At 16.16-22
INTRODUÇÃO
Nesta lição
introduziremos o assunto definindo o verbo “discernir”; destacaremos
as três fontes das manifestações sobrenaturais; falaremos sobre a importância
do dom de discernir os espíritos a fim de detectarmos a fonte das operações
miraculosas; pontuaremos ainda quais as ferramentas que Deus outorgou a igreja
a fim de que ela pudesse discernir as coisas espirituais; e, concluiremos
destacando três exortações paulinas úteis a vida cristã.
I. DEFINIÇÃO DA
PALAVRA “DISCERNIR”
O verbo “discernir”
segundo o dicionário significa: “perceber claramente; capacidade de compreender
situações; distinguir; diferenciar; compreender; perceber; entender; formar
juízo” (HOUAISS, 2001, p. 1051). O substantivo no grego “diakrisis”
significa: “distinção, discriminação clara, discernimento, julgamento”
(VINE, 2002, p. 568). Segundo Boyd (apud RENOVATO, 2014, p. 40 – acréscimo
nosso), a palavra ‘diakrisis’ tem o sentido de “penetrar por baixo da superfície,
desmascarando e descobrindo a verdadeira fonte dos motivos e da manifestação”.
II.
CONHECENDO A FONTE DAS MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS
As manifestações
sobrenaturais podem ter basicamente três origens. Notemos:
1. Divina.
A Bíblia não
somente afirma a existência de Deus (Gn 1.1; Dn 2.28), como também fala de suas
intervenções miraculosas na terra (1 Sm 2.6-8). Ele opera sinais e maravilhas
(Êx 10.1; Nm 14.22; Dn 6.27).
2.
Humana.
A Bíblia fala de
pessoas que profetizam “falsamente” (Jr 14.14); do “próprio
coração” (Jr 23.16); falam “sonhos mentirosos” (Jr 23.32). Na
época do profeta Isaías e Jeremias havia aqueles que afirmavam predizer o
futuro (Is 8.19; 44.25; Jr 27.9; 29.8). Há casos no Novo Testamento de mágicos
que iludiam as pessoas com truques, fazendo seus seguidores crer que eles
possuíam algum poder para fazer milagres (At 8.8-11; 13.6).
3.
Diabólica.
Quando os
demônios agem na vida das pessoas podem fazê-las “operar sinais” (Êx
7.10,11; 2 Ts 2.9); “profetizar” (1 Rs 22.22); adquirir “grande
força” (Mc 5.3,4); ter “conhecimento da vida íntima das pessoas”
(At 16.16). A Bíblia diz que: a) Satanás
usa as Escrituras e as interpreta para o mal (Mt 4.6; Lc 4.10,11); b) ele opera grandes sinais e prodígios
(Mt 24.24; 2 Ts 2.9; Ap 16.14; 19.20); e, c)
ele tem a capacidade de transformar-se em anjo de luz (2 Co 11.14).
II. A NECESSIDADE
DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
Em um universo
de muita pluralidade religiosa como esta em que vivemos, onde existem muitas
ações malignas, imitações e até supostas ações sobrenaturais faz-se necessário
a manifestação deste dom. É bom dizer que pelo entendimento e pela lógica
humana, nem sempre é possível avaliar a origem das manifestações espirituais,
porque às vezes são muito semelhantes. Abaixo destacaremos alguns casos, que
constam no registro bíblico, e que são muito semelhantes entre si a fim de
entendermos a importância do dom de discernir para sabermos a fonte das
operações sobrenaturais a fim de não sermos enganados pelo diabo. Vejamos:
O ESPÍRITO SANTO OPERANDO
|
O ESPÍRITO MAL OPERANDO
|
Moisés tornou
o cajado em serpente (Êx 7.10)
|
Os magos
tornaram o cajado em serpente (Êx 7.10,11)
|
Elias fez cair
fogo do céu (2 Rs 1.10)
|
O anticristo
fará cair fogo do céu (Ap 13.13)
|
A mulher
sunamita elogiou Eliseu (2 Rs 4.9)
|
A mulher
pitonisa elogiou Paulo (At 16.17)
|
Saul
profetizou (1 Sm 10.11)
|
Saul
profetizou (1 Sm 18.10)
|
Sansão tinha
uma grande força (Jz 16.22)
|
O
gadareno tinha uma grande força (Mc 5.4)
|
III. O QUE NOS
AUXILIA NOS DISCERNIMENTO DAS COISAS ESPIRITUAIS
1.
Ser um homem espiritual.
A expressão ‘homem
espiritual’ no grego ‘pneumatikos anthrõpos’, é o homem
que, nascido de novo, procura andar segundo a natureza divina recebida por
ocasião do novo nascimento (Jo 3.3,7; 2 Co 5.17; Gl 6.15; Jo 1.12.13; Ef 2.1,5;
Cl 2.13; Tt 3.5; Tg 1.18; 1 Pe 1.23). Ao contrário do homem natural, quanto as
coisas espirituais, o homem espiritual “[…] discerne bem tudo, e ele de
ninguém é discernido” (1 Co 2.15b). Por possuírem o Espírito Santo, os
crentes entendem estas coisas. Eles são capazes de fazer julgamentos corretos
sobre os assuntos espirituais, tais como: a salvação ou as bênçãos futuras de
Deus (APLICAÇÃO PESSOAL, 1995, p. 118 – acréscimo nosso). Todo cristão nascido
de novo deve ter, em certo grau, a capacidade de “provar os espíritos” (1
Jo 4.1).
2.
A Palavra de Deus.
Para que
pudéssemos discernir as manifestações espirituais Deus nos concedeu a Sua
Palavra. Qualquer manifestação espiritual que não esteja de acordo com as
Escrituras, deve ser descartada. Jesus nos advertiu sobre os falsos profetas,
dizendo que eles fariam até prodígios (Mt 7.15; 24.11,24; Mc 13.22). Os
apóstolos Paulo, Pedro e João também nos advertiram quanto a isso (1 Ts 5.21; 2
Pd 2.1; 1 Jo 4.1).
3.
O dom de discernir.
Quando da
ocasião da vinda do Espírito Santo no Dia de Pentecostes (At 2), dons
espirituais foram concedidos a igreja a fim de equipá-la para sua tríplice
função: “adoração, edificação e evangelização” (1 Co 12.8- 10). O dom
espiritual é uma: “dotação ou concessão especial e sobrenatural pelo Espírito Santo, de
capacidade divina sobre o crente, para serviço especial na execução dos
propósitos divinos para e através da Igreja” (GILBERTO, 2006, p. 195).
O dom de discernir os espíritos (1 Co 12.10) é “uma ação sobrenatural do Espírito
Santo na vida do crente, capacitando-o a discernir as manifestações
sobrenaturais”. Pelo dom de discernimento, o crente pode saber, por
exemplo, se uma determinada profecia vem de Deus, do homem ou dos demônios. Ou
seja, esse dom capacita a “enxergar” todas as aparências
exteriores e conhecer a verdadeira natureza de uma inspiração (At 13.6-12; 16.16-18).
IV. O QUE A BÍBLIA
NOS ORDENA A JULGAR
A palavra “julgar”
segundo o dicionário significa: “emitir parecer, opinião sobre (alguém ou
alguma coisa); formar conceito ou opinião” (HOUAISS, 2001, p. 1691). A
Bíblia nos exorta a submetermos ao julgamento as seguintes coisas. Vejamos:
1.
Julgar as profecias.
Desde o AT que
Deus ensinou o seu povo a julgar as profecias (Dt 18.20-22). No NT, há o mesmo
direcionamento. Na igreja de Corinto, por exemplo, onde os dons espirituais
eram abundantes (1 Co 1.7); e, faziam parte regularmente dos cultos (1 Co
14.26). Quanto ao dom de profecia, o apóstolo orientou aos que profetizavam que
falassem um após o outro e que a igreja julgasse o conteúdo das profecias (1
Co 14.29). A palavra “julgar” usada por Paulo aqui neste
texto é a expressão grega “diakrinetosan” que significa “discernir”.
Mas, que aspectos devemos julgar? Notemos alguns: a) a mensagem glorifica a Deus? (1 Co 10.31); b) a mensagem está de acordo com as Escrituras? (1 Pe 4.11); c) a mensagem edifica a igreja? (1 Co
14.3,4,5,12,17,26); d) a pessoa que
profetiza se submete ao julgamento dos outros? (1 Co 14.29); e) a pessoa que profetiza está no
controle de si mesmo? (1 Co 14.32); e, f)
a pessoa que profetiza é submissa a Palavra de Deus e a autoridade pastoral? (1
Co 14.37).
2.
Julgar a mensagem pregada.
Satanás também
cria doutrinas heréticas com a finalidade de destruir a pureza doutrinária da
igreja, levando-a a apostasia. Sabedor disto, Paulo exortou aos presbíteros de
Éfeso (At 20.28), e previu, pelo Espírito Santo, que isto ocorreria em maior
abundância nos últimos dias (1 Tm 4.1-3). Paulo elogiou a igreja de Bereia, que
examinava as Escrituras para ver se o que ele estava falando era de fato a
verdade (At 17.11). A igreja de Éfeso foi grandemente elogiada por Jesus, pelo
fato de ter rejeitado a mensagem dos falsos apóstolos (Ap 2.2-b). Exortando as
igrejas da Galácia, que estavam sendo seduzidas por heresias, o apóstolo Paulo
disse: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho
além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1.8).
3.
As manifestações espirituais.
Não podemos
ignorar que o homem (At 8.8-11; 13.6) ou mesmo Satanás e os demônios (Mt 24.24;
2 Ts 2.9; Ap 16.14; 19.20) podem realizar coisas que se assemelham as operações
miraculosas, com o intuito de enganar as pessoas e induzi-las ao erro. Diante
disto, necessitamos “provar os espíritos” (1 Jo 4.1). À
semelhança do metalúrgico que testa a integridade do metal por meio do fogo,
testar a mensagem com a verdade apostólica, para saber qual o espírito que está
por trás dela.
V.
TRÊS RECOMENDAÇÕES ÚTEIS A VIDA CRISTÃ
1.
Não extinguir o Espírito.
O Espírito Santo
foi concedido a igreja para nela e por meio dela manifestar a glória do Senhor,
realizando proezas sinais e maravilhas (At 2.1-4; Hb 2.4). Logo, não devemos
jamais extinguir o Espírito (1 Ts 5.19); nem atribuir uma obra do Espírito
Santo ao diabo, pois isto é um pecado que não tem perdão (Mc 3.22-30).
2.
Não desprezar as profecias.
Segundo Paulo
não devemos desprezar ou desacreditar do dom de profecia (1 Ts 5.20). O verbo
“desprezeis” no grego é, literalmente, “contar como nada”. O dom de profecia é
de extrema importância para a igreja, pois foi concedido para “edificação,
exortação e consolação” (1 Co 14.3).
3.
Examinar tudo e reter o bem.
Paulo orientou a
igreja de Tessalônica a submeter as manifestações espirituais a um exame
minucioso para reter somente o que é bom (1 Ts 5.21). Esta última exortação na
passagem equilibra as primeiras duas. O julgamento cristão, o bom senso, o
exame criterioso são ações imprescindíveis na vida da igreja.
CONCLUSÃO
Satanás tenta de
todas as formas atacar o povo de Deus até mesmo imitando as manifestações
sobrenaturais com a finalidade de ludibriar os salvos. Usemos a Palavra de Deus
e busquemos o dom de discernimento de espíritos, a fim de não cairmos no erro.
REFERÊNCIAS
Ø BÍBLIA DE APLICAÇÃO PESSOAL.
CPAD.
Ø GILBERTO,
Antônio (Org.); et al. Teologia
Sistemática Pentecostal. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
OBJETIVA.
Ø RENOVATO,
Elinaldo. Dons espirituais e
ministeriais. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø VINE,
W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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