Ap 12.7-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos sobre uma das principais doutrinas das Escrituras conhecida como:
demonologia, ou seja, o estudo da origem e natureza dos demônios; veremos a
organização desses seres no reino das trevas à luz da Bíblia e a sua atuação na
esfera humana; ressaltaremos falsos conceitos sobre a origem dos demônios como
também a queda do maioral dos demônios; e por fim, pontuaremos o que se é ensinado
biblicamente sobre o destino final dos anjos caídos.
I. QUEM SÃO OS
DEMÔNIOS
1. Significado do termo.
No AT há poucas
ocorrências do termo demônio (Lv 17.7; Dt 32.17; 2Cr 11.15; Sl 106.37). No NT a
designação usual para demônios é: “daimonion”, um diminutivo de “daimon”,
e aparece cerca de 46 vezes (Mt 7.22; 8.3; Mc 1.34; Lc 4.41; 8.2,27; etc)
(OLIVEIRA, sd, p. 797), A etimologia da palavra deriva de: “doiomai”,
que traz a ideia de: “dividir, partilhar” (SILVA, 1997, p.
88), se refere a seres espirituais hostis a Deus e aos homens sendo Belzebu o
seu príncipe (Mc 3.22), pelo que os demônios podem ser considerados seus
agentes; dessas referências a maior parte delas (16 vezes) estão no Evangelho
escrito por Lucas, que sendo médico (Cl 4.14) não só reconheceu a existência
como também testemunhou a atuação desses espíritos malignos na esfera humana
(Lc 16.1-18) (DOUGLAS, 2006, p. 325 – acréscimo nosso).
2. Origem e natureza.
Os demônios são
os anjos caídos que se rebelaram contra Deus (2 Pe 2.4; Jd 6), eles foram
criados por Deus e eram originalmente bons e, assim como o ser humano, dotados
de livre-arbítrio; porém, sob a direção de Satanás, eles pecaram e rebelaram-se
contra Deus, tornando-se maus (Ap 12.9). São identificados nas Escrituras como:
“espíritos
imundos” (At 8.7) “espíritos malignos” (At 19.12), e, “demônios”
(Lc 9.1). Quanto a sua natureza de acordo com as Escrituras eles: a) são seres espirituais (Mt 8.16; Mc
1.23; 9.17-25; Ef 6.12); b) possuem
intelecto (Mc 1.35,34; 1Tm 4.1-6) 1Jo 4.1-4); c) emoções, pois estremecem (Tg 2.19), gritam e imploram (Lc 8.28),
têm ira (Ap 12.12); d) possuem vontade (Lc 8.31,32; Jd 6); e) são malignos (Lc 8.2;
At 19.12-13; Ef 6.16); e f) possuem poder (Mc 5.1-4; At
19.16; Ap 16.13,14). O número de demônios aparentemente é muito alto (Ap
9.13-19), Jesus expulsou sete de Maria Madalena (Mc 16.9; Lc 8.2) e na
possessão do gadareno é dito que tinham muitos (Mc 5.9). Eles são espíritos
maus desprovidos de corpos, capazes de possuir corpos humanos (Lc 11.24-26) e de
animais (Mc 5.12,13).
3. Organização hierárquica.
Que existe um
reino tenebroso, diabólico, organizado no mundo espiritual influenciando as
nações e os povos para o mal em todos os sentidos, fica claro quando lemos as
Escrituras (Mt 12.26), como declarou o apóstolo Paulo: “Porque não temos que lutar contra
a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes
espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Quatro
designações são usadas por Paulo que descrevem diferentes posições desses
demônios e o império sobrenatural do mal no qual eles operam (Ef 2.2), entre
estas designações estão: a) principados,
do grego “archai”, que quer dizer: “primeiros”, na hierarquia do reino
das trevas são os que ocupam posições mais elevadas (Cl 2.15; 1 Pe 3.22); b)
potestades
o termo usado é: “exousia” que aponta para poderes espirituais; c) príncipes que significa: “líderes,
comandantes, que tem responsabilidades sobre outros”, este termo é
usado para designar o príncipe da Pérsia (Dn 10.13), e no NT os fariseus
acusaram Jesus de expulsar demônios por Belzebu, “príncipe dos demônios”
(Mt 12.24; ver Ef 2.2); e, d) hostes
espirituais, designados pelo termo “skotos”, indicando que vivem
na escuridão (Mt 8.12), esses têm o poder de produzir possessão,
assenhorando-se das vidas que possuem (BRUNELLI, 20016, p. 433)
4. Atuação.
Tanto anjos como
demônios são vistos em ação nas Escrituras. A atuação demoníaca é
diversificada, eles: a) opõem-se ao
propósito de Deus (Dn 10.10-14); b)
executam as ordens de Satanás (1 Tm 4.1; Ap 16.12-14); e, c) afligem pessoas causando: insanidade (Mt 8.28; 17.15), mutismo
da fala (Mt 9.33; 12.22), cegueira (Mt 12.22), autoagressão (Mc 5.5), paralisia
(Lc 13.11) e, surdez (Mc 9.25). O que compete a cada crente é resistir sob o
poder e aos ataques do inimigo, equipado com cada peça da armadura de Deus e o
poder do Espírito Santo na batalha espiritual (Ef 6.10-17).
II. FALSAS
CONCEPÇÕES A RESPEITO DOS DEMÔNIOS
1. Os demônios como resultado da relação com
mulheres.
Segunda uma
teoria antiga, os demônios são frutos do relacionamento sexual entre os filhos
de Deus e as filhas dos homens com base na narrativa de Gênesis 6.1-4, sendo
esta interpretação chamada de sobrenaturalista, que entendem que a
expressão “filhos de Deus” refere-se a anjos, que supostamente atraídos
pela beleza feminina, mantiveram relações com mulheres e, dessa relação
nasceram seres gigantes “nephilim”, e valentes formando uma
geração má; e devido essa geração má teria vindo o dilúvio. Ainda segundo essa
teoria, os espíritos daqueles seres, por serem híbridos (semi-humanos e
angelicais), quando pereceram pelas águas não foram para o céu nem o inferno,
tornaram-se assim em demônios. Essa teoria não tem amparo escriturístico por
algumas razões: a) antes da geração
dos filhos de Deus com as filhas dos homens, já haviam gigantes na terra: “Havia
naqueles dias gigantes na terra; e também depois” (Gn 6.4a); b) os anjos são seres assexuados (que não
possui vida sexual) (Mt 22.30; Mc 12.25); e c) a expressão “filhos de Deus” refere-se nesse
texto aos descendentes de Sete, filho de Adão, visto que eles foram os
primeiros a invocar ao Senhor (Gn 4.14), sendo assim como em Deuteronômio 14.1,
a expressão filhos de Deus em Gênesis 6, se refere a pessoas pertencentes ao
Senhor e não aos anjos.
2. Os demônios são espíritos humanos desencarnados.
O historiador
judeu Flávio Josefo informa que nas escolas teológicas judaicas era ensinado
que os demônios, capazes de possuir e de controlar um corpo vivo, são espíritos
de mortos partidos deste mundo, especialmente aqueles de caráter vil e de
natureza perversa (JOSEFO apud CHAMPLIN, 2010, p. 47), no entanto, vários pais
da igreja entre eles Tertuliano (150 d.C.) e Crisóstomo (407 d.C), combateram
esse falso ensino que choca-se frontalmente com os ensinos das Escrituras que
mostram claramente que não há divagação dos espíritos dos que morreram,
antes diz o escritor aos Hebreus: “E, como aos homens está ordenado morrerem
uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27), a Bíblia ainda deixa
claro que, os que morrem vão para lugares definidos ainda que diferentes em
razão da sua escolha em vida (Lc 16.22-25; Ap 6.9-11).
III. A QUEDA DE
LÚCIFER
A Vulgata Latina
(tradução da Bíblia para o latim) usa o termo Lúcifer, que quer dizer:
“portador
de luz”, em lugar de “estrela da manhã” (Is 14.12), daí
Lúcifer ter se tornado um dos nomes de Satanás. Ele foi criado perfeito (Ez
28.15) e era “o selo da simetria e a perfeição da sabedoria e da formosura”
(Ez 28.12 – TB), mas o seu orgulho levou-o a considerar-se semelhante a Deus: “Subirei
acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.14;
ver 1Tm 3.6). E assim, ele foi expulso do céu: “Como caíste do céu, ó estrela da
manhã, filha da alva!” (Is 14.12). Vejamos ainda algumas informações
sobre isso:
1. Um fato.
No AT há dois
textos clássicos que são aceitos pela maioria dos estudiosos como reveladores
da origem e da queda de Lúcifer. O primeiro, na ordem aqui utilizada (Ez
28.11-19), enfatiza mais a sua origem, e o segundo (Is 14.12-16) trata mais da
sua queda. Embora haja muitas discussões sobre a identidade de Satanás nesses
textos, após uma exegese bíblica que considera os aspectos literários da época
tais como poesia, figura de retórica própria da literatura hebraica e a
duplicidade profética (dupla referência em uma só mensagem), chega-se à
conclusão de que, sem sombra de dúvida, ambos os textos fazem menção clara à
figura de Satanás, e isso por algumas razões: a) a Bíblia exalta Daniel por sua sabedoria, integridade e justiça
(Ez 14.14), porém o rei de Tiro, é referido como mais sábio do que o profeta
(Ez 28.3); b) que homem no mundo,
além do Filho Unigênito de Deus, foi considerado por Ele um ser perfeito? (Ez
28.15), um rei humano de carne e osso e ainda pagão seria assim declarado por
Deus? c) quando Deus quer fazer
referência ao início da vida de alguém, se é dito: “desde o dia em que nasceste”
(Rt 2.11; Jr 22.26), mas nunca: “desde o dia em que foste criado” (Ez
28.15), isso porque os anjos não nascem e não procriam, eles foram criados um a
um; e, d) esse personagem é chamado
de “querubim
ungido” (Ez 28.14), categoria angelical mais elevada; nos dando a
entender que há uma relação entre o rei de Tiro e Lúcifer que forma um
paralelismo, da mesma forma como Daniel identifica Antíoco Epifânio ao homem do
pecado, o anticristo (Dn 9.27; 12.11; Mt 24.15; 2Ts 2.3,4) (BRUNELLI, 2016, pp.
439-441 – acréscimo nosso).
2. A época e os resultados da queda.
Não está revelado
na Bíblia o tempo definido da queda de Lúcifer e dos anjos caídos. Ela deve ter
ocorrido antes da criação do homem, já que Satanás entrou no jardim
personificado em serpente e induzindo Eva a pecar (Gn 3). Todos eles perderam a
sua santidade original e se tornaram corruptos em natureza e conduta sendo
chamados de “espíritos imundos” (Mt 10.1; Mc 1.27; Lc 11.24-26). Parte deles
foram na ocasião lançados em prisão onde estão acorrentados até o dia do
julgamento (2 Pe 2.4). Os demais permanecem em liberdade e agem temporária e
limitadamente, fazendo oposição a igreja, a Israel e ao crente (Ap 12.7-9; Dn
10.12,13,20,21).
IV. O DESTINO FINAL
DOS DEMÔNIOS
Sobre o destino
desses anjos caídos fica evidente nas Escrituras que estão sentenciados a
condenação eterna, pois para eles não há provisão de salvação: “Pois
ele, evidentemente, não socorre a anjos, mas socorre a descendência de
Abraão” (Hb 2.16 – ARA), visto que Deus em Sua presciência, viu que
eles jamais se arrependeriam de seus pecados (1Jo 3.8; Jo 8.44), de modo que o
destino final será o lago de fogo e enxofre: “Então dirá também aos que
estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41), alguns deles já
estão detidos em prisões: “E aos anjos que não guardaram o seu
principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em
prisões eternas até ao juízo daquele grande dia” (Jd 6; ver 2Pd
2.4), após o julgamento então estarão definitivamente no lago de fogo (Ap 20.10).
CONCLUSÃO
A existência dos
demônios e a sua atuação na esfera humana não pode ser ignorada, devemos está
precavidos seguindo as instruções que a Bíblia nos traz, para que, sem receio
algum enfrentemos os embates espirituais no nome de Jesus.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
Ø SILVA,
Severino Pedro da. Os Anjos, sua natureza e ofício. CPAD.
Ø DOUGLAS,
J. D. O Novo dicionário da Bíblia. VIDA NOVA.
Ø OLIVEIRA,
Oséas Gomes. Concordância Bíblica Exaustiva. Vl 01. CENTRAL GOSPEL.
Ø BRUNELLI,
Walter. Teologia para Pentecostais. Vl 02. CENTRAL GOSPEL.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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