Fp 3.1-10
INTRODUÇÃO
Na aula passada, estudamos sobre a fidelidade que devem ter os
obreiros do Senhor para com a obra que a eles foi confiada. Tratamos do valor
da fidelidade a nível eclesiástico através dos exemplos de dois nobres
obreiros, Timóteo e Epafrodito, além do de Paulo. Hoje, nesta lição,
abordaremos a que tipo de alegria, os irmãos filipenses, deveriam buscar; também
veremos os significados das expressões: “cães”, “maus obreiros” e “circuncisão”.
Além de definirmos o que é a circuncisão, bem como mostrarmos a diferença entre
a falsa e a verdadeira circuncisão. Boa aula para todos!!
I. A EXORTAÇÃO PAULINA: “REGOZIJAI-VOS
NO SENHOR”.
Parece
que, ao iniciar o capítulo três da epístola aos filipenses, Paulo estava, na
verdade, concluindo a mesma. Porquanto, diz o Apóstolo: “Quanto ao mais, irmãos meus, regozijai-vos
no Senhor”. Segundo as principais versões da Bíblia em português, os
termos aqui serão: “resta”, “quanto ao mais” ou “finalmente”. Este último termo é o mais fiel ao texto original,
pois aparece no texto grego “to loipon” que significa “finalmente”.
Por isso, sugere que Paulo estivesse em conclusão de sua carta. A esse
respeito, comenta o Dr. F. Davison: “O
apóstolo tinha terminado de ditar Finalmente, meus irmãos, regozijai-vos no Senhor (1), quando alguma coisa aconteceu que
fez voltar o curso de seus pensamentos felizes à corrente menos
congratulatória. O que aconteceu, porém, não pode ser afirmado definitivamente.
Pode ter ocorrido algo que impediu Paulo de continuar a escrever e, antes que
voltasse novamente à redação da epístola, um grave relatório chegasse às suas
mãos. Provavelmente alguma notícia de desordens em Filipos, juntamente com
outras de agitações fomentadas contra ele próprio em Roma. Seja o que for, a
verdade é que Paulo começa a falar rápida e veementemente, em indiscutível
admoestação contra três classes de falsos mestres”. Todavia, outro fato que nos
chama atenção, é a exortação paulina: “regozijai-vos no Senhor”. Com
certeza, não se trata de uma alegria meramente humana. Pois, em gálatas 5.22, a
palavra alegria (ou gozo) é tradução da palavra original chara.
O termo charis, traduzido em português por graça, vem da mesma raiz.
O termo bíblico chara não significa alegria proveniente das coisas terrenas,
mas, do exemplar relacionamento com Deus. É mais que felicidade momentânea. A
alegria, como fruto do Espírito, é uma qualidade de pleno prazer, e independe
das circunstâncias, ou seja, é constante em qualquer situação, quer boa, quer
crítica, porquanto está fundamentada em Deus. Logo, esta alegria é fruto da
graça de Deus e da habitação do Espírito Santo na vida do crente, sendo,
portanto, uma alegria espiritual. Lembra-se de Paulo e Silas na prisão de
Filipos (At 16)? O que os motivava a adorar próximo à meia-noite depois de
serem açoitados? O fruto da alegria!
Paulo
ao escrever “A Carta da Alegria”, por duas vezes, afirmou ter aprendido a
viver em qualquer situação (Fp 4.11,12). Naquele momento, ele estava na prisão
esperando seu julgamento. Qual era a fonte de sua satisfação? Como poderia
estar contente diante da falta de liberdade? Era o Espírito Santo que produzia
em Paulo o fruto da alegria. Seu prazer estava fundamentado em Cristo, e não
nas circunstâncias ou no bem-estar físico. Aliás, a alegria é o tema da
referida carta (Fp 1.4,18; 2.2,17; 3.1; 4.1,4,10).
A alegria, como fruto do Espírito, é uma virtude infinitamente melhor
que a felicidade oferecida pelo mundo, é o que o Apóstolo Pedro chamou de “gozo
inefável e glorioso” (1 Pe 1.8); está à parte de todos os níveis de
contentamento puramente humanos. É resultado da fé em Deus (Rm 15.13). Lamentavelmente,
muitos crentes não encontram motivos para se alegrarem porque possuem um
conceito distorcido da alegria espiritual. Porém, a Bíblia é enfática: “Não
vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a nossa força” (Ne 8.10).
No entanto, tal fato ocorre porque não conseguem compreender a relação entre o
sofrimento e a alegria. Há forte vínculo entre esses dois estados. Segundo as
Bem-Aventuranças de Jesus, haverá o dia em que Deus recompensará os que, por
amá-lo, suportaram as injustiças do mundo (Mt 5.3-11). Muitas passagens
bíblicas associam sofrimento à alegria (1 Ts 1.6; Hb 10.34; Tg 1.2; 5.11; 1 Pe
4.13). Note que, nelas, a alegria está relacionada à esperança de cristão, a
qual está baseada em sua futura glória no céu – o prêmio para os que vencerem
as provas e tentações desta vida. Portanto, a alegria cristã não é uma emoção
artificial, mas fruto da graça e da ação do Espírito na vida do crente.
II. A TRIPLICE ADVERTENCIA PAULINA.
Como disse o Dr. F. Davison, Paulo
começa a falar rápida e veementemente, em indiscutível admoestação contra três
classes de falsos mestres. O texto diz: “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus
obreiros, guardai-vos da circuncisão!” (v.2). Para o Dr.Davison estas três
classes de falsos mestres são: Os Judaizantes (Fp 3.2-11); Os Perfeicionistas (Fp
3.12-16) e Os Antinomistas (Fp 3.17-21). No entanto, veremos o que quer dizer
Paulo com os termos acima:
Cães – Embora
útil para guardar a casa (Is 56.10) e para guarda o rebanho (Jó 30.1), era um dos
animais que mais desagradava ao povo, pois, em geral, uivavam, comendo
cadáveres e lixo nas ruas (Sl 59.6; 1 Rs 14.11; 21.19,23), além de atacarem os
viajantes (Sl 22.16, 20). Comparar uma pessoa a um cão era grande insulto (1 Sm
17.43; 24.14; 2 Sm 9.8; 2 Rs 8.13). Logo, é símile dos que são incapazes de
apreciar o que é santo e elevado (Mt 7.6); dos que introduzem falsas doutrinas
(Fp 3.2; 2 Pe 2.22).
Maus obreiros – Segundo
Orlando Boyer, obreiro é aquele que coopera no desenvolvimento de uma empresa
ou de uma ideia. Então, o que classifica aqui o obreiro, quanto ao tipo de
obreiro é o adjetivo “mau”, que significa “nocivo;
perverso; e individuo de má índole”. Estes maus obreiros ensinavam que
os cristãos gentios deveriam, além da fé em Jesus, observarem a circuncisão,
darem esmola, guardarem o sábado, observarem o kash’ rut – leis dietéticas dos judeus, etc. Porém, o concílio de
Jerusalém (At 15), já havia determinado o que os cristãos gentios deveriam guardar,
além da fé em Jesus, eles deveriam apenas abster-se das coisas sacrificadas aos
ídolos, do sangue, da carne sufocada e da prostituição (At 15.29). Este foi o
primeiro, de muitos concílios que surgiram depois deste, para combater as
falsas doutrinas destes maus obreiros. O concilio era, portanto, uma reunião em
que se trata de assuntos dogmáticos, doutrinários ou disciplinares. O termo “concílio”
vem do latim “concilium” e significa “conselho, assembleia”.
Circuncisão – Este
era um rito religioso com caráter moral e espiritual, e apesar de ser praticada
também por outros grupamentos humanos, como os árabes, por exemplo, entre os
israelitas adquiriu ela um significado todo especial. Através da circuncisão, o
individuo habilitava-se a fazer parte do povo eleito. Era o sinal da aliança
entre Deus e Israel (Gn 17.10-14; At 7.8). Assim, os “cães” e “maus obreiros”
como chamou Paulo aos judaizantes, não apenas ensinavam como também obrigavam
os cristãos gentios a praticarem tal rito como regra indispensável à salvação.
Por isso, o Apóstolo foi contundente: “guardai-vos da circuncisão!”. Vale
ressaltar ainda que, embora a circuncisão fosse uma cirurgia limpa e planejada,
os judaizantes a realizavam de forma a rasgar, ferir e mutilar os fracos
neófitos.
III. A VERDADEIRA CIRCUNCISÃO
No
versículo três, Paulo refuta a heresia ensinada pelos judaizantes, dizendo: “Porque
a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em
Jesus Cristo, e não confiamos na carne”. Já sabemos que a circuncisão é
um rito religioso, e que consistia em cortar o prepúcio dos neófitos (Gn 17.12;
12.23; Êx 4.25; Js 5.3; Lc 1.58-61; Jo 7.22,23). Paulo mostra que a circuncisão
do cristão não é exterior “a circuncisão somos nós”, e que,
portanto, é espiritual “servimos a Deus no Espírito”,
mostrando assim, que o cristão não necessita de nenhuma marca física para
provar que pertence a Deus. Pelo contrário, o verdadeiro cristão não se gloria
na circuncisão, como faziam os judaizantes, mas “nos gloriamos em Jesus Cristo”,
ou seja, a graça de Deus é o verdadeiro motivo de nos gloriamos, pois dela
advém nossa tão grande salvação (Jo 1.17; Ef 2.8,9; Tt 2.11). Por isso, Paulo é
contundente em afirmar que “não confiamos na carne”. Paulo está
dizendo que tal rito é vão quanto à redenção do homem, pois foi o que ele disse
aos judaizantes da região da Galácia: “Em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a
incircuncisão tem valor algum, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl
6.15). Todavia, o que nos chama mais atenção ao texto de Fp 3.3, é termo grego
usado por Paulo para a expressão “carne”.
Ao invés de Paulo ter usado o termo grego “soma”
em sua abordagem sobre a circuncisão (por
trata-se de um sinal no corpo), ele utiliza o termo “sarx” que identifica a
velha natureza herdada de Adão, conhecida como natureza pecaminosa (Rm 5.12;
7.15-17; 8.7,8; Gl 5.16,17). Este ato de Paulo, em substituir um termo grego
por outro, reforça seu discurso em mostrar a ineficácia da circuncisão.
Portanto, a verdadeira circuncisão é operada pelo Espírito Santo, no coração do
arrependido, mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 2.25-29; 1 Co 7.19; Gl 5.16; Cl
2.11). Quanto aos versículos 4 - 11, encontramos uma síntese biográfica de
Paulo, na qual declara que ele tem todos os privilégios raciais dos judaizantes
e ainda mais que eles. Revela como ele mesmo podia orgulhar-se em termos de
lei.
CONCLUSÃO
Na
presente lição, aprendemos que para cumprirmos a exortação do Apóstolo “regozijai-vos no Senhor”,
é necessário termos e mantermos uma vida de profunda comunhão com Deus, para
que o Espírito Santo venha produzir em nossas vidas esta alegria que é fruto de
sua graça (Gl 5.22). Aprendemos, também, sobre o valor da verdadeira
circuncisão, que é uma ação do Espírito na vida do cristão. E, que é o nosso
coração que deve está circuncidado! Por
isso, mais importante do que qualquer ritualismo, é ser uma nova criatura em
Cristo Jesus e observar os mandamentos de Deus. Todavia, não podemos está
desatentos quanto aos maus obreiros! Tenha bastante cuidado! Ouça a advertência
do Apóstolo: “Guardai-vos dos cães... dos maus obreiros”.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Lições
Biblicas (1º trimestre/ 2011)
CPAD.
GILBERTO, Antônio. Lições
Biblicas (1º trimestre/ 2005)
CPAD.
SOARES, Esequias. Lições
Biblicas (2º trimestre/ 1999)
CPAD.
DAVISON,
Francis. O novo comentário da Bíblia. VIDA NOVA.
BOYER,
Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. CPAD.
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