sábado, 2 de março de 2013

LIÇÃO 09 – ELIAS NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO


Mt 17.1-8



INTRODUÇÃO
Na lição anterior, vimos de que forma o profeta Elias finda o seu ministério, e também, como o Senhor o tomou para si num redemoinho de fogo. Diante de tão glorioso ministério, que compreenderam as lições 01 à 08, aprendemos muitas e grandes lições para nossa vida pessoal, sentimental, comportamental, ministerial e espiritual. Porquanto, vimos como o Senhor usou este vaso de honra que veio de um povoado não tão conhecido mais que se tornou importante na vida e no contexto de Israel, e isto devido sua obediência a Palavra do Senhor. Por essa razão, na lição de hoje, abordaremos um dos textos do Novo Testamento que trata deste grande homem de Deus, embora na lição 02 já tenhamos visto este assunto de forma resumida, nesta lição o abordaremos de forma mais detalhada. Desta forma, é preciso estamos atentos não apenas ao texto acima, mas também, aos textos de Mc 9.2-8 e de Lc 9.28-36, que juntamente com o Evangelho de Mateus são conhecidos como ‘Evangelhos Sinóticos’. Este vocábulo vem de duas palavras gregas: “syn” que significa “com”; e “opsis” que significa “ótica, vista”. Portanto, “Sinótico” significa “visão conjunta”. Isto se aplica aos três primeiros evangelhos, pois eles são uma sinopse da vida de Cristo. Eles apresentam muitas semelhanças entre si, no conteúdo e na apresentação. No entanto, o relato sobre a transfiguração é um dos mais emblemáticos do Novo Testamento.



I. ELIAS, O MESSIAS E A TRANSFIGURAÇÃO
1. Transfiguração.
Tanto Mateus quanto Marcos enfatiza que eles subiram em “um alto monte” (Mt 17.1; Mc 9.2). Mas, que monte era esse? Bem, segundo uma tradição milenar (testemunho de Cirilo, de Jerusalém, e de Jerônimo no século IV DC ) este monte é o monte Tabor, localizado a 8 km de Nazaré, e a 16 km de Cafarnaum com 560 metros de altura, na planície de Megido. Porém, outros afirmam que este monte é o monte Hermom, em virtude dele está localizado na região de “Cesaréia de Filipe” (Mt 16.13), e por não se achar nos evangelhos que Jesus partiu daquela região, senão depois de tudo isso (Mt 17.24). O Hermom é a mais bela montanha da Palestina, com cerca de 3.000 metros de altura, coberto de neve, na fronteira de Israel e o Líbano. Há poucos montes na Palestina que merecem essa denominação de “alto monte”, e o Hermom é um deles. Todavia, o que nos chama atenção é que Lucas é o único a mencionar que a transfiguração se deu enquanto Jesus orava (Lc 9.29). O que pressupõem que a transfiguração ocorreu à noite, já que era costume de Jesus orar à noite, como indicam as seguintes passagens: Lc 6.12; 22.39,40; Mt 14.23. É possível que os detalhes reais da transfiguração teriam sido vistos com mais clareza à noite. 
Além disso, a palavra traduzida em português como “transfigurado” corresponde ao vocábulo grego metemorphôté, que é o aoristo passivo de metamorphóô. Esse mesmo vocábulo é usado pelo apóstolo Paulo em Romanos 12.2, bem como pelos evangelistas Mateus e Marcos. Já Lucas, em seu evangelho, escolheu o verbo adequado a ser utilizado devido a crença pagã da época de que algumas divindades tinham a capacidade de assumirem formas diferentes. Por isto, Lucas não desejava que Jesus fosse associado e nem confundido com eles. Porquanto, a transfiguração não transformou Jesus em Deus, mas mostrou aos discípulos aquilo que ele fora o tempo todo: o verbo encarnado (Jo 1.1; 17.1-5). Então, surge a pergunta: Quais os motivos dessa transfiguração? Pelo menos dois motivos podem ser citados: 1) Sancionar o ministério de Cristo (Jo 546; At 3.22,23; 10.43; Rm 3.21); e 2) Anunciar a sua glória e a sua partida (Dt 18.18,19; Jo 5.46; At 3.22,23).


2. A autoridade da chamada.
Dos sinóticos, só Mateus diz que a nuvem era “luminosa”, detalhe que lembra a glória shekiná. No Antigo Testamento esse tipo de manifestação era sempre associado à presença de Deus (Êx 14.19,20; 24.15-17; 1 Rs 8.10,11; Ez 1.4; 10.4). Os judeus intitulavam essa manifestação de shekiná, ou glória, que no Talmude significa praesentia Dei, a presença de Deus. A palavra se deriva da raiz que significa “habitar”, Deus deu ao povo de Israel uma nuvem para dirigi-lo no deserto, símbolo da presença de Deus que guia (Êx 13.21). Às vezes, essa manifestação enchia a “casa do Senhor” (1 Rs 8.10). Posteriormente, essa manifestação passou a ser geralmente reputada como uma prova da presença de Deus, e a própria palavra shekiná passou a ser usada para indicar a presença de Deus. Desta forma, não se tratava de uma nuvem física ou comum, a nuvem vista pelos discípulos, mas da manifestação da shekiná do Senhor confirmando a messiânidade de Cristo. Porquanto, essa nuvem luminosa e celestial era justamente o sinal dos céus que os escribas, fariseus e saduceus quiseram ver, mas que lhes foi negado (Mt 12.38; Mc 8.11), ao passo que os discípulos, embora fracos e sem grande compreensão sobre a missão de Jesus e os seus propósitos, mas que eram honestos de coração e queriam receber o conhecimento da verdade, embora não tivessem solicitado tal sinal, receberam-no livremente da parte de Deus. 
Esse sinal, como também os demais acompanhamentos da visão, tinha também o proposito de confirmar a missão messiânica de Jesus ante os discípulos, ensinando-lhes algo sobre a glória dele, e, posteriormente, teve o efeito de confirmar a mensagem do cristianismo para eles. Por diversas vezes houve nuvens relacionadas ao ministério de Jesus: 1) No seu batismo (Mt 3.17); 2) Na sua ascensão (At 1.9); e 3) Quando de seu segundo advento, também há a promessa de que haverá uma nuvem, haverá shekiná (Mt 24.30). Diante do exposto, podemos ver a magnitude do sinal dos céus que foi concedido aos discípulos. Razão que motivou Mateus a registrar tal fato: “Estando ele ainda a falar, uma nuvem luminosa os cobriu, e da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. A ele ouvi!” (Mt 17.5).



II. ELIAS, O MESSIAS E A RESTAURAÇÃO
1. Tipologia.
Na transfiguração, o elemento notável, tanto para Mateus como para Marcos, foi a aparição de duas personagens de inestimável valor do Antigo Testamento: Moisés e Elias. Porém, outra vez, Lucas se sobressai em sua narrativa ao apresentar em seu evangelho a natureza da conversa de Moisés, Elias e Jesus: “Os quais apareceram em glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém” (Lc 9.31). Alguns intérpretes não aceitam a aparição objetiva desses homens, mas acham que o acontecimento foi um tipo de visão que dispensava a presença literal dos mesmos. Porém, a maior parte dos intérpretes compreende o contrário, pois mesmo sendo uma visão ela não anula a realidade da experiência vivenciada pelos discípulos, porquanto, a palavra visão não equivale a fantasia. Logo, os fatos ali ocorridos foram verídicos. Portanto, a transfiguração revela que Moisés tem seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a lei apontava para Ele. O termo “tipo” vem do grego “typos” que significa “figura, modelo exemplo”. Fato, ou pessoa, que, no Antigo Testamento, antecipava o que ocorreria nos dias do Novo Testamento. 
Desta forma, Moisés representa, como nenhum outro, a autoridade da lei, e geralmente serve de símbolo do judaísmo em geral. Jesus, em sua vida e ministério, era qual outro Moisés, posto que deu uma nova lei (Jo 13.34), organizou uma nova congregação (Mt 16.18; Ef 2.11-22) e estabeleceu uma nova ordem de coisas (Mt 5 – 7). Moisés, no pensamento judaico, estava associado à glória do reino de Deus. Jesus incorporou essa glória em si mesmo, conforme ficou demonstrado nesta visão. Ele mesmo disse: “Porque se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito” (Jo 5.46). Porém, nesse acontecimento, Jesus não dependeu de qualquer documento escrito, como o Antigo Testamento, mas do próprio testemunho pessoal de Moisés.


2. Escatologia.
Além de Moisés, Elias também aparece na transfiguração representando os profetas. Mas, porque Elias? Porque Elias deu origem à sucessão profética, pois ele profetizou antes de todos os profetas que profetizaram acerca do Messias. E, um desses profetas havia profetizado que: “Vede, eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor. Ele converterá os corações dos pais aos filhos, e o coração dos filhos aos pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição” (Ml 4.5,6). Ora, sabemos que a escatologia trata dos acontecimentos dos últimos dias. E, todos os judeus aguardavam este grande acontecimento, principalmente, os escribas, fariseus e saduceus. Por isso, os discípulos indagaram ao Mestre dizendo: “Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?” (Mt 17.10). Então, Jesus responde: “Certamente Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem” (Mt 17.11,12). Só então, os discípulos compreendem que trata-se de João Batista. Mas, Jesus anteriormente já havia esclarecido a profecia de Malaquias quando disse: “E, se quiserdes dar crédito, ele (João) é o Elias que haveria de vir” (Mt 11.14). Porém, só agora eles compreenderam! Vejamos, então, algumas semelhanças de Elias e João Batista:

  ü  Elias fora um profeta do deserto (1 Rs 19.8), João também o foi (Mt 3.1);
   ü  Elias prega em um tempo de transição( 1 Rs 19.15,16), João prega na transição entre as duas alianças (Mt 3. 13-15);
   ü  Elias confrontou o rei Acabe (1 Rs 17.1,2; 2 Rs 1.1-4), João confrontou o rei Herodes (Mt 14.1-4);
   ü  Elias vestia-se com um vestido de pelos e um cinto de couro (2 Rs 1.8); João também (Mt 3.4).



III. ELIAS, O MESSIAS E A REJEIÇÃO
1. O Messias esperado.
A vinda do Messias ( hb. Ungido) era aguardado com muita esperança pelos judeus, assim como o arrebatamento o é para a igreja. As profecias diziam que ele viria da casa de Davi (Is 11.1-5; Jr 23.5; Mq 5.3), que nasceria de uma virgem (Is 7.14) e que libertaria seu povo do jugo do inimigo (Sl 110.6; Is 61.1-9). Assim, eles esperavam um redentor que os libertasse do jugo romano da mesma forma como Moisés libertou os filhos de Israel do Egito. Até porque, o próprio Moisés já havia profetizado sobre a vinda do Messias, dizendo: “O Senhor teu Deus te suscitará um profeta como eu, do meio de ti, de teus irmãos. A ele ouvirás” (Dt 18.15). 
No entanto, além de não perceberam o cumprimento da profecia de Malaquias 4.5,6, também não perceberam que Jesus era, de fato, o Messias prometido. O Messias veio, mas, eles com seus corações endurecidos pelo pecado e por sua religiosidade, não puderam vê o agir do Senhor. Jesus veio mais não como eles imaginavam ou queriam, fazendo sinais semelhantes os de Moisés contra os romanos, ele veio para nos libertar de um inimigo muito pior do que os romanos, e Mateus confirma este fato ao dizer: “Porque ele (Jesus) salvará o seu povo dos pecados deles”(Mt 1.21; At 4.12). Toda a injustiça tem sua origem no pecado (1 Jo2.29; 5.17), e Jesus veio libertar o homem das trevas para transportá-lo para seu reino de amor (Cl 1.13)!


2. O Messias rejeitado.
Embora fosse grande a expectativa dos judeus pela vinda do Messias, e de serem conhecedores das profecias acerca dele, eles não conseguiram nem mesmo reconhecer João Batista como o “Elias que haveria de vir” (Mt 11.14). João foi o precursor do Messias cumprido a profecia de Malaquias, mas este sinal não foi percebido por eles. É realmente algo de ficarmos estarrecidos! Então, como perceberiam e reconheceriam aquele que seria o Messias prometido? Realmente, eles não o reconheceram, pois em seu evangelho o evangelista João diz: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1.11). Jesus foi rejeitado por aqueles que muito almejavam a sua vinda, e cuja esperança de dias melhores haveriam de vir com a sua vinda. Que contradição! Aqueles que o aguardavam esperançosos foram os mesmos que o rejeitaram! Porém, não foram todos que o rejeitaram, pois o evangelista João também enfatiza: “Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo 1.12). O Messias sabia que passaria pelo caminho da rejeição, pois disse aos discípulos: “Assim, farão eles também padecer o Filho do homem” (Mt 17.12). Louvado seja o Senhor! Cristo não desistiu da cruz!! 



IV. ELIAS, O MESSIAS E A EXALTAÇÃO
1. Humilhação.
Na transfiguração, Moisés e Elias aparecem para falar com Cristo a respeito de sua humilhação, ou seja, de sua morte. Este fato é, como já mostramos, narrado somente pelo evangelista Lucas (Lc 9.31). Jesus era devidamente conhecedor dos fatos que lhe ocorreriam (Mt 17.12; Mc 10.45), porém, os discípulos não compreenderam o fato da aparição de Elias, por isso, indagaram: “Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?” (Mt 17.10). Ora, Jesus havia confirmado para os discípulos que João Batista era o “Elias que haveria de vir” (Mt 11.14).  Então, se João era o cumprimento da profecia, o que o profeta Elias estava fazendo ali? Neste momento, o Mestre começa a esclarecer aos seus discípulos que “Certamente Elias virá primeiro” e acrescenta dizendo: “Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem” (Mt 17.11,12). Jesus explicou-lhes que, da mesma forma que João fora humilhado até à morte, o mesmo aconteceria com ele. Anteriormente, Jesus já havia falado a eles do que lhes sucederia, mas, pelo que parece, eles não compreenderam (Mt 17.9).


2. Exaltação.
Embora Jesus fosse consciente dos acontecimentos que lhes sucederia, obviamente, ele também sabia que seria “ressuscitado dentre os mortos” (Mt 17.9). Sua exaltação também fora profetizada (Sl 16.10 cf Mt 28.9), por isso, cumprindo a palavra que havia dito de que “alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino” (Mt 16.28). Ele resolveu levar para aquele monte os discípulos que seriam os líderes da Igreja de Jerusalém, ou seja, a Igreja-Mãe  (Gl 2.9). Portanto, a transfiguração foi tanto a manifestação do reino tão almejado pelos judeus aos discípulos (Mt 17.2-4), como também foi um momento de consolo e conforto a Jesus pelo que enfrentaria (Lc 9.30,31; 22.43). Portanto, Pedro testifica deste glorioso episódio dizendo: “Não vos fizemos saber o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade. Pois ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é meu filho amado, em quem me comprazo” (2 Pe 1.16,17). Somente quem foi uma testemunha ocular da transfiguração pode falar com tanta autoridade da exaltação do Senhor! Bendito para todo o sempre seja o nome de Jesus!!



CONCLUSÃO
Concluímos esta aula, enfatizando que a transfiguração revelou tanto para os discípulos quanto para nós, a glória do reino de Deus que nos aguarda. O evangelista João que foi uma das testemunhas da transfiguração, diz: “quando ele (Jesus) se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como ele é, o veremos” (1 Jo 3.2). Assim, Moisés e Elias, que simbolicamente, representavam a Lei e os Profetas ali estavam atestando esta verdade. João Batista, assim como Moisés e Elias, cumpriu o proposito divino em sua vida (Mt 3. 13-17). O próprio Senhor Jesus também cumpriu o seu, e explicando novamente tal propósito aos discípulos diz: “que era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44).  Era necessário passar pela cruz! Sem cruz não há glória! Por isso, João acrescenta: “E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 Jo 3.3). Que Deus abençoe a todos!



Referências:

Ø  ANDRADE, Claudionor Corrêa. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø  CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. MILENIUM.
Ø  GONÇALVES, José. Lições Bíblicas. (1º Trimestre/2013). CPAD.
Ø  SOARES, Esequias. Lições Bíblicas. (3º Trimestre/1994) CPAD.
Ø  THOMPSOM, Bíblia de Referência. VIDA.
Ø  www.dicio.com.br



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