Gn 12.1-10
INTRODUÇÃO
Queridos (as)
irmãos (ãs), nesta lição estaremos estudando sobre o grande exemplo de fé de
nosso pai Abraão. São muitos os exemplos de fé descritos na Bíblia, mas este se
destaca com especial tratamento denominando-o de “pai da fé”. A palavra fé, do
ponto de vista escriturístico, tem o significado básico de “fidelidade” (Dt
32.4; Sl 36.5; 37.5). Na verdade, o estudo da vida de Abraão é de grande valor
pelo fato de ser ele o pai da nação eleita – Israel, e pai na fé de todos os
que crêem em Deus. Assim, desejo a todos uma excelente aula!
I. A CHAMADA DE ABRAÃO (Gn
12.1-3)
Segundo a
cronologia bíblica, os primeiros onze capítulos do Gênesis compreendem um
período de 1756 anos (4004 a.C. – 2248 a.C.). Este período, por sua vez,
abrange da Criação até a Dispersão das Raças. Porém, da Dispersão das Raças até
a Chamada de Abraão são mais 327 anos, ou seja, 1921 a.C. É exatamente aqui, em
Gêneses 12 até Êxodo 12, que temos o Período Patriarcal que durou 430 anos
(1921 – 1491 a.C). Este período é também conhecido como Era Patriarcal ou
Dispensação da Promessa, sendo esta a quarta dispensação segundo a teologia.
Assim, no
contexto dos primeiros onze capítulos do Gênesis, quatro homens se destacam na
história da humanidade: Adão, Sete, Enoque e Noé. Nesses mesmos capítulos,
destacam-se também, quatro importantes eventos: a criação, a queda do homem, o
Dilúvio e a torre de Babel. Portanto, os primeiros acontecimentos da história
da humanidade encontram-se no contexto desses capítulos.
Mas, é a
partir do capítulo 12 de Gênesis, que inicia-se a era patriarcal, e nesse
período destacam-se os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José. Após a confusão
de línguas em Babel, as gentes espalharam-se por toda parte e as
características raciais se tornaram distintas por toda a terra. As organizações
tribais, as línguas e as etnias acabaram por formar as nações espalhadas no
mundo inteiro. Organizaram-se, também, sistemas de governo de povos, de
famílias e tribos, e iniciou-se a era patriarcal, em que o pai de família se
constituía em chefe, príncipe de tribos e famílias. Entre tantos personagens
que existiram antes de Abraão, e que deixaram sua marca na história. Contudo,
Abraão, é quem foi chamado por Deus para fazer parte do maior projeto divino –
o projeto da salvação de todos os povos da terra (Gn 12.3; Gl 3.8; Ap 5.9).
1. Um
projeto divino.
Antes de prosseguirmos,
faz-se necessário distinguir Onisciência de Presciência. A Onisciência é um
atributo natural, absoluto e incomunicável de Deus em que Ele tudo sabe e tudo
Conhece. Nada lhe é oculto (Sl 139; Hb 4.13). Já a Presciência é o aspecto da
onisciência relacionado com o fato de Deus conhecer todos os eventos e
possibilidades futuros (1 Sm 23.10-12; Is 46.10; At 2.23; 1 Pe 1.2,20). A
palavra do Novo Testamento traduzida “presciência” (que significa “conhecer
de antamão”) é “prognosis”, da qual deriva a palavra “prognóstico” em
português. Significa “saber antes”
(“pro” = antes; “gnosis” = saber ou conhecer). Logo, não existe o fator
surpresa para Deus. Por isso, Deus não foi surpreendido com a queda de Adão;
pelo contrário, Ele já havia provido o remédio contra o pecado, pois em
Apocalipse 13.8 diz: “[...] no livro da vida do Cordeiro que foi morto
desde a fundação do mundo”. Em sua Suprema Sabedoria e Presciência,
Deus antes de criar o mundo visível e tudo que nele há, já providenciara a
solução para redimir e restaurar o homem – a coroa da sua criação. Portanto, é
nesse contexto que, Deus se revela a Abraão e lhe faz grandes promessas para
torná-lo o pai de uma grande nação.
2. O
desafio de acreditar no projeto divino.
Nada sabemos do período da vida de Abraão desde o seu
nascimento (1921 a.C. segundo o Pr. Ant. Gilberto) até o momento de seu chamado
por Deus. O que sabemos é que Abrão (pai
elevado ou pai das alturas), cujo
nome Deus mais tarde mudou para Abraão (pai
fecundo ou pai de uma multidão),
nasceu em uma das fabulosas cidades do mundo antigo, Ur. Esta era a famosa
cidade sumeriana localizada às margens do Rio Eufrates, cerca de 241 Km a
nordeste da costa do atual Golfo Pérsico. Era a mais importante dentre um
complexo de cidades-estados e sua civilização era altamente culta.
Nos dias de Abrão, 4.100 anos passados, Ur era o centro de
uma rica cultura, uma cidade que ostentava uma arquitetura monumental, enorme
riqueza, moradia confortáveis, música e arte. Era, portanto, uma cidade
altamente cosmopolita, já que não-sumérios como o próprio Abraão e seus
antepassados – de origem semítica – lá viveram e fundiram seus conhecimentos
intelectuais e sua cultura com o lastro cultural dos sumérios. Em sua terra
natal, Abrão ‘servia a outros deuses’ (Js 24.2,14,15). No entanto, quando
recebeu o chamado de Deus, Abrão deixou sua civilização e peregrinou para
Canaã, onde viveu como nômade em tendas por quase cem anos.
Diante de tais fatos, Abraão é desafiado a abandonar seu
velho estilo de vida com suas crenças, e aceitar o chamado divino para a
realização de um projeto especial em sua vida. O chamado divino requereria de
Abraão total obediência do mesmo. Tratava-se, portanto, de um contrato (pacto)
de promessas e compromissos. É aqui, neste exato momento, que as Escrituras
Sagradas asseveram: “Creu Abrão no Senhor, e isso lhe foi
imputado para justiça” (Gn 17.6; Rm 4.3-6; Gl 3.6; Tg 2.23). Abraão
creu e aceitou pela fé o desafio de seu chamado, e saiu daquela terra para uma
terra que não conhecia (Hb 11.8). Esse fato é o ponto chave para uma das
principais doutrinas cristãs – A Justificação pela Fé. Porquanto, fé e
obediência são os elementos mais fortes de uma relação com Deus.
Abraão poderia ter discutido e questionado o projeto de Deus
para sua vida, mas não o fez, porque entendeu que o projeto de Deus era muito
superior ao que ele mesmo pudesse compreender. Qualquer um de nós prefere
conhecer os detalhes de um projeto antes de aceitá-lo. Em vez disto, Abraão
partiu para um lugar desconhecido pela fé.
3. Um
projeto para abençoar as nações.
Sabemos
que o projeto divino era abençoar todas as famílias da terra por meio de Abraão
(Gn 12.3b). Então, surge a indagação: Porque
Abraão? Devemos compreender que Abraão foi chamado não como um ato de
acepção arbitrária, e muito menos ainda, como um ato determinista de Deus. Mas,
no fato de que, ele possuía as qualidades necessárias com as quais o plano
divino seria mantido e cumprido (Ne 9.7,8). Além
disso, ele descendia de Sem (Gn 11.10-26). Assim sendo, a intenção de Deus era
que houvesse um homem que o conhecesse e o servisse e guardasse os seus
caminhos (Gn 18.19). Dessa família surgiria uma nação escolhida, de pessoas que
se separassem das práticas ímpias doutras nações, para fazerem a vontade de
Deus. Dessa nação viria Jesus Cristo, o Salvador do mundo, o prometido
descendente da mulher (Gn 3.15; Gl 3.8,16,18). Tudo estava sob a presciência de
Deus!
II. A PROVISÃO DE DEUS
Quando
lemos Gênesis 12, num primeiro momento pensamos que aqui ocorreu o chamado de
Abraão. Pois é, mas na verdade, ao lermos At 7.2-4, Estevão nos revela que
ocorreram dois chamados. O primeiro na cidade natal de Abraão, em Ur dos Caldeus
(At 7.2), o segundo em Harã, lugar do sepultamento de seu pai Terá (Gn
11.31-12.1). Esse segundo chamado em Gênesis 12 é, na verdade, uma confirmação
do primeiro. Essa é uma verdade importante que deve ser observada.
1. Abraão
sai da sua terra (Gn 12.4-8).
Ao
revelar-se a Abraão em Ur dos Caldeus, o Senhor lhe ordenou: “Sai-te
da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai [...]” (At 7.2).
Infelizmente, dentre as muitas falhas do patriarca, a primeira foi a
interferência familiar. Assim, Abraão não teve forças para obedecer totalmente
(100%) ao que Deus lhe dissera. Ele deixou-se influenciar por um
sentimentalismo familiar, levando consigo em sua peregrinação inicial a casa de
seu pai e o sobrinho Ló e sua família. Estes só lhe trouxeram aborrecimentos e
entraves à sua peregrinação. Mesmo assim, Deus não desistiu de Abraão, porque
conhecia o coração dele. Contudo, ficamos a lição de que interferências sempre
são perigosas quando temos um plano de Deus em nossas vidas.
2. Abraão
enfrenta escassez em Canaã (Gn 12.9,10).
Ficando em Harã por algum tempo, os planos
iniciais para terra de Canaã foram atropelados por seus familiares. Após a
morte de seu pai, Terá, Abraão ouve a voz de Deus (segundo chamado) e, sem
tosquenejar, sai de Harã e vai par Canaã, passando a habitar em Siquém. Ali,
Abraão que sempre procurava manter comunhão com Deus e sua orientação para essa
jornada, ergue um altar ao Senhor. Porém, ele ainda continuava preso a seus
familiares.
Embora Abraão
tivesse promessas de Deus em sua vida, essas não o isentavam de problemas e
provações. A primeira delas ao chagar em Siquém foi a oposição dos cananeus. Em
seguida, Abraão percebendo a escassez de grama e de grãos, deixou de olhar para
o Senhor e passou a considerar a escassez da terra, que por questões climáticas
havia se tornado seca e a fome era sentida naquele lugar. Mas, porque haveria
fome justamente na terra para onde Deus havia chamado Abraão? Este foi um teste
para a fé de Abraão que não questionou a liderança de Deus. Contudo, ele
deveria buscar de Deus uma resposta, mas não a vez. Ao invés disto, Abraão
tomou a decisão de ir para o Egito. O que quase lhe custou à esposa!
3. Abraão
enfrenta esterilidade de sua esposa (Gn 16.1-6,10,11,15,16).
Em
uma de suas promessas ao patriarca Abraão, Deus havia tido: “Far-te-ei uma grande nação”. Porém, Abraão e Sara estavam
casados a muitos anos. Na verdade, eles estavam avançados em idade, ele com
quase 100 anos e ela com 90 anos (Gn 17.17,24). Até então, não tinham filhos
para alegrar lar e cumprir as maravilhas profecias a respeito do futuro do
casal. Conforme os anos foram se passando, a dissonância entre a promessa e as
circunstâncias foi-se tornando cada vez mais frustrante (Gn 15.2,3). Não ter filhos
era uma calamidade e uma desgraça para qualquer esposa hebreia, e para Sara era
pior ainda (Gn 18.11,12). O que aconteceu? Marido e esposa quiseram ajudar a
Deus no cumprimento de sua promessa (Gn 16.1,2). Este episódio nos leva a uma
infeliz conclusão: Sempre que homens e mulheres permitem que a sua fé desabe,
recorrem a expedientes humanos. E o fim é sempre discórdia, tragédia e
sofrimento. Que Deus tenha misericórdia de nós!
III. AS PROMESSAS DE DEUS NA VIDA DE ABRAÃO
1. “Far-te-ei
uma grande nação e abençoar-te-ei”.
Os povos
judeus e árabes são descendentes de Abraão (Gn 21.18; 25.13-18). Abraão teve
uma vida longa (Gn 25.7) e foi abençoado com grande riqueza (Gn 13.2). Melhor
de tudo, Deus lhe perdoou e o protegeu (Gn 12.17,20), e a Abrão foi concedido um
relacionamento pessoal com o Senhor (Gn 15.6, 18.17-19).
2. “Engrandecerei
o teu nome”.
Abrão
trocou a desvanecente glória deste mundo por um relacionamento pessoal com Deus
— e ganhou fama imortal. Hoje ele é reverenciado por adeptos de três grandes
religiões mundiais: judaísmo, islamismo e cristianismo. O Antigo Testamento o reconhece como patriarca do
povo escolhido de Deus, os judeus. E o Novo Testamento o dignifica como o pai
espiritual de todos que ‘andam nas pisadas daquela fé de Abraão,
nosso pai’ (Rm 4.12).
3. “Em ti
serão benditas todas as nações da terra”.
Esta é a segunda profecia das Escrituras sobre a vinda de
Jesus Cristo a este mundo. O texto fala de uma bênção espiritual que virá
através de um descendente de Abraão. Paulo declara que esta bênção se refere ao
evangelho de Cristo, oferecido a todas as nações. A promessa de Deus a Abrão
revela que, desde os primórdios da raça humana, o propósito do evangelho era
abençoar todas as nações com salvação. Deus está agora realizando os seus
propósitos através de Jesus e seu povo fiel, que compartilha da sua vontade de
salvar os perdidos, enviando pregadores para proclamar o evangelho a todas as
famílias da terra
CONCLUSÃO
A chamada divina
feita a Abraão coloca-o entre aqueles que Deus em sua presciência conhecia e,
por isso, o escolheu para ser o homem a cumprir os seus desígnios. Abraão foi
obediente à chamada divina e pautou toda a sua vida pelo princípio de fazer a
vontade de Deus. Porquanto, ele sabia que “aquele que faz a vontade de Deus permanece
para sempre” (1 Jo 2.17). Por isso, ele foi chamado de ‘Amigo
de Deus’ (Tg 2.23). Deus abençoe a todos!
REFERÊNCIAS
RICHARDS,
Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia.
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GILBERTO,
Antonio. A Bíblia Através dos Séculos.
CPAD.
ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico.
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CABRAL, Elienai. O Deus de Toda Provisão. CPAD.
GIBBS, Carl Boyd.
A Doutrina da Salvação. EETAD.
STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas. (4º trimestre/2002).
CPAD.
Por Amigo da EBD.
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