu Tribunal (Rm 14.10), e os ímpios também (Ap 20.11-15);
2. O
reino de Deus significa paz.
A
paz que reina no Reino advém do próprio Cristo, que é o Príncipe da Paz (Is 9.6).
Não se trata de uma ausência de guerras ou perturbações externas, até porque a
Igreja sempre enfrentou, e ainda enfrenta, tribulações e perseguições (Jo
16.33; At 14.22). Estamos falando de uma paz interior gerada pelo Espírito
Santo nos salvos em Cristo (Gl 5.22). É uma quietude incondicional, que nos
leva a descansar em meio a tormenta. Destacamos os três principais aspectos desta
paz: a) Paz com Deus. Alcançada através da conversão a Cristo (Rm 5.1,2;
Ef 2.13-17); b) Paz de Deus (Jo 14.26,27; Fp 4.7; Cl 3.15); e, c) Paz
com os homens (Rm 12.18; Ef 4.3,4; Fp 2.4). Numa perspectiva escatológica,
assinalamos que o Reino Milenial de Cristo será de paz universal (Sl 72.7; Is
2.2-4).
3. O
reino de Deus significa alegria.
Referimo-nos
à alegria, ao gozo cujo fundamento é Deus, e que é produzida pelo Espírito
Santo (Gl 5.22). Ela é constante, perene, persistente, incondicional. Prova
disso é o fato do apóstolo Paulo ter escrito a carta aos filipenses, que ficou
conhecida como a “Carta da Alegria”,
de uma prisão romana. Por diversas vezes, mesmo preso injustamente, ele
recomenda o regozijo para os crentes (Fp 3.1; 4.4,11,12). Diz respeito a um
gozo inefável (1Pe 1.8) e abundante (Rm 15.13). Os integrantes do Reino estão
ungidos com o óleo da alegria (Sl 45.7). Algumas fontes de alegria para os
súditos do Reino: a) salvação (Is 61.10); b) atos poderosos de
Deus (At 8.8); c) Espírito Santo (Gl 5.22); d) A presença de Deus
(Lc 1.47; Sl 16.11; 122.1); e) A bênção de Deus (Sl 126.3; 1Ts 3.9); e,
f) A nossa esperança (Rm 12.12; Tt 2.13).
III. O REINO DE DEUS
NAS ESCRITURAS
1. O
reino de Deus no Antigo Testamento.
Apesar
da expressão Reino de Deus não aparecer no Antigo Testamento, o Senhor é apresentado
como o Rei de Israel (Is 43.15), da terra e de todo o universo (Sl 24; 47.7,8;
103.19). Estas e outras referências manifestam a prerrogativa soberana de Deus
sobre a criação. Ele reina para sempre (Sl 29.10).
2. O
reino de Deus no Novo Testamento.
A
mensagem central do ensino neotestamentário é o Reino de Deus. Este foi apregoado
por João Batista (Mt 3.2) e confirmado pelo ensino de Jesus Cristo (Mt 6.33).
João veio pregando no deserto: “Arrependei-vos porque é chegado o Reino
dos céus” (Mt 3.2). O fato de uma pessoa ser israelita e “filho da promessa” (Gl 4.28) não lhe
assegurava o direito de entrar no Reino de Deus. Era preciso produzir frutos
dignos de arrependimento. Pois, as boas obras são o resultado de um autêntico
arrependimento (Lc 3.8). A proclamação e a concretização do Reino de Deus foram
o propósito central do ministério de ensino de Jesus. O Reino dos Céus foi o
tema de sua mensagem e ensino na terra (Mt 4.17). No Sermão da Montanha, Jesus
conclamou a multidão que o ouvia a buscar, com diligência e em primeiro lugar,
o Reino de Deus (Mt 6.33). Ele estava ordenando a todos nós, seus seguidores, a
buscar a Deus resolutamente e a fazer a sua vontade.
3. O
reino de Deus ou Reino dos Céus.
Nos
evangelhos de Marcos e Lucas a expressão “Reino
de Deus” aparece com frequência. Todavia, no Evangelho de Mateus, a
expressão mais usada pelo evangelista (aparece cerca de trinta e quatro vezes) é
“Reino dos Céus”. A maioria dos
eruditos bíblicos concorda que o emprego da expressão “Reino dos Céus” foi
aplicado por Mateus devido à rejeição do povo israelita ao uso indiscriminado
do nome de Deus. Logo, as expressões “Reino de Deus” e “Reino dos Céus”, quando
comparadas entre os Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas, são sinônimos
e intercambiáveis (Mt 5.3; 13.10,11; Mc 4.10,11; Lc 6.20).
CONCLUSÃO
Vimos
que na dispensação presente, o Reino é espiritual e se contrapõe veementemente
ao Reino de Satanás. Os súditos de Cristo estão separados moral e
espiritualmente dos súditos do Maligno. Esforcemo-nos, pois, e sigamos ao Régio
Dominador, uma vez que esse Reino tomará proporções universais e subjugará
definitivamente todos os seus inimigos, estando nós, para sempre, ao lado do
Rei dos Reis (Dn 2.34,44). Amém!
REFERÊNCIAS
Ø BERGSTÉN, E. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø SOARES, Ezequias (Org.). Declaração
de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø BAPTISTA, Douglas. A Igreja de Cristo e o Império do Mal. CPAD.
Ø STAMPS, Donald Carrel. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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