Fp 2.12-18
INTRODUÇÃO
Na lição passada, tratamos de um assunto bem
teológico chamado Cristologia. Estudamos sobre o mistério da união das
naturezas de Cristo: a humana e a divina. Também abordamos sua exaltação sob a
temática da sua grandíssima
humildade. Na aula de hoje, estudaremos também como na lição passada, um tema também
teológico que é a Soteriologia. Falaremos sobre justificação, santificação e
glorificação, além de abordarmos a postura de um salvo e as virtudes de uma
nova criatura. Boa aula para todos!!
I.
A DINÂMICA DA SALVAÇÃO (2.12,13)
Antes de prosseguirmos em nosso estudo, quero
enfatizar que não temos a pretensão de catalogar um assunto tão profundo que é
o mistério da salvação. Por isso, a palavra “dinâmica”, que segundo a psicologia social, é o conjunto de leis do comportamento
do grupo do ponto de vista dos objetivos reais e específicos desse grupo, é aqui
relacionada à salvação apenas para fins didáticos; porquanto, o Pai concebeu o
plano salvífico (Jo 3.16; Ef 3.9,11; Cl 1.26; 1 Pe 1.20), o Filho encarnou-se e
consumou o plano salvífico (Mt 1.21; Jo 1.14; 19.30) e o Espírito Santo oferece
e aplica este plano redentor na vida dos pecadores (Jo 16.8-11). Visto que nem o
homem, nem ninguém poderiam exigir de Deus esta grande salvação, pois ela é
fruto da graça e misericórdia do Senhor (Lm 3.22; Jo 1.18; 3.16; At 17.30; Ef
2.8,9; Tt 2.11). No entanto, mesmo pela graça, esta salvação só pode ser
alcançada por meio da fé em Cristo (Mc 16.15,16; Rm 10.9-13; Gl 2.15,16; Ef
2.8,9). A salvação é, sem dúvida nenhuma, a maior dádiva outorgada por Deus à
humanidade (Jo 3.16; Ef 2.5-8). O termo “salvação”
vem do grego “soteria”, e
significa “libertação de um perigo iminente”.
Paulo que utilizou o grandioso exemplo da humildade
de Cristo para tratar do assunto da ‘unidade’ dos irmãos, reutiliza o mesmo
exemplo para abordar outro assunto: o desenvolvimento da salvação dos crentes
de Filipos. Assim, Paulo exorta aos filipenses: “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só
na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai
a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2.12). A primeira coisa que
observamos neste versículo é a ênfase de Paulo sobre a obediência dos irmãos de
Filipos: “como sempre obedecestes”.
A igreja de Filipos era uma igreja de muitas virtudes (virtude - disposição
constante de praticar o bem e evitar o mal), prova disto é que Paulo
já havia mencionado o amor e a generosidade dos irmãos filipenses (Fp 19,16; 4.15,16),
e agora menciona sua obediência. O Apóstolo desejava que eles utilizassem esta
obediência no desenvolvimento da salvação deles, por isso disse: “assim também operai a vossa salvação”.
Paulo sabia que, embora a salvação fosse algo de origem divina, o homem não
está passivo ante a sua salvação (Mt 24.13; Jo 3.16-18; Hb 2.3; 1 Jo 1.9). O
Apóstolo Pedro, tendo o mesmo entendimento de Paulo, disse: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez
mais firme a vossa vocação e eleição. Pois fazendo isto, nunca jamais
tropeçareis” (2 Pe 1.10). O Apóstolo Pedro está ratificando a palavra
de Paulo afirmando que, o processo de salvação é tanto responsabilidade humana,
como ação divina. Portanto, dentro deste processo que abrange cinco aspectos,
destacaremos apenas três: Justificação, Santificação e Glorificação. Vejamos:
Justificação – esta
palavra é oriunda do hebraico tsadik
e do grego dikaios. E
significa “ato de declarar justo”.
Processo judicial que se dá junto ao Tribunal de Deus, através do qual o
pecador que aceita a Cristo é declarado justo (Rm 5.1). Ou seja: passa a ser
visto por Deus como se jamais tivera cometido qualquer pecado (Rm 5.1).
Santificação – esta
palavra é oriunda do hebraico qõdesh
e do grego hagiazõ. E
significa “separação do mal e do pecado,
e dedicação para o serviço de Deus”. É a forma pela qual o filho de Deus aperfeiçoa-se
à semelhança do Pai Celeste (Lv 11.44). A santificação só é possível através da
Palavra de Deus e mediante o sangue de Cristo (Jo 17.17; 1 Jo 1.7).
Glorificação - esta
palavra é oriunda do grego doxologia.
E significa “louvor; elogio”. No
Plano de Salvação, a glorificação é a etapa final a ser atingida por aquele que
recebe a Cristo como Salvador e Senhor de sua vida (Rm 8.17). Portanto, para
chegarmos até esta etapa ou fase do plano salvífico, é imprescindível
atentarmos para o que diz o autor da Carta aos Hebreus: “Segui a paz com todos, e a
santificação; sem a santificação ninguém verá o Senhor” (Hb
12.14). Infielmente, esta é uma da Doutrinas Biblicas mais negligenciadas de
nossos dias!
No verso 13, diz o Apóstolo Paulo: “Porque
Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa
vontade”. Muitos utilizam esta referência para afirmar que a salvação é
seletiva; porém, não é isto que Paulo está dizendo, pois ao escrever para seu filho
na fé, disse: “o qual deseja que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem, o qual se deu
a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo”
(1 Tm 2.4-6). O Apóstolo João ratifica Paulo ao dizer: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo mundo” (1
Jo 2.2). Mas, deixemos o Dr. F. Davison, explicar este versículo: “A base da admoestação está
inspiradamente afirmada na frase Porque
Deus é o que opera em vós (13),
isto é, "habilita-vos". A
ênfase, portanto, recai sobre a palavra Deus. No grego ela vem colocada em primeiro
lugar. Não é Paulo quem é dinâmico, nem qualquer ideal elevado deles mesmos,
que podem operar e completar a salvação. É Deus apenas. A graça divina interior
procede para com ambas a vontade e a ação, de modo semelhante. Deste modo,
tanto o querer como o efetuar são operações da graça divina, produzidas pela boa vontade de Deus (13). O apóstolo emprega o
mesmo vocábulo grego eudokia, em Fp 1.15, para
descrever a atitude de outros para com ele mesmo.
Aqui ele o emprega, como em Ef 1.5,9; 2Ts 1.11, para significar o beneplácito
da vontade de Deus. O propósito da exortação aos
filipenses para que operem sua própria salvação é no sentido de que vos torneis irrepreensíveis e sinceros
filhos de Deus inculpáveis (15).
Este deve ser o desígnio deles e o alvo da Providência divina. A vida dos
filipenses na sociedade dos santos deve ser unificante, trazendo unidos cada
indivíduo, família ou grupo, e não dispersiva, devido às ofensas”. Portanto,
é Deus quem nos concede a salvação e deseja que todos receba-a, porém, não nos
força a aceitá-la. Pois Ele, diz as Escrituras: “Pois para Deus não há acepção de
pessoas” (Rm 2.11). Quem disse isto foi Paulo! E Pedro confirmou em Atos
10.34!
II.
OPERANDO A SALVAÇÃO COM TEMOR E TREMOR (2.12-16)
Depois de exortar aos irmãos de Filipos a “operai a vossa salvação”, Paulo
assevera a eles que o façam com “temor
e tremor”. E acrescenta: “Fazei
todas as coisas sem murmurações nem contendas” (Fp 2.14). Observemos
que o problema da falta de unidade da igreja de Filipos (de alguns membros), por causa do sectarismo e do individualismo era
grave (como vimos na lição 03). Por
isso, Paulo adverte a esses irmãos a evitarem a murmuração e a contenda. O
termo “murmuração” vem do
grego “goggusmos” e significa “queixume, desprazer, sussurros de descontentamento”. Paulo
era ciente do mal que a murmuração significava para comunhão da igreja, pois
além de causar descontentamento e desajustes, ela geralmente culminava em
rebelião contra a liderança da igreja. Por essa razão, Paulo condena tal
prática exortando aos irmãos que sejam “irrepreensíveis
e sinceros”, que tenham um comportamento de “filhos de Deus”. De forma que o testemunho de vida deles possa
resplandecer como “astros no mundo”
(Mt 5.16). Assim, Paulo reprova aqueles que estavam portando-se como os da sua época
(geração), a quem Paulo denomina de “corrompida
e incrédula”. Portanto, como salvos em Cristo, devemos ter uma postura
completamente diferente da do mundo (Rm 12.2; Ef 5.7-12; Tg 4.4; 1 Jo 2.17). O
comportamento requerido por Paulo deles é esse: “retendo a Palavra”. Isto é, vivendo os ensinamentos de Cristo
por Paulo ministrado a igreja. Nas palavras do Apóstolo Tiago: “E sede cumpridores da Palavra, e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22). É nosso dever, como
filhos de Deus, como enfatiza Paulo, aprendermos a vivermos em união, a perdoarmos
aos nossos ofensores, a amarmos aos que nos odeiam, a respeitarmo-nos uns aos
outros (Sl 133; Mt 5.43-48; Lc 6.27,28; Mc 11.25,26; 2 Co 13.11). Essa é forma em
que Paulo deseja ver desenvolvida a salvação daqueles irmãos, para que não
aconteça o que eles mais se receia: “não
ter corrido nem trabalhado em vão”. Viver a Palavra é nosso dever de
filhos (as)!
III.
A SALVAÇÃO OPERA O CONTENTAMENTO (2.17,18)
Agora, Paulo assevera aos irmãos de Filipos: “E, ainda que seja oferecido por libação
sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vos”.
Paulo faz notória aquela igreja, lembrando-a, tudo que ele padeceu por ela (At
16). De forma que, todo sofrimento que Paulo padeceu para que existisse a igreja
de Filipos, lhe traz um forte sentimento de contentamento. Mas, que é contentamento?
Segundo Aurélio, o contentamento é um sentimento de prazer; de alegria. Por isso,
se for preciso, Paulo diz que: “ainda
que seja oferecido por libação”. A libação era o derramamento de vinho,
sangue ou um licor em honra de qualquer nome ou divindade (Êx 25.29; 29.40). Logo,
Paulo estava dizendo que estava pronto para derramar a sua vida em prol do “sacrifício e serviço da vossa fé”, e
que o fará com muito prazer, com muita alegria: “folgo e me regozijo com todos vos”. Vemos neste gesto do
Apóstolo, que ele de fato estava imitando a Cristo (Fp 2.17 cf Ef 5.25-17), e
demonstrando o quanto amava aquela igreja. Assim, Paulo preocupa-se em que sua
disposição motivada por seu contentamento, gere nos irmãos filipenses algum
tipo de tristeza. Por isso, estimula e, ao mesmo tempo, convida-os a que este
ato de Paulo seja também motivo de alegria para a igreja de Filipos. Diz o
Apóstolo: “E vos também regozijai-vos e
alegrai-vos comigo por isto mesmo”. Sua morte, se ocorresse, deveria
ser motivo de alegria para os filipenses. Tal contentamento de Paulo é tão
contagiante que nos leva a refletir nossas ações! Estamos desenvolvendo a nossa
salvação? Como anda o nosso contentamento? Estamos motivados por tal
contentamento, a ponto de padecermos em prol do Reino de Deus? Se a resposta
não for positiva, então, está na hora de orarmos como o salmista: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e
sustém-me com um espírito voluntário” (Sl 51.12). A alegria é a segunda
virtude das nove que formam o fruto do Espírito, que cultivemos essas virtudes
em nossas vidas (Gl 5.22,23), pois elas revelam que tipo de árvore nós somos!
Amém!
CONCLUSÃO
Diante do exposto, só nos resta aplicar em nossas
vidas as muitas lições aprendidas nesta aula. Que não descuidemos da nossa
salvação, mas antes, que sigamos a exortação de Paulo e desenvolvamos a mesma exercitando
as virtudes dela advindas. O fruto do Espírito é a marca daquele que, de fato,
é nova criatura. Por isso, cultivemos esse fruto através do estudo e meditação da
Palavra de Deus, da oração, da comunhão, etc. As murmurações e contendas em
nosso meio na atualidade são provas de que não estamos retendo a Palavra. Sem a
Palavra em nossas vidas, não há como haver virtudes cristãs em nossas vidas! Reflita!
E que Deus em Cristo abençoe a todos!!
REFERENCIAS
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.
CPAD.
ANDRADE, Claudionor Corrêa. Lições Biblicas (4º trimestre/ 2006) CPAD.
DAVISON,
Francis. O novo comentário da Bíblia. VIDA NOVA.
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