Jó 1.6-12; 2.4,5
INTRODUÇÃO
Na
lição de hoje iremos estudar o significado do termo Satanás, iremos analisar a
expressão filhos de Deus aplicadas aos anjos no livro de Jó, e por fim veremos
quais as recomendações bíblicas para resistir as astutas ciladas do reino das
trevas.
I. QUEM É SATANÁS
1.
Significado do termo:
O
termo heb. Satan, “adversário”,
humano ou angelical (Sl 109.6,29; Nm 22.22) e o termo gr. Satan(as) é o
líder de espíritos caídos ou demônios (Mt 12.24). Mais do que outros anjos,
Satanás é “magnífico em poder” (Sl
103.20; Jd 9), porém é limitado em termos de espaço (Jó 1.7), e só pode operar
tendo a permissão divina (Jó 1.12; Cf. 1 Co 10.13). (WICLIFFE, 2010, p. 1772).
Além do fato de ser espiritual, capaz de agir sobrenaturalmente (Jó 1.7),
Satanás, por exemplo, também demonstra ser possuidor de inteligência e
conhecimento (Jó 1.7; 9). Ele demonstra conhecer Jó e a sua forma de
comportar-se (Jó 1.7). Essas mesmas características são demonstradas por
Satanás quando tentou a Cristo. Ele sabia, por exemplo, quem era Jesus e foi
capaz de argumentar com Ele (Mt 4.1-11). O Diabo do livro de Jó e o do Novo
Testamento são, portanto, a mesma pessoa (GONÇALVES, 2020, p.58).
2.
Origem e queda de Lúcifer.
No
AT há dois textos clássicos que são aceitos pela maioria dos estudiosos como
reveladores da origem e da queda de Lúcifer. O primeiro, na ordem aqui
utilizada (Ez 28.11-19), enfatiza mais a sua origem, e o segundo (Is 14.12-16)
trata mais da sua queda. Embora haja muitas discussões sobre a identidade de
Satanás nesses textos, após uma exegese bíblica que considera os aspectos
literários da época tais como poesia, figura de retórica própria da literatura
hebraica e a duplicidade profética (dupla referência em uma só mensagem),
chega-se à conclusão de que, sem sombra de dúvida, ambos os textos fazem menção
clara à figura de Satanás, e isso por algumas razões: a) a Bíblia exalta
Daniel por sua sabedoria, integridade e justiça (Ez 14.14), porém o rei de
Tiro, é referido como mais sábio do que o profeta (Ez 28.3); b) que
homem no mundo, além do Filho Unigênito de Deus, foi considerado por Ele um ser
perfeito? (Ez 28.15), um rei humano de carne e osso e ainda pagão seria assim
declarado por Deus? c) quando Deus quer fazer referência ao início da
vida de alguém, se é dito: “desde o dia em que nasceste” (Rt
2.11; Jr 22.26), mas nunca: “desde o dia em que foste criado” (Ez
28.15), isso porque os anjos não nascem e não procriam, eles foram criados um a
um; e, d) esse personagem é chamado de “querubim ungido” (Ez
28.14), categoria angelical mais elevada; nos dando a entender que há uma
relação entre o rei de Tiro e Lúcifer que forma um paralelismo, da mesma forma
como Daniel identifica Antíoco Epifânio ao homem do pecado, o anticristo (Dn
9.27; 12.11; Mt 24.15; 2Ts 2.3,4) (BRUNELLI, 2016, pp. 439-441 – acréscimo
nosso).
3.
Os seus nomes:
O
texto bíblico apresenta vários nomes para esse ser caído, que expressa a sua
natureza maldosa e perversa: Diabo (Ap 12.9). Satanás (Ap 20.2). Dragão (Ap
12.3). O príncipe deste mundo (Jo 12.31). O príncipe das potestades do ar (Ef
2.2). O príncipe dos demônios (Mt 12.24). O rei dos terrores (Jó 18.14). O deus
deste século (2 Co 4.4). De "ave do céu" no sentido enigmático (Mt
13.4,19). O tentador (Mt 4.3). O inimigo (Mt 13.39). O adversário (1 Pe 5.8). O
anjo do abismo (Ap 9.11). A antiga serpente (Ap 12.9). Apoliom (Ap 9.11).
Abadom (Ap 9.11). Estrela da manhã (Is 14.12). Esta palavra chegou até nós através
da Vulgata Latina que traduziu o hebraico “hêbêl” (LXX -"heõsphoros") em Isaías 14.12
por "Lúcifer", literalmente este vocábulo significa "aquele que
brilha" ou o "resplandecente". Então, a ARA traduziu por a
"estrela da manhã". A referência é aplicada ao rei de
Babilônia e da inferência a Satanás (Is 14.12; Ez 28.13). O pai da mentira (Jo
8.44). O homicida (Jo 8.44). A mortalha (Is 14.19). O espanto (Ez 28.19).
Belial (2Co 6.15). Belzebu (Mt 12.24). Querubim ungido (Ez 28.14). Querubim
protetor (Ez 28.16). Esses últimos títulos foram perdidos na queda. (SILVA,
1987).
II. SATANÁS E O ACESSO AS REGIÕES
CELESTES
1.
Satanás tinha acesso aos céus?
Muitos
expositores bíblicos admitem essa ideia, mas que se tratava de um acesso com
certa restrição. Essas evidências aparecem em algumas passagens do Antigo
Testamento (1Rs 22.23; Jó 1.6-9; 2.1-6; Zc 3.1,2). É com base nessas passagens
que Satanás é chamado de “o acusador de nossos irmãos” (Ap
12.10). A Bíblia de Estudo Pentecostal deixa transparecer essa interpretação: “Satanás é derrotado, precipitado, na Terra”
(cf Lc 10.18) e não lhe é mais permitido acesso aos céus”. Stanley M. Horton
segue também nessa mesma linha de pensamento em seu comentário sobre o livro de
Apocalipse. Mas, com a chegada vitoriosa de Jesus ao céu, não se achou lugar
para o acusador dos irmãos, e assim não foi mais possível o acesso de Satanás e
seus correligionários ao céu, pois eles "não prevaleceram; nem mais
o seu lugar se achou nos céus" (Ap 12.8) (SOARES, 2018, p.57).
2. Satanás entre os filhos de Deus.
A
expressão “filhos de Deus”, em (Jó 1.6) é interpretada por alguns como
sendo homens e por outros como sendo Anjos. Temos que lembrar que a frase,
filhos de Deus, tanto pode ser aplicada a pessoas (Mt 5.9, Lc 20.36, Jo 1.12;
11.52, Rm 8.14, Gl.3.26; Fp 2.15;1 Jo 3.1) como a Anjos (Jó 38.7), pois é uma
palavra polissêmica, podendo ter vários significados. O contexto da passagem
bíblica precisa ser observado nesses casos. Em Gênesis 6.2,4 faz referência a
homens, ou seja, a linhagem piedosa de Sete (Dt 14.1; 32.5; Sl 73.15; Os 1.10.
No versículo em estudo no livro de Jó: “E vindo um dia em que os filhos
de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles”.
(Jó 1.6.). Norman Geisler entende que sejam anjos (GEISLER, 2010, p.
223). O reconhecimento dos “filhos de
Deus” como anjos fica também transparente na Bíblia de Estudo Pentecostal
(1995, p. 769). Embora existam opiniões diferentes devemos ter em mente três
verdades extraídas dos textos seguintes ao verso seis:
2.
Satanás não é onipresente.
Isto
é confirmado no texto “Dons vens? e Satanás respondeu ao SENHOR e disse:
De rodear a terra e passear por” (Jó 1.7). O ato de rodear a terra para
averiguar os homens, demonstra limitação, provando assim ser essa criatura
inferior ao Senhor dos Exércitos. O atributo da Onipresença, isto é, o espaço
material não o limita em ponto algum. (Gn. 28.15,16; Dt 4.39; Js 2.11; Sl
139.7-10; Pv 15.3,11; Is 66.1; Jr 23.23,24; Am 9.2-4,6; At 7.48,49; Ef 1.23).
pertence exclusivamente a Deus. Da mesma forma todos os atributos
incomunicáveis – aqueles que Deus não partilha com nenhuma criatura
(onipotência, onisciência e onipresença, entre outros) torna o Senhor único. “A
quem, pois, fareis semelhante a Deus ou com que o comparareis? (Is
40.18 cf. Is 46.5; At 17.29).
3.
Satanás não é onipotente.
O
adversário não podia tocar em Jó sem a permissão de Deus. Diz o texto bíblico:
“...somente contra ele não estendas a tua mão...” O controle e o
governo desse mundo estão nas mãos do Deus todo poderoso (Gn 1.1; 17.1;
18.14; Êx 15.7; Dt 3.24; 32.39; 1Cr 16.25; Jó 40.2; Is 40.12-15; Jr 32.17; Ez
10.5; Dn 3.17; 4.35; Am 4.13; 5.8; Zc 12.1; Mt 19.26; Ap 15.3; 19.6). O inimigo
de nossas almas não pode tocar em um crente fiel, a não ser sob permissão do
Senhor Jeová. “.... Mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e
o maligno não lhe toca (1 Jo 5.18).
4.
Ele é o acusador de nossos irmãos.
Quando
mente e acusa faz o que lhe é próprio de sua natureza caída. A Bíblia de Estudo
Pentecostal (1995, p.769) recomenda como devemos vencer: “...o crente
pode eliminar essas acusações por meio do sangue de Cristo, de uma boa consciência
e da palavra de Deus” (Mt 4.3-11; Tg 4.7; Ap 12.11). Nossa confiança é
reforçada pelo fato de termos como nosso Advogado perante o Pai, o Senhor Jesus
Cristo (1Jo 2.1) que está a sua destra, intercedendo (Hb 7.25).
III. RESISTINDO AO DIABO
1.
Revestir-se de toda a armadura de Deus.
Paulo
exorta a que nos revistamos das armas pertencentes a Deus: “Revesti-vos
de toda a armadura de Deus […]” (Ef 6.11), notemos que este ato implica
na responsabilidade humana: “[...] Rejeitemos, pois, as obras das trevas,
e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.12) E certo que Satanás é o
tentador (1 Ts 3.5), mas cada um é tentado "quando atraído e engodado pela
sua própria concupiscência" (Tg 1.14) [...] Não pode, porém, levar a
efeito nenhum ato desse tipo sem a participação (e até mesmo a iniciativa)
humana. Ressaltar demasiadamente o papel dos demônios (segundo a nossa opinião)
naquilo que se opõe a Deus, tende a amainar a responsabilidade humana e a
denegrir a responsabilidade de Deus (HORTON, 2010).
2.
Viver em constante vigilância.
Uma
recomendação não menos importante é que o cristão deve ficar firme: “[…]
para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (Ef
6.11), do grego “histemi”, que significa: “ficar de pé,
manter-se no lugar, continuar seguro, continuar pronto ou preparado”,
isso indica estar de olhos abertos, atento, de prontidão para o combate visto o
perigo a volta e sagacidade do inimigo (1Pe 5.8,9).
3.
Perseverar em oração.
Paulo
faz referência a uma ferramenta imprescindível que nos proporciona a energia
necessária para sermos vitoriosos, a oração: “Orando em todo o tempo com
toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e
súplica por todos os santos” (Ef 6.18). Podemos concluir que a oração
faz parte permanente de todo o equipamento de guerra exposto nos versículos
precedentes (Ef 6.14-17). Cada uma das armas espirituais, desde o “cinto” até a
“espada”, deve ser vestida com a oração (CABRAL, 1999, p. 92).
CONCLUSÃO
Estudamos
na lição de hoje que Satanás é um ser real e o acusador de nossos irmãos (Ap
12.11). Porém temos um Advogado que nos defende diante de Deus, Jesus Cristo. A
Palavra de Deus nos garanti que podemos resistir ao Diabo através da oração e
meditação na palavra e uma vida de comunhão com o Senhor.
REFERÊNCIAS
Ø BRUNELLI, Walter. Teologia para
pentecostais. Vl 02. CENTRAL GOSPEL.
Ø CABRAL, Elienai. Comentário
Bíblico: Efésios. CPAD.
Ø GONÇALVES, Josué. A Fragilidade
Humana e a Soberania Divina: o sofrimento e a restauração de Jó. Rio de
Janeiro: CPAD, 2020.
Ø SILVA, Severino Pedro da. Os Anjos, sua natureza e ofício. CPAD.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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