Jó 4.1-8; 15.1-4;
22.1-5
INTRODUÇÃO
Na lição de hoje,
iremos estudar a teologia de Elifaz, o temanita; veremos também os debates
teológicos travados entre Jó e seus amigos. Analisaremos os principais
argumentos de Elifaz, que sustenta uma teologia errônea, afirmando que o justo
não pode sofrer. Por fim, veremos segundo a Palavra de Deus os propósitos do sofrimento
a qual o Justo pode ser submetido.
I. INFORMAÇÕES SOBRE ELIFAZ
1. Elifaz.
É um nome que, em
hebraico, traz um forte emblema: “Meu Deus é forte”. Infere-se
daí tenham sido seus pais gente de reconhecida piedade. [...] Além de sua
amizade com Jó, a única coisa que de Elifaz sabemos é a sua procedência. Era
originário de Temã que, segundo se pode apurar, ficava no território que viria
a ser ocupado pelos filhos de Edom. Alguns comentaristas são de opinião de que
esse diminuto reino não passava de um território localizado no Norte da Arábia.
O fato de haver Elifaz discursado em primeiro lugar revela sua avançada
idade e posição social. Talvez fosse até o regente de Temã. Mostra-nos
isto também que Jó era um homem bem relacionado. Entre os seus amigos, reis e
príncipes (ANDRADE, 2006 p. 135 - acréscimo nosso).
II. OS DEBATES TEOLÓGICOS NO LIVRO
DE JÓ
Os discursos dos
três amigos de Jó contêm elementos de verdades, mas devem ser cuidadosamente
interpretados no contexto. O problema dos amigos não se achava tanto no que
sabiam, mas, sim, no que não sabiam: o sublime propósito de Deus ao permitir
que Satanás esbofeteasse Jó (NVI, 2003, p. 815). Além disso, O Senhor repreende
a Elifaz e aos seus dois amigos porque não falaram de Deus aquilo que era reto
(Jó 42.7). Esta é razão pela qual devemos analisar os discursos dos amigos
segundo o contexto geral das Escrituras Sagradas.
1. O livro de Jó é
marcado pelos diálogos:
Dois deles entre
Deus e Satanás (Jó 1.6 - 2.13) e mais dois entre Deus e Jó (Jó 38.1 - 42.6). E
entre Jó e seus amigos (Jó 3.1 - 31.40), além de quatro discursos de Eliú (Jó
32.1 - 37.24). Esses diálogos, principalmente entre Jó e seus amigos, revelam a
teologia que cada um deles sustentavam.
2. A Teologia de
Elifaz (Jó
4-5; 15; 22).
Elifaz acreditava
que o sofrimento indicava pecado. Elifaz declara que o Senhor não permite que
aconteçam problemas ao inocente, querendo dizer que Jó deveria estar em pecado.
“[...] Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal
segam isso mesmo” (Jó 4.8). Com essas palavras Elifaz acusa Jó de
pecado.
3. A Teologia de
Bildade.
Bildade entendia
que se há sofrimento, há pecado oculto: “Acaso Deus torce a justiça? Será
que o Todo-poderoso torce o que é direito? Quando os seus filhos pecaram contra
ele, ele os castigou pelo mal que fizeram” (Jó 8.3-4). A argumentação
de Bildade se resume da seguinte maneira: Deus não pode ser injusto, logo Jó e
sua família estão sofrendo por causa do pecado. Então, se houver um pedido por
misericórdia o Senhor perdoaria a Jó (Jó 8.5,6).
4. A Teologia de
Zofar.
Zofar compreendia
que o justo não passa por Tribulação: “[...] e te fizesse saber os
segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus
exige de ti menos do que merece a tua iniquidade” (Jó 11.6). O que está
nas entrelinhas dessa afirmação de Zofar é a sua convicção de que o sofrimento
de Jó viera, de fato, em razão de um pecado cometido (GONÇALVES, 2020, p. 139).
III. A TEOLOGIA DE ELIFAZ
A teologia de
Elifaz como pode ser verificada nas suas palavras proferidas a Jó, é uma teologia
baseada na causa e efeito, ou seja, recompensa para os justos e punição
para os ímpios. É uma argumentação tão rígida que para Elifaz, o inocente não
pode sofrer nenhum dano, somente os pecadores passam por dores e aflições.
Notemos:
1. Os homens
colhem aquilo que semeiam (Jó 4.7-11).
Elifaz sustentou
uma teologia de caráter retributiva; se Jó está sofrendo é devido algum mal que
fez: “Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde
foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade
e semeiam o mal segam isso mesmo” (Jó 4.7,8). Em linhas gerais,
defendia Elifaz: se formos fiéis a Deus, e se lhe prestarmos a adoração que Ele
nos requer, seremos abençoados de tal forma, que nenhuma desventura nos
atingirá. [...]. Em linguagem popular: um toma-lá-dá-cá. Ressaltava Elifaz
contentar-se Deus com um relacionamento meramente comercial com o ser humano
(ANDRADE, 2006 p. 137).
2. Arrependimento
em troca de bênçãos (Jó 22.23,24).
No terceiro
discurso de Elifaz, ele deixa transparecer uma visão puramente simplista e
mercantil do arrependimento: “[...] se te converteres ao Todo poderoso,
serás edificado; afasta a iniquidade da tua tenda. Então, amontoarás ouro como
pó e ouro de Ofir, como pedras dos ribeiros” (Jó 22.23,24). Elifaz está
equivocado nesse aspecto; nem sempre o arrependimento sincero resulta em
prosperidade material. Homens piedosos podem ser abandonados, perseguidos e
maltratados por causa de sua fé, o melhor exemplo disso está na galeria dos
heróis da fé (Hb 11.32-38).
3. Os pecadores
sofrem nesta terra (Jó 15.17-35).
Os amigos de Jó
afirmavam, com razão, que o orgulho humano (Jó 15.27; 20.6), a ambição pelas
riquezas (Jó 15.28-29; 20.21-21) e a exploração dos pobres (Jó 20.19; 24.21)
são pecados que Deus castiga. Mas o seu erro consistia em pensar que esse
castigo viria sempre aqui na terra e que seria na mesma medida das ofensas
praticadas (Jó 29-35) (NTHL, 2012. p. 572). A Palavra de Deus assegura
que o castigo dos ímpios não está limitado a essa existência terrena; se não
houver arrependimento sincero diante Deus e abandono das práticas pecaminosas,
resta para o homem o sofrimento terrível (Mt 13.42,50; Mc 9.47,48; 25.30) e
também eterno (Dn 12.2; Mt 7.13; 25.46).
IV. VERDADES QUE PODEMOS EXTRAIR DO
SOFRIMENTO
1. Há propósitos
positivos do sofrimento.
Se confiarmos em
Deus, a dor e o sofrimento pode servir alguns propósitos positivos, incluindo: a)
conseguir a nossa atenção; b) permitir que Deus demonstre seu poder
(Jo 9.1-3); c) pôr à prova nossa integridade (Jó 2.1-3); d) produzir
perseverança e caráter (Rm 5. 3-5); e) proporcionar disciplina (Hb
12.10,11); f) eliminar o orgulho egoísta (2Co 12.7) g) desenvolver
maturidade (Tg 1.2-4) h) edificar a fé (1Pe 1.3-7) i) ajudar-nos
a nos relacionar com Cristo e a sermos mais parecidos com Ele (Rm 8.28-29); j)
proporcionar oportunidade para servir e consolar outras pessoas (2Co
1.3-6); l) modificar nossa perspectiva das coisas terrenas para as
coisas eternas (2Co 4.17,18); e por fim, m) fazer com que os rebeldes se
convertam a Deus (1Co 5.1-5) (STAMPS, 2018, p. 629).
2. No sofrimento
adquirimos maturidade.
As provações nos
tornam maduros e completos (Tg 1.4). Diversos personagens da Bíblia tiveram seu
caráter moldado pelas situações adversas que enfrentaram, a saber: a) Abrão
amadureceu na fé através circunstâncias difíceis pelas quais foi submetido (Gn
12.1-3; 10-20; 22.1-18); b) as aflições que José enfrentou o prepararam
e o conduziram para o que Deus prometeu (Gn 45.5-8); e, c) o deserto e a
escassez de alimentos serviram para moldar a nação de Israel (Dt 8.1-3). Paulo
tinha essa consciência, por isso asseverou: “E sabemos que todas as
coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
3. O sofrimento é
passageiro.
Todos os
sofrimentos e dificuldades deste tempo presente – doenças, sofrimentos, dor,
desapontamentos, injustiça, maus tratos, angústias, perseguição e dificuldades
de todo tipo – devem ser consideradas insignificantes, quando em comparação com
as bênçãos, os privilégios e a glória que será dada aos seguidores de Cristo na
eternidade: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo
presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm
8.18). Diante dos privilégios que teremos no céu com o Senhor, o sofrimento do
cristão é passageiros (Mt 5.12; 2Co 4.10; 2Co 4.17; Fp 3.20; 1Pe 4.13; 1Jo
3.1-2). Chegará um dia que Deus: “limpará de seus olhos toda a lágrima; e
não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras
coisas são passadas” (Ap. 21.4).
CONCLUSÃO
Aprendemos na
lição de hoje, que a Teologia de Elifaz se resume em um falso raciocínio, que o
justo não pode sofrer; somente quem sofre são os pecadores. No entanto, a
palavra de Deus declara: “...no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo; eu venci o mundo”. O sofrimento faz parte da vida cristã (2 Tm
3.12), mas um dia Deus enxugará todas as lágrimas (Ap 21.4).
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Correia. O problema do
Sofrimento do Justo e o seu propósito. CPAD, 2011.
Ø Bíblia Sagrada. Almeida Corrigida Fiel. Sociedade Bíblica
Trinitariana do Brasil. 2007
Ø Bíblia de Estudo NTLH.
Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012
Ø GONÇALVES,
Josué. A Fragilidade Humana e a
Soberania Divina: o sofrimento e a restauração de Jó. CPAD, 2020.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal para Juventude. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
Por Rede Brasil de Comunicação
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