Lv 7.11-21
INTRODUÇÃO
Nesta lição
falaremos detalhadamente de uma das cinco ofertas do sistema levítico – a
oferta pacífica; trataremos de três aspectos desta oferta, a saber: ações de
graças, voto e a oferta voluntária; pontuaremos quais as especificações da oferta
de paz; e, por fim, traremos as devidas aplicações para a igreja.
I. DEFINIÇÃO DE OFERTA PACÍFICA
A expressão “oferta
pacifica” no hebraico: “shalom” significa: “paz,
bem, feliz, tranquilo, saúde e prosperidade”. Era também chamada de “oferta
de paz” ou de “ofertas de comunhão”. Josefo (historiador
judeu do primeiro século) também chamava-a de “ofertas de agradecimento” (JOSEFO
apud CHAMPLIN, 2001, p. 487). Tais termos denotam que esta oferta não era para
pacificar a Deus, mas era apresentada pelo ofertante que já estava em comunhão
com Deus. Nesta oferta, podia se oferecer “gado” (Lv 3.1); ou “gado
miúdo” (Lv 3.6) tais como: “cordeiro” (Lv 3.7) ou “cabra”
(Lv 3.12); podendo ser “macho ou fêmea” (Lv 3.1,7,12),
desde que fosse “sem defeito” (Lv 3.1,6). O ofertante tinha de
impor a mão sobre a cabeça da sua oferta (Lv 3.2,8,13), matar o animal e
apresentar ao sacerdote os pedaços a serem oferecidos (Lv 3.3,4,9,10,14,15). Em
seguida, o sacerdote ministrante os queimava no altar (Lv 3.5,11,16). A outra
parte da carne fazia parte da refeição (Lv 7.14,15,16). Quanto a “gordura”
e ao “sangue”, estes dois, não poderiam jamais ser
comidos, mas oferecidos ao Senhor como oferta queimada (Lv 3.16,17).
II. TIPOS DE OFERTA PACÍFICA
Os sacrifícios
pacíficos tinham três variedades, a saber: “ofertas de ações de graças” (Lv
7.12), “ofertas votivas” (Lv 7.16) e “ofertas voluntárias” (Lv
7.29). Vejamos cada um destas detalhadamente:
1.
Ações de graças.
O primeiro tipo
era oferecido por benefícios recebidos de Deus. A dádiva de ações de graças no hebraico
“tôdâ” representava o reconhecimento do ofertante quanto às
misericórdias de Deus para com ele (Lv 7.12-21). Embora todas as coisas
pertençam a Deus em última análise, seu relacionamento com o crente exige que
este último transfira a Deus uma certa proporção daquelas coisas que foram
confiadas a ele (1 Cr 29.14). Esta exigência remove o relacionamento espiritual
de um nível puramente verbal, e exige esforço do participante humano para sua
dedicação ser posta em prática. Juntamente com a oferta de ações de graças
vários tipos de “bolos asmos”, “coscorões ázimos”, e, “bolos
de flor de farinha” deviam ser apresentados (Lv 7.12,13), um dos quais
era a porção do Senhor e era dado ao sacerdote oficiante (Lv 7.14). Nesta
oferta o adorador não tinha licença de deixar qualquer parte da carne do animal
sacrificial para outro dia mas, sim, era-lhe exigido que a comece na ocasião em
que foi oferecida (Lv 7.15).
2.
Voto.
Esta oferta é
chamada no hebraico “neder” era feita para cumprir um voto (Lv
7.16; 22.21). O sacrifício do seu voto “oferta votiva” era
prometido a Deus na esperança de receber ajuda divina (Sl 66.13,14; 116.1-19).
Um voto é “um juramento ou um compromisso de caráter religioso, e também uma
transação qualquer entre o homem e Deus, de acordo com a qual o individuo
dedica a si mesmo ou o seu serviço ou alguma coisa valiosa a Deus (Gn 28.20; Nm
6.2; 1 Sm 1.11). Essa era uma característica comum entre os israelitas (Lv
7.16; 22.18,21; Nm 6.2,5; 15.3,8; 21.2; 29.39; 30.2-9,11-14; Dt 12.6,11,17,26;
23.18,21; Jz 11.30,39; 1 Sm 1.21; 2 Sm 15.7,8; Jó 22.27; Sl 22.25; 50.14;
56.12; Pv 7.14; Ec 5.4; Is 19.21; Jr 44.25; Jn 1.16; Na 1.15)” (CHAMPLIN, 2004,
p. 689 – acréscimo nosso).
3.
Oferta voluntária.
A oferta “voluntária”
(Lv 7.28-30) ou oferta “movida” (Lv 7.30), no hebraico “nedãbâ”
consistia em um ato de homenagem e obediência ao Senhor num caso em que
nenhum voto tinha sido feito, mas que o ofertante desejava voluntariamente
ofertar ao Senhor: “as suas próprias mãos trarão [...]” (Lv
7.30-a). Embora os sacerdotes receberam instruções no sentido de se assegurarem
que todas ofertas sejam sem defeito, e o catálogo das incapacidades físicas que
desqualificavam os descendentes do serviço no santuário é aplicado aos animais
sacrificiais (Lv 22.22,24). A única exceção é a dos animais que aparentemente
exibem danos “genéticos”, ou seja, “não físicos”, e
até mesmo estes podem ser sacrificados somente por oferta voluntária (Lv
22.21,23). Para uma oferta voluntária ou uma que era feita para cumprir um
voto, o ofertante tinha licença de usar um dia adicional para completar a
festa, e, nesta ocasião provavelmente convidaria amigos para participarem da
refeição (Dt 12.12). Especificamente qualquer carne que permanecia depois daquele
tempo tinha de ser queimada, mais provavelmente como uma medida higiênica (Lv
7.17). O descumprimento desta ordem consistia em pecado resultando em morte (Lv
7.18).
III. CARACTERÍSTICAS DA OFERTA
PACÍFICA
No Livro de
Levítico há instruções detalhadas sobre quando as ofertas pacíficas eram
comidas (Lv 7.15-17), quem poderia comê-las (Lv 7.20,21), o que podia ser
comido (Lv 7.24-26) e, quais porções pertenciam a quem (Lv 7.31-35). Abaixo,
destacaremos algumas características da oferta de paz que a diferencia das
outras. Vejamos:
1.
Uma oferta queimada ao Senhor.
A oferta
pacífica era “oferta queimada ao Senhor”, no entanto, apenas parte
da oferta deveria ser queimada (Lv 3.3,4,9,10,14,15). A especificação é
que a “gordura, os rins e o redenho” deveriam ser oferecidos para
o Senhor (Lv 3.3,4).
2.
Uma oferta que o sacerdote ministrante se alimentava.
Algumas ofertas,
apesar de serem oferecidas ao Senhor, serviam de alimento para os sacerdotes
(Lv 2.3,10). Deus, como sempre, se preocupou com o sustento daqueles que vivem exclusivamente
para a obra. Falando especificamente da “oferta pacífica” como
havia muitos sacerdotes, aquele que ministrava esta oferta era quem deveria
comer dela, como uma recompensa pelo seu trabalho (Lv 7.14,31,32,34-35).
3.
Uma oferta que o ofertante se alimentava com sua família.
Na oferta
pacífica apenas uma parte era queimada ao Senhor (Lv 3.5,11,16), enquanto que a
outra parte o adorador reunia-se ao sacerdote na refeição sacrificial, daquilo
que restava. Portanto, este era o único sacrifício em que o ofertante tinha
licença de participar (Lv 7.14,15).
4.
Uma oferta que os pobres podiam participar e outros convidados.
Além do
sacerdote oficiante, o adorador, os membros de sua família; as pessoas pobres
que fossem convidadas podiam também participar “E vos alegrareis perante
o SENHOR vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos,
e as vossas servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco
não tem parte nem herança” (Dt 12.12).
IV. A OFERTA PACÍFICA E A SUA
APLICAÇÃO PARA A IGREJA
Em Levítico, são
listados cinco tipos de sacrifícios (Lv 1.3-17; 2.1-16; 3.1-17; 4.1-5;
5.14-16). Todos estes sacrifícios podem ser reduzidos a somente dois: (a) o
primeiro, abrangendo aqueles sacrifícios oferecidos antes da reconciliação e os
que visavam obtê-la; e, (b) o segundo, os sacrifícios oferecidos depois
da reconciliação e para celebrá-la. Isto aponta para uma verdade bem clara no
NT, o sacrifício pelo pecado foi efetuado por Cristo (Gl 1.4; 2.20; Ef 5.2,25; 1
Tm 2.6; Tt 2.14; Hb 9.14), por meio do qual temos paz com Deus (Rm 5.1; Cl
1.20); o sacrifício por gratidão pela absolvição é feita pelo pecador redimido.
Vejamos:
1.
Ações de graças.
O termo “ações
de graças” ou seja é o ato de dar “graças a Deus”. Jesus
deixou-nos o grande exemplo de ações de graças (Mt 11.25; 26.27; Jo 6.11;
11.41). Os seres celestiais ocupam-se desse ato de devoção (Ap 4.9; 7.11,12;
11.16,17). Trata-se de um ato de devoção ordenado por Deus (Sl 50.25; Fp 4.6 e
1 Ts 5.18). Trata-se de coisa boa, sendo benéfica para quem se mostra grato ao
Senhor (Sl 92.1). Deve ser expressa a gratidão a Deus (Sl 50.14), a Cristo (1 Tm
1.12), em nome de Cristo (Ef 5.20), na adoração pública (Sl 35.18), na adoração
individual (Dn 6.10), em tudo (1 Ts 5.18), por todas as coisas (Ef 5.20). Devem
ser expressas contínuas ações de graças (Ef 1.16; 5.20 e 1 Ts 1.2). Devem ser expressas
ações de graças pela bondade e pela misericórdia de Deus (Sl 106.1; 107.1;
136.1-3). Devem ser dadas ações de graças ante o sucesso em qualquer
empreendimento (Ne 12.31,40). Também pelo suprimento das necessidades físicas,
e antes das refeições (Jo 6.11; At 27.35). Por causa do grande dom de Cristo (2
Co 9.15).
2.
Voto.
A prática do “voto”
não é exclusivamente judaica, mas também cristã. Ainda hoje nós podemos
fazer votos ao Senhor. É bom destacar que: (a) o voto não não obriga
Deus a conceder o que pedimos, pois Deus não faz nada contra a Sua vontade (1
Jo 5.14); (b) o voto não pode ser confundido com barganha, pois Deus não
se submete a isso (Dt 10.17; 2 Cr 19.7); (c) não devemos votar e não
cumprirmos (Pv 20.25; Ec 5.4); e, (d) o voto, deve ser feito como
expressão de gratidão a Deus, por uma bênção que se almeja receber (Sl 22.25;
61.8; 76.11; 116.14,18; Pv 7.14). Quanto ao voto de consagração da própria vida
ao Senhor, há uma grande diferença entre os votos do AT e do NT. Os primeiros
eram uma obrigação passageira (Nm 6.1-21), ao passo que na Nova Aliança sempre
envolve uma relação permanente com Cristo e sua cruz até a morte: “Rogo-vos,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm
12.1). Veja também: (Mt 16.24; Rm 6.13; 1 Co 6.20; 1 Pd 1.15-19).
3.
Oferta voluntária.
A expressão “oferta
voluntária” indica que as demais ofertas eram exigidas por Deus,
enquanto que estava ficava a cargo da voluntariedade do ofertante (Lv 22.21;
23.38; 15.3). Esta oferta voluntária tem diversas aplicações para a vida
cristã. Por exemplo: (a) devemos ofertar o nosso louvor, não como uma
obrigação religiosa, mas com voluntariedade (Sl 54.6; 119.108); (b) o
crente não deve se limitar apenas a entregar os seus dízimos o que é uma exigência
bíblica (Gn 14.18-20; 28.18-22; Nm 18.21-32; Dt 12.1-14; 14.22-29; Pv 3.9; Ml
3.10; Mt 23.23; 1 Co 9.9-14); ele também deve ofertar com liberalidade e
alegria: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza,
ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7).
CONCLUSÃO
O sacrifício
pelo pecado foi provido pelo próprio Deus, quando nos enviou Cristo Jesus.
Agora, tendo paz com Deus, nós cristãos podemos lhe oferecer ações de graças,
como gratidão por todos os benefícios que dEle temos recebido.
REFERÊNCIAS
ü ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.CPAD.
ü CHAMPLIN,
R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
ü HARRISON,
R.K. Levítico: MUNDO CRISTÃO.
ü HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
ü HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
ü STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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