Gn 25.19-28
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos sobre umas das principais famílias do Antigo Testamento;
destacaremos o erro da predileção de filhos, cometido por Jacó e Rebeca e seus
respectivos resultados; e, por fim, mencionaremos que apesar da fragilidade do
casal, houve aspectos positivos quanto à família do patriarca Jacó.
I. DEFINIÇÃO DO TERMO PREDILEÇÃO
1.
Definição etimológica da palavra predileção.
Segundo
o dicionarista Antônio Houaiss, a palavra predileção significa: “preferência
acentuada por alguém ou alguma coisa, afeição, inclinação, escolha,
favoritismo, preeminência, predileção, propensão, idiopatia” (2011, p.
2283).
2.
Exemplos de predileção na Bíblia.
As
Escrituras nos apresentam alguns exemplos de predileção que trouxeram vários
prejuízos dentro do lar como o caso de Jacó e Esaú (Gn 25.28), a história de
José e seus irmãos (Gn 37.3,4), há alguns estudiosos que ainda citam a história
de Caim e Abel. Para estes teólogos, além da rejeição divina por Caim (Hb 11.4;
1Jo 3.12), Adão provavelmente, demonstrou preferência por Abel, o que gerou
ciúmes em Caim que acabou levando-o a matar o seu irmão (Gn 4.8). Temos ainda a
família de Davi o que nos parece que foi preterido em relação aos seus irmãos: “E
santificou ele a Jessé e a seus filhos […]” (1Sm 16.5c). “Assim
fez passar Jessé a seus sete filhos diante de Samuel […]” (1Sm
16.10). “Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os moços? E disse: Ainda
falta o menor […]” (1Sm 16.11a). Em resumo, a Bíblia apresenta
histórias que mostram os efeitos negativos da predileção de filhos por parte
dos pais, enfatizando a importância de tratar todos os filhos com igualdade e
justiça.
II. PERIGOS DA PREDILEÇÃO ENTRE JACÓ
E REBECA
Vejamos
alguns prejuízos na família de Jacó e Rebeca por causa da predileção entre os
seus filhos:
- Traição (Gn 27.12): “Porventura me apalpará o meu pai, e serei aos seus olhos como enganador; assim trarei eu sobre mim maldição, e não bênção”.
- Mentira (Gn 27.18-19): “E foi ele a seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui; quem és tu, meu filho? E Jacó disse a seu pai: Eu sou Esaú, teu primogênito; tenho feito como me disseste; levanta-te agora, assenta-te e come da minha caça, para que a tua alma me abençoe.
- Falta de temor (Gn 27.20-22): “Então disse Isaque a seu filho: Como é isto, que tão cedo a achaste, filho meu? E ele disse: Porque o Senhor teu Deus a mandou ao meu encontro. E disse Isaque a Jacó: Chega-te agora, para que te apalpe, meu filho, se és meu filho Esaú mesmo, ou não. Então se chegou Jacó a Isaque seu pai, que o apalpou, e disse: A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú”.
- Engano (Gn 27.23-27): “E não o conheceu, porquanto as suas mãos estavam cabeludas, como as mãos de Esaú seu irmão; e abençoou-o. E disse: És tu meu filho Esaú mesmo? E ele disse: Eu sou. Então disse: Faze chegar isso perto de mim, para que coma da caça de meu filho; para que a minha alma te abençoe. E chegou-lhe, e comeu; trouxe-lhe também vinho, e bebeu. E disse-lhe Isaque seu pai: Ora chega-te, e beija-me, filho meu. E chegou-se, e beijou-o”.
- Amargura (Gn 27.34): “Esaú, ouvindo as palavras de seu pai, bradou com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai: Abençoa-me também a mim, meu pai”.
- Malícia (Gn 27.35): “E ele disse: Veio teu irmão com sutileza, e tomou a tua bênção”.
- Tristeza (Gn 27.38): “E disse Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou”.
- Ódio (Gn 27.41): “E Esaú odiou a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; e matarei a Jacó meu irmão”.
- Revolta (Gn 28.6-9): “Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã; E que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe, e se fora a Padã-Arã; Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque seu pai, Foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres [...]”.
III. PAIS IGUAIS E FILHOS DIFERENTES
Notemos
as diferenças entre estes dois irmãos:
1.
Esaú, o filho que desprezou a bênção divina.
Esaú,
em hebraico, significa “peludo”. Ele também foi chamado de Edom,
que, em hebraico, significa “vermelho”. Ele foi o pai dos
edomitas e era um perito caçador, um homem viril, do campo, destemido e
agitado. Esaú mostrou seu desprezo pelas bênçãos da aliança ao se casar com as
mulheres cananeias (Gn 24.3,4) desapontando inclusive aos seus pais (Gn
26.34,35). Esaú era o primogênito e na cultura hebraica o filho mais velho
tinha o direito de ser o herdeiro principal da fortuna da família (Gn 27.33; Dt
21.17; 1Cr 5.1-2). A herança paterna era dividida pelo número de filhos, e o
primeiro sempre tinha direito a duas partes. Na família da aliança, essa bênção
incluía a promessa do senhor de dar a Abraão uma descendência na terra que
abençoaria todas as nações. Esaú, entretanto, rejeitou esta dádiva quando a
trocou por um prato de lentilhas (Gn 25.29-32,34). Demonstrou total desprezo
pelas coisas de Deus quando rejeitou sua primogenitura. Essa atitude o
caracteriza como um homem profano, imediatista e soberbo (Hb 12.16). Pagou um
preço muito alto por este desprezo, e quando tentou recuperar a bênção, foi
rejeitado (Hb 12.17).
2.
Jacó, o filho que abraçou a bênção divina.
Jacó,
diferentemente de seu irmão, era pacato, tranquilo, gostava da casa e de seus
afazeres (Gn 25.27). O nome de Jacó significa: “aquele que segura o
calcanhar”. A primogenitura de Jacó não se dá pela ordem do nascimento,
mas pela escolha soberana de Deus. Precisamos entender que Jacó era o herdeiro
da promessa desde a sua concepção, eleito soberanamente pelo próprio Deus.
Entendendo isto, saberemos que Jacó não usurpou a bênção de Esaú, mas se
apropriou, ainda que de forma astuta, daquilo que era seu: “Respondeu-lhe
o SENHOR: Duas nações há no teu ventre […] e o mais velho servirá ao mais
moço” (Gn 25.23). “Dentro da vontade permissiva de Deus, por razões
maiores que a nossa compreensão possa imaginar, o Senhor permitiu que no ventre
de Rebeca houvesse a concepção de dois meninos […]. Iniciou-se dentro de Rebeca
uma luta de proeminência que ela não sabia explicar. Literalmente, o texto diz
que: os filhos lutavam dentro dela” (Gn 25.22). Até que os dois
nasceram e a busca pela proeminência familiar continuou” (CABRAL, 2023, p. 35).
IV. PROBLEMAS CAUSADOS
POR CAUSA DA PREDILEÇÃO DE FILHOS
Vejamos
alguns dos problemas que podem ser causados pela predileção de filhos incluem:
1.
Conflitos familiares (Gn 27.41; 37.3,4,8). A predileção de filhos
pode causar inveja, ciúmes e ressentimentos entre irmãos, o que pode levar a
conflitos e disputas familiares.
2.
Prejuízos na relação pais e filhos (Gn 25.28). A
predileção de filhos pode prejudicar a relação entre pais e filhos,
especialmente entre aqueles que não são favorecidos, criando sentimentos de
desconfiança e ressentimento.
3.
Dificuldades na vida adulta (1Sm 17.28-30). Os filhos favorecidos
podem desenvolver um senso de superioridade e expectativas irreais em relação à
vida adulta, o que pode dificultar a sua adaptação à vida real e causar
problemas em suas relações interpessoais.
4. Baixa
autoestima (Lc 15.25-28). Quando um filho é claramente favorecido
em detrimento dos outros, os irmãos podem sentir-se desvalorizados e menos
amados, o que pode levar a uma baixa autoestima e a problemas emocionais e
comportamentais.
5.
Desigualdade na distribuição de recursos (Mt 20.20-21,24). A
predileção de filhos pode levar os pais a distribuir recursos de maneira
desigual entre os filhos, prejudicando aqueles que não são favorecidos.
V. TRAÇOS POSITIVOS DO
CASAMENTO DE JÁCO E REBECA
1. Um
casamento dentro do padrão divino.
Enquanto
sua esposa não ficou grávida, Isaque não se aproximou do leito de uma serva,
como tinha feito Abraão, e como fez Jacó posteriormente. Ele demonstra que
amava Rebeca (Gn 24.67). Isaque é o único patriarca monogâmico pois só teve
Rebeca como esposa (Gn 25.20). Isto significa que eles tiveram um
casamento segundo o padrão estabelecido por Deus, ou seja, monogâmico.
Não encontramos na Bíblia qualquer indício que seja de que Isaque tenha se
relacionado com outra mulher. O texto aponta apenas para Rebeca. Em sua
genealogia, por exemplo, encontramos apenas os nomes dos gêmeos Esaú e Jacó,
como seus filhos (CABRAL, 2023. pp. 31-32).
2. Um
casamento movido por oração.
Diante
da esterilidade de Rebeca, que era um obstáculo ao desenvolvimento da família
da aliança, Isaque se colocou diante de Deus em oração por sua esposa. Essa
atitude não apenas demonstra sua fé em Deus, como também seu amor por sua
esposa (Gn 25.21). Isaque casou-se com Rebeca quando tinha 40 anos de idade e
orou por ela 20 anos até que ela concebesse pois Rebeca, sua esposa, era
estéril (Gn 25.20,26). Se Abraão esperou 25 anos para que Deus abrisse a madre
de Sara, Isaque orou 20 anos para que Deus fizesse o mesmo com Rebeca, o que
mostra que a paciência e a perseverança na oração era uma marca de Isaque
(HENRY, 2004. p. 133).
3. Um
casamento afetuoso.
Isaque
e Rebeca talvez formem o casal mais romântico das Escrituras. Desde o seu
primeiro encontro, eles são apresentados de modo bastante romântico (Gn
24.62-67). No capítulo 26 de Gênesis é narrado o período que Isaque passou na
terra dos filisteus por causa da seca e fome que sobreveio à terra (Gn 26.1).
Permanecendo Isaque naquela região por um tempo razoável e, antes que alguém
tomasse Rebeca por sua mulher, Abimeleque, rei dos filisteus, “viu que
Isaque acariciava a Rebeca” (Gn 26.8). Embora a palavra traduzida por
“acariciar”, no hebraico signifique “brincar”, ela denota uma atitude de
intimidade que não podia ser aplicada a irmãos, por exemplo. Tanto é assim,
que, quando Abimeleque viu aquela cena, mandou chamar Isaque e disse: “[…]
é evidente que ela é tua esposa” (Gn 26.9). Esta atitude demonstra
afetuosidade entre Isaque e Rebeca. Eles demonstravam carinho um pelo outro.
4. Um
casamento que foi alvo do agir de Deus.
A
esterilidade era uma questão séria, pois uma mulher não poder ter filhos na
antiguidade era sinônimo da ausência da bênção divina. E ainda era coisa mais
séria quando o Pacto Abraâmico dependia da fertilidade. Deus teve de intervir
por várias vezes: com Sara (Gn 15.2-6; 18.12-14); com Rebeca (Gn 25.21); com
Raquel (Gn 29.31; 30.22,23). Posteriormente, com a mãe de Sansão (Jz 13.2-7);
com Ana (1Sm 1.2-20); e com Isabel, no NT (Lc 1.7-13). O casamento de Isaque e
Rebeca é um típico exemplo da graciosa ação de Deus na família (CHAMPLIN, 2010,
p. 174).
CONCLUSÃO
A
família do patriarca Jacó tinha tudo para desfrutar da benção plena de Deus;
devido as suas fragilidades no exercício da sua paternidade, colheram frutos
amargos pela predileção de um dos filhos; por essa razão, servem de alerta, que
não podemos em momento algum incorrer no mesmo erro.
REFERÊNCIAS
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø CHAMPLIN, R. N. O AT Interpretado Versículo por Versículo. HAGNOS.
Ø WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 1.
GEOGRAFICA.
Ø CABRAL, Elienai. Relacionamentos Em Família: Superando
Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. CPAD.
Ø LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens.
Editora Hagnos.
Ø HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthehw Henry.
Deuteronômio. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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