Gl
5.16-21; Tg 1.14,15; 4.13-17
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, demonstrar-se-á que a vontade humana, antes da Queda, estava alinhada à
vontade de Deus, permitindo a plena comunhão com Ele. Entretanto, após a
desobediência, a vontade foi corrompida pelo pecado, passando a estar
escravizada. Portanto, nesse estado, a vontade humana, sozinha, é insuficiente,
assim, necessitando da Graça de Cristo que liberta a vontade da escravidão do
pecado permitindo que ela volte a alinhar-se ao propósito divino.
I. A VONTADE ANTES DA QUEDA
1.
Definição do termo “vontade”.
O
vocábulo vontade (do latim voluntas) vincula-se aos sentidos de: a) Capacidade
de querer e de escolher, de se impelir para a ação afirmação ou recusa,
subjetiva ou objetiva; b) Sentimento que leva as pessoas a se
comportarem conforme essa capacidade; c) Necessidade física ou emotiva; d)
Arbítrio, deliberação; e) Capricho, impulso; f) Propensão,
tendência; g) Deliberação, determinação; h) Empenho, interesse,
desvelo, zelo, dedicação (Aulete, 2011, p. 1428). Na teologia bíblica, a
vontade é definida como “a faculdade da vontade residente por natureza em todos
os seres espirituais; o poder apetitivo de um ser espiritual.
2.
Distinção entre “vontade” e “intelecto”.
A
vontade é distinta do intelecto, pois o intelecto é aquele que
conhece os objetos; a vontade é aquela que tem um apetite ou
desejo por eles. A vontade e o intelecto são dois dos mais sublimes poderes
espirituais” (Muller, 2023, p. 432). Antes do pecado, a vontade humana era
perfeita e alinhada à vontade de Deus, desfrutando de inocência e harmonia com
o Criador. A natureza humana era pura, ou seja, não corrompida, permitindo uma
comunhão plena com Deus. A Queda ocorreu quando a vontade humana voltou-se para
si, buscando autonomia, o que gerou uma separação e um novo estado de
imperfeição. Assim, vejamos algumas características da vontade humana antes do
pecado:
- Alinhada à vontade divina. A vontade humana antes do pecado agia em perfeita sintonia com os propósitos e a vontade de Deus – “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã: o dia sexto” (Gn 1.31). Uma vez que tudo o que Deus fez era “muito bom”, o que é interpretado como perfeição, essa perfeição estende-se à criação do universo, do planeta e da vida, culminando na criação do ser humano à sua imagem e semelhança, conforme detalhado no livro.
- Inocência e pureza. Por ser criado à semelhança de Deus, o ser humano possuía todas as faculdades intelectivas em estado de santidade, logo sua vontade e mentalidade eram puras, ou seja, isentas de pecado (Gn 2.16-17).
- Comunhão com Deus. A vontade humana permitia uma relação direta e sem barreiras com o Criador, em um estado de graça e harmonia (Gn 3.8).
- Existência em um centro de amor perfeito. A vida humana era centrada em Deus, que era o objeto de seu amor e obediência (Gn 2.15).
- Comunhão e liberdade. Essa sintonia permitia a Adão e Eva ter livre acesso à presença de Deus e às coisas espirituais, desfrutando de uma comunhão perfeita e da capacidade de escolher o bem (Gn 3.8).
- Dependência da graça. Mesmo em sua perfeição original, a vontade humana dependia da graça divina para viver conforme o propósito de Deus, sendo uma condição de insuficiência mesmo antes do pecado, que é uma necessidade intrínseca à condição de criatura (Gn 2.16-17).
II. A VONTADE DEPOIS DA QUEDA:
CONFLITO CONSTANTE ENTRE A NATUREZA HUMANA E O ESPÍRITO SANTO
1.
A luta interna entre carne e espírito.
Conforme Gálatas 5.16-21, existe um conflito
constante entre a carne (desejos humanos) e o Espírito Santo dentro do crente,
onde escolher andar em um, significa não satisfazer o outro. A vida de quem
pratica as “obras da carne” resulta na perda da herança do Reino
de Deus: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações,
iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já
antes vos disse, que os que cometem tais coisas
não herdarão o Reino de Deus” (vv. 19-21). Dessa forma, o texto descreve
uma luta espiritual interna constante entre os desejos da natureza humana
(carne) e a vontade do Espírito Santo.
2.
O termo carne com o sentido de natureza pecaminosa.
Na
carta aos Romanos, o apóstolo Paulo explica o sentido de carne (do grego
sarx) como natureza pecaminosa: “Porque os que são segundo a carne
inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as
coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do
Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus,
pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8.5-7).
Nesse contexto, o termo “carne” refere-se à natureza humana
pecaminosa e egoísta, em contraste com o “espírito” que é a
orientação para Deus. A “carne” representa a inclinação humana para o pecado,
os desejos egoístas e as paixões que se opõem à vontade divina. Em um sentido
mais restrito e literal, “carne” também pode descrever o corpo físico (do grego
soma), mas a maior parte do seu significado teológico está ligada à condição
humana em sua relação com o pecado. Isso significa que a “carne”
simboliza a fraqueza e a tendência inerente do ser humano para o pecado
tornando-se a sede de satisfação dos próprios desejos que busca por
“autojustificação”, em vez de confiar na Graça de Cristo.
3.
O andar na carne e o viver pelo Espírito.
O
“andar na carne” significa viver dominado por impulsos pecaminosos (sem perder
o livre-arbítrio) e afastado dos princípios espirituais e da orientação divina.
Em Romanos 6.6, o sentido do “corpo do pecado” que foi crucificado com Cristo,
resulta na emancipação do poder do pecado na carne: “sabendo isto: que o
nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja
desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado”. A única forma de
superar esse conflito é ser guiado pelo Espírito Santo, o que conduz a uma nova
identidade e ao desenvolvimento do fruto do Espírito: “Digo, porém: Andai
em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne
cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um
ao outro; para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo
Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5.16-18). A passagem instrui a
viver pelo Espírito Santo, o que impede a satisfação dos desejos da carne. A
carne deseja o oposto do que o Espírito deseja, pois com o ato de
desobediência, a vontade humana foi corrompida pelo pecado, tornando-se
escravizada ao mal e não mais capaz de buscar a Deus ou escolher o que é bom
por si mesma, uma vez que o pecado rompeu o vínculo de obediência com Deus, a
harmonia entre eles e a harmonia com a criação, resultando em separação e uma
natureza humana marcada pela escolha de desafiar a ordem divina. Portanto, a
condição pós-Queda é de fraqueza e culpa, e a vontade humana (sozinha), sem a
intervenção divina, não pode libertar-se da escravidão do pecado.
III.
A ORIENTAÇÃO DO NOSSO SENHOR JESUS E A ATUAÇÃO DO ESPÍRITI SANTO
O Senhor Jesus Cristo demonstra a
fragilidade da natureza humana: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt
26.41), ressaltando a luta interna entre a vontade espiritual (o que a mente e
o coração desejam) e a fraqueza física ou as inclinações do corpo (a carne).
Ela serve como um alerta para a necessidade de vigilância e oração constante,
pois a tentação é constante aqui nesse mundo. Em um sentido mais amplo, pode
ser interpretada como a fragilidade humana em seguir um plano ou propósito
espiritual, uma vez que sua condição é inclinada, naturalmente após o pecado, à
alimentação de sua natureza morta. Por isso que a vinda de Jesus “na carne” é
fundamental, pois venceu o pecado e oferece a salvação, tornando a Sua carne
(sacrifício) o próprio meio da redenção. Veja-se a importância do Espírito
Santo atuando na vontade humana conforme o texto de Gálatas 5.16-26:
- O Espírito Santo impede as ações da natureza humana pecaminosa (vv. 16-17).
- O Espírito Santo liberta da condenação da Lei (vv. 18-21).
- O Espírito Santo faz frutificar (vv. 22-24).
- O Espírito Santo guia-nos em todo nosso viver (vv. 25-26).
1. A graça de Deus
liberta o homem da escravidão do pecado.
Por mediação da Graça de Deus,
concedida através de Jesus Cristo, é que o ser humano pode ser liberto da
escravidão do pecado, pois a libertação desta escravidão permite que a vontade,
agora renovada e livre pela fé, possa escolher, verdadeiramente e livremente, o
que é bom e agradável à vontade de Deus. “Mas se Deus tem que tomar a
iniciativa, perguntamos ainda, Será que o faz arbitrária e irresistivelmente?
Parece-nos que a resposta é negativa nos dois aspectos. Deus é soberano em Seu
universo, mas age de acordo com Sua natureza e com o propósito definido de que
a vontade do indivíduo seja reconhecida” (Thiessen, 2014, p. 212).
2. A graça de Deus
e o livre-arbítrio humano.
O livre-arbítrio é uma faculdade
intelectiva inerente ao ser humano que permite a tomada de decisão depois que o
homem é convencido pelo Espírito Santo (Jo 16.8), assim, ao arrepender-se,
alcança a liberdade que é a condição de estar livre do pecado. Portanto, Adão,
após pecar, não perdeu o livre-arbítrio (faculdade interior), assim como
não perdeu a memória, que é outra faculdade intelectiva, mas perdeu a liberdade
(condição espiritual de comunhão com Deus), por isso que, ao atender ao
chamado da pregação conhecendo a Verdade, o homem volta a ter a comunhão com
Deus (Jo 8.32), que é a restauração da natureza humana antes dominada, agora
liberta em Cristo Jesus (Jo 8.36). Ao ser guiado pelo Espírito Santo, o homem
confirma que não está sob a Lei, mas na Graça, o que é uma condição de
liberdade para viver uma vida transformada que é um contraste com as obras da
carne.
CONCLUSÃO
O pecado trouxe a separação e a
introdução da inclinação para o mal, que se manifesta como um impulso do
apetite sensível, contrário aos ditames da razão humana, dessa forma, o texto
de Gálatas 5 chama-nos à decisão, uma vez que o crente deve escolher, conscientemente,
seguir o Espírito Santo em vez de ceder aos desejos da carne, para que possa
desfrutar da herança prometida e não ser excluído do Reino de Deus. Essa
transformação da vontade carnal para espiritual é um processo contínuo de
santificação, resultado de uma busca íntima e de um relacionamento constante
com Deus em frutificação espiritual.
REFERÊNCIAS
Ø AULETE, Caldas.
Novíssimo Aulete dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Lexicon,
2011.
Ø BÍBLIA SAGRADA.
Almeida Revista e Corrigida. Tradução de João Ferreira de Almeida. SBB,
2013.
Ø MULLER, Richard A.
Dicionário de termos teológicos latinos e gregos: introdução à linguagem
técnica presente nas obras acadêmicas. CPAD, 2023.
Ø QUEIROZ, Silas.
Corpo, alma e espírito. CPAD, 2025.
Ø THIESSEN, Henry
Clarence. Palestras em teologia sistemática. Editora Batista Regular,
2014.
Por
Rede Brasil de Comunicação.

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