Gn 13.7-18
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre a relevância e as consequências inseridas em nossas
escolhas. As Escrituras Sagradas dão testemunho
de várias personagens bíblicas que fizeram más escolhas e boas escolhas. As más
escolhas geralmente foram tomadas num contexto de precipitação ou
extraordinária pressão. Todavia, entre esses muitos exemplos, destaca-se o
episódio da separação de Abraão e seu sobrinho Ló, bem como da escolha
precipitada deste. Assim, desejo a todos uma excelente aula!
I. O CUIDADO COM AS ESCOLHAS
O livre-arbítrio é um presente de Deus ao ser humano, pois
este foi criado de maneira autônoma, de modo que Deus jamais permitiria um ser
humano autômato. Entretanto, aqui está a tensão da principal criação de Deus.
Embora dotado de livre-arbítrio, um dom de Deus, o ser humano fez e continua a
fazer o mau uso daquilo que deveria ser para a glória de Deus.
1. A
prosperidade de Abraão.
Nas Escrituras Sagradas o termo “prosperidade”
ocorre em cerca de vinte e cinco palavras que podem ser traduzidas respectivamente
como prosperidade, riquezas e bens. O termo hebraico mais comum é tsalach (Gn 39.2; Js 1.8;
Sl 1.3) e no grego é euodoo (1
Co 16.2). Todavia, é bom lembrar que a prosperidade no Antigo Pacto não está
associada apenas ao acúmulo de posses e bens ou à saúde perfeita, mas,
sobretudo, a um íntimo relacionamento com o Senhor (Dt 28.2; Gn 26.12; 1 Sm 2.7;
Lc 12.13-21). É possível alguém ser rico, possuir boa saúde e muitos bens e
mesmo assim não ser próspero. Ter sucesso, mas não uma vida abundante. Fica
logo perceptível que ninguém é amaldiçoado por ser pobre e tampouco abençoado
por ser rico. Tanto o pobre como o rico dependem do favor de Deus (1 Sm 2.7,8).
A Bíblia mostra primeiramente que
a ideia veterotestamentária de prosperidade transcende o simples acúmulo de
bens materiais ou o bem estar físico. Na verdade, a compreensão que se tem no
Antigo Pacto é que a prosperidade, antes de tudo, é espiritual para só
secundariamente ser material (Sl 73). Constata-se pelas Escrituras que existem
outros valores, embora não materiais, tidos como grandes riquezas e verdadeiros
tesouros (Pv 10.22).
Dentre as várias coisas que a
Antiga Aliança mostra como sendo de valor maior do que bens materiais estão,
por exemplo, o conhecimento (Pv 3.13; 20.15), a integridade (Sl 7.8; 78.72), a
justiça (Sl 15.2; Pv 8.18; 14.34), o entendimento (Pv 15.32; 19.8), a humildade
e a paz (Pv 15.33; 18.12; 12.20). Logo, Abraão entendia e sabia que para “ter”
as bênçãos e promessas de Deus em sua vida precisava antes “ser” um servo
obediente e temente a Deus. Portanto, não foi sua posição de líder que lhe fez
próspero, mas, sim, sua posição de servo pronto para executar as ordens
divinas!
Agora
analisemos, será mesmo que se Abraão não tivesse deixado sua cidade natal, ele
não prosperaria? Antes de responder a essa indagação, é preciso responder a
esta: “Qual era a situação econômica de
Abraão em Ur?”. Ora, sabemos que Abraão, antes do seu chamado, habitava em uma
terra fértil que ficava as margens dos rios Tigre e Eufrates. A cidade de Ur
dos caldeus era uma cidade altamente cosmopolita e que exercia enorme
influência social, religiosa e comercial na região mesopotâmica e além dela.
Portanto, é mais fácil acreditar que Abraão e seus familiares eram prósperos do
que o contrário. Todavia, é certo afirmar que, como vimos, a prosperidade
concedia por Deus a Abraão era-lhe superior!
2. Abraão
fez a escolha certa.
Quando
Deus chamou Abraão, lhe fez um desafio em que a obediência seria o ponto-chave
do sucesso do projeto divino em sua vida (At 7.2,3; Gn 12.1). Logo, isto
implicaria em Abraão aceitar ou não este desafio, em atentar ou não a este
chamado, em obedecer ou não a Deus. Abraão tinha diante de si a mais importante
escolha de sua vida. Segundo o dicionário Online, a escolha é o ato
ou efeito de escolher; seleção, preferência, opção. Isto significa que nossas
escolhas podem influenciar nossas decisões para bem e para o mal (Dt 28.1,2,15;
Mc 16.16; Rm 2.6-11).
Sabemos, antes de tudo, que a questão escolha tem a ver com a
questão da vontade, especialmente, quando a nossa vontade entra em confronto
com a vontade de Deus (Dt 30.19; Js 24.15; Tg 4.4; 1 Jo 2.17). Pois, fazer a
vontade de Deus envolve riscos, ajustes, decepções, sucessos, derrotas e,
principalmente, mudanças (Mt 16.24; Rm 12.2; Fp 1.29; 1 Ts 4.3). Mas, Abraão
estava ciente de que provações seriam inevitáveis.
No entanto, será que Abraão sofreu algum tipo de interferência
familiar quanto ao cumprimento da ordem divina. Bem, alguns deduzem que sim, já
outros acreditam que não. Contudo, ninguém nada afirma. Sabe por quê? Porque
não há base bíblica pra tal! Assim, por razões desconhecidas não se pode
afirmar muita coisa. Logo, devemos levar em conta o contexto histórico, ou
seja, a cultura e costumes da época. Não bastava Abraão dizer: “Papai, tô saindo de casa porque Deus tá me
chamando!”. Por isso, por mais simples que pareça, não era tão simples
assim.
Todavia, através das Escrituras, sabemos que Deus criou uma
situação para auxiliar Abraão no cumprimento de sua ordem. Esta situação deu-se
início com a morte de seu irmão Naor (Gn 11.28), e culminou também com a morte
de Terá, seu pai, em Harã (Gn 11.32). Assim, em Harã, Abraão passou a ser o líder
do clã, local onde Deus reafirmou o seu chamado (Gn 12.1-3). Ao sair de Harã,
Abraão não o fez como um barco à deriva como alguns pregadores costumam
afirmar. Se observarmos o texto de Gênesis 12.5, Abraão continuou o curso da
viagem de seu pai até Canaã. No versículo 9 do mesmo capítulo, Abraão continua
sua peregrinação diz o texto: “seguindo sempre para o sul”. Todo
viajante sabe que a rota certa a seguir é para o norte, mas a lógica da vontade
divina nos manda seguir para o sul. Aí, você me indaga sobre Hebreus 11.8? É
uma figura de linguagem que enaltece a fé do patriarca! Assim, Abraão percebendo as dificuldades
do caminho que o Senhor lhe mostrara, creu em Deus; contudo,
ainda homem, cometeu alguns deslizes que resultaram em consequências ruins.
3. Abraão
passa pelo Egito.
Estaria o
Egito no plano de Deus? Ou precipitou-se Abraão agindo por conta própria?
Certamente, foram inúmeras as adversidades vividas por Abraão, mas ao
deparar-se com a “fome na terra”, deixou de buscar de Deus direção para sua
vida e tomou a decisão de ir ao Egito, terra que tinha pastagens para o seu
gado e muita riqueza. Por essa atitude, alguns comentaristas chegam a afirmar
que Abraão foi dominado por um sentimento de ambição material, já outros dizem
que Abraão agiu prudentemente cumprindo com o dever de resguardar sua família
da fome, temporariamente, no Egito.
Bem, não
vou entrar no mérito do instinto de sobrevivência do patriarca, e nem de sua
visão materialista como afirmam alguns dos comentaristas bíblicos. Mas, vou
entrar sim, no cerne da questão: Onde a
fé de Abraão falhou? Será que foi em descer ao Egito? Ou foi porque não
consultou a Deus? Ou ainda porque, já no Egito, não levantou nem um altar ao
Senhor?
Na
verdade, a fraqueza da fé de Abraão está no fato dele decidir quebrar seus
princípios éticos e morais e, para sobreviver sem ser incomodado, mentiu e usou
de engano (Gn 12.11-13). Por muito pouco, se não fosse à intervenção divina,
sua atitude teria posto tudo a perder, inclusive com a ameaça de morte (Gn
12.17-19).
Esse
episódio claramente nos ensina duas lições: 1) Riquezas acumuladas sob a égide
de artifícios enganosos não pode ser considerado bênção de Deus (Ec 5.13,14; Sl
62.10). 2) A prosperidade do mundo é ilusória porque rouba a espiritualidade e
produz um falso sentimento de satisfação (Sl 73; Mt 6.25-34; Lc 12.15-21).
Pense nisto!
II. LÓ É ATRAÍDO POR AQUILO QUE VÊ
Ao deixar
o Egito, Abraão que antes seguia para o sul (Gn 12.9), agora passou a seguir
para o norte. Ou seja, o patriarca fez o caminho inverso até chegar novamente
em Betel (Gn 13.3,4). Fazer o caminho inverso, às vezes, é sempre a melhor
decisão! Neste contexto, Abraão e Ló já prosperavam bastante e este fato
levou-os a questão da interferência do espaço geográfico (Gn 13.2,5). Ou seja, gerou
contendas entre eles!
1. Briga
entre os pastores de Abraão e Ló.
A prosperidade
material de ambos desencadeou uma crise familiar no clã (Gn 13.7a). Mas, por
que dessa contenda? Porque, diz o texto sacro: “a terra não podia sustentá-los,
para que habitassem juntos, pois seus bens eram muitos; de maneira que não
podiam habitar juntos” (Gn 13.6). Certamente a prosperidade adquirida
no Egito, usando de artifícios enganosos, contribuiu para agravar o problema
existente. Além de que, não bastasse às interferências familiares, agora Abrão
padeceria com a interferência do espaço geográfico, pois diz a física: “dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço”.
Assim, é possível afirmar que, aquele espaço estava destinado por Deus somente a
seu servo Abrão. Contudo, ele se viu obrigado a aceitar essa intromissão que
lhe trouxe péssimos resultados.
Há
situações na vida espiritual e no trabalho do Senhor em que os parentes geram
dificuldades quando a conhecida vontade do Senhor é posta de lado. São
contendas por causa de muitos tipos de “espaços”, e ocorrem separações
inevitáveis. É muito triste tudo isto, pois nosso Deus “não é Deus de confusão, senão de
paz” (1 Co 14.33). O Mestre Jesus foi quem primeiro nos ensinou esta
verdade (Mt 5.9)! Portanto, evitemos a contenda (Fp 2.14), pois ela é obra da
carne (1 Co 3.3).
2. A
decisão de Abraão.
Foi por
saber que contendas não agradavam a Deus e, também, por querer fazer a vontade
do Senhor que Abraão chamou seu sobrinho e disse-lhe: “Ora, não haja mais contendas
entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque irmãos
somos. Não está toda a terra diante de ti? Rogo-te que te aparta de mim; se
escolheres a esquerda, irei para a direita; se a direita escolheres, irei para
a esquerda” (Gn 13.8,9).
O
problema devido a falta de água, pasto e espaço para os rebanhos ocasionou um
rompimento social entre Ló e Abraão. No entanto, o patriarca precisava fazer uma
concessão ao sobrinho, para evitar outros problemas. Entretanto, de acordo com
os costumes da época, a solução do problema teria sido bastante simples. O
líder do clã implementaria a solução que protegesse os próprios interesses com
pouca consideração aos interesses do concorrente. Mas Abraão preferiu dar a vez
ao sobrinho.
Mesmo
tendo o direito de impor sua vontade sobre seu sobrinho que era mais jovem, Abraão
não o fez porque sabia que, às vezes, precisamos ceder a quem nos prejudica,
para não prejudicar a nossa fé e nos tornar aptos para fazer a obra de Deus.
Por isso, Abraão era homem de fé e, não apenas de fé, mas também de amor, pois a
fé opera pelo amor (Gl 5.6) que não busca seus interesses (1 Co 10.24; 13.5).
3. A
escolha precipitada de Ló.
Ló, por sua vez,
não pensou muito em fazer sua escolha, e tampouco incluiu a Deus nesta
importante decisão. Pois, assim diz o texto sacro: “Levantou Ló os olhos, e viu toda
a campina do Jordão, e que era toda bem regada (antes de o Senhor ter destruído
Sodoma e Gomorra), e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, na
direção de Zoar. Então Ló escolheu para si toda a campina do Jordão, e partiu
para o oriente. Assim se apartaram um do outro” (Gn 13.10,11).
As Escrituras
declaram que ‘o Senhor não vê como vê o
homem’ (1 Sm 16.7). Ló viu somente a campina bem regada de Sodoma. Deus viu
os habitantes daquela cidade como ‘grandes
pecadores’ que eram. Ló, ao deixar de discernir e aborrecer o mal, trouxe
morte e tragédia a sua família. Infelizmente, Ló foi seduzido pela beleza dos
campos verdejantes daquele lugar que (1 Jo 2.16), como símbolo de fertilidade,
são comparados ao Jardim do Senhor e ao Egito. Parecia que Ló havia feito a
melhor escolha, porém ele não sabia com que tipo de gente estava se envolvendo
e que custou um alto preço para sua família. Este triste fato é um grande
exemplo para não ser repetido por nós!
III. LÓ, UM CASO DE PROSPERIDADE E PERDAS
A grande falha de Ló foi amar as
vantagens pessoais, mais do que abominar a iniquidade de Sodoma. Ele, porém, tolerou
o mal e optou por morar na cidade decaída de Sodoma. Talvez tenha raciocinado
que as vantagens materiais, a cultura e os prazeres de Sodoma compensariam os
perigos, e que ele tinha forças espirituais suficientes para permanecer fiel a
Deus. Com isso em mente, ele juntamente com sua família, ficaram expostos à
imoralidade e à impiedade de Sodoma. Só, então, ele aprendeu a amarga lição de
que sua família não era forte o suficiente para resistir às influências
malignas de Sodoma.
1. Ló e
suas riquezas.
Ao
retornar do Egito, não apenas Abrão havia prosperado, mas também seu sobrinho
Ló que, por sua vez, encontrava-se sob a liderança de seu tio. O texto sacro
assim nos diz: “E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas”
(Gn 13.5). Certamente, Ló cresceu tirando proveito do tio, da sua projeção, do
seu nome, de seu prestígio, da sua influência. No entanto, Ló atentando apenas
para a condição da terra e não para os seus moradores, não imaginava que tudo
que adquirira até aquele momento, e nos poucos anos que viveu em Sodoma seriam,
rapidamente, perdidos.
2. A
guerra dos reis.
Alguns
anos depois, Sodoma como também Gomorra sofreram um ataque dos reinos de
Sinear, Elasar, Elão, Goim (Gn 14.1,2). Nesta ocasião, Ló padeceu por sua
escolha precipitada sendo levado cativo com sua família e todos os seus bens
(Gn 14.11,12). Assim, a escolha materialista e egoísta de Ló converteu-se mais
tarde em morte e destruição. Pois quem busca seus próprios interesses sem
pensar em Deus, logo cai em sua própria armadilha.
3. Abraão
socorre Ló.
Embora a
forma da separação entre tio e sobrinho não tenha sido das melhores. E, podendo
Abraão ter se negado a ajudar seu sobrinho, pelo simples fato de que a escolha
de ir para aquelas terras foi de Ló. Mesmo assim, eis o que o texto sacro diz,
ao Abraão tomar conhecimento do fato: “Quando Abrão ouviu que o seu parente estava
preso, chamou trezentos e dezoito homens treinados, nascidos em sua casa, e
perseguiu os reis até Dã. Dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus
servos, e os feriu, perseguindo-os até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.
Assim trouxe de novo todos os seus bens, e também a Ló, seu sobrinho, e os bens
dele, e também as mulheres e o povo” (Gn 14.14-16).
Abraão
não tinha um coração rancoroso e nem vingativo, pois temia e amava ao Senhor.
Por isso, ao ter sua autoridade de líder do clã afrontada pelo sobrinho, o
amigo de Deus exerceu misericórdia e perdoou o mesmo. Todavia, mesmo
recuperando seus bens, estes foram completamente perdidos na destruição de Sodoma
(Gn 19.24-26).
CONCLUSÃO
Aprendemos, diante
do exposto, que o livre-arbítrio é um dom, um presente divino ao ser humano;
mas que este precisa saber usá-lo com sabedoria e prudência. Do contrário,
padecerá pelas escolhas erradas e precipitadas que fizer! Sem dúvida alguma, é necessário
muita responsabilidade na tomada de decisões, tais como: Que profissão desejarei
seguir? Casarei ou não? E, se casarei, com quem partilharei a minha vida? Quais
virtudes essa pessoa precisa ter? Confessar ou não a Cristo? E, se já o
confessei, como estou servindo-O? Estas são apenas algumas das muitas relevantes
decisões que todos nós fizemos ou teremos que fazer. Portanto, não podemos seguir
o exemplo de Ló, que ignorando o conselho divino agiu precipitadamente por
conta própria. Antes consultemos ao Senhor, pois assim nos diz a Sua Palavra: “Confia
no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento;
reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”
(Pv 3.5,6). Deus abençoe a todos!!
REFERÊNCIAS
RICHARDS,
Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia.
CPAD.
BEACON, Comentário Bíblico. Vol. 01. CPAD.
CABRAL, Elienai. O Deus de Toda Provisão. CPAD.
STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas. (4º trimestre/2002).
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GONÇALVES, José. Lições Bíblicas. (1º trimestre/2012).
CPAD.
CRISTÃO, Revista Ensinador. Nº 68. CPAD.
Site:
https://www.dicio.com.br/escolha/
Por Amigo da EBD.
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