Jó 3.1-26
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre o momento em que Jó quebra o silêncio em uma lamentação
pelas adversidades enfrentadas; veremos também a definição do termo lamento à
luz do Antigo e Novo Testamento; faremos algumas considerações sobre a
lamentação do patriarca; e por fim, quais as lições que podemos extrair do
lamento de Jó e sua aplicação para a vida cristã.
I.
DEFINIÇÃO DA PALAVRA LAMENTO
A
origem da palavra lamento advém do latim “lamentum”, que indica literalmente:
“expressão
de sofrimento”, e ainda: “ação de lamentar; lamentação; expressão de
pesar, de mágoa diante do infortúnio. Ato de se expressar com lamentações,
gemidos; pranto, queixa, gemido”. Há cerca de quinze palavras em toda a
Bíblia, que indicam o ato de lamentar, entre elas a hebraica: “abal”
que indica: “o senso interior de tristeza, lamentação, bater no peito, rasgar, cortar”
(Gn 37.34); os termos gregos: “threneo”, e “pentheo”, que significam
respectivamente: “entristecer-se, se lamentar”, e ainda: “levantar a voz, chorar em voz
alta” (Mt 11.27; Jo 16.20; Mt 5.4; Ap 18.11,15,19) (CHAMPLIN, 2004,
p.718 - acréscimo nosso).
II. CONSIDERAÇÕES
SOBRE A LAMENTAÇÃO DE JÓ
1. A ocasião do lamento.
Durante
sete dias iniciais de sofrimento (Jó 2.13; 3.1), Jó não abriu a boca para
blasfemar contra Deus, como Satanás havia proposto que faria (Jó 1.11; 2.5), no
entanto, ao término destes dias, ele quebrou o silêncio para lamentar: “Depois
disto, abriu Jó a boca [...]” (Jó 3.1), entre outras coisas, lamentando
o dia do seu próprio nascimento: “E Jó, falando, disse: Pereça o dia em que
nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!” (Jó 3.2,3).
Achamos algo idêntico no caso de Jeremias, ele também, não podendo resistir à
pressão das diferentes provações que iam acumulando-se, deu lugar aos seus
sentimentos com estas palavras: “Maldito o dia em que nasci; não seja bendito
o dia em que minha mãe me deu à luz” (Jr 20.14).
2. A causa do lamento.
Devido
à avalanche de dificuldades que lhe sobreviera, foram atingidas as principais
colunas sobre as quais a vida humana está fundamentada: a) família (Jó 1.18,19); b)
bens materiais (Jó 1.16,17); e, c)
saúde (Jó 2.7,8). Jó caiu no abismo de uma profunda desesperança, devido à
natureza da adversidade vivenciada e pela não compreensão de o conciliar a sua
fidelidade a Deus (Jó 3.26) e o experimentar tamanha dor (Jó 2.13; 3.24).
Curiosamente, Jó expôs o receio que tinha em seu coração, de um dia ter que
passar por esta experiência, pelo que veio a dizer: “Porque aquilo que temia me
sobreveio; e o que receava me aconteceu”
(Jó 3.25).
III. ETAPAS
DO LAMENTO DE JÓ
1. Jó lamentou pela sua existência.
Os
dias de dor implacáveis tinham abalado a serenidade de Jó. O patriarca não consegue
entender a razão de ter nascido se ele viria a ter tanta miséria. E assim ele
protesta contra o dia de seu nascimento: “[...] abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o
seu dia” (Jó 3.1). Não obstante, os homens habitualmente celebravam com
alegria o retorno anual do dia do seu nascimento, Jó o considerou o dia mais
infeliz do ano, por ser o mais infeliz da sua vida, considerando-o como a porta
de entrada para toda a sua aflição (Jó 3.10). Nesse lamento, Jó fala da tristeza
e sofrimento que se acumulam em seu coração e indagou: “Por que não morri eu desde a
madre? E em saindo do ventre, não expirei?” (Jó 3.11). Essa é uma
pergunta que, nos momentos de dor, já foi feita aos prantos por muitos filhos de
Deus, entre esses, o profeta Jeremias (Jr 20.14-18).
2. Jó lamentou pela preservação de sua
vida.
Como
se não bastasse Jó amaldiçoar o dia do seu nascimento, ele, também, expressou o
seu desejo de que, não deveria mais estar vivo, ou seja, ele se incomodava com
a preservação da sua vida, e por isso estivesse passando por tal sofrimento (Jó
3.12,13; 6.9; 7.15,16; 14.13). Jó se sentiu preso, cercado como um pássaro na
gaiola. Para Jó, morrer seria libertar-se dessa situação. É assim, que algumas
vezes, nos sentimos em momentos de provação intensa como o profeta Elias (1 Rs
19.4). Destacamos, porém, que em momento algum, Jó fala de dar cabo da própria
vida. A lamentação pelo nascimento ou o anseio pelo fim da vida, proferida
por ele não é uma apologia ao suicídio nem à eutanásia, mas sim, a declaração
de um homem cujo sofrimento era tão intenso que ele desejou jamais ter nascido.
3. Jó lamentou pela prolongação de sua
vida.
Num
misto de sentimentos, Jó critica a providência divina como sendo injusta e
impiedosa ao prolongar a vida quando os seus confortos são retirados: “Por que
se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?” (Jó 3.20).
Ele considera injusto, de maneira geral, que vidas miseráveis fossem
prolongadas (Jó 3.21). No livro de Jó, a vida é chamada de luz, porque é
agradável e útil para se caminhar e trabalhar, e dito que essa luz nos é
concedida; pois, não fora ela prolongada diariamente por uma nova dádiva, se
consumiria. Mas Jó considera que para aqueles que estão na miséria é uma dádiva
sem a qual eles estariam melhor, uma vez que, a luz só lhes serve para, através
dela, verem a sua própria miséria (Jó 3.23,24) (HENRY, 2010, p.22).
4. Jó lamentou pela falta de ânimo em
continuar vivendo.
Em seu
estado de aflição, os transtornos eram incessantemente sentidos. Jó acreditava
que tinha motivos suficientes para estar cansado de viver, pois: a) não tinha nenhum consolo em sua
vida: “Porque antes do meu pão vem o meu suspiro [...]” (Jó 3.24a). As
tristezas impediam e antecipavam-se aos sustentos da vida; além disso, elas
afastavam o apetite que ele deveria sentir por seu alimento necessário. E ainda
mais, tão grande era a extensão da sua dor e da sua agonia que ele não somente
suspirava, mas gemia: “[...] e os meus gemidos se derramam
como água” (Jó 3.24b) e, b)
não tinha nenhuma perspectiva de melhora da sua situação: “[...] cujo
caminho está escondido, e a quem Deus cercou de todos os lados? (Jó
3.23 - ARA). Ele não via nenhum caminho aberto em direção à libertação, nem
sabia que rumo deveria tomar; o seu caminho foi cercado com espinhos, para que
não pudesse encontrar a sua vereda (Jó 23.8; Lm3.7).
IV. LIÇÕES
EXTRAÍDAS DO LAMENTO DE JÓ
1. Os servos de Deus devem superaras
crises pessoais que venham a enfrentar.
Sobre
o patriarca Jó, o apóstolo Tiago escreveu: “[...] Ouvistes da paciência de Jó
[...] (Tg 5.11), mas percebemos que essa paciência não foi em todo
momento. Ficamos admirados que um homem seja tão paciente como ele fora (caps.
1 e 2), mas nos surpreende também que um homem bom seja tão impaciente como é
no capitulo três de seu livro; que foi escrito para ensinar, não para que o
imitemos nesse quesito, mas como uma advertência (Rm 15.3) para que aquele que
cuida estar em pé, vigie para que não caia (1Co 10.12). É comum entre os servos
de Deus enfrentar altos e baixos, quando estão em intensa pressão ou quando não
compreendem determinados processos em sua vida, foi assim com: a) Abraão (Gn 15.1-3); b) Asafe (Sl 73.1-9,13-16); c) Elias (1Rs 19.2-4); e, d) Paulo (2Co 1.8), mas todos em comum
superaram tais crises confiando na graça de Deus (2Co 12.9).
2. O sofrimento não pode ofuscar a
percepção das bênçãos de Deus.
Não
podemos permitir que os infortúnios desta vida, tirem de nós a gratidão por
todas as dádivas advindas do Criador: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do
alto, descendo do Pai das luzes [...]” (Tg 1.17), a vida é um dom
divino para nós: “[...] pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida,
a respiração [...]” (At 17.25), resultante da ação direta de Deus: “Antes
que eu te formasse no ventre te conheci [...]” (Jr 1.5; ver Sl
139.14-16), de modo que a existência e preservação da vida, são bênçãos que não
podem ser desvalorizadas: “[...] porque nEle vivemos, e nos
movemos, e existimos [...]” (At 17.28). A ingratidão não pode
achar guarida no coração dos servos de Deus (Sl 103.2), que embora sejam
profundamente provados ainda têm motivos diversos para continuarem louvando ao
Senhor, como fez o profeta Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja
fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não
produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos
currais não haja gado. Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus
da minha salvação” (Hc 3.17,18).
3. No momento de angústia precisamos
continuar crendo no cuidado divino.
Em
meio as grandes dificuldades a recomendação bíblica é continuar crendo em Deus
(Mc 5.36), não permitindo que o desespero tome conta da situação, “Porque
andamos por fé, e não por vista” (2Co 5.7), de modo que, a esperança
cristã não estar fundamentada nas circunstâncias (Rm 8.24,25) ou nos bens
materiais (1Tm 6.17), mas sim em Deus (1Pe 1.21). Confiar no cuidado de Deus é necessário
porque:
a) é um remédio contra a
ansiedade (1Pe 5.7);
b) Deus tem o controle de tudo
(Rm 8.26);
c) cada luta tem começo e fim
(Sl 30.5); e,
d) o sofrimento é pedagógico
(Rm 5.3-5; Tg 1.2-4).
CONCLUSÃO
O
lamento de Jó destaca não só a natureza da sua adversidade como mostra a sua
fragilidade como ser humano, a despeito de suas virtudes atestadas pelo próprio
Deus, o patriarca revelou por meio de sua lamentação a sua extrema necessidade
de confiar ainda mais em Deus.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN,
Russel,Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø HENRY,
Mattew. Comentário Bíblico Antigo Testamento Jó a Cantares. Vol 3.
CPAD.
Ø WIERSBE.
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 3. GEOGRAFICA.
Ø
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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