Gn 22.1-3
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos
sobre a grande prova de fé que, com mais de cem anos, Abraão vivenciou no Monte
Moriá. Todavia, não foi apenas a fé de Abraão que foi testada, mas também a
obediência e o amor pelo Senhor seu Deus. Isto nos faz lembrar do conselho do
apóstolo Tiago: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o passardes por
provações” (Tg 1.2). O apóstolo ainda diz: “Bem-aventurado o homem que
suporta a provação [...]” (Tg 1.12). Esta provação não apenas serviu
para confirmar o Pacto Abraâmico, como também revelou tipologicamente ao patriarca
o Plano Divino para redimir a humanidade. Portanto, muito temos para aprender
nesta lição, por isso, desejo a todos uma excelente aula!
I. FÉ PARA SUBIR O MONTE DO
SACRIFÍCIO
O texto
de Gn 22.1 diz: “E aconteceu, depois destas coisas, [...]”. Que
coisas? Bem, antes temos que salientar que a maioria dos acontecimentos
importantes da vida de Abraão tem relação com suas viagens. Assim, o “depois destas coisas” são os fatos que
antecederam até aquele momento. Vejamos:
Ø De Ur dos Caldeus a Harã, Gn
11.31. Aqui, em Harã, seu pai morre Gn 11.32.
Ø De Harã a Siquém, Gn 12.1-6.
Aqui, o Senhor confirma sua chamada, e Abraão edifica um altar, Gn 12.7.
Ø De Siquém a Betel, Gn 12.8. Edifica
outro altar ao Senhor.
Ø De Betel ao Egito. Gn 12.9-11. Sua
primeira falha, nega que Sara seja sua esposa, Gn 12.11-13.
Ø Regresso a Betel, Gn oferece uma
oração, Gn 13.1-4.
Ø De Betel a Hebrom, edifica um
altar, Gn13.18.
Ø De Hebrom a Damasco, persegue os
ladrões, resgata a Ló e recupera seus bens, Gn 14.1-16.
Ø Regressa a Hebrom, dá dízimos a
Melquisedeque, Gn 14.16-20. A promessa de um filho é reiterada, Gn 15.3-5.
Nasce Ismael, Gn 16.15; o pacto é renovado, Gn 17.1-8. Recebe novo nome, Gn
17.5. A intercessão por Sodoma, Gn 18.23-32.
Ø De Hebrom a Gerar, Gn 20.1.
Cumpre-se o pacto, nasce Isaque, Gn 21.1-3.
Ø De Gerar a Berseba, faz pacto com
Abimeleque, Gn21.27-34.
Ø De Berseba ao Monte Moriá,
constrói um altar, Isaque é preparado para ser oferecido em sacrifício, Gn
22.1-14.
O Monte
Moriá ficava a 80 Km de distância de Berseba e levava cerca de 3 dias de viagem
para concluir seu percurso (Gn 22.4). Segundo Wycliffe, o termo ‘Moriá’
aplica-se à região onde Abraão ofereceu Isaque (Gn 22.2), e ao local do Templo
de Salomão.
1. Abraão
é provado.
Afinal,
Abraão foi provado ou tentado? Segundo Orlando Boyer, a provação é o ato ou
efeito de provar; situação aflitiva. Provar, por sua vez, é estabelecer a
verdade, a realidade de. Já a tentação, ainda segundo Boyer, é a indução para o
mal por sugestões do diabo ou da sensualidade. Assim, tentar é procurar
corromper (a fé, a fidelidade). Agora, ante estas definições, observe estes
textos bíblicos: “E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão
[...]” (Gn 22.1). Em contrapartida, o apóstolo Tiago diz: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus
não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1.13).
Então,
vou lhe perguntar de novo, Abraão foi provado ou tentado? Na verdade, como
assevera Tiago, Abraão foi provado! Mas, você me perguntará, e o texto de
Gênesis 22.1. Pois bem, pode-se considerar que neste texto há um erro de
tradução da versão ARC (Almeida Revista e Corrigida). Os termos “provação” e
“tentação” procedem da mesma palavra hebraica “massah” (Gn 22.1) e
também grega “peirasmos” (Lc 4.2) que, por sua vez, significam “prova”
ou “teste”.
Logo, dependendo do contexto, pode significar “tentação” ou “provação”. Portanto,
assim explica-nos o Pr. José Gonçalves: “Quando
usada em um contexto onde Deus está por trás da ação, então nesse caso o crente
está sendo provado. Por outro lado, quando é o Diabo quem está induzindo ao
mal, então o crente está sendo tentado. Em palavras mais simples, Deus
prova-nos e o Diabo nos tenta. Deus testa-nos para aperfeiçoar-nos enquanto o
Diabo nos tenta para nos derrubar”.
Eis
porque Jesus, na Oração Dominical, ensina-nos a orar: “E não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mal [...]” (Mt 613). Já o apóstolo Tiago nos
estimula, dizendo: “Meus irmãos, tende por motivo de grande
gozo quando o passardes por provações, sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança. Ora, a perseverança deve terminar a sua
obra, para que sejais maduros e completos, não tendo falta de coisa alguma” (Tg 1.2-4). O caso do patriarca Jó é
bastante esclarecedor quanto a esta verdade! Ver Jó 42.5.
Vale
salientar que o fato de Deus pedir a Abraão seu filho, Isaque, em sacrifício
não era nada fora do comum do ponto de vista histórico-cultural, pois como o
próprio comentarista narra era uma prática totalmente típica das religiões da
época por serem pagãs. Todavia, segundo o caráter e santidade de Deus, tais
sacrifícios eram abomináveis ao Senhor (Dt 32.16,17; Sl 106.35-40; 1 Co 10.20).
Porém, Abraão que vinha de uma cultura pagã, certamente não sabia disto (Js
24.2,14).
2. No
limite da capacidade humana.
No
capítulo 10 de 1 Coríntios entre os versículos 1 ao 13, o apóstolo Paulo ensina,
com base na história de Israel, que os pecados cometidos pelo povo de Israel
nos servem de aviso e exemplos para não serem cometidos por nós também
(vv.6,11). O apóstolo ressalta que a causa desses pecados foram de origem
humana (v.13) e, por isso mesmo, Deus sempre nos concede o escape. Assim, ele
nos orienta a estarmos sempre alerta para não cairmos da graça (v.12). Ora,
Paulo está nos alertando para vigiarmos o nosso velho homem. Então, eu lhe
pergunto: “Que ligação tem esse texto com
o episódio vivenciado por Abraão no Monte Moriá?”. Ou melhor: “Que ligação há entre a limitação da
capacidade humana e a natureza pecaminosa do mesmo?”. Portanto, com o
devido respeito e admiração pelo nosso comentarista, não vejo e muito menos
entendo que haja alguma conexão entre 1 Co 10.13 e Gn 22. Até porque, já
tratamos da definição de ambos, bem como da aplicação desses termos no contexto
bíblico.
Contudo,
sabemos que a prova de Abraão seria humanamente impossível de ser aceito, pois
lhe foi pedido algo impossível se levarmos em contar a lógica do propósito
divino para sua vida. Deus pediu em holocausto “o filho da promessa”. Logo, levando em consideração a relevância da
relação espiritual da existência desse filho (Gn 15.2-5; 17.4-7,16,21), e a
relação emocional familiar entre Abraão, Isaque e sua mãe, Sara (Gn 18.9-14;
21.1,6,7), o patriarca não podia entender as razões da ordem de Deus. Era como
o Eterno ordenasse a devolução de algo que havia dado a Abraão. Era, de fato,
uma prova que superava todas as demais experimentadas por Abraão. Pois, para
cumprir o desafio que Deus lhe fizera, o patriarca teria sua capacidade espiritual,
emocional e intelectual testada ao máximo.
Mas, sobre
a limitação da capacidade humana, o apóstolo Paulo diz: “Não que sejamos capazes...,mas a
nossa capacidade vem de Deus” (2 Co 3.5). Por isso, em sua infinita
sabedoria divina, somos conduzidos, às vezes, ao limite de nossa resistência
para aprendermos a confiar no poder de Deus. Quantas vezes confessamos nossas
limitações e dizemos: “Não posso mais! Não aguento mais! Estou sem forças para
reagir e prosseguir.” Todavia, o Senhor não deixa que nossas resistências
desfaleçam sem que saibamos que Ele nos prova para que o conheçamos melhor. Quanto
a esta verdade, aqui, também, não há melhor exemplo do que o patriarca Jó!
3. Um
pedido difícil.
Como já
abordamos, Abraão foi submetido por Deus a uma experiência que provaria a
qualidade de sua fé e confiança no poder sustentador de Jeová-Jiré, o Deus de
Israel. Deus ordena ao patriarca que vá ao monte, chamado Moriá, ali ele
deveria oferecer seu filho, Isaque, em sacrifício. O Senhor sabia que Isaque
era o objeto de maior amor de Abraão e, portanto, tornar-se-ia numa das maiores
provas de sua vida (Gn 22.2).
Embora
Abraão viesse de uma cultura pagã e, portanto, sendo conhecedor destas práticas,
em momento algum em sua caminhada de fé no Deus Vivo, jamais foi requerido dele
tal prática. Contudo, agora, Deus lhe faz esta solicitação, sendo que a vítima
do sacrifício seria o filho da promessa.
Humanamente
falando, a prova aparenta ser num grande paradoxo onde um Deus amoroso, justo e
santo aceitaria um sacrifício humano tal quais as religiões da época. Na
verdade, era um enorme contrassenso, pois como já explicamos, constituía-se em práticas
pagãs. Contudo, pela fé, Abraão obedece à ordem de Deus e toma o caminho do
sacrifício com seu filho Isaque.
O
apostolo Paulo declarou que “a fé opera pelo amor” (Gl 5.6) e
esta verdade mostra que Abraão amava a Deus mais do que a qualquer outra coisa
em sua vida. Sabemos que a família é a base de tudo em nossas vidas, porém o
nosso coração , isto é, o nosso amor deve está direcionado ou focado
exclusivamente em Deus. Foi exatamente o que o Mestre Jesus nos ensinou: “Quem
ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; quem ama o filho ou a
filha mais do que a mim, não é digno de mim” (Mt 10.37). O Senhor
também disse: “Pois onde estiver o vosso tesouro, ai estará o vosso coração”
(Mt 6.21). Deus acabou de me dá uma perguntinha para nós: “Aonde está o nosso coração?”. Portanto,
quando Deus o prova pedindo-lhe o “filho do seu amor”, Abraão, com o coração
estremecido pelo pedido de Deus, não titubeia em oferecer seu filho Isaque em
sacrifício, porque cria que Deus era poderoso até para dos mortos o ressuscitar
(Hb 11.18). Eis o que Deus provara de Abraão!
II. PROVAÇÃO NO MONTE DO SACRIFÍCIO
Mas, em
que consistia a prova de Abraão? Na fé, na obediência ou no amor? Ora, para
entendermos as prioridades que devem nortear a nossa vida, devemos, de fato,
saber o que é importante na nossa vida? O que consideramos prioridade máxima em
nossa vida? Podemos depreender dos seguintes textos de Gênesis 15.2,3; 17.21;
21.8; 22.2 que Isaque era prioridade na vida de Abraão. Mas, seria Isaque
prioridade máxima na vida do patriarca? Na verdade, Deus não estava querendo
exigir de Abraão além do suportável. Todavia, a essência da prova estava
contida nestes três elementos, a saber: amor,
obediência e fé.
1. Amor,
obediência e fé no monte.
O
primeiro dos elementos em que Abraão seria provado era o seu amor para com Deus.
Quanto a este fato, as Escrituras expressamente nos ensinam: “Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua
força” (Dt 6.5). O Senhor Jesus reiterou tal mandamento em Mt 22.37. E,
o apóstolo Paulo, além de ensinar que “a fé opera pelo amor” (Gl 5.6), como
já mencionado, também acrescentou: “Agora permanecem estes três: a fé, a
esperança e o amor, mas o maior destes é o amor” (1 Co 13.13). O
apóstolo ainda disse: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o
amor com que vos ameis uns aos outros [...]” (Rm 13.8). Ora, se não
podemos deixar de amar nosso próximo, o que dizer então, se não devotarmos a
Deus o amor que lhe é exclusivo? Portanto, como já mencionamos, Deus ia
prová-lo naquilo que ele mais amava – seu filho. O amor pelo filho, Isaque, não
podia ser maior que o amor a Deus. Porquanto, assim, Deus manifestaria onde
estava o coração de Abraão (Mt 6.21), bem
como se o mesmo era digno dEle (Mt 10.37).
O segundo
elemento em que Abraão seria provado era a obediência. Como vimos na lição
anterior, desde o princípio do seu chamado, Abraão obedeceu ao Deus Altíssimo
(At 7.2-4; Gn 12.1). No entanto, é impossível dissociar a obediência do
patriarca de sua fé. Por isso, o autor da carta aos Hebreus, diz: “Pela
fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu [...]” (Hb 11.8). Nisto
vemos que, Abraão jamais duvidara da fidelidade de Deus, por isso, a obediência
do patriarca era um elemento que entrelaçado com a fé constitui-se num exemplo
para vida cristã (Rm 1.5; At 5.32).
Mas,
ainda que sua fé tenha obedecido ao chamado divino, o patriarca não fazia a
mínima ideia de que esta fé seria submetida a um nível de prova inesperado.
Contudo, as Escrituras dizem que, depois que Deus pediu-lhe o filho em
sacrifício, Abraão “levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera” (Gn 22.3).
Abraão não discutiu com Deus, mas dispôs-se a obedecer-lhe mesmo não compreendendo
o porquê de tal petição.
O
terceiro e último elemento que envolvia a provação de Abraão era a fé.
Esta é a virtude que deu a Abraão o título de “pai da fé” (Rm 4.16; Gl 3.8,9). Não
há uma definição melhor de fé do que a mencionada pelo autor da carta aos
Hebreus, diz: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam , e a prova
das coisas que não se veem” (Hb 11.1). O mesmo autor, ainda diz, que “Ora,
sem fé é impossível agradar a Deus, [...]” (Hb 11.6). Abraão teve sua vida
foi norteada do início ao fim dela pela fé em Deus, desde a sua chamada até seus
últimos dias na terra (At 7.2-4; Gn 12.1; Hb 11.8-12). O comentarista do
trimestre assim trata o tema: “Sabemos
que a fé é um elemento ativo da vida emocional e espiritual que ajuda a vida
psicológica do ser humano, ou então a sua negação, que produz rudez e
incredulidade. A fé é um elemento de nossa natureza moral e espiritual que se
expressa de acordo com o direcionamento que damos a ela, a Deus ou ao Diabo, às
paixões da carne ou ao Espírito Santo”.
Embora
Abraão fosse um homem de fé, isto não significa que ele fosse isento de falhas;
pelo contrário, o capítulo 16 de Gênesis revela-nos uma grande pedra de tropeço
na caminhada de fé do patriarca. Contudo, ao exigir o Senhor seu filho como
holocausto, Abraão não questionou a vontade divina. Mas, obedeceu, ainda que
não entendesse aquilo; porém, crendo no milagre divino (Gn 22.5; Hb 11.19).
2. O
clímax da prova.
Clímax? O
que é isso? Segundo Aurélio, clímax é o ponto culminante. Os seja, é o grau
máximo ou ponto máximo. Logo, surgir-nos a pergunta: “Qual é a prova máxima de nossa
fé?”. Bem, quanto a Abraão, a prova máxima foi a decisão de confrontar
o desafio de Deus e coloca-lo acima dos nossos interesses pessoais. Abraão creu
que os planos de Deus eram melhores que os seus. Por isso, ele apenas creu e
obedeceu.
Ao chegar
ao monte designado por Deus, após três dias de viagem, Abraão dar ordens aos
seus servos para esperarem no pé do monte, e sobe apenas com Isaque (Gn
22.4-6). No caminho da subida, pai e filho conversavam, quando, então, Isaque
pergunta ao pai: “Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”
(Gn 22.7). Neste momento, o velho Abraão, de forma incisiva e confiante no Deus
da Provisão, apenas lhe diz: “Deus proverá para si o cordeiro para o
holocausto, meu filho” (Gn 22.8).
O
patriarca cria que Deus faria alguma coisa que ele mesmo não podia imaginar, e
este fé em Deus deu-lhe forças para continuar a subida até o alto do monte. É
natural que tenhamos dificuldades para entender as coisas espirituais, mas o
Senhor, que conhece a nossa estrutura (Sl 103.14), nos fortalece para que não
duvidemos de seu caráter.
3. O
momento decisivo da prova.
Ao chegar ao
lugar do sacrifício, no alto do monte, Abraão vivencia a maior crise de sua
existência que, naquele momento crucial, era falar para seu filho que ele era o
sacrifício que Deus havia pedido e que precisava ser realizado (Gn 22.9). Nem a
história e nem as Escrituras nos informam detalhes sobre o que aconteceu
naquele momento. Contudo, deduzimos que Isaque confiava no caráter de seu pai e
sabia que o Deus de Abraão faria alguma coisa que impedisse aquele sacrifício.
Havia em Abraão
uma predisposição para obedecer a Deus que o guiará até aquele momento de sua
vida. O caminho da obediência é sempre mais difícil, mas não impossível, porque
Deus age no momento certo. Assim, tanto Abraão como Isaque chegaram ao ponto
máximo de sua capacidade de fé e emoção para submeter-se a essa prova (Gn 22.10).
Naquele momento crucial, em que Abraão levantou o cutelo para imolar seu filho,
o anjo do Senhor bradou: “Abraão! Abraão! Respondeu ele: Eis-me
aqui. Disse o anjo: Não estendas a tua mão sobre o rapaz, e não
lhe faças nada. Porquanto, agora sei que temes a Deus, pois não me negaste o
teu filho, o teu único filho” (Gn 22.11,12).
Naquela ocasião,
Deus cumpre a palavra de seu servo Abraão e prover um cordeiro para substituir
Isaque (Gn 22.13). Sem dúvida alguma, Abraão chegou ao ápice de sua capacidade
de fé e emoção. Mas Abraão sabia que Deus não é homem para que minta (Nm
23.19); por isso, ele arriscou no futuro e vislumbrou em sua mente a certeza de
que aquele que tira a vida também a dá (1 Sm 2.6). Ver também Hb 11.19.
III.
JESUS, O CORDEIRO DE DEUS NO
MONTE DO SACRIFÍCIO
Esta
grandiosa prova vivida por Abraão tipifica o Plano Divino para redenção da
humanidade. Dentre os elementos que compõe esta tipologia podemos citar:
Abraão, Isaque, o monte, o cordeiro e o altar. O monte Moriá tipifica o
Calvário; o altar do sacrifício tipifica a cruz levantada, em que Cristo foi
crucificado; Abraão, o pai, tipifica Deus Pai que nos deu seu Filho unigênito
para ser o Cordeiro de nossa expiação (Jo 3.16; Rm 5.8). E Isaque? Ora, Isaque
tipifica a entrega voluntária de Cristo Jesus para consumação da nossa
salvação. Porquanto, Assim como Isaque, que já não era criança, poderia
facilmente ter evitado tornar-se uma vítima, assim também o outro Isaque, o
Senhor Jesus Cristo poderia, se o desejasse, ter evitado a cruz. Eis as suas
palavras: “Dou a minha vida pelas ovelhas... Ninguém a tira de mim, mas eu de mim
mesmo a dou. Eu tenho autoridade para dá-la, e autoridade para tornar a
tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai” (Jo 10.15,18).
1. O
sacrifício do Cordeiro de Deus.
Ao
responder a intrigante pergunta de Isaque, o patriarca disse: “Deus
proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22.8). O
termo “O Senhor proverá” ou “Deus proverá” do hebraico “Jeová-Jireh” é uma expressão profética
da providência divina e manifesta como Jeová provê todas as necessidades dos
seus servos. Tal fato se deu quando Abraão estava preparando-se para oferecer
seu filho em sacrifício a pedido de Deus. Deus o provou e viu sua fidelidade e
obediência; então, interferiu naquele momento impedindo que Abraão matasse seu
filho, provendo um cordeiro para o sacrifício. Um tipo perfeito do sacrifício
do Filho amado de Deus, Jesus Cristo, pelos nossos pecados. Ele foi o cordeiro
mudo levado ao matadouro (Is 53.7; 1 Pe 2.24,25)
João
Batista, precursor do Messias, ao ver Jesus asseverou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira
o pecado do mundo!” (Jo 1.29). É válido salientar que, por todo Antigo
Testamento, o cordeiro é tido como o animal preferido para o sacrifício. É o
mais frequentemente especificado na lei levítica do sacrifício. Assim, é
apropriado que o inocente, inofensivo cordeiro seja o principal símbolo
sacrificial do Antigo Testamento.
2. A
reconciliação mediante o sacrifício do Cordeiro.
Em
Hebreus 9.22, o autor da referida carta assim ratifica: “sem derramamento de sangue não há
remissão”. Ante essa assertiva, observa-se que a história de Abraão, em
Gênesis 22, é uma metáfora que revela como se deu a grande reconciliação entre Deus
e o ser humano: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo
sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os
povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na sua
carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e,
pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as
inimizades” (Ef 2.13-16). Deus proveu o seu Filho como verdadeiro
Cordeiro para nos reconciliar com Ele mesmo, sem imputar os nossos pecados e
lançá-los em nosso rosto (2 Co 5.19). Nossa reconciliação é um dos benefícios
da redenção consumada no Calvário!
3. A
justificação mediante o Cordeiro.
Outro
benefício da redenção consumada no Calvário pelo Cordeiro de Deus é a nossa
justificação (Rm 3.1 – 5.21). O termo “justificação” do hebraico “tsadik”
e do grego “dikaios” e significa “ato de declarar justo”. Trata-se,
portanto, de um processo judicial que se dá junto ao Tribunal de Deus, através
do qual o pecador que aceita (confessa) a Cristo é declarado justo (Rm 5.1). Assim,
muito mais forte que o amor de Abraão por Isaque foi, e ainda é, o amor do Pai
Celestial por seu Filho Jesus. Contudo, para nos salvar Deus o entregou à morte
(Fl 2.8), provando o seu amor por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8; 8.32;
Jo 3.16).
Abraão
encontrou substituto para Isaque, mas para Jesus não havia substituto. Pois, só
o Pai poderia promover meios de não mais sermos achados perdidos, condenados e
mortos para sempre. Por isso, Cristo
chama todos os homens ao arrependimento (2 Pe 3.9), pois a Expiação de Cristo
só tem eficácia para o ser humano que se arrepende e crê no Filho de Deus.
Cristo é a maior provisão de Deus para a humanidade!
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta
lição que a verdadeira fé liberta-nos do apego às coisas desta vida e faz-nos
obedientes a Deus e à sua Palavra. Aprendemos, também, que Deus pode permitir
certas provas para que saibamos que Ele, acima de tudo e de toda
circunstâncias, é fiel e verdadeiro. E que, também, só Ele pode suprir as
nossas necessidades. Por isso, a exemplo de Abraão, creia na soberania divina
como está escrito: “O qual, em esperança, creu contra a esperança que seria feito pai de
muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E
não enfraqueceu na fé, nem atentou para o seu corpo amortecido, pois era já de
quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. Ele não
duvidou da promessa de Deus, deixando-se levar pela incredulidade, mas foi
fortificado na fé, dando glória a Deus” (Rm 4.18-20). Foi nesta fé que
Abraão obedeceu a difícil ordem de Deus: “Pela fé Abraão, ao ser provado, ofereceu a
Isaque. Aquele que havia recebido as promessas ofereceu o seu unigênito, embora
Deus lhe tivesse dito: Em Isaque será chamada a tua descendência” (Hb
11.17,18). Portanto, não se entristeça e, muito menos, desista ou se desespere,
mas confie e obedeça o Deus de Abraão! Deus abençoe a todos!!
REFERÊNCIAS
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