sábado, 27 de julho de 2013

LIÇÃO 04 - JESUS, O MODELO IDEAL DE HUMILDADE


Fp 2.5-11



INTRODUÇÃO
Na lição passada, abordamos o problema do individualismo e do sectarismo vivenciado pela igreja de Filipos, o comportamento digno do evangelho requerido deles por Paulo e o cuidado que deveriam ter com a unidade da igreja. Na aula de hoje, estudaremos um assunto bem teológico chamado Cristologia. Abordaremos o mistério da união das naturezas divina e humana de Jesus, bem como de sua exaltação, tudo isto sob a temática da sua grandíssima humildade. Boa aula para todos!!


I. O FILHO DIVINO: O ESTADO ETERNO DA PRÉ-ENCARNAÇÃO (2.5,6)
Agora, Paulo, dando sequencia a temática da unidade (estudado na lição anterior) apela para o grande exemplo de humildade deixado por Cristo, quando diz: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fp 2.5). Que sentimento era esse? De acordo com o contexto do texto citado, esse sentimento era a humildade. Mas, que é humildade? Segundo Aurélio, a humildade é a “virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza”. Já o dicionário Online diz que é a “ausência completa de orgulho. Rebaixamento voluntário por um sentimento de fraqueza ou respeito”. E, para Paulo, era esse o sentimento que levaria os irmãos a cuidar e preservar a unidade da Igreja. 
De fato, a ausência desse tão sublime sentimento, tem servido para prejudicar o ajustamento e desenvolvimento do Corpo de Cristo. Todavia, a encarnação do Verbo de Deus não é um mero conceito teológico; é um dos maiores mistérios das Sagradas Escrituras, sem a qual seria impossível a nossa redenção. O Apóstolo João, em seu evangelho, é enfático ao afirmar que: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Mais adiante, no versículo 14, João assevera: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Em sua encarnação, o Cristo tornou-se em tudo semelhante a nós, exceto quanto à natureza pecaminosa e ao pecado (Hb 4.15; 1 Pe 2.22; 1 Jo 3.5). Por isso, Paulo assevera aos Filipenses: “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6). O que é forma? Deus, que é Espírito (Jo 4.24), tem forma? Que significa a expressão “forma” nesta frase? Segundo F. Davidson: “Cada ser tem sua própria forma. Forma é a expressão permanente da existência. Assim temos a forma de Deus, a forma de um anjo, a forma de homem, a forma dos animais; todas essas formas são qualidades inalienáveis ao ser ou existência. A figura, no entanto, é transitória. Em outras palavras: a figura ou aspecto podem mudar, mas forma permanece. Desse modo a aparência deste mundo (schema) passa, não porém sua forma (morphe), (1 Co 7.31). Satanás pode transfigurar-se num anjo de luz, mas não pode transformar-se em tal (cfr. 2 Co 11.14). Assim nosso Senhor existiu primeiramente na forma de Deus, uma forte afirmação de Sua deidade essencial e na encarnação e aniquilamento de Si mesmo Ele adotou a forma de servo, o que resultou em se tornar homem, tornando-se seu Ser na semelhança de homem”. Assim, ao afirmar Paulo, que (Jesus) “sendo em forma de Deus”, que no grego significa “sendo originalmente Deus”, revela não somente a pré-existência de Cristo, mas Sua existência como Deus era uma divina maneira do ser. Ele era em tudo, como assevera o Apóstolo: “igual a Deus” (Fp 2.6). O Próprio Mestre Jesus afirmou essa verdade em Mt 4.7; Jo 5.17,18; 10.30; 14.9. Além destas citações, existem obras que revelam a deidade de Cristo, como por exemplo, o fato em que Jesus perdoou os pecados do paralitico de Cafarnaum (Lc 5.21,24); por diversas vezes recebeu adoração (Mt 8.2; 9.18; Jo 9.38); e foi o único a ressuscitar a si mesmo (Jo 2.18-21). E, olha que, nem mencionamos seus atributos divinos, tais como onipresença, onipotência, onisciência, eternidade entre outros (Mt 18.20; 28.18; Jo 21.17; Hb 13.8). Esta é uma verdade combatida através dos séculos, desde a existência da igreja, porquanto, muitos hereges como:

   Ø  Os arianos e os ebionitas – negavam a integridade e a perfeição da natureza divina de Cristo;
   Ø  Os gnósticos – negavam a realidade do corpo de Cristo, pois consideravam a matéria má;
   Ø  Os nestorianos – negavam a união verdadeira entre as naturezas de Cristo;
   Ø  O apolinarismo – negava que Jesus tivesse espírito humano;
   Ø  O monofisismo – afirmava haver, em Jesus, apenas uma única natureza: só a divina ou divina e humana mesclada.  

É interessante, agora, explicar as seguintes expressões: “Filho de Deus”, “primogênito” e “unigênito”. Comecemos, então, com a expressão “Filho de Deus”. Este termo que no original é “Huius tou Theou”, indica claramente a natureza divina de Jesus. Sua procedência revela que ele compartilha da mesma essência e natureza do Pai. O Mestre mesmo o disse: “Saí e vim do Pai ao mundo” (Jo 16.28). Os Judeus compreendiam o significado deste termo, por isso, queriam matar Jesus (Jo 5.18). É bom diferenciar o termo singular “Filho de Deus” do termo no plural “Filhos de Deus”. O termo no singular aplica-se apenas a Jesus por ser o único que possui a mesma natureza e essência do Pai (Jo 10.30), enquanto que, o termo no plural, aplica-se aos anjos e homens (Gn 6.2 e Jó 1.6). Ambos por trazerem as impressões dos atributos morais do Criador (amor, bondade, justiça, etc.), mas, nos evangelhos, somente os homens que receberem a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas. Pois, estes, recebem a benção da adoção (Jo 1.12), que significa participar da natureza de Deus como seus filhos (1 Pe 1.4). Portanto, é uma heresia e blasfêmia afirmar que Jesus é o Filho de Deus, mas não é Deus.

Quanto ao termo “Unigênito”, este aparece cinco vezes nos escritos de João, todas relacionadas a Jesus (Jo 1.14,18; 3.16,18; 1 Jo 4.9). No grego, este termo é “monogenes” e significa “único de seu tipo”. Jesus é o “unigênito do Pai”, ou seja, é o único que possui a mesma natureza e essência do Pai. Para o autor da epístola de Hebreus, Jesus é “a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Jesus é a expressa imagem do Pai. Logo, afirmar que unigênito significa único gerado, é forçar o texto dizer o que ele não diz. Portanto, Jesus preexiste eternamente (Is 9.6; Hb 13.6), pois já era chamado de Filho unigênito mesmo antes da sua encarnação, como diz 1 João 4.9: “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos”. 

Já o termo “primogênito”, que no grego é “protótokos” e significa “primeiro em categoria”, além do sentido natural e humano de “filho mais velho”, abrange também o significado de primazia, preeminência, supremacia, predomínio, autoridade total. Apesar de Davi ser “o filho mais novo de Jessé” (1 Sm 16.11), foi chamado de “primogênito” (Sl 89.20,27). O mesmo aconteceu com Efraim. Era este o filho mais novo de José (Gn 48.18,19), mas fora apresentado como primogênito (Jr 31.9). Portanto, Cristo como “primogênito” tem a ver com posição (protótokos), e não com criação (protoktistos).


II. O FILHO DO HOMEM: O ESTADO TEMPORAL DE CRISTO (2.7,8)
Da mesma forma que o termo “Filho de Deus” aplicado a Jesus revela a sua natureza e essência divina; igualmente, o termo “Filho do Homem”, que no original é “Huios tou Antropou”, revela e identifica Jesus com a humanidade, isto é, revela sua natureza humana (Mt 8.20; 16.13; 9.22). Logo, ao enfatizar o esvaziamento de Cristo, diz o texto: “Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2.7). Esta versão, que com certeza é a ARC (Almeida Revista e Corrigida), não esclarece muito o que o texto original quer dizer, pois no grego o termo é “ekenosen” e significa “esvaziamento”. Assim, a versão que melhor expressa o texto original é a ECA (Edição Contemporânea de Almeida), pois ela diz: “Mas a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. Logo, surgirá a seguinte pergunta: Em que consistiu o auto-esvaziamento de Cristo? Certamente não esvaziara-se Ele de sua divindade; porquanto, em todo o seu ministério terreno, manteve-a incólume. Aliás, foi Ele, em seu estado de humilhação, reconhecido como Deus (Jo 1.49; 20.28). Consideremos, ainda, a sua oração sacerdotal no Getsêmane. Ele não reivindica ao Pai a sua divindade, porquanto esta lhe é um atributo intrínseco; reivindica, sim, aquela imarcescível e eterna glória (Jo 17.5). Além disso, os Evangelhos revelam que Jesus possuía atributos próprios do ser humano. Embora gerado pelo Espírito Santo, Jesus nascera de uma mulher (Mt 1.18,20; Lc 1.35) e teve irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13.55,56). Sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 21.18; Mc 4.38; Jo 4.6; 19.28). Sofreu, chorou, angustiou-se (Mt 26.37; Lc 19.41; Hb 13.12) e, por fim, passou pela agonia da morte (Lc 24.34,46). 
No versículo 8, Paulo enfatiza a humilhação padecida por Cristo: “e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz”. Paulo faz questão de mostrar que, a morte de Cristo não foi uma morte comum, mas uma das mortes mais cruéis da antiguidade. Por isso, é importante ressaltar que, Jesus não morreu na cruz como um mártir; Ele morreu vicariamente como único e suficiente Salvador da Humanidade (1 Co 15.3). O Profeta Messiânico, em seu livro, é o que melhor retrata toda humilhação sofrida por Cristo (Is 53). Já o autor da carta aos Hebreus, enfatizando à humanidade de Jesus, diz: “Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15). Portanto, Jesus não trocou a natureza divina pela humana. Mas, voluntariamente, renunciou a sua glória para assumir a nossa humanidade (Jo 10.17,18).


III. A EXALTAÇÃO DE CRISTO (2.9-11)
Depois de toda humilhação padecida por Cristo, inclusive de sofrer uma morte extremamente humilhante, como enfatizou o Apóstolo: “morte de cruz”. Paulo, agora, mostra o resultado de toda humilhação de Cristo: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente”. O termo “exaltação” significa “ação de elevar a um grau de mérito mais alto”. Em sua exaltação, Cristo reouve a glória que, desde a mais remota eternidade, desfrutava ao lado do Pai. Agora, Cristo esta à destra do Pai, cuja posição é exclusiva Dele (Mc 16.19; At 2.33; 7.56; Hb 10.12). Mas, Paulo ainda diz: “e lhe deu um nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra”. Mas, que nome é esse? Deus é o único que conhece o fim ante mesmo do começo de tudo (Is 46.10), por isso, logo na encarnação do Verbo de Deus, o Pai lhe deu o nome de SENHOR (Lc 2.11). O termo ‘Senhor’ representa o vocábulo grego ‘Kyrios’. Para as nações do Oriente Próximo e do Oriente Médio antigos, ‘Senhor’ atribuía grande reverência quando aplicado aos governantes. As nações ao redor de Israel usavam o termo para indicar seus reis e deuses, pois a maioria dos reis pagãos afirmavam-se deuses. Este termo, pois, representava adoração e obediência. Assim, em sua exaltação, Cristo recebeu as nações como herança (Sl 2). Ei-lo como o Reis dos reis e Senhor dos senhores. Toda a autoridade lhe pertence quer no céu, quer na terra (Mt 28.18). Por esta razão, Paulo (que compreendida muito bem o referido assunto) é bastante categórico: “e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.    


CONCLUSÃO
Jesus nos deixou um grandíssimo exemplo de humildade. Não fosse sua humildade de esvaziar-se e revestir-se num corpo humano, que fim triste teríamos nós! Por outro lado, é impossível tentar negar, de forma alguma, as naturezas divina e humana de Jesus. As Escrituras Sagradas afirmam, categoricamente, que Ele é pleno Deus e pleno Homem. Ainda que alguns insistam em tentar contradizer as Escrituras, eles não poderão combater tal verdade, pois, um dia, toda língua confessará que Jesus é Deus! Seja em vida ou seja em morte, todos, sem exceções, reconhecerão o Senhorio de Cristo (Fp 2.10,10). Porquanto, está escrito: “Pois para isto Cristo morreu e tornou a viver, para ser Senhor (Kyrios) tanto dos mortos como dos vivos” (Rm 14.9). Se não o fizerem hoje, o farão depois da morte! Que Deus Abençoe a todos!




REFERÊNCIAS
DAVISON, Francis. O novo comentário da Bíblia. Vida Nova.
ANDRADE, Claudionor Corrêa. Dicionário Teológico. CPAD.
MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Biblicas. CPAD.
CABRAL, Elienai. Lições Biblicas. (1º trimestre/ 2001) CPAD.
ANDRADE, Claudionor Corrêa. Lições Biblicas ( trimestre/ 2006) CPAD.
Ø  SOARES, Esequias. Lições Biblicas (1º trimestre/ 2008) CPAD.


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