Fp 4.10-20
INTRODUÇÃO
Chegamos ao final desse último trimestre de 2016, e
nessa última lição teremos a oportunidade de destacar o que significa o termo
fidelidade no que diz respeito ao ser de Deus, também pontuar a fidelidade
divina na condução da história; bem como ressaltar a gratidão de Paulo aos
filipenses pela sua cooperação, e sobre tudo notar que em meio aos sofrimentos
podemos contar com a fidelidade de Deus.
I.
DEFININDO O TERMO FIDELIDADE
1.1 Fidelidade.
O Aurélio diz que esta palavra significa:
“qualidade de fiel; lealdade. Constância, firmeza nas afeições, nos
sentimentos; perseverança. Observância rigorosa da verdade; exatidão”
(FERREIRA, 2004, p. 894). Do hebraico “aman” e do grego “aletheia”,
ambos os termos significam: “o firme compromisso de Deus em manter as
alianças por Ele estabelecidas com seu povo”. Sua fidelidade advém da
natureza absoluta e infinitamente justa (2 Ts 3.3) e do exercício destes
atributos: onipotência, onisciência e onipresença (ANDRADE, 2006, p. 190).
1.2 Fidelidade como atributo divino.
A fidelidade como um atributo de Deus, denota a
certeza que tudo quanto Ele declarou ser sua vontade, terá pleno cumprimento. O
Senhor não é arbitrário e nem displicente, antes, é sempre confiável em tudo
que d iz e promete (Hb 6.18; 10.23; Ap 1.5; 3.7, 14). Sobre a fidelidade divina
ainda podemos destacar: a) Sua fidelidade
é grande (Lm 3.23); b) Permanente
(Sl 100.5; 2 Tm 2.13); e c) Extensa
(Sl 36.5) (CHAMPLIN, 2004, p.725 – acréscimo nosso).
II. A FIDELIDADE DE DEUS AO CONDUZIR A HISTÓRIA
Esta carta aos Filipenses foi escrita em
circunstâncias difíceis enquanto o apóstolo Paulo estava preso. Apesar dessa
condição podemos perceber em cada momento dessa epístola e também fora dela, a
fidelidade de Deus é reafirmada na história humana.
2.1 Direcionando os seus servos na obra
missionária.
Em sua segunda viagem missionária a intenção do
apóstolo Paulo era ir para Ásia, e depois para Bitínia, mas foi impedido pelo
Espírito Santo (At 16.6,7). Estando em Trôade, Lucas conta que Paulo teve uma
visão, que lhe deu nova rota para sua tarefa missionária (At 16.9). Após esta
visão, o apóstolo concluiu que Deus o chamava para ali pregar o evangelho (At
16.10-12).
2.2 Na fundação da igreja em Filipos.
“A primeira igreja estabelecida na Europa, na
colônia romana de Filipos, nos revela o poder do evangelho em alcançar pessoas
de raças diferentes, de contextos sociais diferentes, com experiências
religiosas diferentes (Lídia asiática, a escrava era grega e o carcereiro
romano), dando a elas uma nova vida em Cristo; formando uma igreja
multicultural, mostrando que o evangelho de Cristo alcança a todas as pessoas”
(LOPES, 2004, p.13 – acréscimo nosso) (At 16.14-18, 27-33). Embora Paulo tenha
encontrado dificuldades (At 16.19-24); Deus conduziu em triunfo a pregação do
evangelho naquela cidade, tornado-se “a porta de entrada para o evangelho na
Europa” (At 16.12).
2.3 Através da prisão de Paulo.
Paulo estava preso, impedido de viajar, de visitar
as igrejas e de abrir novos campos. O apóstolo não cria na casualidade nem no
determinismo, antes, na fidelidade de Deus. Ele sabia que a mão soberana da
providência guiava o seu destino e que os seus sofrimentos estavam incluídos
nos planos do Eterno para o cumprimento de propósitos mais elevados (Fp
1.12-14; Is 55.9). Paulo diz que as coisas que lhe aconteceram, em vez de
desmotivá-lo, decepcioná-lo ou ainda, atrapalharem o projeto missionário,
contribuíram para o progresso do evangelho. O termo grego “prokope” significa: “avanço
pioneiro”; é um termo militar que se referia aos engenheiros do exército
que avançavam à frente das tropas para abrir caminho em novos territórios […]
“O mesmo Deus que usou o bordão de Moisés, os jarros de Gideão e a funda de
Davi usou as cadeias de Paulo” (WIERSBE, 2006, p.85). Mesmo na prisão os planos
de Deus não foram frustrados, Paulo aproveita-se da oportunidade para
evangelizar a guarda pretoriana (Fp 1.13); que era a guarda imperial, a tropa
de elite de Roma. Segundo Lopes “Dia e noite, durante dois anos, Paulo era
preso a um soldado dessa guarda por uma algema. Visto que cada soldado cumpria
um turno de seis horas, a prisão de Paulo abriu caminho para a pregação do
evangelho no regimento mais seleto do exército romano. Paulo, no mínimo, podia
pregar para quatro homens todos os dias. Toda a guarda pretoriana sabia a razão
pela qual Paulo estava preso, e muitos desses soldados foram alcançados pelo
evangelho” (Fp 4.22) (LOPES, 2004, p.72). As cadeias de Paulo não apenas o
colocaram em contato com os perdidos, mas também serviram para encorajar os
salvos (Fp 1.14).
III. A
FIDELIDADE DEUS ATRAVÉS DOS FILIPENSES
Não há dúvida de que havia um carinho especial do
apóstolo Paulo em relação à igreja de Filipos, isso se dá pela demonstração do
cuidado de Deus para com Paulo por meio daqueles irmãos.
3.1 A gratidão do apóstolo.
É interessante a forma suave como Paulo agradece
aos filipenses por terem lhe enviado o sustento necessário: “Ora,
muito me regozijei no Senhor por, finalmente, reviver a vossa lembrança de mim;
pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade” (Fp
4.10). A preocupação daqueles irmãos com o seu líder nada mais era do que uma
retribuição à sua dedicação para com eles, ou seja, havia uma reciprocidade
amorosa entre o pastor e as ovelhas. Isso está claro nas palavras de Paulo em
toda a epístola (Fp 1.3-8; 2.19; 4.1).
3.2 O cuidado da igreja para com Paulo.
A igreja em Filipos era dotada de uma profunda
consciência no que dizia respeito ao sustento dos obreiros. Quando o evangelho
começou a avançar na Macedônia e adjacências foram esses crentes que proveram
as necessidades do apóstolo Paulo (Fp 4.15); depois, quando estava em
Tessalônica, por duas vezes foi ajudado pelos filipenses (Fp 4.16). Quando
escreveu a epístola, Paulo agradeceu novamente por mais uma ajuda a ele enviada
(Fp 4.10). Muito diferente da consciência dos filipenses, era a dos crentes de
Corinto. Alguns deles chegavam a duvidar do apostolado de Paulo e se esqueciam
de que fora ele quem fundara aquela igreja (1 Co 9.1). Paulo teve ainda que
justificar o direito que ele tinha como apóstolo, de ser sustentado pela igreja
(1 Co 9.2-10). Ele fez isso traçando um paralelo entre a Antiga e a Nova
Aliança. Paulo demonstrou que o princípio válido para os levitas (mais
especificamente para os sacerdotes), que eram, por determinação divina,
sustentados pela nação de Israel, continuava válido no período da Igreja em
relação àqueles que se dedicam integralmente à obra do Senhor (Nm 18.20-24; 1
Co 9.13,14).
IV. A
FIDELIDADE DE DEUS EM MEIOS AOS SOFRIMENTOS
É inspirador observar o contentamento do apóstolo
Paulo em meio às mais variadas provações. A carta aos filipenses é uma prova
incontestável dessa verdade. Em vários trechos, Paulo manifesta sua alegria e a
recomenda aos crentes, mesmo estando ele preso (Fp 1.3,4; 2.2,17,18; 3.1; 4.4).
O apóstolo deixa claro que, apesar de está grato pelo envio do sustento, o seu
bem-estar não dependia disso, pois a sua suficiência estava em Cristo.
4.1 “Não digo isto como por necessidade, porque já
aprendi […]” (Fp 4.11a).
O termo utilizado, traduzido por “aprendi”
é “manthano”,
que dentre outros significados aponta para: “aprender ou compreender de uma
vez por todas através da experiência”. O apóstolo teve experiências de
atravessar as mais terríveis provações e sair vitorioso, porque entendia que o
sofrimento tem objetivo pedagógico (Fp 4.12). Confira também (Sl
119.67,71).
4.2 “[…] a contentar-me com o que tenho” (Fp 4.11b).
A palavra “contente”, no grego “autarkes”,
era muito utilizada naquela época pelos filósofos estóicos. Eles diziam que “um homem que em quaisquer circunstâncias
conseguisse permanecer contente, era um homem verdadeiramente feliz”. No
contexto desta e de outras passagens Paulo condena a ambição, que é o antônimo
(contrário) do contentamento (Rm 12.16; 1 Tm 6.8). Aqueles que não sabem se
contentar com o que tem “caem em tentação, em laço, em muitas
concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”
(2 Tm 6.9). São bastante adequadas às palavras do sábio Agur para nos vacinar
contra isso (Pv 30.8,9). Não é demais lembrar que o apóstolo Paulo estava preso
quando escreveu a mais alegre de todas as suas epístolas (Fp 1.12,13,17; Fp
1.3,4; 2.2,17,18; 3.1; 4.4). Então, ele tinha autoridade para ensinar acerca do
contentamento cristão.
4.3 “Posso todas as coisas em Cristo que me
fortalece” (Fp 4.13).
Antes de Paulo fazer esta declaração, ele diz o que
podia em Cristo: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em
todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a
ter abundância, como a padecer necessidade” (Fp 4.12). Percebe-se
claramente aqui o que realmente Paulo queria dize: “ele podia em Cristo viver sob qualquer condição”. A Bíblia NTLH
(Nova Tradução da Linguagem de Hoje), traz uma tradução bastante interessante
deste versículo é a seguinte: “Com a força que Cristo me dá, posso
enfrentar qualquer situação”. Logo, o apóstolo apoiava-se na
dependência de Cristo, e não em si mesmo.
CONCLUSÃO
Concluímos, portanto, por meio da experiência do
apóstolo Paulo que a fidelidade de Deus é garantida em quaisquer situações aos
crentes que lhe são fiéis. Aprendemos também que Deus possui o controle da
história em sua mão e tudo faz para a glória do Seu Nome. De modo que, podemos
nos alegrar em meio aos sofrimentos, crendo que Ele é poderoso para suprir
todas as nossas necessidades em Cristo Jesus (Fp 4.19).
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor Correa de. Dicionário Teológico. CPAD.
CHAMPLIN, Norman. Enciclopédia de Bíblia e Teologia e Filosofia. HAGNOS.
LOPES, Hernandes Dias. Comentário Expositivo Filipenses. HAGNOS.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. GEOGRÁFICA.
Por Rede Brasil
de Comunicação.