Jó 8.1-4; 18.1-4;
25.1-6
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos sobre quem foi Bildade, um dos amigos
de Jó; notaremos os três discursos dele contra o patriarca; pontuaremos um
pouco da sua teologia e a devida refutação bíblica; analisaremos as
contestações de Jó as palavras de Bildade; e por fim, veremos as causas pelas
quais sofremos no mundo.
I. INFORMAÇÕES SOBRE
BILDADE
1. Quem foi Bildade.
Segundo o dicionário de Strong o nome de Bildade significa: “amor
confuso”. Não possuímos muitas informações acerca de Bildade. Limita-se
a Bíblia a informar que este amigo de Jó era um suíta. Certamente morava ele em
Canaã, ou em suas imediações, pois: a) falava uma língua aparentada a de
Jó e a de seus amigos; b) não demorou em encontrar-se com Elifaz e Zofar
quando combinaram vir consolar o patriarca; c) sua visão de mundo era
bem parecida com a de seus dois outros companheiros. Bildade um semita que
habitava no território cananeu, onde Suá, à semelhança de Temã, era um dos
muitos pequenos reinos ali estabelecidos (ANDRADE, 2011, p. 146).
2. Sua relação com Jó.
Bildade é descrito como o segundo dos três amigos de Jó (Jó
2.11; 8.1; 18.1; 25.1; 42.9), que veio condoer-se dele, quando soube de sua
aflição, mas que, na verdade, aumentou seu sofrimento (Jó 2.11). Os três amigos
de Jó eram idosos (Jó 32.6) e é bem possível que Bildade fosse o segundo mais
velho, uma vez que seu nome aparece em segundo lugar e ele fala depois de
Elifaz (Jó 8.1-4).
3. Lugar de origem.
Quanto ao seu lugar de origem é dito que ele era “suíta”,
provavelmente por ser descendente de um filho de Abraão e Quetura
chamado Suá (Gn 25.2; 1Cr 1.32; Jó 2.11), ou por ter sido membro de uma tribo
aramaica que viveu no sudeste da Palestina (Gn 25.2,6).
4. A teologia de Bildade.
Uma teologia do “toma-lá-dá-cá”, ou seja, uma
teologia da barganha que destaca uma meritocracia humana no processo de
justificação diante de Deus as ideias por ele defendidas. Logo, o enfoque de
Bildade não é a graça que flui de Deus, mas o esforço humano que, por mérito
próprio, pretende justificar o homem diante de Deus. Esta era uma demonstração
da cultura gentílica, a ideia da troca de favores. Um moralismo fundamentado na
tradição (Jó 8.5,6). Pode-se descrever Bildade com uma só palavra: legalista.
Seu lema era: “Eis que Deus não rejeita o íntegro, nem toma pela mão os
malfeitores” (Jó 8.20).
II. OS TRÊS
DISCURSOS DE BILDADE
1. Primeiro discurso (Jó 8.1-22).
Neste capítulo observamos Bildade, dizendo que Jó não poderia
queixar-se de seu sofrimento, pois Deus é justo e jamais traria tal angústia
sobre ele, se pelo menos seus filhos não houvessem pecado (Jó 8.1-3). Bildade
foi o primeiro dos três a acusar os filhos de Jó de transgressão, e por sua
vez, de merecerem a calamidade que lhes sobreveio. Se Jó se arrependesse, Deus
restituir-lhe-ia a prosperidade. Os tempos passados mostram que Deus destrói o
perverso e sustenta o justo (Jó 8.5-7; 20-22). Portanto, seu sofrimento não era
injusto, mas punitivo, por algum pecado que Jó mesmo podia desconhecer.
2. Segundo discurso (Jó 18.1-21).
Neste segundo discurso, Bildade declara que os pecadores
recebem apenas miséria nesta vida e desonra após a morte (Jó 18.21). Assim como
Elifaz, Bildade classificou as aflições de Jó como as que sobrevêm aos
perversos.
3. Terceiro discurso (Jó 25.1-6).
No terceiro discurso, ele sustenta a majestade e a perfeição
de Deus em supremacia à imperfeição de todas as coisas criadas e argumentou que
o homem é “um verme” e por isso impuro diante de Deus (Jó
25.4-6). As ideias de Bildade idênticas a defendida a milênios depois pelo
deísmo que afirma que Deus criou o mundo, mas ausentou-se dele abandonando suas
criaturas, ferindo até a doutrina da onipresença divina.
III. A TEOLOGIA DE
BILDADE REFUTADA PELA BÍBLIA
1. Não é verdade
que se sofremos é porque pecamos.
A Bíblia deixa
claro que os sofrimentos vieram sobre o ser humano por causa do pecado
original, nem sempre por causa de um pecado pessoal (Gn 3.16-19). No caso de
Jó, de forma nítida, observamos que ele não havia transgredido contra Deus para
passar por tudo aquilo, muito pelo contrário, é porque era fiel que estava
sendo provado por Deus com tal sofrimento, conforme o testemunho do próprio
Deus: “E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque
ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e
que se desvia do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu
incitado contra ele, para o consumir sem causa” (Jó 2.3).
2. Não é verdade
que só resta sofrimento para o ímpio na terra.
De acordo com a
história sagrada os ímpios podem prosperar financeiramente, às vezes, até mais
que os justos. A geração de Caim, por exemplo era tecnologicamente
avançadíssima apesar de ímpia (Gn 4.17-22). Asafe, observou que os ímpios
apesar de viverem no pecado prosperam (Sl 73.3-12). No entanto, sua
prosperidade material não lhes assegura felicidade plena e vida eterna (Sl
73.16-20).
3. Não é verdade
que o homem não possa ser justo diante de Deus apesar de suas limitações e
imperfeições.
O homem pode ser relativamente
justo, somente Deus pode ser absolutamente justo. Jó,
teve testemunho de sua justiça pelo próprio Deus: “E disse o Senhor a
Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a
ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó
1.8 - ACF). Outros servos de Deus também são tidos como justos em suas
gerações, tais como: Daniel e Noé (Ez 14.14).
IV. AS CONTESTAÇÕES DE JÓ AS
PALAVRAS DE BILDADE
1. Jó não se
considerava absolutamente justo (Jó 9.1-35).
Ao contrário do
que pensava e afirmava Bildade, Jó não se considerava cem por cento justo. Ele
sabia que era um homem com imperfeições: “Na verdade sei que assim é;
porque, como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.2). No
versículo 15 ainda afirmou: “Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe
responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia” (Jó 9.15). Logo,
Bildade estava equivocado. Jó não acusara Deus de injustiça por fazê-lo sofrer
sem aparente causa. Ele apenas não entendia porque estava passando por tudo
aquilo, visto que não tinha consciência de ter pecado, embora soubesse que era
pecador (Jó 10.1,2).
2. Jó não ficava
aliviado, com as palavras de seus amigos (Jó 19.1-29).
Os amigos de Jó
vieram consolá-lo (Jó 2.11), no entanto, suas palavras descabidas sobre Deus
para tentar aliviar o sofrimento do patriarca se tornaram como flechas na sua
alma, acrescentando-lhe mais dor (Jó 19.1). Não bastava para eles, que os
parentes lhe deixassem, os servos e servas e sua esposa não suportar o seu hálito
por causa da doença (Jó 19.13-19). Diante de tudo isto, Jó rogou que eles
tivessem misericórdia e parassem de acusá-lo: “Compadecei-vos de mim,
amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou” (Jó
19.21). Apesar de tão grande sofrimento, não perdera sua fé, amor e esperança
em Deus: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará
sobre a terra” (Jó 19.25).
3. Jó reconhece a
grandeza de Deus e defende sua integridade (Jó 26.1-14; 27.1-23).
Assim como Bildade
em seu terceiro discurso louva a Deus (Jó 25.1-6), Jó também o louva (Jó
26.1-14). No capítulo 27, o patriarca acrescenta que não manchará seus lábios
de forma alguma, conservando sua integridade (Jó 27.1-4).
V. AS CAUSAS PELAS QUAIS SOFREMOS
A Bíblia aponta
diversas causas pelos quais sofremos. Notemos:
1. Por causa do
pecado original.
Deus criou tudo
perfeito e bom. No entanto, por causa da Queda, uma das consequências do pecado
foi que o sofrimento entrou na vida humana (Gn 3.17-19).
2. Por causa de
pecado pessoal. Não
podemos negar que também podemos sofrer pelas escolhas erradas que tomamos na
vida. Israel por diversas vezes por causa das atitudes erradas que fez (Jr
25.14; Mq 7.13). Diversos personagens bíblicos colheram o fruto de suas obras
(Nm 12.1-10; 2Cr 26.19; At 5.1-6). A lei da semeadura ainda está em vigor (Gl
6.7).
3. Porque estamos
no mundo. O
fato de estarmos no mundo, contaminado pelo pecado, também nos faz sofrer.
Jesus conscientizou os seus seguidores desta árdua verdade: “[...] no
mundo tereis aflições [...]” (Jo 16.33).
4. Porque somos
crentes.
Ser filho de Deus
não dá imunidade ao sofrimento. Pelo contrário, há tribulações que são
pertinentes a vida daqueles que servem a Deus (Mt 5.11,12; At 14.22; 2Tm 3.12),
pelo fato de sermos santos num mundo perverso e por que somos provados para
sermos aperfeiçoados (Sl 119.71; 1Pd 4.12), através do sofrimento tal qual Jó
(Jo 23.10; 42.2).
5. Porque Deus
permite para moldar nosso caráter.
De certa forma a
provação deve até ser acolhida com prazer (Rm 5.3), pois tais provações têm
algumas finalidades. São elas: a) mostrar ao homem a sua própria
fraqueza e conscientizá-lo de sua dependência divina (Dt 8.3,16); b) aperfeiçoar
o seu caráter (Is 48.10); c) aprofundar o seu conhecimento em relação a
Deus (Jó 42.5); d) conceder-lhe experiências (Rm 5.3; 2Co 1.3); e) provar
e aperfeiçoar a sua fé (1Pd 1.7); e, f) corrigir os erros cometidos (Sl
119.67,71; Dt 8.5; Hb 12.6).
CONCLUSÃO
A Bíblia nunca
sugeriu aos crentes que sua vida seria um caminho fácil. Pelo contrário,
adverte-os que se encontrariam envoltos em “várias provações e afições” (Jo
16.33; Tg 1.2). Assim, sabemos que enfrentaremos muitas “provas e tentações”,
porém de todas nos livrará o Senhor da glória. Amém!
REFERÊNCIAS
Ø
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø
ANDRADE.
Claudionor Corrêa de. Jó: O Problema
do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. CPAD.
Ø
GILBERTO,
Antônio, et al. Teologia Sistemática
Pentecostal. CPAD.
Ø
HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. OBJETIVA.
Ø
PFEIFFER,
Charles F. Comentário Bíblico Wycliffe.
CPAD.
Ø
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
Ø
CHAMPLIN,
Russell Norman. Antigo Testamento
Interpretado versículo por versículo. Hagnos.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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