Gl 5.16-22,25
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos sobre o cuidado que se deve ter com a alma e o espírito dentro da
mordomia cristã; destacaremos a natureza tricotômica na constituição do ser
humano; pontuaremos também a distinção entre a alma e o espírito à luz das
Escrituras; e por fim, ressaltaremos o que a Bíblia ensina sobre o destino da
alma e do espírito.
I. A NATUREZA
TRICOTÔMICA DO SER HUMANO
À luz das
Escrituras, entendemos que o ser humano é constituído de três partes, uma
material e duas imateriais (1Ts 5.23; Hb 4.12), essa doutrina é chamada de
tricotomia ou seja, o homem tem uma constituição tríplice. Vejamos:
1. Corpo.
O corpo é o
invólucro do espírito e da alma (Gn 35.18; Dn 7.15), a parte física da
constituição humana, o homem exterior, que se corrompe, ou seja, envelhece e é
mortal (2 Co 4.16; 1 Pe 1.24). Rejeitamos a ideia de ser o corpo a prisão da
alma e do espírito ou de ser inerentemente mau e insignificante, pois como
crentes, ele é templo do Espírito Santo (1 Co 3.16,17; 6.19). A importância do
corpo também pode ser vista no fato de que Deus o ressuscitará conforme o seu
soberano cronograma escatológico (1 Co 15.42).
2. Alma.
A expressão alma
em hebraico é: “néfesh”, ocorre por 754 vezes no AT. Conforme Gn 2.7 deixa
claro, seu significado primário é “possuidora da vida”. Biblicamente
entende-se que a alma é: a sede do apetite físico (Nm 21.5), das
emoções (Sl 86.4), dos desejos tanto bons quanto ruins
(Ec 6.2; Pv 21.10), das paixões (Jó 30.25), do intelecto (Sl 139.4), é o centro
afetivo
(Ct 1.7), volitivo (Jó 7.15) e, moral (Gn 49.6) da vida humana
(SILVA (Org), 2017, p. 80 – grifo nosso). A palavra alma é um termo que está no
grupo de palavras conhecidas como polissêmicas, ou seja, uma mesma palavra que
possui vários significados de acordo com o contexto em que ela aparece. Por
esse motivo é aplicada frequentemente a: a)
animais (Gn 1.20,24,30; 9.12,15,16; Ez 47.9), b) o sangue como algo que é essencial à existência física (Gn 9.4;
Lv 17.10-14; Dt 12.22-24) c) a sede
do apetite físico (Nm 21.5; Dt 12.15,20,21; 23.24; Jó 33.20; Sl 78.18; 107.18;
Ec 2.24; Mq 7.1); d) origem das
emoções (Jó 30.25; Sl 86. 4; 107.26; Ct 1.7; Is 1.14); e) associada com a vontade e com a ação moral (Gn 49.6; Dt 4.29; Jó
7.15; Sl 24.4; 25.1; 119.129,167), f)
um indivíduo ou pessoa (Lv 7.21; 17.12; Ez 18.4), ou então é usada com um
sufixo pronominal para denotar o próprio “eu” (Jz 16.16; Sl 120.6; Ez 4.14)
(DOUGLAS, 2007, p. 39). No NT o termo equivalente é: “psiché” possuindo o mesmo
significado e características (Ef 6.6; Fp 1.27; Cl 3.23; Rm 11.3; 16.4; 1Co
15.45; 2Co 1.23; Fp 2.30; 1Ts 2.8), se referindo a parte imaterial do ser
humano, sendo ela tanto cognitiva quanto emotiva, podendo tanto relacionar-se
com o sagrado (Rm 7.25), quanto com as impurezas do pecado (Rm 8.7 – ARA)
(BRUNELLI, 2016, p. 52 – acréscimo nosso).
3. Espírito.
Cerca de 400
vezes o AT usa a palavra: “ruah”, que é derivada de um verbo
que significa: “respirar” ou “soprar”. O substantivo pode ser
traduzido como: “sopro” (Sl 18.15), “vento" (Gn 8.1) ou “espirito”.
No NT a palavra grega “pneuma”, ligada ao verbo que quer
dizer: “soprar” ou “respirar”, pode significar: “sopro”
(2 Ts 2.8), ou “vento” (Jo 3.8), porém mais frequentemente como “espírito”,
associado a Deus ou ao homem ou a outros seres espirituais (TENNEY, 2008, p.
534). Sobre o espírito como sendo a parte imaterial do homem a Bíblia no diz
que: a) o espírito do homem é
despertado (Ed 1.1,5) ou perturbado (Gn 41.8); b) ele se alegra (Lc 1.47) ou é quebrantado (Êx 6.9); d) prontifica-se (Mt 26.41) ou é
endurecido (Dt 2.30), e) o homem pode ser paciente em
espírito (Ec 7.8), soberbo ou humilde de espírito (Mt 5.3), f)
há necessidade de ter autodomínio (Pv 25.28) e, (g) é por meio dele que se
adora ao Senhor (Jo 4.23,24) é o centro da devoção a Deus (1 Co 14.15).
II. A DISTINÇÃO
ENTRE ALMA E ESPÍRITO
O significado e
características entre a alma e espírito são bem parecidos, devido a essa
similaridade alguns são levados a confundir as duas substâncias. Em geral os
escritores bíblicos, especialmente os do AT, não se preocuparam em distinguir o
espírito da alma; esta distinção hoje conhecida, ocorre pela revelação
progressiva de Deus no NT. Sobre a distinção entre alma e espírito assim afirma
Andrade (2006, p. 40 – grifo nosso): “O homem é composto por uma parte material
e outra imaterial. Quando esta encontra-se em relação com Deus, recebe a designação de
espírito; e, quando em relação com o mundo físico, a alma. Quando as
palavras são distinguidas em significados, a alma olha para a terra, o espírito, para o
céu. A alma é o homem em seus relacionamentos espirituais e imortais.
Todavia, os dois não podem ser separados, mas constituem juntos o ser imaterial
do homem”. O Pr. Eurico Bergstén (2007, p. 130) lembra que: “A alma é a parte
que orienta a vida do corpo e estabelece o contato com o mundo em redor,
enquanto o espírito é a parte do homem que lhe oferece a possibilidade de
relacionamento com Deus”. Sendo destacando que: “apesar da similaridade entre a
alma e o espírito, eles são distintos entre si, porém inseparáveis; são os dois
lados da substância não física do ser humano, o homem interior” (Ef
3.16; 2Co 4.16; 1Ts 5.23; Hb 4.12) (SILVA (Org), 2017, p. 79 – grifo nosso).
III. A MORDOMIA DA
ALMA E DO ESPÍRITO
A respeito da
mordomia da alma e do espírito o apóstolo Paulo adverte: “[…] e todo o vosso espírito, e alma,
e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Paulo destaca a
responsabilidade que devemos ter, em cuidar também da parte imaterial do nosso
ser, ao usar o termo “conservados”, em grego a palavra é: “têreo” que quer dizer: “atender
cuidadosamente, tomar conta de, guardar, manter, reservar”, apontando
para a atitude pessoal do crente quanto ao cuidado da parte espiritual. Vejamos
como:
1. Priorizando as necessidades da alma.
Assim como o
corpo tem necessidades, a alma também. A alma tem sede de Deus (Sl 42.1; 63.1).
Jesus advertiu quanto a preocupação exagerada com as coisas materiais em
detrimento da alma, dizendo: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo
inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?”
(Mt 16.26). Aos que ignoram esta verdade serão surpreendidos como foi o rico
insensato: “[…] Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para
quem será?” (Lc 12.20). Sendo assim, devemos priorizar as necessidades
da alma: “Pois a vida (psiché) é mais do que o alimento [...]” (Lc
12.23).
2. Conservando a alma saudável.
Uma vez que na
alma está a sede das emoções do ser humano é de suma importância que ela seja
mantida com saúde. O cristão cuidadoso, sabendo que partes tão importantes da
sua vida estão centradas na alma, aprende a administrar bem seus sentimentos e
emoções a fim de não se deixar levar por impulsos descontrolados (Hb 12.15; Gl
5.18-23), crendo e submetendo-se a Palavra de Deus (Hb 10.39; Fp 4.6; Pv
19.16).
3. Purificando-se das impurezas do espírito.
A Declaração de
Fé das AD (2017, p. 101 – grifo nosso) nos diz: “A corrupção do gênero humano
atingiu o homem em toda a sua composição: corpo (Rm 8.10), alma (Rm 2.9) e
espírito (2 Co 7.1). Por essa razão o apóstolo exorta: “[…]
purifiquemo-nos
de toda imundícia da carne e do espírito [...]”
(2 Co 7.1). A impureza da carne inclui todas as formas de impurezas físicas,
enquanto a impureza do espírito cobre as impurezas interiores da vida,
motivações, desejos e pensamentos. As palavras carne e espírito não são usadas
aqui no sentido técnico que Paulo faz dos princípios éticos opostos (Rm 8.1-11;
Gl 5.16-24), mas na maneira popular da época, para abranger todas as facetas da
existência de um homem (2 Co 2.13; 7.5; 1 Co 7.34; 1 Ts 5.23). Todos os atos e
atitudes que possam comprometer a singularidade da devoção deles à vontade de
Deus devem ser completamente evitados (BEACON, 2006, p. 442).
IV. O DESTINO DA
ALMA E DO ESPÍRITO
Ao contrário do
que muita gente pensa, a vida não termina na sepultura. Pelo contrário, após a
morte, todos os seres humanos vão para o estado intermediário aguardar a
ressurreição, para serem conduzidos ao seu destino eterno. Vejamos:
1. Lugar de tormento para os ímpios.
A respeito dos
ímpios após a morte, a Bíblia assevera que irão ao lugar de tormentos onde
aguardarão a ressurreição para o julgamento final (Lc 16.22,23; Ap 20.11,12).
Apesar de alguns que pregam a aniquilação dos que morreram, a Bíblia afirma,
porém, que nem a alma nem o espírito são aniquilados (Mt 10.28; 1 Pe 3.4).
Também não é bíblica a doutrina que ensina que os que morrem tornam-se
insconsientes, uma espécie de sono eterno. É fato que a Bíblia denomina de maneira
metafórica
a morte física como um sono (1 Co 15.51; 1 Ts 4.13). No entanto, ela também nos
ensina que, quem “dorme” é o corpo, e não a alma e o espírito (Lc 16.20-25; Ap
6.9-11). Logo, embora o corpo entre na sepultura, o espírito e a alma que se
separou do corpo entra no Sheol, onde vive em estado completamente consciente
(Is 14.9-11; Sl 16.10; Lc 16.23; 23.43; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 6.9) (PEARLMAN,
2006, p. 297 – acréscimo nosso). O destino dos ímpios é estar eternamente
separados de Deus e sofrer eternamente o castigo que se chama a segunda morte
(Sl 9.17; Ap 2.11; 20.10; 21.8).
2. Lugar de descanso para os salvos.
A Bíblia afirma
que para Deus a morte dos santos é preciosa (Sl 116.15), visto que estes ao
morrerem vão para o Paraíso lugar onde gozarão descanso (Lc 23.43; 2 Co 5.8; Ap
14.13), consolação e felicidade (Lc 16.23,25). Por ocasião do Arrebatamento da
Igreja, os justos que já morreram hão de ressuscitar, e se unirão aos vivos,
que serão arrebatados (1 Co 15.51-53; 1 Ts 4.13-18). Eles serão conduzidos ao
céu, onde participarão do Tribunal de Cristo (Rm 10.14; 2 Co 5.10; Ap 22.12) e
da celebração das Bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9). Depois, voltarão com Jesus à
Terra, para participarem do Milênio (Ap 19.11-14; 20.1-6). Após o Milênio,
habitarão na Nova Jerusalém (Ap 21,22), onde estarão, por toda eternidade, na
presença do Deus Trino (Jo 14.1-3; 2 Co 5.8; Fp 1.23; Ap 21.3); e estarão
livres de todo sofrimento, pois, ali não haverá mais morte, nem clamor, nem dor
(Ap 21.4); nem coisa alguma que contamine (Ap 21.8,27; 22.15).
CONCLUSÃO
A mordomia da
alma e do espírito deve ser observada criteriosamente, uma vez que Deus pedirá
contas desta administração e as sua implicações tem consequências eternas.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø BERGSTÉN,
Eurico. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø BRUNELLI,
Walter. Teologia para pentecostais. Vol 3. ACADÊMICO.
Ø HOWARD,
R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø PEARLMAN,
Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø SILVA,
E. S. da. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø TENNEY,
Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Vol 2. EDITORA CULTURA CRISTÃ.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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