Rt 1.1-14
INTRODUÇÃO
Nesta presente lição, destacaremos importantes
verdades sobre a família de Elimeleque, cuja história está registrada no Livro
de Rute. Por meio desta narrativa, aprenderemos quais atitudes que esta família
tomou diante da crise que lhes sobreveio e as consequências advindas destas
escolhas; e, por fim, veremos Deus revelando-se como supridor e cheio de
misericórdia, dando a uma história trágica um grande final feliz.
I. QUANDO
A CRISE AFETA A FAMÍLIA
“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam,
houve uma fome na terra [...]” (Rt 1.1a). Assim se inicia o livro de Rute,
relatando uma grande crise econômica que afetou a cidade de Belém antigamente
chamada de Efrata (Gn 35.19; 48.7; Rt 4.11). Tal situação se instaurou não
somente por causas naturais, mas porque nesse período dos juízes o povo de
Israel diversas naufragou na fé dando as costas para Deus adorando aos ídolos e
vivendo de forma desregrada (Jz 2.11; 3.7,12; 4.1; 6.1; 10.6; 13.1; 17.6). Deus
puniu o seu povo como havia prometido (Dt 28.15-68).
1.1 A família de Elimeque (Rt 1.1,2).
Entre os belemitas destaca-se nesse período a
família de Elimeleque cujo nome significa: “Deus
é rei”. Esse homem era casado com uma mulher chamada Noemi que significa: “agradável”. Com ela teve dois filhos, a
saber: Malom que quer dizer: “doentio”
e Quiliom “definhante”. Os nomes dos
filhos podem revelar que ambos tinham a saúde debilitada.
1.2 A decisão de Elimeleque (Rt 1.1).
Quando Elimeleque, o pai de família, viu a crise
econômica chegar em Belém, se viu na responsabilidade de como mantenedor da
família tomar uma decisão que viesse resolver este problema. A Bíblia diz que
ele resolveu fugir da crise indo para a terra de Moabe. Segundo Lopes (2012, p.
24) ,“quando falta pão na Casa do Pão, a solução não é abandonar Belém, mas
esperar a intervenção de Deus”. Moabe ficava num planalto a leste do mar Morto,
a uns oitenta quilômetros de Belém. O motivo da atitude de Elimeleque era nobre,
proporcionar sustento a sua família, todavia a atitude de fuga da adversidade e
o lugar para onde este patriarca se dirigiu nos mostram quão grande erro
cometeu. Por exemplo: a) a Bíblia nos informa que Moabe foi um filho de Ló, o
fruto de um relacionamento incestuoso de Ló com uma de suas filhas (Gn.
19.36,37); b) os moabitas pagaram a Balaão para amaldiçoar Israel, durante a
peregrinação de Israel a Canaã (Nm. 22.1-8); c) sob circunstâncias normais os
moabitas eram excluídos da participação da vida nacional e cooperativa de
Israel (Dt 23.3-6). e, d) Na batalha contra Josafá os moabitas se aliaram com
os amonitas e os edomitas para virem contra Judá (II Cr 20.1). É sempre muito
perigoso para o crente “peregrinar” por qualquer lugar sem a orientação divina,
ainda mais sabendo de antemão que determinado lugar é hostil a fé que
professamos. A voz da necessidade não pode ser mais forte que a voz de Deus
para nos dirigir.
1.3 As crises na família de Elimeleque (Rt 1.3-5).
Elimeque saiu de Belém para resolver uma dificuldade e
acabou contraindo mais problemas. Saiu para peregrinar em Moabe, no entanto,
passou ali quase “dez anos” (Rt 1.4). Nesse período ele veio a falecer (Rt
3.1); seus filhos casaram-se com mulheres que não eram de Israel (Rt 1.4); depois,
seus filhos também morreram (Rt 1.5a). “O Talmude considera isto punição por
terem deixado Judá” “(CUNDALL apud BATHRA, 1986, p. 235). O texto bíblico narra
a situação que ficou Noemi “ficando assim a mulher desamparada dos seus dois
filhos e de seu marido” (Rt 1.5b). Nenhuma família se prepara para a morte de
um dos membros. Tal situação desestabiliza o homem física, emocional,
financeira e algumas vezes espiritualmente. Precisamos estar prontos para
enfrentar estas dificuldades contando sempre com a graça de Deus (II Co 12.9).
II. RETORNANDO
AO LUGAR DE ORIGEM
Deus nunca deixou de cuidar do seu povo. Seja a
privação como punição pelo pecado ou por provação, a escassez era temporária,
nunca permanente (Hc 3.2). Embora Judá estivesse passando por uma crise, Deus
interviu no tempo certo, enviando-lhes o necessário “Então se levantou ela com
as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu
que o SENHOR tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão” (Rt 1.6). Quando soube
que Deus havia suprido a necessidade do seu povo em Belém, Noemi, resolveu
tomar algumas atitudes. Vejamos quais foram:
2.1 Retornar a Belém: uma atitude certa (Rt 1.6).
Noemi, resolveu retornar de Moabe para Belém ao saber
das boas notícias da provisão de Deus para o seu povo. Para isto, propôs em seu
coração despedir-se das suas duas noras, Rute e Orfa. A princípio ambas
resistiram deixá-la, no entanto, Orfa atendeu a voz de Noemi, porém, Rute
apegou-se a sua sogra demonstrando que não somente estava disposta a estar
junto dela, no lugar que esta quisesse, como também até de aceitar a fé no Deus
que Noemi servia (Rt 1.16,17). Como podemos ver, enquanto estivermos com vida,
haverá oportunidade de regressarmos do caminho errado para o caminho certo (Jr
4.1; 15.19; Lc 15.17-20).
2.2 Acusar Deus: uma atitude errada (Rt 1.9,20,21).
Diante do sofrimento que estava enfrentando, Noemi
acusou Deus o tempo todo. Ela disse as suas noras “a mão do SENHOR se
descarregou contra mim” (Rt 1.9b). Diante do povo de Belém afirmou: “Não me
chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo
Poderoso” (Rt 1.20b). Acrescentou ainda dizendo: “Cheia parti, porém vazia o
SENHOR me fez tornar” (Rt 1.21a). E, por fim, “O SENHOR testifica contra mim,
e o Todo Poderoso me tem feito mal” (Rt 1.21b). Segundo Champlin (2001, p.
1099), “a teologia dos hebreus era deficiente quanto a causas secundárias dos
sofrimentos; e, por isso mesmo, todas as coisas eram lançadas na conta de
Deus”. Com frequência, o ser humano procura alguém para transferir a culpa
pelos erros que cometeu (Gn 3.12). Todavia, o profeta Jeremias nos responde a
esta questão com as seguintes palavras: “De que se queixa, pois, o homem
vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados” (Lm 3.39).
2.3 Rever os conceitos: uma atitude certa (Rt 2.20).
Noemi havia culpado Deus pelos sofrimentos que havia passado em Moabe. Todavia,
após regressar para Belém, sua visão mudou. Deus ao contrário do que ela
pensava, ao invés de prejudicá-la estava a todo tempo cuidando da sua vida,
como ela pôde asseverar mais tarde: “Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não
tem deixado a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos”
(Rt 2.20a). Somos tentados a pensar que em momentos de crise estamos sós e que
Deus não se importa com o nosso sofrimento. Tal pensamento não se coaduna com o
caráter divino, “porque a sua benignidade dura para sempre” (Sl 136.1).
III. COMO
DEUS SE REVELOU NO LIVRO DE RUTE
Embora o livro de Rute nos mostre diversos sofrimentos
que sobrevieram ao povo de Judá e especificamente a família de Elimeleque, ele
também nos mostra que mesmo ao mais intenso sofrimento, o nosso Deus pode se
revelar de forma gloriosa. Vejamos como Deus se revelou:
3.1 O Deus da provisão (Rt 1.6; 2.3; 14-17).
Segundo Aurélio provisão é: “ato ou efeito de prover;
fornecimento, abastecimento” (2004, p. 1650). Sendo assim, podemos definir a
provisão divina como a atividade do Deus Soberano, em provê as necessidades da
sua criação, intervindo para sua preservação (CAMPOS, 2001, p. 8). No caso
dessa história no livro de Rute, vemos Deus agindo da seguinte maneira: a)
providenciando Rute para estar com ela, lhe fazendo companhia; b) conduzindo
de forma invisível os caminhos de Rute para trabalhar numa eira que pertencia a
Boaz parente de Elimeleque, o falecido esposo de Noemi; c) fazendo Rute
alcançar graça aos olhos de Boaz sendo beneficiada na colheita; e, d)
permitindo o casamento de Boaz com Rute, suscitando descendência a Noemi (Rt
4.13-15).
3.2 O Deus da compaixão (Rt 2.20).
A palavra “compaixão” segundo o Aurélio quer dizer:
“pesar que em nós desperta ante a infelicidade, a dor, o mal de outrem” (2004,
p. 507). Segundo Soares (2008, p. 76), “misericórdia é o termo teológico para
compaixão; trata-se da disposição de Deus para socorrer os oprimidos e perdoar
os culpados”. A Bíblia nos mostra que Deus cheio de compaixão e misericórdia
(Nm 14.18; I Cr 21.13; Ne 9.31; Sl 86.15; Jn 4.11). No período dos juízes,
especificamente, vemos que sempre que Israel pecava contra Deus, ele recebia
severas punições (Jz 1.4; 2.14; 13.1). Todavia, quando este povo arrependido se
voltava para Deus, ele os perdoava e abençoava (Jz 2.16; 3.9,15). De igual
forma, apesar dos erros cometidos por Elimeque, Deus resolveu usar de misericórdia
em relação a sua esposa (Rt 1.6). Na oração de Habacuque, vemos o profeta
pedindo: “[...] na tua ira lembra-te da misericórdia” (Hc 3.2).
3.3 O Deus que muda a história (Rt 4.14-22).
Diante das vicissitudes da vida, Noemi cujo nome
significa “agradável” desejou que a chamassem de Mara que significa: “amarga”.
Na sua precipitação, atribuiu sua amargura a Deus, entendo que Ele a puniu
junto com a sua família (Rt 1.20-b). Todavia, apesar de tal cosmovisão errada a
respeito de Deus, Noemi ao retornar para Belém, viu o Senhor reconstruir sua
vida e mudar a sua história. Rute, casou-se com Boaz. Este homem é apresentado
em Rute 2.1 como “homem poderoso e rico”, parente do marido falecido de Noemi.
Ele era dono das terras nas quais Rute foi respigar, quando buscava um campo
onde recolher algumas espigas (Rt 2.3). Sua chegada no campo deu a Boaz a
oportunidade inicial de tornar-se seu benfeitor e abriu o caminho para que se
casasse com ela no sistema do levirato (Dt 25.5,6; Rt 3 e 4). Sua união foi
abençoada com um filho que recebeu o nome de Obede que significa: “servo”.
Através deste, o nome do seu marido poderia ser levado adiante por meio dos
seus descendentes. Obede foi o pai de Jessé, avo de Davi, e ancestral do Senhor
Jesus (Rt 4.17,21,22; 1 Cr 2.12; Mt 1.5; Lc 3.32). O resgate das terras de
Elimeleque por Boaz; seu casamento com Rute; e, este filho nascido dessa união
trouxe tanta alegria a Noemi que as mulheres lhe diziam: “[...] Bendito seja o
SENHOR, que não deixou hoje de te dar remidor, e seja o seu nome afamado em
Israel. Ele te será por restaurador da alma, e nutrirá a tua velhice [...]” (Rt
4.14,15 – grifo nosso). Deus reverteu todos os infortúnios vividos por Noemi,
restaurando-lhe a sorte em todas as áreas da sua vida.
CONCLUSÃO
Não devemos fugir da crise. Antes, precisamos em
momentos de dificuldade, seja em que área for, buscarmos a Deus confiando que
Ele é o nosso supridor e jamais nos deixará desemparados, pois Ele “[...]
trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4).
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Claudionor Correa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
CAMPOS, Heber.
A Provisão e a sua realização
histórica. CULTURA CRISTÃ.
CHAMPLIN,
Norman R. N. O Antigo Testamento
interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
STAMPS, Donald
C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Por Rede Brasil
de Comunicação.
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