Jó 11.1-10; 20.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos informações sobre que foi o terceiro amigo de Jó; sua origem, o
lugar de origem, sua teologia e sua cosmovisão; pontuaremos as acusações de
Zofar contar Jó; e por fim, notaremos como o patriarca Jó e o próprio Deus
refutou as acusações do naamatita Zofar.
I.
INFORMAÇÕES SOBRE ZOFAR
1. Quem
foi Zofar.
O nome
Zofar em hebraico é “Tsofar” em algumas versões da Bíblia, como
na Septuaginta, o nome é traduzido para “Sophar”. Segundo
Champlin (2001, vol. 3, p. 1912) o nome Zofar significa: “áspero” e,
na verdade, seus discursos eram exatamente isso. Seu nome ocorre por quatro
vezes no livro de Jó 2.11; 11.1; 20.1, e 42.9. Os três amigos de Jó eram homens
de idade, mas Zofar devia ser o mais jovem, uma vez que falou por último. Mas
de qualquer forma, os três homens já eram idosos, inclusive eram mais velhos
que Jó (Jó 15.10; 32.6). Era dos três amigos de Jó o mais dogmático e seu lema
era: “Porventura, não sabes tu que desde todos os tempos [...] o júbilo
dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios, momentânea?” (Jó 20.4,5)
(ANDRADE, 2006, p. 159 - acréscimo nosso).
2.
Lugar de origem de Zofar.
Não
temos muitas informações acerca deste terceiro amigo de Jó. Sabemos apenas que
era naamatita (Jó 2.11; 11.1; 20.1; 42.9). Zofar é chamado de “o
naamatita” e alguns estudiosos acreditam que talvez essa expressão
esteja relacionada a alguma cidade da região de Edom. Este adjetivo revela que
Zofar era originário de Naamá, um pequeno reino que se achava, provavelmente,
no território da moderna Arábia Saudita tem sido apresentado como o possível
lugar onde Zofar morava. O nome “Naamá” na Bíblia, ocorre em
Josué 15.41, como uma das cidades que couberam por herança à tribo de Judá.
Mas, visto que muitos creem que Jó viveu antes de Abraão, não podemos pensar
que Zofar fosse de Judá, mas antes, alguma outra Naamá (CHAMPLIN, 2001, vol. 7,
p. 5550). Naamá era o nome de uma descendente de Caim, filha de Lameque e Zilá,
e irmã de Tubalcaim (Gn 4.22). Talvez Zofar, “o naamatita”, fosse descendente
distante dessa linhagem (CHAMPLIN, 2001, vol 3, p. 1912).
3. A
Teologia de Zofar.
O
último dos amigos de Jó a falar foi Zofar e ele é o mais duro e impiedoso na
acusação contra Jó, mas de forma geral ele seguiu a mesma linha de perseguição
contra Jó. Parece que ele não acreditava no sofrimento do justo, o que
obviamente representava mais uma acusação de que Jó estava em pecado (Jó
11.2,3). Zofar chegou a afirmar que Jó estava sofrendo menos do que de fato
merecia (Jó 11.1-6). Repreendeu Jó ao afirmar que Jó desejava descobrir os caminhos
ocultos de Deus (Jó 11.7-12), e para Zofar a restauração de Jó dependia do
arrependimento e confissão do pecado (Jó 11.13-20). A teologia de Zofar (Jó
11.13-15) é a mesma que Satanás usou: a teologia da prosperidade e da
retribuição terrena (Jó 1.8-11; 2.4-6). A tese que Zofar defende é a de que o
justo não passa por tribulação. Ou seja, para ele, se houver tribulação é
porque não há justiça na vida da vítima (Jó 20,4,5,29) (CHAPMAN; PURKISER; WOLF
(et al), 2014, p. 64).
4. A
cosmovisão deísta de Zofar.
Zofar
foi o mais impetuoso e dogmático dos três amigos de Jó. Como qualquer filósofo,
possuía Zofar sua própria concepção deísta de Deus. De acordo com a sua
cosmovisão, achava-se Deus tão distante do ser humano, e de tal forma distante
dos homens, que a estes era impossível qualquer contato com Ele. O deísmo é uma
doutrina, segundo a qual Deus realmente existe, mas não interfere na história
humana nem se interessa por relacionar-se com as suas criaturas. Houve um
momento, na história de Israel, que os judeus se fizeram deístas (Sf 1.12). Os
magos de Babilônia eram, além de politeístas, também eram deístas (Dn 2.11)
(ANDRADE, 2006, pp. 159,160 - acréscimo nosso).
II.
AS ACUSAÇÕES DE ZOFAR CONTRA JÓ
1.
Primeira acusação: Jó era culpado (Jó 11.1-4).
Assim
como Bildade (Jó 8.2), Zofar iniciou seu discurso chamando Jó de tagarela: “Será
o caso de as tuas parolas fazerem calar os homens?” (Jó 11.3). Zofar
estava certo de que algum pecado cometido por Jó era a raiz da sua condição e
que o sofrimento de Jó resulta desse pecado (Jó 11.13-20). Ele continua dizendo
que o discurso de Jó não apenas era tagarelice como também não passava de
conversa fiada “parolas” e de “zombaria” (Jó 11.3).
Segundo Zofar, as palavras de Jó a respeito de Deus não seriam verdadeiras e só
poderiam ser comparadas ao parlatório daqueles que falam sem pensar: “Pois
dizes: A minha doutrina é pura” (Jó 11.4). Além disso, para Zofar, as
afirmações de Jó a respeito de si mesmo eram falaciosas, pois ele não era puro
diante de Deus (WIERSBE, 2010, p. 26 – acréscimo nosso).
2.
Segunda acusação: Jó não tinha conhecimento de Deus (Jó 11.5-12).
Zofar
desejava que Jó compreendesse a altura, a profundidade e a extensão da
sabedoria de Deus (Jó 11.8, 9). Com isso, ele estava insinuando que ele próprio
conhecia a grandeza da sabedoria de Deus e poderia ensiná-la a Jó se ele lhe desse
ouvido. Zofar encerrou essa acusação citando um provérbio para mostrar a falta
de entendimento de Jó (WIERSBE, 2010, p. 26). O asno selvagem era considerado o
mais estúpido dos animais, daí a metáfora usada por Zofar (Jó 11.12). A
linguagem de Jó nada era senão o zurro de um animal irracional. O asno do
deserto não se deixava amansar e era estúpido (ver Jó 39.5-8; Jr 2.24; Gn
16.12). Jó era um homem tipo asno, na estimativa de Zofar e o seu desejo era
que o próprio Deus corrigisse Jó: “Oh! Falasse Deus e abrisse os seus lábios
contra ti e te revelasse os segredos da sabedoria” (Jó 11.5,6)
(CHAMPLIN, 2001, vol 3, p. 1912).
3.
Terceira acusação: Jó era obstinado e devia se arrepender (Jó 11.13-20).
Zofar
dá conselhos a Jó que se arrependa e volte a buscar a Deus (Jó 11.13-19). Para
este amigo de Jó, a combinação feita por arrependimento, oração
e reparação operaria a ordem da restauração. Disse Zofar
a fim de repreender Jó: “[...] porque haverá esperança” (Jó
11.18) e descreveu o que Jó poderia ser capaz de “levantar a cabeça”,
viver com confiança e saúde. Caso Jó se arrependesse de seus erros e confessar
seus pecados então Deus o abençoaria abundantemente e seus problemas
terminariam. Poderia erguer a cabeça outra vez, e seus medos passariam: “Então
levantarás o teu rosto sem mácula” (Jó 11.15). Jó esqueceria sua
desgraça como águas passadas: “Pois te esquecerás dos teus sofrimentos” (Jó
11.16). Deus lhe daria uma vida longa e seria o início de um novo dia para ele:
“A tua vida será mais clara que o meio-dia” (Jó 11.17). Jó não
habitaria nas trevas do Sheol, mas sim na luz (Jó 10.20-22), e a proteção de
Deus daria cabo de todos os seus temores (Jó 11.19,20) (WIERSBE, 2010, p. 27).
4.
Quarta acusação: Jó era perverso e o seu triunfo seria transitório (Jó
20.4-11).
De acordo
com Zofar, quanto mais o homem perverso elevar-se em seu sucesso, maior será
sua queda quando lhe sobrevier o julgamento. Quando isso ocorrer, seguirá
esgoto abaixo como seu próprio esterco: “Como o seu próprio esterco
apodrecerá para sempre” (Jó 20.7), “Desaparecerá como um sonho
esquecido ou como uma visão noturna que não pode ser evocada” (Jó
20.8). E ainda continua dizendo que: “Os olhos que o viram jamais o
verão” (Jó 20.9). Os olhos, que antes tinham observado Jó, não o veriam
mais, e até as pessoas que costumavam vê-lo em breve desapareceriam. Para
Zofar, o perverso e seu nome desaparecerão, como também sua riqueza se perderá
(Jó 20.11). Depois de sua morte, a verdade sobre seus crimes virá à tona, e
seus filhos terão de usar sua herança para ressarcir as pessoas de quem seu pai
roubou: “Os seus filhos procurarão aplacar aos pobres” (Jó
20.10). Zofar e seus dois amigos estavam certos de que Jó era um hipócrita e de
que sua vida de piedade era superficial e servia apenas para encobrir seus
pecados secretos (WIERSBE, 2010, p. 44).
5.
Quinta acusação: Jó teve um prazer temporário por causa do seu pecado (Jó
20.12-19). Ao usar a imagem de uma pessoa comendo, Zofar deixa duas coisas
claras: aquilo que o perverso engolir o fará adoecer e também tirará dele o
desejo pelas coisas boas da vida. Além disso, em Jó 20.18 e 19 ele afirma que
esse indivíduo não será capaz de desfrutar (engolir) algumas das coisas pelas
quais trabalhou. Zofar também argumenta que Jó era muito rico porque: “oprimiu
e desamparou os pobres, roubou casas que não edificou” (Jó 20.19) então
não poderia continuar na prosperidade (Jó 20.15-18). Convicto disto, ele deseja
toda sorte de castigos para Jó (Jó 20.20-28), dizendo que: “tal é, da
parte de Deus, a sorte do homem perverso, tal a herança decretada por Deus” (Jó
20.29) (WIERSBE, 2010, p. 44).
6.
Sexta acusação: Jó teria uma morte dolorosa (Jó 20.20-29).
Para
Zofar nem mesmo as riquezas do perverso poderão evitar que a morte lhe
sobrevenha (Jó 20.20). Enquanto desfruta sua prosperidade, o perverso sentirá
aflições, tribulações e a ira consumidora de Deus: “mandará sobre ele o
furor da sua ira” (Jó 20.23). O perverso tentará fugir, mas Deus o
atacará com uma espada e o traspassará com uma flecha com a ponta de bronze.
Para Zofar mesmo que Jó tentasse escapar do julgamento de Deus, as flechas
viriam em sua direção, enquanto ele corresse na escuridão, e o fogo cairia ao
seu redor. Então, ele seria pego por uma inundação que destrói tudo. Mas esse
ainda não era o fim: Jó seria levado para o tribunal em que o céu e a terra
testemunhariam contra ele e o declarariam culpado (Jó 20.23-27) (WIERSBE, 2010,
p. 44).
III. A TEOLOGIA DE ZOFAR REFUTADA
1. Jó
reprovou seus amigos.
Jó
refuta Zofar mostrando que a vida do perverso pode ser longa e abençoada (Jó
21.8-16), e que as tendas dos tiranos gozam paz. Os ímpios, e até os
criminosos, prosperam. Até aqueles que provocam a Deus estão a salvo de Sua
ira. Ademais, Ele permitiria para que prosperem: “As tendas dos tiranos
gozam paz [...] Os que provocam a Deus estão seguros” (Jó 12.6). Ele
argumenta que também tinha conhecimento como seus amigos: “Também eu
tenho entendimento como vós” (Jó 12.3). Jó pergunta: “Como é,
pois, que vivem os perversos, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos?” (Jó
21.7). E ainda continua: Os perversos são cercados de proteção: seus filhos e
lares estão em segurança (Jó 21.8,9,11,12), seus negócios prosperam (v. 10) e
eles têm uma longa vida para desfrutar sua prosperidade (v. 13). Além disso,
têm muitos descendentes que compartilham e desfrutam a riqueza da família.
2.
Deus reprovou os amigos de Jó.
O
próprio Deus reprovou os amigos de Jó porque eles não foram “sensatos” na
explanação da causa das suas calamidades e da posição divina quanto a elas.
Porque em vez de o consolarem no estado de vida em que se encontrava, eles
presumiram baseados na sabedoria popular da época que o causador principal das
calamidades era “Jó”. É interessante notar que, em todos os discursos, os
amigos de Jó não acusaram a Deus, mas a Jó. Eles acharam que quem é o culpado
do sofrimento é Jó e que Deus é justo. Porém, Deus disse no final: “não
dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42.7). O
Senhor considerou as acusações equivocadas dos amigos de Jó como acusações
diretas a Ele mesmo e, portanto, acusou deles de terem falado mal.
Aprendemos
nesta lição que os amigos de Jó, por desconhecerem as razões de seu sofrimento,
o acusam de forma impiedosa; e o patriarca, por desconhecer a ação de Deus
nesse episódio, chega ao limite do desespero e desesperança. Todavia, como das
outras vezes, mesmo angustiado e não sabendo como Deus permite tudo isso, Jó
não diz palavras blasfematórias contra o seu Criador, mas permanece fiel, mesmo
sem entender o porquê de tudo que estava passando.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico.
CPAD, 2006.
Ø GILBERTO,
Antônio, et al. Teologia Sistemática
Pentecostal. CPAD, 2010.
Ø HOUAISS,
Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. OBJETIVA, 2011.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD, 1999.
Ø CHAPMAN,
Milo L. (et al). Comentário Bíblico
Beacon: Jó a Cantares de Salomão. CPAD, 2014.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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