Lc 12.42-48
INTRODUÇÃO
Neste terceiro
trimestre de 2019, estudaremos o tema: “Tempo, Bens e Talentos – Sendo mordomo fiel
e prudente com as coisas que Deus tem nos dado”. Nesta primeira lição,
definiremos o termo mordomo e também mordomia cristã; destacaremos que Deus é
dono de tudo, mas que confiou aos homens o domínio da terra e de todos os bens
que lhe concedeu; pontuaremos que a doutrina da mordomia está presente em toda
a Bíblia; e, por fim, concluiremos destacando a importância desta doutrina para
a nossa vida.
I. DEFINIÇÕES DE
MORDOMO E MORDOMIA
1. Definição secular e exegética de mordomo.
O dicionário diz
que mordomo “é um indivíduo encarregado de administrar, em residência alheia, as
tarefas domésticas cotidianas, distribuindo-as entre os demais empregados”
(HOUAISS, 2001, p. 1960). A palavra grega mais comum, frequentemente no NT, é “oikonomos”
(TENNEY, 2008, p. 377). O “oikonomos” denotava primariamente “o
administrador de uma casa ou propriedade”, formado de oikos
, “casa”, e nemo , “arranjar, organizar” (VINE, 2002, p. 800). Essa palavra é mais traduzida como
despenseiro. A ideia de despenseiro aparece somente no Novo Testamento, quando
o original grego usa a palavra oikonomos, que significa: “gerente
da casa” (Lc 12.42; 16.1,3,8; Rm 16.23; 1 Co 4.1,2; Gl 4.2; Tt 1.7; 1
Pd 4.10); ou quando usa a palavra epitropos, que quer dizer: “encarregado”,
que aparece por três vezes (Mt 20.8; Lc 8.3; Gl 4.2).
2. Definição teológica de mordomia cristã.
É a doutrina
bíblica que ensina “a utilização responsável dos recursos que o Senhor
colocou-nos à disposição” (ANDRADE, 2006, p. 270). Mordomia quer dizer “todo o
serviço que realizamos para Deus e todo comportamento que apresentamos como
cristãos diante de Deus e dos homens” (RENOVATO, 2019, p. 11). Esta é uma
doutrina presente em toda a Bíblia Sagrada desde o livro de Gênesis (Gn 1.28)
até o Apocalipse (Ap 11.18).
II. DEUS É O DONO
DE TUDO
Tudo que há veio
a existência por meio de Deus (Gn 1.1; Is 42.5; Jr 10.12; At 17.24). Tudo existe
para a glória do Seu nome: “Digno és, ó Senhor, nosso Deus de receberes
glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade
são e foram criadas” (Ap 4.11). Deus tem direito como Criador sobre
toda a criação: “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas” (Rm
11.36). Na tabela abaixo destacaremos que Deus é dono de tudo que Ele criou:
COMO CRIADOR DEUS É DONO
|
REFERÊNCIAS
|
Da
terra e dos céus
|
(Lv
25.23; Sl 24.1; Jr 10.12)
|
Da
vida: humana, animal e vegetal
|
(Sl
50.10; At 17.28; Cl 1.16; Jo 1.3)
|
Do
ser humano
|
(Gn
1.27; Ez 18.4)
|
Do
ouro e da prata
|
(Ag
2.9)
|
De
tudo
|
(1
Cr 29.13-14; Rm 11.36)
|
III. O HOMEM COMO
MORDOMO DO QUE DEUS LHE CONFIOU
Ao criar o
homem, o Senhor lhe deu uma elevada posição diante de toda a criação (Gn 1.28;
Sl 8.6). Segundo Berkof (2000, p. 174) “o homem é descrito como alguém que está
no ápice de todas as ordens criadas. Foi coroado como rei da criação inferior e
recebeu domínio sobre todas as criaturas inferiores. Como tal, foi seu dever e
privilégio tornar toda natureza e todos os seres criados, que foram colocados
sob seu governo, subservientes à sua vontade ao seu propósito, para que ele e
todos os seus gloriosos domínios magnificassem o onipotente Criador e Senhor do
universo”. A Adão Deus conferiu o domínio da terra e dos animais “enchei
a terra, sujeitai-a; e dominai” (Gn 1.28). O salmista assevera isso
também: “Os céus são os céus do SENHOR; mas a terra a deu aos filhos dos homens”
(Sl 115.16). Ao primeiro homem também são dadas as seguintes tarefas: a) cuidar da terra (Gn 2.5); b) nomear os animais (Gn 2.19,20); e, c) gerar filhos (Gn 1.22). O ensino da
mordomia de tudo o que Deus concedeu ao homem está presente em toda a
Escritura, notemos:
1. No Antigo Testamento.
O ato de
apresentar o melhor dos animais, por Abel (Gn 4.4), ou as primícias da terra,
por Caim (Gn 4.3), são o exercício da mordomia dos bens materiais recebidos da
parte de Deus. Ao povo de Israel, Deus ensinou a mordomia de diversas áreas da
vida, por meio das leis que Ele criou. Notemos:
a) Mordomia da
família (Êx 21.15,17; Nm 27.6-7; 30.3-5; 6-15; Dt 21.18-21);
b) Mordomia da
terra (Lv 25.2; 26.34,35);
c) Mordomia dos
bens (Êx 22.9; Lv 25.23; 28-30; 23.22);
d) Mordomia em
relação ao próximo (Lv 19.9,10; Dt 24.19-22; 23.24,25)
e) Mordomia dos
dízimos (Lv 27.30-34; Nm 18.21-32; Dt 12.1-14; 14.22-29; Ml 3.10);
f) Mordomia das
finanças (Dt 15.1-11; 23.19,20, 24.6,10-13,17,18);
g) Mordomia nas
relações interpessoais (Êx 21.20,26,27; Lv 19.33,34; 25.10,47-54; Dt 15.12-18).
2. No Novo Testamento.
Os ensinamentos
de Cristo são repletos da mordomia e ganham um destaque ainda maior. Jesus
ensinou que o homem deverá prestar contas diante de Deus por tudo que fizer por
meio do corpo (Mt 5.21; 7.2; 12.36). Quando ensinou sobre o Reino de Deus e a
importância da fidelidade, usou a administração dos bens como ilustração na “parábola
dos talentos” (Mt 25.14-30); “das minas” (Lc 19.12-27); do “mordomo
infiel” (Lc 16.1-13). Paulo falou que os obreiros são despenseiros dos
mistérios de Cristo (1 Co 4.1); e como tais deviam ser achados fieis (1 Co
4.2). E, também acrescentou que cada crente é um membro colocado no Corpo de
Cristo para exercer uma atividade da qual prestará contas (1 Co 12.11,12; 2 Co
5.10). O apóstolo Pedro orientou aos crentes, quanto aos dons que receberam
dizendo: “cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10). O NT ensina
sobre a:
·
Mordomia do corpo, alma e espírito (1 Co 6.10; 1 Ts 4.3-5; 5.23);
·
Mordomia do tempo (Ef 5.16);
·
Mordomia da família (Ef 5.22-25; 6.1-4; Tt 2.2-6);
·
Mordomia do trabalho (Ef 4.28; 6.5-9; Tt 2.9; 1 Pd 2.18);
·
Mordomia dos dons (Rm 12.12; 1 Co 12.4-6; 1 Pd 4.10);
·
Mordomia dos dízimos e ofertas (Mt 23.23; 2 Co 9.6-12);
·
Mordomia das finanças (Rm 13.8);
·
Mordomia das obras de misericórdia (At 20.35; Tg 2.15-17; 1 Jo 3.17,18).
·
Mordomia em relação ao próximo (Mc 12.31; Rm 13.9);
IV. A IMPORTÂNCIA
DA DOUTRINA DA MORDOMIA CRISTÃ
Esta doutrina
nos ensina pelos três coisas imprescindíveis a vida cristã. Notemos:
1. A consciência de que nada temos.
Tudo é de Deus,
nada possuímos (1 Cr 29.14; Jo 3.27; Tg 1.17). Jó tinha consciência de que tudo
o que tinha foi Deus quem lhe deu: “E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu
tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do
SENHOR” (Jó 1.21). Paulo tinha essa consciência também por isso
orientou ao jovem obreiro Timóteo que exortasse aos cristãos ricos dizendo: “porque
nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele”
(1 Tm 6.7).
2. A consciência de que precisamos ser sábios e
fieis na administração do que nos foi confiado.
Salomão assumiu
o reinado ainda muito jovem. Reconhecendo sua pouca experiência e a tamanha
responsabilidade que recebeu de Deus, rogou-lhe sabedoria (1 Rs 3.7-12). Paulo
disse que o despenseiro precisa ser achado fiel: “além disso, requer-se nos
despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co 4.2). A expressão “requer”
no grego é “zeteo” que significa: “exigir algo de alguém”, evidenciando
o que Deus exige de cada servo seu. Isto foi ensinado por Jesus (Mt 24.45;
25.21; Lc 19.17).
3. A consciência de que seremos julgados quanto a
nossa mordomia.
O Tribunal de
Cristo será o dia da prestação de conta da nossa vida; da nossa mordomia
cristã, da nossa diaconia. Cada crente será julgado como servo de Deus, quanto
à sua fidelidade no serviço prestado a Deus (1 Co 4.2-6; 2Co 5.10). Não será um
julgamento de pecados do crente (Rm 8.1; Jo 5.24), mas das obras do crente (Ap
22.12; 14.13). Todos os salvos serão julgados, e não apenas alguns (Rm 14.10;
2Co 5.10). No Arrebatamento, Jesus que conhece as nossas obras (Ap 2.2,9,13,19;
3.8,15), trará consigo o resultado, a avaliação de nosso trabalho. Existem
cinco critérios deste julgamento que envolvem: a) a “lei da liberdade cristã” (Tg 2.12); b) a qualidade do trabalho que fazemos para Deus (Mt 20.1-16); c) o “material” empregado no trabalho
feito para Deus (1 Co 3.8,12-15); d)
a conduta do crente por meio do seu corpo (2 Co 5.10); e, e) os motivos secretos do nosso coração (1 Co 4.5; Rm 2.16)
(GILBERTO, 2009, p. 376).
CONCLUSÃO
A doutrina da
mordomia embora presente em toda a Bíblia será estuda neste trimestre sob a
ótica cristã, destacando principalmente os ensinamentos neotestamentários quanto
a forma como o servo de Deus deve administrar sua vida, tempo, família,
recursos financeiros e demais coisas com humildade, sabedoria, fidelidade, pois
um dia prestará constas a Deus, de sua mordomia.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø CHAMPLIN,
R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø GILBERTO,
Antonio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø RENOVATO,
Elinaldo. Tempo, Bens e Talentos. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø TENNEY,
Merril C. Enciclopédia da Bíblia. CULTURA CRISTÃ.
Ø VINE,
W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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